Por mais que as feministas esperneiem, a função primordial da mulher é a maternidade. Pelo óbvio motivo de que, caso ela deixe de exercê-la, a espécie humana se extinguirá.
Os gregos antigos, que sabiam das coisas, dedicavam a Rhea, mãe dos deuses, uma de suas mais belas comemorações: a da chegada da primavera.
Os cristãos também destacam sobremaneira o papel de Maria, mãe de Jesus Cristo, a quem endereçam uma de suas principais orações. Isto fez com que ela se colocasse, na imaginação dos devotos, quase no mesmo plano do Pai Nosso. Sua deferência para com as mães e as mulheres, no entanto, só subsistiu até o feudalismo. Por quê?
Uma explicação na linha do marxismo é a de que, sendo os homens mais aptos para o árduo trabalho braçal nos campos e para a guerra, a divisão de trabalho estabeleceu-se naturalmente, ficando as mulheres com a responsabilidade de gerar novos trabalhadores e combatentes, além de cuidarem do lar em que eles recompunham suas forças. A ideologia – a atitude cavalheiresca e protetora em relação aosexo frágil– teria se erigido sobre essa realidade material.
O capitalismo, no entanto, dessacralizou a família, submetendo mulheres e crianças à mesma exploração que impôs aos homens.
“A burguesia rasgou o véu do sentimentalismo que envolvia as relações de família e reduziu-as a simples relações monetárias”, constatou Marx, qual um profeta irado diante do quadro dantesco de seu tempo.
“A grande indústria destrói todos os laços familiares do proletário e transforma as crianças em simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho” (Manifesto do Partido Comunista, 1848).
Emblematicamente, o primeiro registro de celebração do Dia das Mães no milênio passado se dá na Inglaterra do século 17, quando o quarto domingo da Quaresma começou a ser dedicado às mães das operárias inglesas.
Nesse dia as trabalhadoras ganhavam folga para ficar em casa com as mães, depreendendo-se, portanto, que trabalhassem nos demais domingos.
Os industriais, apesar de se dizerem tementes a Deus, não lhes permitiam que seguissem o exemplo do Criador, descansando no sétimo dia.
Se fé demais não cheira bem, fé de menos fede pior ainda ...
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DO CAPITALISMO SELVAGEM AO PÓS-INDUSTRIAL- O Brasil, com sua industrialização tardia, foi poupado do pesadelo em que se constituiu a criação da infra-estrutura básica do capitalismo na Europa, com destaque para o trabalho massacrante nas minas de carvão inglesas, em que mulheres e crianças cumpriam jornadas às vezes superiores a 14 horas diárias!
Em nosso país, até a década de 1960 os homens da casa (o pai e os filhos, estes pegando no batente tão-logo atingissem a idade de 14 anos) geralmente obtinham remuneração suficiente para o sustento, mesmo que precário, da família.
Foi quando os avanços no processo produtivo, tornando cada vez mais desnecessária a força física para a maioria dos desempenhos, possibilitaram o ingresso em massa das mulheres no mercado de trabalho.
O chamariz do consumo e a perspectiva de serem donas dos próprios narizes (sem se darem conta de que estavam apenas trocando o mandonismo do marido pela tirania impessoal do sistema) levaram as mulheres a disputarem entusiasticamente posições com suas iguais e com os próprios homens, mesmo recebendo paga inferior à deles pelas mesmas funções.
Como consequência desse aumento exagerado da oferta da mão-de-obra, as remunerações de todos foram aviltadas.
As famílias de classe média, principalmente, passaram a depender do trabalho dos dois cônjuges para manterem seu padrão de vida. Ficaram em cacos, com pais fatigados demais para cumprirem realmente seu papel e crianças crescendo aos cuidados de terceiros. O resultado são esses jovens problemáticos, egoístas e imaturos que todos conhecemos.
Nestes tempos em que as mulheres veem a si próprias mais como profissionais do que como mães, paradoxalmente, o Dia das Mães é festejado como nunca. Mas, também aí prevalecem os malfadados interesses monetários, a necessidade que o sistema tem de datas festivas que alavanquem as vendas.
Então, o grande exemplo a ser lembrado nesta data é o de Anna Jarvis, estadunidense que batalhou incessantemente para que fosse instituído um dia de homenagem a todas as mães, vivas ou mortas, visando fortalecer os laços familiares e o respeito pelos pais.
O governador do seu estado, a Virgínia Ocidental, acabou oficializando essa celebração em 1910, no que foi logo imitado por congêneres, até que o presidente Woodrow Wilson unificou em 1914 as várias datas estipuladas, fixando o Dia Nacional das Mães no segundo domingo de maio.
Os comerciantes se atiraram sofregamente à exploração do lucrativo filão, horrorizando Ana Jarvis, que desabafou em 1923 para um repórter: “Não criei o Dia das Mães para ter lucro”. No mesmo ano ela tentou cancelar a celebração por meio de uma ação judicial, inutilmente.
E teve sorte de morrer antes que o desvirtuamento do Dia das Mães se tornasse avassalador, na sociedade de consumo. (por Celso Lungaretti)
Ocavalo de Troiapor meio do qual deputados federais pretenderam salvar Jair Bolsonaro do merecido castigo por ter sido o principal responsável pela tentativa de golpe de Estado do 8/1 virou cinzas.
Dos cinco integrantes da 1@ Turma do Supremo Tribunal Federal, quatro já votaram contra tal manobra casuística e a quinta, Carmen Lúcia, mantendo-se coerente com seus posicionamentos anteriores, certamente fechará o placar em 5x0.
O nome dos que já honraram as próprias togas merece ser citado: Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Flávio Dino e Luiz Fux.
Bolsonaro, que não disse uma única palavra contra o artifício utilizado por seus parças para tentarem evitar-lhe a prisão, comportou-se mais uma vez de maneira incompatível com a dignidade que se espera de um ex-presidente da República... e nem sequer lucrou com isto. Sai mais desmoralizado ainda do que já estava, e com as mãos abanando.
A jogada era obterem uma decisão contrária da Câmara Federal, antecipando-se à inevitável condenação do deputado Alexandre Ramagem no STF por golpismo.
E, seja por corporativismo ou por fascismo, 315 deputados realmente votaram pela suspensão do processo contra Ramagem enquanto ele estiver no exercício do seu mandato.
Se a empulhação fosse bem sucedida, o absurdo seguinte seria tentarem estender tal benefício a Bolsonaro, embora se trate de um privilégio concedido tão somente aos possuidores de mandato legislativo, não se tratando, portanto, do caso do dito sujo (atenção, a palavra que eu quis grafar não era cujo, ésujomesmo...).
Conforme antecipei no meuartigoda véspera, os quatro ministros que já deram seu voto entenderam que só duas das acusações a Ranagem (dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado) devem ser suspensas até o final do seu mandato, mas as de extrema gravidade (abolição violenta do Estado de Direito, associação criminosa armada e tentativa de golpe de Estado), não.
Flávio Dino ressaltou que, quando está em causa um processo jurídico,"a deliberação do Poder Legislativo não é imune ao controle jurisdicional, sendo certo que, nessa conjuntura, a decisão final constitui ato típico e exclusivo do órgão competente do Poder Judiciário".
Para finalizar, parabenizo o colega Josias de Souza por ter esgotado este assunto com tão poucas frases, mas afiadas como navalhas:"A imunidade parlamentar, quando usada para cavar a impunidade, vira um outro nome para vigarice. Quando pessoas sem mandato tentam pegar carona na imunidade alheia, a picaretagem vira formação de quadrilha. Se o crime do qual se deseja escapar é uma tentativa de golpe de Estado, com invasão e depredação das sedes dos Três Poderes, tem-se a reiteração do ataque à democracia".(por Celso Lungaretti)
A fórmula de mesclar enredos de ficção científica com os dramas reais das ditaduras e das guerras sujas do século passado tem um acréscimo significativo com a minissérie O Eternauta, lançada em escala mundial no mês passado e que ora começa a ser aqui exibida nostreamingda Netflix.
Só que desta vez a realidade invade não a vida fictícia dos personagens, mas sim a existência verdadeira do próprio criador da clássica HQ de 1957. o escritor Héctor Germán Oesterheld.
Mas, deixando o principal para o fim, lembremos incialmente o exemplo de duas obras primas literárias ancoradas na realidade e que renderam filmes interessantíssimos.
Refiro-me, primeiramente, à distopia por mim considerada a melhor de todos os tempos:1984, escrita por George Orwell em 1948, a partir dos acontecimentos que ele vivenciou nos campos de batalha da guerra civil espanhola.
Esquerdista ingênuo, Orwell foi participar das brigadas internacionais que lutavam contra as tropas golpistas de Francisco Franco e, por mera coincidência, acabou ingressando numa que era controlada pelo Partido Obrero de Unificación Marxista, seguidor de Leon Trotsky.
Os Juan Salvos dos quadrinhos e das telas
Pôde então constatar ao vivo e em cores que a URSS, única aliada de peso dos valorosos espanhóis, cobrava muito caro pelos mantimentos e armamentos que lhes fornecia: obrigava os trotskistas e anarquistas a, em pleno calor da luta, expurgar seus dirigentes que estavam em desacordo com o desvirtuamento da revolução soviética por parte de um dos maiores carniceiros do século passado, o tirânico Joseph Stalin.
Atingido por um disparo inimigo, Orwell volta para a Inglaterra e escreve dois livros contundentes, a partir de suas observações da tragédia espanhola: --Lutando na Espanha, no qual culpa os soviéticos por terem tirado do povo os motivos que o haviam levado a revoltar-se espontaneamente contra a investida fascista, partindo para a resistência heroica; e
--1984, uma parábola fictícia mas transparente sobre o desvirtuamento da revolução soviética sob Stalin, responsável inclusive pelo massacre da velha guarda bolchevique nos infamesjulgamentos de Moscou.
O livro é um arraso, me deixou profundamente chocado quando o li. por volta dos meus 16 anos (até garimpei e encontrei um irmão menor, O zero e o infinito, de Arthur Koestler).
O filme, lançado exatamente em 1984, não ficou à sua altura, já que requeria um diretor peso pesado e não, apenas, Michael Radford; mas a força da trama (Orwell foi co-roteirista) e as impactantes atuações de John Hurt e Richard Burton o valorizam muito.
Já o diretor George Roy Hill foi uma escolha bem mais apropriada no caso deMatadouro Cinco(1972), filme no qual quem ficou devendo foi o elenco, encabeçado por Michael Sacks (quem?!).
Lançado em 1969. obest-sellerdo Kurt Vonnegut Jr., por sua vez, foi o melhor fruto literário daquela voga contestatória na Europa e EUA; e também tem o autor como co-roteirista.
Começa como uma sci-fi rotineira sobre homem abduzido e suas peripécias com os extraterrestres, mas a dramaticidade sobe aos píncaros quando a ação, surpreendendo os leitores, se desloca para a cidade alemã de Dresden, alvo de um bombardeio tão inútil quanto criminoso por parte dos aliados na segunda guerra mundial. Piores do que este, só mesmo os de Hiroshima e Nagasaki...
Torçamos para que a minissérie argentina, ainda no início, acrescente mais uma pérola a esta relação. Nela, o onipresente Ricardo Darin interpreta Juan Salvo, homem comum que se torna viajante do tempo e do espaço ao buscar sua família desaparecida após uma nevasca tóxica.
A arte o conduz à participação num grupo de resistência, inicialmente para sobreviver, depois para o enfrentamento de uma ameaça extraterrestre e, afinal, para cair nas garras dos inimigos.
Já o escritor Oesterheld foi arrastado pela vida em direção semelhante, pois ele aderiu à guerrilha esquerdista dos Montoneros e o fez juntamente com sua família, acabando por ser sequestrado em 1977 pelos militares fascistas.
O desfecho foi trágico: Oesterheld e suas quatro filhas desapareceram para sempre. Será um milagre se algum dos cinco ainda reaparecer com vida, tanto tempo depois.
Resta saber se o imaginário Salvo será salvo na minissérie ou vai evaporar também...(porCelso Lungaretti)
O nome escolhido por um Papa diz muito sobre os caminhos que ele deseja trilhar em seu reinado e no caso do novo pontífice a escolha vem carregada de significado.
Leão XIII foi o Papa responsável pela encíclica chamada De Rerum Novarum, um documento publicado em 1891 que tratava especificamente da questão operária em um contexto de perda de influência do catolicismo entre a classe trabalhadora europeia, cada vez mais ganha pelo socialismo. Contraditório, o documento criticava a situação miserável dos trabalhadores, defendia o direito de greve e de sindicalização, mas também atacava o socialismo, o liberalismo e a laicização social. Foi a primeira grande tentativa do Vaticano de entrar no mundo moderno.
Leão XIII tentou combater a influência socialista entre os trabalhadores.
Essa informação histórica é importante para entendermos a escolha de Robert Francis Prevost pelo nome Leão XIV. Arcebispo de origem estadunidense, nascido em Chicago, Prevost foi durante mais de duas décadas bispo no Peru, país do qual é cidadão naturalizado. Portanto, a rigor, ele é o primeiro Papa estadunidense, mas também o primeiro peruano, continuando com o movimento do Vaticano, iniciado com Francisco, de eleger pontífices oriundos da América Latina, região onde hoje o catolicismo encontra-se em franca decadência. Que ele também seja estadunidense é mais uma peça política nada gratuita, diante dos recentes desgastes da Igreja nos EUA por causa das denúncias de pedofilia que abalaram aquele país.
O agora Papa, inclusive, é criticado por ter acobertado padres pedófilos e é lembrado por ter feito declarações nada abonadoras a respeito da comunidade LGBT, declarando que suas práticas não estariam de acordo com o evangelho. Condenou igualmente a tentativa de se ensinar ideologia de gênero nas escolas da pequena e miserável cidade peruana onde era bispo. Em geral, é tido como um moderado, mais à direita que Francisco, mas sem o reacionarismo de um Bento XVI.
Daens acreditou na encíclica de Leão XIII, mas foi por ele abandonado.
A encíclica de Leão XIII foi muito mais um documento vazio que uma correção concreta de rumos na empoeirada Igreja Católica. Quem tiver curiosidade, pode assistir ao filme Daens, colocado na janelinha ao final deste post, cuja trama aborda a história do padre belga Adolf Daens. Vivendo no interior da Bélgica, esse sacerdote acreditava nas promessas da De Rerum Novarum e inicia potente campanha em prol dos operários, ali submetidos à superexploração e à miséria mais implacável, e entra em disputa com os burgueses locais. Os industriais da região iniciam brutal perseguição contra ele, o levando a bater nas portas do Papa em busca de ajuda. Contrariando sua encíclica, Leão XIII não ousa se colocar contra a poderosa burguesia belga e abandona o pobre Daens à própria sorte. No fim, condenado ao silêncio obsequioso, sua única alternativa é abandonar a Igreja e seguir sua luta.
Ao escolher seu nome, Leão XIV mostra qual será o espírito de seu pontificado e esse espírito parece ser o mesmo de seu antecessor nominal: contraditório e formal, buscando se entregar ao mundo moderno, mas o condenando, confrontando os poderosos no discurso, mas não na prática, e no fim acima de tudo preocupado com sua perda acelerada de fiéis. No fim, o novo Papa parece ser uma síntese impossível de uma Igreja atravessada por uma profunda crise entre os ressentimentos reacionários e as aspirações liberalizantes. (por David Coelho)
Sabendo que a correta aplicação das leis brasileiras torna inevitável a responsabilização de Jair Bolsonaro como o principal culpado pela tentativa de golpe de Estado do 8/1, ultradireitistas e corporativistas se uniram para aprovar na Câmara Federal, por 315 votos a 143, um absurdo jurídico.
Trata-se de projeto que se constitui num verdadeiro cavalo de Troia, pois pode ser usado para atrasar as merecidas condenação e prisão do ex-presidente delinquente.
Suspende a ação penal à qual o deputado Alexandre Ramagem, do mesmo partido de Bolsonaro, responde por sua participação naquela intentona flopada. A falácia: seriam proibidas todas e quaisquer investigações contra parlamentares após sua diplomação.
Uma vez aprovado tal casuísmo, os adeptos ou cúmplices do golpismo requereriam que entrasse pela mesma brecha aquele que comandou a conspiração para, inclusive, assassinarem-se o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Alexandre de Moraes.
Ou seja, se Ramagem explodisse uma bomba num cinema lotado e matasse centenas de pessoas, ainda assim isto só poderia ser investigado ao término do seu mandato. Faz sentido? É óbvio que não.
Como a escalada da insanidade ainda não chegou a tal ponto, supõe-se que o Supremo Tribunal Federal consiga impedir que a tramoia obtenha êxito, separando-se de forma mais racional os crimes e delitos.
Como? Primeiramente, Ramagem não responderia de imediato por dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado, porém o que houve de mais grave continuaria sujeito a processo na presente legislatura.
Afinal, quem tramou e agiu para concretizar a abolição violenta do Estado de Direito, tendo participado de uma associação criminosa armada, constituída para encabeçar uma tentativa de golpe de Estado, não é um criminoso qualquer.
O sucesso dos seus planos implicaria matança em larga escala, usurpação do poder e instalação de uma ditadura que poderia acarretar outros 21 anos perdidos para o povo brasileiro.
De resto, como não há nada como um dia depois do outro, agora sabemos exatamente o que Bolsonaro queria dizer quando falava em "jogar dentro das quatro linhas da Constituição".
Vigaristas hábeis usam frases de efeito para engambelarem os otários...(por Celso Lungaretti)
Quem acompanha minhas divagações leigas sobre os riscos de extermínio da espécie humana a partir da escalada do aquecimento global sabe que, há muito tempo, indago-me sobre qual o momento em que as maiores catástrofes se tornarão irreversíveis e nem mesmo a adoção das medidas mais drásticas conseguirão evitar que elas continuem ocorrendo.
Ou seja, sobre quando atingiremos o ponto de não-retorno.
Os scholars provavelmente desprezam tais elucubrações porque, afinal, sou um sem-PhD, portanto, aos olhos deles, um ninguém. Nem sequer levam em consideração o fato de que meus cenários futuros na política têm um índice de acertos muito acima do que se poderia qualificar de mera coincidência.
Mas, como não posso nascer de novo e aí sim acumular as certificações acadêmicas que me garantissem um mínimo de respeito para as minhas preocupações com o futuro de meus entes queridos (e, portanto, com o futuro da humanidade), continuarei invadindo a praia que fazem tamanha questão de manterem como propriedade exclusiva deles.
Um exemplo de que não sou nenhum alucinando falando crassas asneiras, como os bolsonaristas fazem o tempo todo, está no último artigo do Carlos Nobre, um dos maiores climatologistas brasileiros, intitulado O aquecimento global acima de 1,5°C é irreversível?
Alguns trechos bastarão para os leitores perceberem que estou totalmente certo ao alertar que, como há muito as previsões científicas sobre o aumento do aquecimento do planeta são ano a ano ultrapassadas pelos acontecimentos, temos mesmo de nos inquietar sobre quanto tempo nos resta para determos a marcha para o fim.
Oapocalypse nowpode estar muito mais próximo do que imaginamos. E não o do filme do Coppola, mas sim o real.(Celso Lungaretti)
"...a influência humana no aquecimento global é inequívoca. O aquecimento do planeta não é questionável, é um consenso.
OAcordo de Parisde 2015 estabeleceu metas para não deixar de modo algum o aumento da temperatura global ultrapassar 2°C até 2100 e, para tanto, seria essencial reduzir as emissões dos gases de efeito estufa em 70% até 2050 e zerar as emissões líquidas até 2100.
A COP21 também estabeleceu o limite de 1,5°C como meta a fim de minimizar maiores riscos e impactos do aquecimento global.
Em 2021, aCOP26, em Glasgow, na Escócia, lançou metas muito mais ambiciosas. A ciência indicava que para não ultrapassarmos 1,5°C teríamos de reduzir as emissões em 43% em relação àquelas de 2019 e zerar as emissões líquidas até 2050. Entretanto, parece que algo bem diferente vem acontecendo.
O ano de 2024 foi o primeiro a violar o Acordo de Paris e as metas da COP26 ao superar o limite de 1,5°C, um limiar significativo em termos de impactos sociais, ambientais e econômicos.
Além dos recordes nas temperaturas nos continentes, tanto atemperatura global da superfície do mar (SST) quanto oconteúdo de calor oceânico (OHC) até 2.000 metros atingiram máximas sem precedentes no registro histórico. Os valores recordes de SST e OHC em 2024 indicam tendências inabaláveis de aquecimento global...
...2 meses consecutivos acima de um limite climático indicam que o aquecimento global nesse patamar vai continuar em longo prazo. Não se pode afirmar que ficaremos acima de 1,5°C permanentemente, mas os pesquisadores mostraram uma tendência clara...
...uma vez ultrapassado determinado patamar de aquecimento, não há retorno a níveis inferiores no intervalo de 20 anos. As simulações mostram que isso também vale para o limite de 1,5°C...
...mesmo que a redução das emissões comece agora, é provável que a Terra continue superando o limite de 1,5°C. Sem uma mitigação climática muito rigorosa, o primeiro ano acima de 1,5°C ocorre dentro do período crítico de 20 anos, com consequências irreversíveis para o sistema terrestre em áreas-chave como biodiversidade, nível do mar e estoques de carbono..."(Carlos Nobre)
Em 1975, quando Steven Spielberg estava com 28 anos, sua carreira como diretor se resumia a curtas metragens, filmes e episódios de seriados para TV e um único longa para cinema, Louca escapada, sem grande repercussão.
Mas Encurralado (1971), um dos seus trabalhos para a tela pequena, impressionara tanto que acabou sendo lançado na tela grande. Esperava-se dele algo maior e a promessa foi cumprida com Tubarão, que o alçou instantaneamente à condição de grande diretor de Hollywood.
Foi novamente um filme de ação, tendo como receita do seu êxito a temática do duelo . Em Encurralado, havia sido o confronto, que acaba se tornando mortal, entre os motoristas de um conversível e de m enorme caminhão, ao longo da rodovia.
Tubarão tem 124 minutos e vale sobretudo pela metade final, quando um xerife, um oceanografo e um caçador profissional de tubarões saem no encalço de uma fera gigantesca que atacava os banhistas de uma cidade turística e, ao invés de fugir, os enfrenta.
Ou seja, o enredo tinha a mesma inverossimilhança de Moby Dick: peixes não duelam com homens, estão apenas ocupados com alimentarem-se de peixes menores. Mas, se tanto a baleia quanto o tubarão não fossem vingativos e perseguissem os homens que os haviam tentado matar, ambas as histórias não seriam tão impactantes.
O talento de Spielberg em culminar seu filme com ação eletrizante, de tirar o fôlego, foi recompensado: Tubarãobombou no mundo inteiro e motivou os produtores a lançarem três sequelas (com histórias encomendadas do mesmo escritor e roteirista, Peter Benchley) e vários trabalhos menores com outras criaturas marinhas gigantescas, mas a moeda não caiu outra vez em pé.
Sem Spielberg, que não quis continuar explorando filão que inaugurara, não houve mais nenhuma bilheteria expressiva.
De resto, a grande atuação do filme ficou por conta do Robert Shaw, que precisava compor um personagem impressionante, obcecado em vingar-se dos peixes que quase o haviam devorado, e deu total conta do recado.
E o tema musical do ataque do tubarão, composto pelo John Williams, é do tipo chiclete: gruda nos ouvidos. (porCelso Lungaretti)
O filme Tubarão pode ser alugado/comprado no próprio Youtube; está disponível também no streaming da Prime.
Opai foi o Pelé, principal futebolista do século passado.
O filho é o Messi, que disputa com Pelé o título deGOAT(melhor de todos os tempos).
O espírito santo inspira Lamine Yamal, que ameaça superar ambos.
Filho de um marroquino que casou com uma moça da Guiné Equatorial, Yamal tinha sete anos quando a família se mudou para Barcelona. Logo estava jogando na base do Club de Fútbol La Torreta e chamando a atenção dos olheiros do Barcelona fc.
Percebido como um dos melhores produtos das categorias de base do Barça, foi escolhido pelo grande Xavi Hernández, técnico da equipe juvenil, para treinar com a equipe principal na temporada 2022-23.
Estreou em abril de 2023, quando estava com 15 anos e nove meses, tornando-se, em todos os tempos, o quinto jogador mais jovem a atuar em La Liga.
Foi também em 2023 que chegou tanto à seleção espanhola sub-17, quanto ao escrete principal.
Hoje com 17 anos e 9 meses, é titular do Barcelona e da seleção espanhola, deslumbrando o mundo com golaços (como o marcado na semifinal da Champions contra a Internacional), recordes de assistências e um amplo repertório de jogadas desconcertantes.
Atuando principalmente na ponta-direita, com liberdade para flutuar até o miolo, é um driblador tão endiabrado quanto o inesquecível Mané Garrincha, mas sem debochar dosjoõesque surgem no seu caminho e são instantaneamente deixados para trás.
É difícil prever se será maior do que o Pelé e o Messi, mas se trata, com certeza, do único dos futebolistas famosos da atualidade com potencial para tanto.(porCelso Lungaretti)
AConstituição de 1988 adotou um robusto sistema de cláusulas pétreas, que proíbe a deliberação de propostas de emendas tendentes a abolir a democracia, a separação dos Poderes, os direitos fundamentais, bem como a federação.
No contexto desse nosso constitucionalismo defensivo, aprovar uma lei anistiando pessoas condenadas por tentar abolir nosso Estado democrático de Direito, como pretendem os assanhados aliados de Bolsonaro, consistiria em uma grave violação à Constituição.
A questão é simples. Se a Constituição proíbe a deliberação de emendas tendentes a abolir os princípios fundamentais que a estruturam, como poderia permitir que uma mera lei ordinária assegurasse a impunidade daqueles tentaram abolir o Estado democrático de Direito? Evidente que essa lei seria inconstitucional.
Mas não se trata apenas de uma questão formal. A condição básica para que as democracias sobrevivam é que os vitoriosos nas urnas governem de acordo com a Constituição e os derrotados sigam para a oposição, enquanto aguardam as próximas eleições.
O compromisso com as regras do jogo é, portanto, indispensável. Ao abrir a possibilidade de anistia para aqueles que conspiram contra essas regras básicas da democracia, a própria sobrevivência democrática fica comprometida...
...Isso apenas fomentaria a disposição de setores autoritários de continuarem atentando contra o resultado das urnas todas as vezes que esses resultados lhes forem adversos. Mais do que isso, também fomentaria os vencedores a exercer o poder à margem dos limites estabelecidos pela lei e pela Constituição, sob a certeza de ficarem impunes no futuro.
Se existe uma percepção de que a Lei de Defesa do Estado Democrático de Direito, (...) estabeleceu penas muito rigorosas ou de que o Supremo não distinguiu corretamente as condutas de cada um dos condenados, cumpre ao Congresso Nacional corrigir a lei, para que as sentenças possam ser eventualmente revistas, mas jamais promover a impunidade dos inimigos da nação.
É preciso ter clareza de que tentar abolir o Estado democrático de Direito, assim como depor um governante legitimamente eleito, constituem condutas gravíssimas.(trechos do artigo Anistia: inconstitucional e perversa, de Oscar Vilhena Vieira, professor da FGV Direito SP, mestre em direito pela universidade estadunidense de Columbia e doutor em ciência política pela USP)
Nunca esquecerei a emocionante performance de Nana Caymmi que, ao lado de Milton Nascimento, foi responsável em 1980 por uma versão portentosa da canção "Sentinela", tributo a um herói maior da emancipação dos povos americanos.
Já esqueci o desatinado apoio de Nana Caymmi, em 2019, a uma criatura abjeta do submundo fluminense. (CL)
Ao tomar conhecimento, nesta terça-feira (29), do acordoque estava sendo articulado entre o Supremo Tribunal Federal, o Senado e a Câmara dos Deputados, não tive nenhuma dúvida de que se tratava do golpe de misericórdia nas ilusões de impunidade do Jair Bolsonaro.
Esvai-se sua última esperança de salvar-se da prisão iminente como golpista que, para manter-se ilegalmente no poder, admitira até mesmo o assassinato do presidente eleito, do seu vice e de um ministro do STF.
Bolsonaro pretendia, inspirando compaixão pelos descerebrados presos ao contribuírem com sua tentativa de autogolpe do 8/1, alavancar uma anistia que lhe servisse de cavalo de Tróia.
Davi Alcolumbre e Hugo Motta se uniram para esvaziar a sórdida tramoia bolsonarista para, a pretexto de reduzir-se o excesso de severidade adotado contra os paus mandados, viabilizar uma anistia que acabasse incluindo também os mandantes, começando pelo próprio ex-presidente, indiscutível líder e beneficiário da pretendida virada de mesa.
Dois dias depois tal interpretação se tornou praticamente consensual. O competente Josias de Souza, por exemplo, já qualifica as tratativas em curso de um xeque-mate no Bolsonaro, explicando:
"Pelo acordo, o Congresso aprova um projeto para reduzir as penas leoninas dos condenados de 8 de Janeiro, sem atenuar as prováveis punições que serão impostas pelo Supremo a Bolsonaro e aos seus altos cúmplices do golpe.
...alguns dos peixes pequenospodem ser libertados, outros podem ser beneficiados com a troca da tranca por uma prisão domiciliar. E, com isso, o projeto de lei da anistia, empinado pelo Bolsonaro em causa lógica [ou seja, própria], perderia o sentido e a falange bolsonarista no Legislativo seria constrangida a aprovar.
Os riscos sempre são possíveis na política, mas, enquanto os dois presidentes da Casa [encabeçarem o acordo], esse risco [de beneficiar o maior culpado] estará afastado".
O senador Jaques Wagner, líder da bancada do governo no Senado, confirmou que o novo projeto deverá isolar os cabeças do golpe que ainda insistem na votação do PL da Anistia.
Celso Lungaretti
E, para finalizar: quem é o sujeito oculto nessa história toda? Segundo o Josias de Souza, trata-se do que Nelson Rodrigues qualificaria de óbvio ululante:
"O senador Jaques Wagner disse que o presidente Lula não está diretamente envolvido nesse acordo, mas ele faz isso de maneira protocolar, porque é evidente que o Lula o está até o último fio de cabelo que ainda lhe resta"...