quarta-feira, 5 de outubro de 2022

AGORA FALANDO SÉRIO

Não tenho ilusões quanto ao que o Brasil se tornará no provável Governo Lula. 

Em poucas palavras, um do Bozo vai levar adiante a escalada da barbárie, acendendo o pavio de uma explosão social ainda maior que a de 2013 aqui e as de 2019 em vários países. 

Ele mesmo disse que veio para destruir e é exatamente à destruição extremada que há de chegar, destruindo inclusive a si próprio, se não for contido agora.

Já um terceiro mandato do Lula será o apenas a continuação da pasmaceira e do marasmo, pois ele não passa de um homem do passado com a mentalidade do passado: os grandes referenciais de sua vida são o populismo/coronelismo nordestino, mais o sindicalismo de resultados aprendido depois no ABC, sabe-se lá se com ou sem lições de mestres estadunidenses. 

O momento é de esgotamento do modelo de sociedade construído pelo capitalismo globalizado nas últimas décadas, exigindo de partidos e militantes de esquerda que vislumbrem, proponham e esforcem-se para viabilizar passos adiante. O Lula anda para trás, rumo ao século passado; o o Bozo recua mais ainda, até a Idade Média.

Daí a nocividade da polarização atual, uma armadilha que eu tanto tentei destravar com um impeachment do Bozo, mas a esquerda que a direita gosta, populista e reformista, quis mesmo é deixar o genocida derretendo no poder, pois está tão decadente que precisa de um adversário pior ainda para ter chance de vitória.

Mas, como diz a sabedoria popular, a esperteza, quando é demais, engole o dono. E eis que o Lula não conseguiu bater suficientemente no bêbado e o 1º turno terminou com um balde de água fria na cabeça dos antifascistas: nunca tantos brasileiros despejaram tantos votos em tão pouco candidato, uma abjeta excrescência que passou 45 meses exibindo e insuflando tudo que há de pior num ser humano. 

Não queria ter sobre meus ombros a responsabilidade que o Lula carregará até o dia 30. Ele, que já foi o grande eleitor e o principal responsável pela vitória do Bozo em 2018, arrisca-se a cumprir o mesmíssimo papel, só que de maneira diferente, em 2022.

Quando afirmo que ele pavimentou o caminho para a descida ao inferno na última eleição, levo em conta o seguinte:
— desde o início de sua trajetória sempre trabalhou para a despolitização da esquerda, pois abomina a revolução e os revolucionários;
— então, sua faina foi invariavelmente no sentido de transformar um partido que mantinha presença marcante nos movimentos sociais num partido que existisse só para ganhar as eleições de cartas marcadas da democracia burguesa;
— com isto, abriu espaço para os mercantilizadores da fé e outros reacionários atraírem para si as massas abandonadas, desnorteadas e desesperançadas, oferecendo-lhes miragens compensatórias (as graças celestiais para quem não passou de desgraçado na Terra) e catarse (a demonização de civilização e da modernidade, que reduziram as vítimas dessas lavagens cerebrais a eternos perdedores);
— foi visceralmente contra os protestos de junho de 2013 e o #NãoVaiTerCopa, deixando sua pupila abandonar os manifestantes à sanha de governadores e judiciários estaduais (tendenciosos e arbitrários), o que permitiu à direita atrair para suas fileiras parte desses quadros, obviamente indignados;
— tendo a cumplicidade dos dirigentes do PT que se resignaram a ser meras vaquinhas de presépio para o único quadro do partido capaz de vencer eleições nacionais, Lula não só domesticou o PT, o que agora está se revelando desastroso, como acumulou erros crassos ao exercer uma liderança da qual jamais esteve à altura; 
— impingiu a gerentona trapalhona como sua sucessora em 2010 e ela, do alto de sua arrogância, tentou resgatar o nacional-desenvolvimentismo de meados do século passado, incubando uma formidável recessão;
— quando, em 2014, as melhores cabeças pensantes de que o PT ainda dispunha alertaram Lula de que a Dilma não seria capaz de segurar a onda no mandato seguinte (necessariamente tempestuoso), ele permaneceu surdo aos apelos para assumir a candidatura, embora tivesse força interna suficiente para impor tal decisão, por maior que fosse a chiadeira da destituída estridente;
— propôs-se em 2016 a evitar o impeachment da Dilma mediante o habitual toma-lá-dá-cá do fisiologismo político, chegando a montar um QG de barganhas num quarto de hotel brasiliense, colhendo, como resultado dessa faina, perda total, pois, além de não atingir o objetivo, seu fracasso foi noticiado e saboreado pela mídia dia após dia ;
— fez questão de que os gravíssimos erros responsáveis pelo impeachment da Dilma não fossem avaliados num processo partidário de crítica e autocrítica, o que permite à extrema-direita trombetear até hoje que um novo governo petista produziria a mesma debacle econômica, além de as lições do desastre não terem sido extraídas e aproveitadas para correções de rumo, como manda a tradição da esquerda;
— criou confusão no front antifascista  quando da eleição presidencial de 2018 ao insistir teimosamente na candidatura própria, que inevitavelmente seria rechaçada pelo TSE, só servindo para retardar o início da campanha petista até a enésima hora, enquanto o inimigo já trabalhava a pleno vapor (o pior é que se deixou levar por um mero ressentimento pessoal, colocando a ânsia por um desagravo implícito contra as condenações judiciais que sofrera acima do imperativo de barrar o celerado);
— impôs como candidato-tampão (já que foi explicitamente escolhido como o reserva que só entraria em campo caso o titular estivesse sem condições de jogo) o carisma zero Fernando Haddad, quando Ciro Gomes e Guilherme Boulos expressavam muito melhor a combatividade que se espera de um presidenciável do PT e, certamente, até por inflamarem a militância, obteriam votação mais expressiva. 

Depois de ele ter dado contribuição tão expressiva para estarmos agora ameaçados de perder uma eleição facílima de ganhar, tais as vulnerabilidades e o índice de rejeição do adversário, não vou passar pano para o Lula. 

Ele que trate de obter esta vitória que virou obrigação, até porque foi ele quem escolheu o campo e o adversário. Com todas as ressalvas que lhe faço, contribuirei a meu modo para afastar o pesadelo de um recrudescimento fascista. 

Nem vou mais escrever sobre o Lula até o fim da campanha, mas tratarei de escancarar quão catastrófico seria um triunfo do Bozo, selando definitivamente a opção do Brasil pela barbárie.

E, se perder desta vez, a única opção digna para o Lula será pendurar as chuteiras. O que, aliás, já deveria ter feito há muito tempo. (por Celso Lungaretti)

4 comentários:

Anônimo disse...

Brilhante, Censo!!!

celsolungaretti disse...

Obrigado, companheiro! Um abração!

Anônimo disse...

Oi Celso, tudo bem com Você? Aqui é o Hebert.
Deixo aqui pra você (e aos visitantes interessados),
um vídeo sobre o "data povo". Algo mais lúcido (e honesto),
condizente com a realidade, de autoria da youtuber Lívia Zaruty,
um "patinho feio", das redes sociais. Ela Fala sobre o perfil
do eleitor, e sobre contribuição da atual classe artística brasileira,
que julga toda arte, como sendo Política, e todo cultura pop,
como sendo Cultura verdadeira.
Tudo bem "envernizado", pela nossa "intelligentzia" brasileira,
especialista em teses sobre e verborragia sobre o Povo,
mas sem o devido contato, como sempre.
Forte abraço.

Lívia Zaruty (canal Lívia Zaruty - Etnia Brasileira)
https://www.youtube.com/watch?v=io_KLPA8weg

celsolungaretti disse...

Hebert,

fica a dica para os leitores avaliarem. Escutar podcasts ou assistir a filmes sem legendas é penoso para mim por causa da audição precária. Faço-o só em último caso.

De vez em quando até assisto filme ou série brasileira com legenda em espanhol, quando existe. Inclusive para poder ver no horário de silêncio sem incomodar os vizinhos de quartos, que levantam cedo para trabalhar.

Abs!

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