Este artigo foi publicado em agosto último, mas, como diria o velho e bom Teatro de Arena, é um texto "que se parece ao presente, pela verdade em questão". Vale a pena ler de novo.
Está em curso mais uma operação de censura velada a meus textos.
A Igreja Católica, pelo menos, colocava abertamente certas obras em seu index, no tempo da Inquisição. Tais textos eram vetados por ordem superior para todo seu rebanho, ponto final.
Hoje, as coisas se processam de forma dissimulada... e mais covarde.
A direita segue o modelo macartista, o das listas negras. Então, há jornais e revistas para quem simplesmente não existo. Nem mesmo em assuntos flagrantemente relacionados à minha trajetória de lutas as editorias de Política podem me ouvir ou acolher meus pedidos de espaço para apresentar o outro lado.
Já os portais e sites esquerda passam, da noite para o dia, a considerar inaceitáveis os artigos que antes publicavam aos montes. Sem coincidência nenhuma, isto acontece sempre depois de eu haver manifestado uma opinião herética.
Formado na geração 68, acostumei-me a considerar que só divergências estratégicas separam revolucionários.
As táticas estavam abertas ao debate, sem que nenhum de nós fosse satanizado por discordar de uma linha de ação, em benefício de outra igualmente identificada com valores de esquerda.
Hoy, no más. Por qualquer questiúncula pode-se sofrer o questionamento/estigmatização por parte de verdadeiros rolos compressores virtuais.
Muitos se deixam intimidar por esse patrulhamento odioso. Noblesse oblige, resisto e sempre resistirei a ele.
Foi o que ocorreu, p. ex., quando critiquei a deportação forçada dos pugilistas cubanos, por considerar mais importante que não se desmoralizasse a instituição do asilo político do que o atendimento a pedidos do compadre Fidel Castro.
Alertei, na ocasião, que essa decisão infeliz seria utilizada contra nós quando estivesse em jogo o destino de personagem muito mais relevante para a causa da liberdade e da justiça social.
Dito e feito: um forte argumento propagandístico da direita vem sendo o de que deve ser dado o mesmo desfecho ao Caso Battisti.
Quem se posicionou erroneamente no primeiro episódio, agora leva xeque-mate dos debatedores direitistas. Eu e o Suplicy não temos tal vulnerabilidade, então ninguém nos pode dar esse calaboca.
Eu e o digno companheiro Ivan Seixas, defensores da memória da luta armada brasileira, discordamos frontalmente dessa prática, destacando os critérios adotado pelas organizações daqui durante os anos de chumbo:
Está em curso mais uma operação de censura velada a meus textos.
A Igreja Católica, pelo menos, colocava abertamente certas obras em seu index, no tempo da Inquisição. Tais textos eram vetados por ordem superior para todo seu rebanho, ponto final.
Hoje, as coisas se processam de forma dissimulada... e mais covarde.
A direita segue o modelo macartista, o das listas negras. Então, há jornais e revistas para quem simplesmente não existo. Nem mesmo em assuntos flagrantemente relacionados à minha trajetória de lutas as editorias de Política podem me ouvir ou acolher meus pedidos de espaço para apresentar o outro lado.
Já os portais e sites esquerda passam, da noite para o dia, a considerar inaceitáveis os artigos que antes publicavam aos montes. Sem coincidência nenhuma, isto acontece sempre depois de eu haver manifestado uma opinião herética.
Formado na geração 68, acostumei-me a considerar que só divergências estratégicas separam revolucionários.
As táticas estavam abertas ao debate, sem que nenhum de nós fosse satanizado por discordar de uma linha de ação, em benefício de outra igualmente identificada com valores de esquerda.
Hoy, no más. Por qualquer questiúncula pode-se sofrer o questionamento/estigmatização por parte de verdadeiros rolos compressores virtuais.
Muitos se deixam intimidar por esse patrulhamento odioso. Noblesse oblige, resisto e sempre resistirei a ele.
Foi o que ocorreu, p. ex., quando critiquei a deportação forçada dos pugilistas cubanos, por considerar mais importante que não se desmoralizasse a instituição do asilo político do que o atendimento a pedidos do compadre Fidel Castro.
Alertei, na ocasião, que essa decisão infeliz seria utilizada contra nós quando estivesse em jogo o destino de personagem muito mais relevante para a causa da liberdade e da justiça social.
Dito e feito: um forte argumento propagandístico da direita vem sendo o de que deve ser dado o mesmo desfecho ao Caso Battisti.
Quem se posicionou erroneamente no primeiro episódio, agora leva xeque-mate dos debatedores direitistas. Eu e o Suplicy não temos tal vulnerabilidade, então ninguém nos pode dar esse calaboca.
SEQUESTROS SERIAIS
Depois, quando Chávez açulava uma guerra dos esfarrapados entre Equador e Colômbia, falou-se muito nas centenas de cidadãos mantidos em cativeiro degradante pelas Farc.Eu e o digno companheiro Ivan Seixas, defensores da memória da luta armada brasileira, discordamos frontalmente dessa prática, destacando os critérios adotado pelas organizações daqui durante os anos de chumbo:
- só se sequestravam diplomatas para trocá-los pelos companheiros que estavam nos cárceres da ditadura, sofrendo torturas e podendo ser executados a qualquer momento ("vida por vida", como diz o Ivan);
- embora fosse mais fácil obter recursos financeiros para nossa luta por meio de sequestros,com objetivos pecuniários, considerávamos tal prática indigna e preferíamos correr riscos bem maiores expropriando bancos.
As discussões travadas com companheiros de outras visões, nesses dois momentos, tornaram-me persona non grata para determinadas tribunas virtuais e grupos de discussões. Foi quando decidi incrementar este blogue.
No outro, Celso Lungaretti - O Rebate, eu postava apenas um ou dois artigos semanais, obtendo maior repercussão com a publicação em outros espaços do que no meu.
Mas, se tais espaços poderiam ser fechados para mim cada vez que destoasse do rebanho, eu não iria permanecer numa situação que me deixasse vulnerável a chantagens.
Criei este segundo blogue há exatamente um ano e enunciei que sua missão seria a defesa dos ideais revolucionários e dos direitos humanos, bem como o exercício do pensamento crítico; e que estas três bandeiras seriam defendidas simultaneamente e em pé de igualdade, jamais priorizando-se uma em detrimento da outra.
Trocando em miúdos, os direitos humanos não são sacrificáveis às conveniências revolucionárias. Luto por uma revolução que os contemple a todo momento, não por uma que os negue no presente, na esperança de restabelecê-los num futuro que acaba nunca chegando.
Do stalinismo e da esquerda autoritária estou fora há muito tempo e continuarei apartado pelo resto dos meus dias.
Contrapus os exemplos de Getúlio Vargas e Salvador Allende, que preferiram a morte à desonra.
Infelizmente, há uma corrente de esquerda que abriu mão de qualquer compromisso com a versossimilhança, preferindo trombetear fábulas convenientes que só os fanáticos engolem.
Anteontem alguém chegou ao cúmulo de comparar o patético Zelaya a Simon Bolivar e Che Guevara, cometendo uma ofensa inominável à memória desses dois personagens históricos imensamente maiores, os mais emblemáticos do internacionalismo revolucionário em nosso continente.
Com suas seguidas tentativas de retomar o poder sem correr risco pessoal nenhum, disparando bravatas e refugando na hora H, insuflando seguidores a atitudes impensadas e assistindo de longe ao sacrifício de alguns deles (já se falou em 50 mortos num único dia, mas são apenas quatro até este exato momento...), Zelaya só pode ser comparado a João Goulart e demais presidentes que, com sua falta de grandeza histórica, facilitaram a escalada golpista das décadas de 1960 e 70.
Tem todo o direito de ser reconduzido ao mandato que lhe foi outorgado pelo povo e usurpado sem o cumprimento dos trâmites corretos, negando-se-lhe o direito de defesa das acusações que lhe eram feitas.
Mas, ao lutarmos por este direito, não somos obrigados a adorná-lo com roupagem de herói. Definitivamente, ele não o é. Forçações de barra propagandísticas só acarretam perda de credibilidade.
E aqui chegamos a outro ponto crucial para mim.
Vejo-me como um revolucionário que atuou durante boa parte da vida como jornalista. Em ambas esferas, a verdade é um valor fundamental, inegociável.
Antípoda do stalinismo desde o início da minha jornada, sempre adotei como minha a definição lapidar de Rosa Luxemburgo: "a verdade é revolucionária".
E, ganhando meu pão com o jornalismo, fiz tudo que podia para cumprir a verdadeira finalidade da profissão: resgatar a verdade encoberta pelos poderosos, disponibilizando-a para os leitores.
Hoje, mais do que nunca, tal postura é aconselhável, pois a indústria cultural desmoraliza-se a olhos vistos e a internet pode ocupar um espaço cada vez maior em termos informativos, interpretativos e opinativos.
Ou seja, o de informar de maneira isenta e formar opinião no bom sentido, disseminado valores que dignifiquem e não aviltem o ser humano.
Mas, só cumpriremos tal papel se informarmos/formarmos melhor do que a indústria cultural.
Se apenas colocarmos a propaganda da esquerda na web como contraponto à propaganda da direita na mídia, perderemos. A deles, formalmente, é mais atraente, já que contam com recursos materiais infinitamente superiores aos nossos.
Então, só nos resta sermos mais íntegros e verdadeiros.
É esta chance preciosa que as correntes virtuais sectárias e fanáticas, herdeiras da pior tradição stalinista, estão jogando no ralo.
No outro, Celso Lungaretti - O Rebate, eu postava apenas um ou dois artigos semanais, obtendo maior repercussão com a publicação em outros espaços do que no meu.
Mas, se tais espaços poderiam ser fechados para mim cada vez que destoasse do rebanho, eu não iria permanecer numa situação que me deixasse vulnerável a chantagens.
Criei este segundo blogue há exatamente um ano e enunciei que sua missão seria a defesa dos ideais revolucionários e dos direitos humanos, bem como o exercício do pensamento crítico; e que estas três bandeiras seriam defendidas simultaneamente e em pé de igualdade, jamais priorizando-se uma em detrimento da outra.
Trocando em miúdos, os direitos humanos não são sacrificáveis às conveniências revolucionárias. Luto por uma revolução que os contemple a todo momento, não por uma que os negue no presente, na esperança de restabelecê-los num futuro que acaba nunca chegando.
Do stalinismo e da esquerda autoritária estou fora há muito tempo e continuarei apartado pelo resto dos meus dias.
ZELAYA = CHE E BOLIVAR?
A atual onda censória foi despertada por artigos nos quais, embora defendendo taxativamente a recondução de Manuel Zelaya à presidência de Honduras, registrei o óbvio ululante: ele se comportou de forma extremamente vexatória ao aceitar ser escorraçado de seu país em pijamas.Contrapus os exemplos de Getúlio Vargas e Salvador Allende, que preferiram a morte à desonra.
Infelizmente, há uma corrente de esquerda que abriu mão de qualquer compromisso com a versossimilhança, preferindo trombetear fábulas convenientes que só os fanáticos engolem.
Anteontem alguém chegou ao cúmulo de comparar o patético Zelaya a Simon Bolivar e Che Guevara, cometendo uma ofensa inominável à memória desses dois personagens históricos imensamente maiores, os mais emblemáticos do internacionalismo revolucionário em nosso continente.
Com suas seguidas tentativas de retomar o poder sem correr risco pessoal nenhum, disparando bravatas e refugando na hora H, insuflando seguidores a atitudes impensadas e assistindo de longe ao sacrifício de alguns deles (já se falou em 50 mortos num único dia, mas são apenas quatro até este exato momento...), Zelaya só pode ser comparado a João Goulart e demais presidentes que, com sua falta de grandeza histórica, facilitaram a escalada golpista das décadas de 1960 e 70.
Tem todo o direito de ser reconduzido ao mandato que lhe foi outorgado pelo povo e usurpado sem o cumprimento dos trâmites corretos, negando-se-lhe o direito de defesa das acusações que lhe eram feitas.
Mas, ao lutarmos por este direito, não somos obrigados a adorná-lo com roupagem de herói. Definitivamente, ele não o é. Forçações de barra propagandísticas só acarretam perda de credibilidade.
E aqui chegamos a outro ponto crucial para mim.
Vejo-me como um revolucionário que atuou durante boa parte da vida como jornalista. Em ambas esferas, a verdade é um valor fundamental, inegociável.
Antípoda do stalinismo desde o início da minha jornada, sempre adotei como minha a definição lapidar de Rosa Luxemburgo: "a verdade é revolucionária".
E, ganhando meu pão com o jornalismo, fiz tudo que podia para cumprir a verdadeira finalidade da profissão: resgatar a verdade encoberta pelos poderosos, disponibilizando-a para os leitores.
Hoje, mais do que nunca, tal postura é aconselhável, pois a indústria cultural desmoraliza-se a olhos vistos e a internet pode ocupar um espaço cada vez maior em termos informativos, interpretativos e opinativos.
Ou seja, o de informar de maneira isenta e formar opinião no bom sentido, disseminado valores que dignifiquem e não aviltem o ser humano.
Mas, só cumpriremos tal papel se informarmos/formarmos melhor do que a indústria cultural.
Se apenas colocarmos a propaganda da esquerda na web como contraponto à propaganda da direita na mídia, perderemos. A deles, formalmente, é mais atraente, já que contam com recursos materiais infinitamente superiores aos nossos.
Então, só nos resta sermos mais íntegros e verdadeiros.
É esta chance preciosa que as correntes virtuais sectárias e fanáticas, herdeiras da pior tradição stalinista, estão jogando no ralo.