domingo, 3 de dezembro de 2023

O HAMAS É COMPATÍVEL COM A ESQUERDA REVOLUCIONÁRIA?


 Num longo artigo, mostramos como a esquerda brasileira reage diante da estrutura político-religiosa de Israel chamada sionismo e como vê o futuro para os palestinos. Ainda no texto seguinte, sobre judeus de esquerda, vimos a rejeição ao conceito de Estado étnico, no qual se entra só por herança sanguínea. Essa posição é tão marcante que esse grupo propõe mesmo a recriação de Israel como um Estado nacional sem exigência étnica. Com que forma? De Estado único no qual convivam judeus e palestinos ou na existência de dois Estados vizinhos, um palestino e outro judeu?

Essa seria a garantia de paz duradoura entre esses dois povos? Alguém me alerta: nessas duas hipóteses Israel sairá perdendo, mesmo sem guerras, porque os palestinos têm uma bomba natural mais potente – a bomba demográfica! 

Mas isso é uma visão muito pessimista e negativa, alguém argumentará. Vivendo juntos ou próximos com os mesmos direitos, eles começarão a se misturar como aconteceu no Brasil entre os brancos escravocratas e os descendentes dos antigos escravos negros, depois da abolição da escravatura e de todos os brasileiros serem iguais, sendo punida toda forma de racismo.

E com o velho testamento bíblico na mão, outro poderá argumentar: só poderá dar certo porque judeus e palestinos descendem de Ismael e Isaac, que eram meio-irmãos, pois o pai era o mesmo – o já idoso Abraão. Essa é uma história bem antiga, de uns 4 mil anos, quando ainda não se falava em casamentos entre jovens príncipes e princesas, mas numa sociedade em que havia escravas e seus proprietários eram pai e mãe centenários.

Sendo verídica essa história, poderíamos ser otimistas e imaginar o reencontro familiar entre os netos e filhos desse patriarca. Porém, briga de família a três pode complicar na hora de repartir a herança e a mesma fonte bíblica fala em guerras sem fim dos judeus com cananeus e filisteus, todos parentes, circuncisos e descendentes do mesmo bisavô e tetravô! E com o passar do tempo, turcos, libaneses, egípcios e iranianos poderiam ser considerados primos.

Tudo se complicou quando todos, exceto os judeus, no Oriente Médio passaram a seguir Maomé, surgindo o islamismo. Mesmo assim, restaram duas vertentes islâmicas: a dos sunitas e dos xiitas, nem sempre amigas. O Irã é xiita e a Arábia Saudita, sunita.

Depois da queda do Xá Reza Pahlevi, o Irã xiita se tornou uma rigorosa teocracia islâmica, seguidora da shariah, o conjunto de leis que codifica todas as exigências religiosas públicas e privadas dos muçulmanos, adotada com graduações diferentes pelos países muçulmanos. Nem todas as regras da shariah são compatíveis com os direitos humanos, como liberdade de expressão, liberdade de crença, liberdade sexual, de gênero e liberdade das mulheres. No Irã, a teocracia é repressiva principalmente contra as mulheres, havendo assassinatos cometidos pela polícia por simples questão de vestimenta. O cinema vive também sob censura.

Os sunitas são considerados mais tolerantes, porém inspiraram alguns movimentos considerados extremistas como Al-Qaeda, Estado Islâmico, Boko Haram e Hamas.


A esquerda deixou de ser laica?

Será que meus amigos de esquerda estão certos? Nestas semanas de guerra de Israel contra o Hamas, todos os textos aos quais tive acesso, cujos autores são de lideranças reconhecidas de esquerda, me deixam a impressão de estar havendo uma confusão involuntária - ou será voluntária, estratégica, temporária? - entre o povo palestino e o movimento Hamas, a ponto de se declararem enfaticamente defensores do Hamas contra Israel. 

Será que a partir de agora todo esquerdista tem de ser obrigatoriamente a favor do Hamas, mesmo se a esquerda e, não é de hoje, vem criticando o sionismo e a política israelense com relação aos palestinos? Depois de termos dado bastante espaço à questão do sionismo israelense, parece ser a vez de se discutir o caráter religioso fundamentalista islâmico do Hamas. O conceito laico da esquerda deixou de ser básico e se tornou superado?

O tema é bastante complexo porque além do caráter laico dos grupos palestinos que deram origem à OLP, Organização pela Libertação da Palestina, inclui também a questão da utilização de atos terroristas na conquista do reconhecimento das reivindicações palestinas.

O primeiro desses atos, que provocou divisões dentro da esquerda internacional, foi o atentado nos Jogos Olímpicos de Munique em 1972. O último atentado, o do 7 de novembro, com a invasão de Israel e o assassinato de centenas de civis desarmados, voltou a provocar divisões, chegando a romper a união das esquerdas francesas.

É bom lembrar que, em 1948 tanto a URSS, quanto os socialistas e os comunistas franceses, apoiaram a criação de Israel. O apoio socialista estava ligado ao partido trabalhista no poder em Israel e os kibutz israelenses eram considerados um tipo de experimentação socialista.  O apoio da URSS durou pouco e o apoio aos árabes foi seguido pelos comunistas europeus.

Nos anos 70, por influência dos católicos de esquerda e dos franceses anticolonialistas, surgiu o apoio à causa palestina, seguido pelos maoístas.

Com o fim da guerra do Vietnã, os comunistas e a esquerda francesa focaram seu apoio em Yasser Arafat. Mitterrand e os socialistas continuavam defendendo a existência de Israel e Arafat acabou reconhecendo a existência de Israel e aceitou a coexistência de dois Estados. Mas o governo de direita em Israel e a Intifada fortaleceram a esquerda pró-palestina que denunciou Israel como Estado opressor e de apartheid, denunciando também o sionismo.

A situação tomou novas feições no fim dos anos 1980, quando os maiores apoiadores dos palestinos contra Israel eram o Hezbollah e o Hamas, dois movimentos islâmicos fundamentalistas. O fim do laicismo ou secularismo na luta pelos palestinos provocou divergências entre os socialistas e comunistas franceses, mas vinha sendo tolerado diante do eleitorado árabe muçulmano gerado pela imigração. Entretanto, a brutalidade do atentado do Hamas do 7 de outubro dividiu a esquerda francesa e voltou à atualidade a questão do movimento palestino estar nas mãos do islamismo fundamentalista, cujas dimensões vão além da causa palestina e representam, em muitos aspectos, um retrocesso no movimento da descolonização palestina.

O avanço do islamismo fundamentalista entre os países árabes, que chega a ter influência mesmo na atual Turquia, e mesmo em países africanos saídos da colonização, preocupa por representar uma marcha à ré na questão dos direitos humanos e na própria concepção de uma sociedade socialista. Diante da teocracia islâmica no Irã, com aplicação da lei da shariah, com punições físicas e pena de morte, ocorre um nítido recuo na liberalização feminina, uma rejeição total da questão dos gêneros com a não aceitação da homossexualidade, entre outras tantas exigências religiosas.

Enfim, uma bem argumentada demonstração da incompatibilidade do movimento Hamas com os objetivos revolucionários marxistas é feita pelo órgão da União comunista trotskista, Luta Operária, mostrando não existir para a esquerda só a opção primária “quem é contra Israel tem de ser a favor do Hamas”.

O trecho conclusivo de um longo artigo parece bem demonstrativo da pressa com que a esquerda brasileira aderiu aos islamitas: 

“O Hamas procura de fato um compromisso com o imperialismo e o reconhecimento deste, mesmo que fale em destruir a “entidade sionista” de Israel. Ele defende os interesses da burguesia palestina e as suas políticas estão em desacordo com os interesses dos palestinos oprimidos, cuja revolta ele teme. Pelo contrário, é com estes que os revolucionários devem estar unidos na luta contra o imperialismo. Apoiar o Hamas por do oportunismo, assimilando-o à “resistência legítima” de todo um povo, fazendo do reconhecimento do sentimento palestino de opressão nacional o apoio à política nacionalista de uma organização religiosa reacionária como o Hamas, equivale a abdicar de toda a política de classe”.

(por Rui Martins) 

sábado, 2 de dezembro de 2023

O MINISTRO DO STF INDICADO PELO LULA FERROU OS APOSENTADOS; JÁ O MINISTRO SAÍDO DO NINHO TUCANO TENTA SALVÁ-LOS.

C
ristiano Zanin, o primeiro ministro do STF indicado pelo Lula no atual mandato, parecia ter dado xeque-mate na revisão da vida toda, pela qual o INSS teria de corrigir uma terrível injustiça remanescente dos pacotes econômicos do século passado, que sempre tungavam os trabalhadores para estabilizar a economia.

O imbroglio começou em dezembro de 2019, quando uma decisão do Superior Tribunal de Justiça determinou o reconhecimento do direito dos aposentados e pensionistas a terem acrescidos aos cálculos de seus benefícios o universo de suas contribuições ao longo da vida, as quais não mais ficariam restritas àquelas feitas de 1994 em diante. Aí, um ano depois, o STF validou a revisão dos benefícios por 5 votos a 4.  

Mas, tal assunto voltou agora a debate no plenário virtual do Supremo. E Zanin, herdeiro da cadeira do ministro Ricardo Lewandowski (que se aposentou em abril último), não honrou o voto do seu antecessor, pois se posicionou contra, invertendo o placar de 2022. 
Agora são estes que querem poupar
recursos para os gastos políticos... 

Defensores dos aposentados inclusive foram à Justiça alegando que o voto de Lewandowski teria de ser mantido e, portanto, a participação de Zanin na nova votação haveria sido inconstitucional.

Então, quando tudo se encaminhava para o escolhido por Lula ser o responsável pela deplorável manutenção desse esbulho dos direitos de trabalhadores, eis que Alexandre de Moraes, egresso do tucanato, novamente se mostrou mais petista (do passado) do que o próprio PT (do presente).

Ele pediu destaque nesta 6ª feira (1º), fazendo com que o julgamento, iniciado no plenário virtual, recomece do zero no plenário físico. Ou seja, mesmo quem já se manifestou antes será obrigado a fazê-lo novamente, podendo, inclusive, mudar seu posicionamento.

Tal hipótese é bem plausível, de vez que o voto traíra do Zanin  repercutiu horrivelmente entre a esquerda (inclusive nas próprias fileiras do PT, cujos bastidores andam fervendo). 

Ademais, se no plenário virtual inexistia debate entre os ministros, no plenário físico haverá. Ou seja, o que disserem e fizerem repercutirá muito mais e os aposentados ficarão sabendo bem melhor quem considera aceitável sacrificar seus direitos para sobrarem mais recursos para as maracutaias da política.


...e é este que defende os aposentados
Por mais que os petistas detestem tal constatação, é incontestável que, durante 2023, o Alexandre de Moraes tem feito muito mais pelas bandeiras de esquerda do que o Lula. 

Inclusive, a esperança de vermos Jair Bolsonaro atrás das grandes, após a sucessão interminável de crimes de responsabilidade que cometeu no seu catastrófico mandato (alguns dos quais gravíssimos, como o genocídio durante a pandemia e a tentativa de golpe em 08/01) repousa sobre os ombros de Moraes.

Está cada vez mais evidente que, se depender do Lula, o palhaço assassino escapará apenas com a inelegibilidade, uma pizza com a qual o controlador do PT teria, dizem, se comprometido antes mesmo de iniciar seu terceiro mandato presidencial. (por Celso Lungaretti)

quinta-feira, 30 de novembro de 2023

GOVERNABILIDADE PARA QUÊ?


 Há um consenso de que não dá para governar o Brasil sem se ceder às exigências do parlamento, pois esse jamais terá hegemonia partidária da esquerda, e isso ocorre em todo o mundo com maior ou menor intensidade. 
Mas, apesar disso, todos querem que o pé de laranja dê manga, ou seja, que haja governabilidade mesmo dentro dos parâmetros existentes. 

A direita ocupa sempre majoritariamente as cadeiras do parlamento, não porque os eleitores do Brasil sejam majoritariamente de direita, porque, se o fossem, Lula não teria ganho as eleições, mas porque as eleições proporcionais são manipuladas pelo poder econômico e político do Brasil profundo, onde imperam os chamados currais eleitorais.  

A grande maioria dos deputados federais e estaduais não se elegem por relevantes serviços prestados à comunidade, mas pela compra de votos junto aos chefetes políticos locais e verbas federais ou estaduais que conseguem liberar para os seus municípios e com isso obterem, ambos, o dinheiro das comissões pagas pelas empreiteiras visando às eleições que ocorrem a cada quatro anos para prefeitos e parlamentares em datas alternadas.   

Há parlamentares que se elegem sem comparecer regularmente aos estados pelos quais foram eleitos, e moram em Brasília e em alguma grande capital brasileira sem que os seus leitores sequer tenham ouvido falar em seus nomes.  

O que estou afirmando não é nenhuma novidade e todos sabem disso.  

Mas porque insistimos em considerar democrático tal processo?! É que normalizamos a corrupção política, bem como, na visão do eleitor incrédulo ou ingênuo, que o poderio econômico eleitoral é o momento propício para a  obtenção de algum benefício direto.  

É simplesmente imoral a verba eleitoral dos partidos políticos recentemente aprovada pelo TSE em proposta do orçamento federal de R$ 1,2 bilhões - já foi de mais de R$ 2 bilhões, e diminuiu um pouco por conta do escárnio à nossa inteligência o que isso representa - num país com renda média mensal dos assalariados, segundo o IBGE, em torno de R$ 2.533,00, o que bem demonstra a nossa pobreza coletiva, se considerarmos a grande desigualdade de salários de uns e outros. 

Podemos constatar, pelo baixo nível de renda per capita, que a grande maioria do eleitorado apenas sobrevive miseravelmente e aguarda o momento da eleição para obter um ganho ilusório qualquer. 

Se dividirmos a verba partidária pelo número de deputados federais, veremos que cada um deles custa anualmente aos brasileiros cerca de R$ 2,4 milhões para defender os interesses da cidadania democrática

O que você acha que os partidos políticos brasileiros, que mais parecem empresas privadas com um dono na presidência, fazem com essa dinheirama?! 

Tudo converge para um processo eleitoral parlamentar viciado, e essa é a razão de termos no parlamento muitos elementos cujos currículos pessoais fariam qualquer pai de família zeloso do futuro de sua filha alertá-la para o mau casamento, caso pretendesse escolher um desses para casamento e vida familiar.  

Mesmo nos partidos de esquerda os candidatos mais combativos e líderes comunitários ou de movimentos sociais apenas servem de escada para o pequeno número dos seus companheiros que se elegem porque atuam com mais desenvoltura nestes quesitos de relações políticas interioranas de influência maléfica e compra de votos.  

O problema não para por aí. Há o lobby parlamentar das grandes corporações setoriais; dos grandes interesses econômicos; e até mesmo do crime organizado que financiam candidatos e os elegem.  

A democracia burguesa funciona assim, e há quem ainda diga que é um mal menor, ou seja, que fora disso é a ditadura! Um engano assombroso! 

Tenho dito repetidamente que o governante não governa, mas apenas se equilibra no poder tal qual um surfista que apenas se equilibra na onda para cegar à praia, sem alterar em nada a força da sua natureza.  

O estado nacional é uma criação do republicanismo burguês, doutrina tida e citada como princípio e código moral e ético de conduta pelos luminares do poder institucional a ser seguida e obedecida.  

Na verdade, a política institucional não tem soberania de vontade, vez que é dependente dos impostos que cobra e extrai da vida econômica burguesa, por ela mesma injusta e socialmente segregadora, e tudo faz e age no sentido não apenas de sua preservação, mas do seu desenvolvimento como remédio charlatão que serve para a cura de todas as doenças.  

Do Papa a Lula; do economista e líder dos sem-terra, João Pedro Stédile, ao chefe do Gabinete do ódio, Carlos Bolsonaro, o Carluxo, todos querem o desenvolvimento econômico, cada um à sua maneira, como se a preservação da relação social sob a forma-valor fosse algo tão natural como tomar água e se alimentar diariamente.         

Como toda unanimidade é burra, já dizia Nelson Rodrigues, acho que todos os capitalistas deveriam eleger um novo Deus para adoração, porque o deus valor, no seu processo de autodestruição, quer matar. e está matando, a sua própria criação: todos os serem humanos que o adoram e a ele estão subjugados. 

 É dessa forma que todos querem que o pé caiba no sapato, independentemente do tamanho desse último, vez que estão todos inseridos num mesmo contexto basilar, ainda que professem credos diferenciados. 

O Estado é apenas a instância reguladora e regulamentadora de uma ordem econômica que lhe é subjacente e que pauta os seus procedimentos sempre dentro do desiderato de manutenção de sua existência como modo de relação social. 

Quando se obedece ao preceito do ajuste fiscal, por exemplo, como acabou de se aceitar no governo Lula, tal procedimento é a régua econômica que determina que o Estado não pode gastar além do que arrecada , ainda que quem emita moeda forte possa fazê-lo sem ter problemas mais graves de inflação, porque a exportam e todos a aceitam ingenuamente. Tal obediência mais não é do que a subjugação governamental a duas regras básicas: 

1) imposição da lógica ditatorial capitalista para a preservação das finanças do Estado, que assim mesmo está falido, como sentinela da ordem econômica do capital; e 

2) manutenção da credibilidade do padrão monetário estatal por ele emitido como fator indispensável à relação social capitalista.  

  Ainda outro dia assisti a um debate no qual o interlocutor de esquerda exaltava os ganhos obtidos com a vitória do Lula no campo das conquistas sociais, bem como das posturas humanistas que recolocaram o Brasil num conceito de país mais civilizado e acolhedor de todas as etnias e credos. 

Dizia ele, entretanto, que isso não era bastante, porque a direita além de estar crescendo, tem atualmente uma militância popular que lhe confere alguma legitimidade, representada pelo crescimento e união de neopentecostais, viúvas da ditadura miliar, ruralistas latifundiários, empresários do agronegócio, setores beneficiados com subsídios e/ou isenções fiscais, etc.  

Até aí estava tudo bem, mas a solução por ele apresentada era a conscientização da população de que deve se opor a esse crescimento mediante uma estrutura de organização de base conscientizadora, sem dizer exatamente os conceitos dessa conscientização, deixando parecer que tudo seria apenas uma questão de ação política popular menos preguiçosa e mais ativa, e de modo a se estabelecer um governo estatal, mas tão popular que fosse capaz de se tornar independente da conciliação com os donos do parlamento e do PIB.  

Algo assim como se tudo fosse uma questão de competência administrativa da esquerda institucional, mesmo sob as velhas bases de relações sociais escravistas, que se deduz que o entrevistado considera, equivocadamente, como possíveis de ocorrer se se derem numa correlação de forças majoritárias de esquerda apoiada pela população. 

Admitindo que no governo Lula a economia vai melhorar, citava ele como exemplo de sua cruzada conscientizadora contra a conciliação a ineficácia da conciliação política havida no governo Dilma, que resultou em sua queda num golpe de direita.  

Concordo, como de resto venho demonstrando em inúmeros artigos, que há que se conscientizar a população, mas não podemos querer que as coisas se consertem e obtenhamos apoio popular permanente para um projeto político fadado ao fracasso se não combatermos as causas e estruturas que lhe dão sustentação. 

Assim, considero que: 

- a economia brasileira globalizada, ainda que venha a ter melhorias pontuais, não resistirá à depressão econômica internacional, aliada aos efeitos danosos do aquecimento global e guerras, e tende a sofrer dificuldades ao longo do mandato de Lula; 

-  há que se fazer um esforço comunitário para que a população seja conscientizada sobre o fato de que no capitalismo não pode haver estado democrático e um governo daí derivado que seja capaz de protege-la e, principalmente, sobre a essência e raiz dos seus problemas de modo a que possa se livrar do fetichismo da mercadoria, que tal qual os apostadores da loteria, promove prognósticos esperançosos mas inatingíveis de riqueza individual;   

- acabar com o eterno pêndulo entre direita e esquerda institucionais, que atuam sob uma mesma base, e sem que nenhuma das duas possa oferecer alternativas de soluções dos problemas sociais e ecológicos que nos afetam e que aumentam a cada dia e de modo cada vez mais acentuado e contundente. 

A conscientização tem que se dar pela negação do negativo! (por Dalton Rosado)   


 

quarta-feira, 29 de novembro de 2023

DA DITADURA AO TRÁFICO DE DROGAS: O PAPEL DO FUNDAMENTALISMO RELIGIOSO


 A imprensa brasileira sentiu os avanços, o namoro seguido de casamento entre a extrema-direita, uma parcela dos militares e setores fascistas adormecidos com o evangelismo populista a partir do Golpe de 1964? Não! O fenômeno era muito interno e se desenvolveu primeiro dentro dos seminários, reforçando-se pouco a pouco entre os chamados fiéis, provavelmente para não provocar reações e nem alertar setores importantes dos meios de informações criadores de opinião.

Naquela época, há 70 anos, o evangelismo levado dos EUA para o Brasil não tinha nenhuma expressão, era mesmo insignificante com seus 5% da população, a maior parte nas camadas populares dos pentecostais, congregações cristãs e Assembleias de Deus. Ainda existia a expressão protestante ligada ao movimento da Reforma, às igrejas luteranas, calvinistas, presbiterianas, que chegavam ao Brasil com seguidores tendo feições de classe média que enviavam seus filhos às universidades.

As primeiras igrejas pentecostais foram criadas
por missionários estadunidenses há mais de cem anos.

Se alguém perguntar aos colegas da mídia de hoje se ouviram falar no reverendo Boanerges Ribeiro, de Santos, certamente responderão pela negativa e poderão citar o pastor Milton Ribeiro, também ligado a Santos, ex-ministro da Educação, obrigado a se demitir por corrupção no ministério. Nada a ver!, pois Boanerges Ribeiro foi escritor, teólogo, presidente do Supremo Concílio e  um dos últimos intelectuais importantes do protestantismo brasileiro, na mesma linha do gramático Eduardo Carlos Pereira.

Mas enquanto no norte do Brasil a denominação evangélica dos pentecostais se expandia, só com o Golpe de 1964 os presbiterianos deixaram a neutralidade em matéria de política para se aliarem aos militares e passarem a reforçar a campanha contra o comunismo, inclusive com perseguições, repetindo o que já ocorrera nos EUA na chamada guerra fria.

É dessa época a Batalha da Maria Antônia, o  choque dos estudantes antiditatura da rua Maria Antonia, sediados na FFLCH, com os da Universidade Mackenzie, pró-ditadura. Entretanto, embora Boanerges fosse presidente do Mackenzie - a reitora era Esther de Figueiredo Ferraz -, isso nada tinha de religioso, era apenas político, entre estudantes de esquerda e de direita, entre constetadores do regime e apoiadores do golpe militar. Porém, nos meios evangélicos, como contou o reverendo Caio Fábio d Araújo Filho, numa entrevista à Veja, em agosto de 2022, havia nos presbiterianos uma "boagernização", que consistia na perseguição aos seminaristas e pastores de esquerda e inclusive  com sua entrega aos militares.

A batalha campal da Maria Antônia
terminou com o antigo prédio da FFLCH
destruído com o uso de coquetéis molotov. 

Esse quadro foi tomando forma e crescendo nos meios evangélicos, não só presbiterianos, e se revelou com força e muita influência nos anos que precederam à eleição de Bolsonaro, a ponto de terem sido os evangélicos seus principais eleitores e de atualmente terem posição marcante no Congresso, inclusive com uma bancada fundamentalista, a chamada banca da bíblia. 

Nesta altura, é o momento de afirmar ter havido reportagens e mesmo livros denunciando a cumplicidade do governo bolsonarista com os evangélicos, porém não um acompanhamento constante dessa união espúria pela grande imprensa. Entretanto, não se pode ignorar ter sido a BBC Brasil a mídia com mais enfoques no papel dos evangélicos durante o governo Bolsonaro. 

Diante da importância desse grupo religioso em crescimento, continua dando destaque com o repórter João Fellet e agora com a jornalista Letícia Mori, como na recente reportagem sobre o ramo evangélico existente entre os traficantes, que dominam as favelas de Parada de Lucas e Vigário Geral. A estrela de Davi foi espalhada nas entradas das favelas, criando o chamado Complexo de Israel. É o narcopentecostalismo, como denominam alguns pesquisadores, surgindo com força. (por Rui Martins) 


segunda-feira, 27 de novembro de 2023

LULA DEVE ANUNCIAR HOJE O CONSERVADOR CRISTÃO PAULO GONET COMO O NOVO PGR. ELE VAI ALIVIAR PARA O BOLSONARO?

A pizza contra a qual o blog Náufrago da Utopia alertou em vão há mais de 10 meses parece estar prestes a sair do forno. 

De nada adiantou havermos tido a coragem de revelar o que se tramava nos bastidores dos três Poderes, inclusive atraindo a hostilidade de muitos internautas que se deslumbravam com o novo governo, depois de quatro anos de insanidade e horrores.

O primeiro alerta foi do nosso editor David Emanuel Coelho, no dia 16 de fevereiro:
"Ronda por aí o fuxico de que ministros das altas cortes brasileiras dariam como certa a inelegibilidade de Jair Bolsonaro, mas não sua prisão.

Ora, considerando ser Bozo o presidente mais criminoso da história do Brasil – deixando no chinelo até mesmo os criminosos ditadores militares –, seria um verdadeiro cuspe na cara do povo brasileiro a sua permanência em liberdade".

Logo no dia seguinte, como fundador do blog, expandi a advertência do David:
"A inelegibilidade do palhaço sinistro é favas contadas... mas, o fujão que se fazia passar por machão vai para trás das grades ou não vai?

Como sempre, Lula não moverá uma palha neste sentido. Foi o que ele fez na década retrasada, quando sobreviventes das torturas do regime militar e as famílias dos exterminados pela repressão ditatorial clamavam pela punição das bestas-feras dos anos de chumbo...

...Do Congresso Nacional também se pode esperar o mesmíssimo comportamento das outras vezes, o de fingir que a encrenca não é com ele.
Os petistas fazem sérias restrições ao Gonet...

Então, a verdadeira e única chance de pelo menos o chefe da quadrilha receber o que merece, mofando na prisão até o fim de sua ignominiosa e parasitária existência, está nas mãos dos togados. Ousarão?

...a pressão da opinião pública ainda poderá frustrar o acordão a que se referiu o David. Mas, [é necessário] que o sucessor de Aras como procurador-geral da República cumpra as obrigações do cargo, viabilizando processos na esfera do STF [principalmente os da sabotagem à vacinação contra a covid e a tentativa de putsch em 08/01] em que a culpa do miliciano celerado salta aos olhos e clama aos céus.

Isto, claro, se Lula em setembro indicar um PGR de verdade..."

A grande imprensa noticia que Paulo Gonet, até agora vice-procurador-geral Eleitoral, será anunciado por Lula nesta 2ª feira, 27, como novo PGR, após dois meses de vacância de um titular. Por que Lula hesitou tanto?

Uma explicação plausível é o mal-estar que o nome de Gonet vinha despertando nas fileiras da esquerda, com manifestações contrárias até mesmo no próprio PT.

Outro conservador como Ricardo Zanin (vide aqui), Gonet já se posicionou em artigos contra o direito ao aborto, a criminalização da homofobia e a reparação às famílias de cidadãos assassinados pela ditadura militar. 
...mas os bolsonaristas têm opinião oposta, 
como Bia Kicis fez questão de demonstrar.
A deputada bolsonarista Bia Kicis (PL)  não só o apoia incondicionalmente, como chegou a rasgar seda para ele:
"Paulo Gonet é conservador raiz, cristão, sua atuação no STF nos processos da Lava Jato foi impecável".

Então, se em seguida à vitória eleitoral do Lula, as altas cúpulas (ou seria melhor dizermos cópulas?) decidiram mesmo que o maior assassino de brasileiros da nossa História ficasse apenas inelegível  e não fosse encarcerado, Gonet seria uma escolha bem apropriada para dar sequência à enrolação protetora do Augusto Aras.

Tamanha aberração, se consumada, será a gota d'água para Lula. Nem o mais crédulo de seus seguidores deixará de perceber que a verdadeira troca de governo terá sido a saída de um conservador insano e genocida para a entrada do conservador enrustido e dissimulado que agora está saindo do armário. (por Celso Lungaretti)

domingo, 26 de novembro de 2023

HÁ MAIS DE VINTE ANOS UM ATENTADO TIRAVA A VIDA DO DIPLOMATA SÉRGIO VIEIRA DE MELLO

 


Diante de tantas mortes e convulsões provocadas por mais uma guerra no Oriente Médio, cujo estopim foi um enorme e amplo atentado cometido por uma organização terrorista - não entro nas discussões sobre bom e mau atentado -, me lembrei de outro atentado, cometido há 20 anos em Bagdá, no começo da guerra do Iraque, contra a sede das Nações Unidas. Nele morreu o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello

No começo deste século eu não dispunha de muito tempo para escrever comentários, vivia correndo como repórter freelancer para jornais, rádios e mesmo para as próprias organizações ligadas à ONU quando, numa viagem, num evento especial, precisavam de um jornalista de língua portuguesa. Foi assim que conheci Sérgio Vieira. Ia com frequência à sede do Alto Comissariado e devo ter feito algumas viagens com ele, que era alguém bastante comunicativo e social.

A morte de Vieira de Mello foi um choque em Genebra. Ainda jovem, com 54 anos, formado em filosofia na Sorbonne, ativo, preocupado com os povos desamparados e desorientados, vivendo na miséria depois de cataclismas e guerras, Sérgio, como era chamado em Genebra, sabia das dificuldades da ONU para impedir e solucionar conflitos. Depois de ter agido em missão especial no Camboja, Bangladesh, Kosovo e Sudão, tinha sido administrador, por três anos, da ONU no Timor Leste.

Pouco antes da crise no Iraque, ele  havia desenvolvido a tese de que havia uma relação direta entre a segurança mundial e o respeito aos direitos humanos. A violação flagrante dos direitos humanos é a detonadora das crises internas nos países e as crises internacionais.

Os que conheceram Sérgio e seus projetos para tornar a organização internacional mais eficaz não têm dúvida de que hoje o alto comissário brasileiro teria chegado ao posto de secretário-geral da ONU. Não era um político e nem um funcionário de carreira, mas uma personalidade marcante preocupada em construir a paz com justiça.

Fato raro, a morte de Sérgio Vieira de Mello foi seguida da publicação de diversos livros escritos por jornalistas que acompanhavam suas atividades e projetos em Genebra.

Um dos livros mais conhecidos é Chasing the Flame, de Samantha Power, jornalista norte-americana de origem irlandesa, defensora dos direitos humanos, cujos estudos em Harvard, militância política e carreira universitária, a levaram ao cargo de embaixadora dos EUA junto às Nações Unidas, tendo dele saído após a eleição de Donald Trump. O livro se transformou, em 2020, num filme com o título Sérgio: a luta de um homem para salvar o mundo, com Wagner Moura no papel principal.

Na exibição do filme, a revista Veja publicou texto sobre o que teria precedido o atentado no Hotel Canal, onde funcionava a ONU: o objetivo da missão diplomática de Vieira de Mello era conduzir o Iraque a eleições democráticas, depois de anos da ditadura de Saddam Hussein, a partir de uma constituição escrita por iraquianos. A intervenção norte-americana, vista 20 anos depois, foi catastrófica e provocou a ascensão do Estado islâmico.

Outro livro importante – Sérgio, uma esperança explodida – foi o de Jean-Claude Bührer com Claude B. Levenson, ambos jornalistas em Genebra à época, no qual José Ramos-Horta, Prêmio Nobel a paz em 1996, e ministro das Relações Exteriores do Timor Leste, comentou: O atentado contra a sede da ONU em Bagdá, que custou a vida do brasileiro, enviado por Kofi Annan, não só deixou o Iraque cair lentamente na violência, como decapitou o alto Comissariado pelos Direitos Humanos.

Ainda em 2016, a porta-voz de Sérgio na ONU, Annick Stevenson, publicou, junto com um ex-Alto Comissário para Refugiados, George Gordon-Lennox, o livro Sérgio Vieira de Mello, um homem excepcional. Para eles, Sérgio é o único ícone que jamais teve a ONU. Sua morte trágica significou que a própria ONU tinha também se tornado alvo de atentados. Sérgio foi a Bagdá, por mandato do Conselho de Segurança, com um projeto: evitar que a invasão e ocupação americana transformassem o Iraque numa anarquia e desestabilizassem o Oriente Médio.

Hoje, vinte anos depois, embora numa situação e quadros diferentes, a pergunta é a mesma: como irão viver amanhã os palestinos de Gaza e Cisjordânia com seus vizinhos israelenses? (por Rui Martins) 


sábado, 25 de novembro de 2023

MINISTRO DO SUPREMO ESCOLHIDO PELO LULA QUER TIRAR O PÃO DA BOCA DOS APOSENTADOS. É UMA CANALHICE!

Cristiano Zanin, advogado que Lula indicou para o Supremo Tribunal Federal por tê-lo representado bem em suas pendengas jurídicas do passado (e que, afora isto, fez carreira defendendo sobretudo os interesses empresariais), continua sendo um ministro do tipo que a direita adora.

Depois de votar contra a descriminalização da maconha, manter a condenação de dois coitadezas que roubaram bens avaliados em míseros 100 reais e posicionar-se contra a equiparação de LGBTQIA+ ao crime de injúria racial, entre outros votos ultrajantes, Zanin acaba de lixar-se para os aposentados que tentam receber o que lhes foi tungado no passado.

Ao colocar-se contra a revisão da vida toda do INSS, Zanin escancarou a incongruência do Lula ao escolhê-lo, mesmo não tendo, como jurista, um perfil à altura de tal investidura.

É simplesmente chocante um presidente ex-sindicalista ter alçado à mais alta corte do país quem não hesita em tentar frustrar uma decisão que repõe, tanto tempo depois, o prejuízo que um pacote econômico causou aos trabalhadores!!! 

Mas, o pior é que nada na trajetória  do Zanin fazia supor que ele agiria de forma diferente. A culpa por esse cavalo de Troia estar agora no STF recai, portanto, inteirinha sobre os ombros do Lula, que utilizou sua primeira indicação ao Supremo para reforçar a dupla reacionária indicada pelo Bozo. 

Aliás, bem vistas as coisas, os conservadores assumidos como o Zanin ao menos têm mais caráter do que os conservadores dissimulados que se fazem passar por esquerdistas como artifício para viabilizarem seus projetos pessoais de poder.  (por Celso Lungaretti)

sexta-feira, 24 de novembro de 2023

CONTRA A CENSURA SIONISTA A BRENO ALTMAN!

 


A
última pretensão dos sionistas no Brasil é calar jornalistas e críticos do Estado de Israel. A Conib - Confederação Israelita do Brasil - que se arregam o título de sionistas de esquerda, um contrassenso conceitual, decidiu ir à justiça para censurar publicações do jornalista Breno Altman, fundador do site Opera Mundi.

Já seria um absurdo imenso uma organização pleitear o silenciamento de alguém, mas, para completar  a insensatez, um juiz deu ganho parcial de causa aos sionistas, determinando que Altman retire do ar diversas publicações, sob pena de pesadas multas. Ou seja, na prática, impôs a censura, concordando com o falso argumento propagado pelos defensores do terrorismo israelense de que criticar Israel é ser antissionista. 

Em que pese as inúmeras divergências que possamos ter em relação às posições de Bruno Altman, sobretudo em seu apoio ao lulopetismo, não podemos ficar calados diante de tal perseguição. Por isso, prestamos nossa solidariedade a ele e reivindicamos o cumprimento integral do direito à liberdade de expressão, tal como é consagrado pela Constituição do Brasil. 

Contra a Conib, e demais defensores do sionismo, mascarados ou não de esquerda, só podemos deixar nosso repúdio e mais uma vez perceber o quão autoritário é esse movimento. (por David Emanuel Coelho) 

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

QUANDO A ONU CONDENOU O SIONISMO


N
estes dias de guerra, quando Israel bombardeia Gaza e causa milhares de mortes de civis, em represália aos atentados cometidos pela organização terrorista Hamas, provocando manifestações internacionais, certas palavras destacam-se na imprensa mundial como sionismo, antissemitismo e islamofobia. Vamos tratar do sionismo.

Pouca gente se lembra de que a ONU, mesmo tendo sido criadora do Estado de Israel - que já deveria conviver com um Estado palestino vizinho -, condenou o sionismo, a ideologia e o movimento que uniu os judeus pela criação de Israel.

Ora, isso ocorreu no dia 10 de novembro de 1975, na Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova Iorque. O Brasil estava sob a ditadura militar, o presidente era Ernesto Geisel, luterano e filho de imigrantes alemães, e votou pela condenação do sionismo, indiretamente contra Israel, junto com Cuba, China, URSS e outros 69 países, se demarcando do voto dos Estados Unidos.

Os militares olhavam os judeus com desconfiança, pois muitos deles condenavam ou lutavam contra a ditadura. Durante outra ditadura, a de Vargas, o líder comunista Luís Carlos Prestes esteve preso durante nove anos e sua esposa, Olga Prestes, alemã e judia, também foi presa. Grávida, em 1936 foi deportada para a Alemanha nazista, ficou nos campos de trabalho forçado para judeus e morreu aos 34 anos numa câmara de gás.

A jornalista Marina Lemle, do blog HCS-Manguinhos, publicou, em maio de 2014, uma importante reportagem sobre um seminário realizado no Instituto de História da UFRJ, “Judeus, militância e resistência à ditadura militar”. O título da reportagem é bastante revelador: “Judeus que resistiram à ditadura eram secularizados”.

Participaram alguns nomes importantes da esquerda judaica, como Bernardo Sorj, Bila Sorj, Jeffrey Lesser, Marcos Chor Maio, Roney Cytrynowicz, Roberto Grun e Alberto Dines.

“Dines contou que a comunidade judaica era claramente dividida entre os “roite idn” (judeu vermelho, em ídish) e os não “roite”. Segundo ele, a vida judaica de esquerda no Brasil era muito intensa e corria separada da vertente sionista”.

Dines contou também terem desaparecido durante a ditadura militar os judeus Ana Rosa Kucinski Silva, Mauricio e André Grabois - pai e filho -, Chael Schreier, Gelson Reicher, Pauline Philipe Reischtuhl, Vladimir Herzog e Yara Iavelberg.

Provavelmente, estes judeus seculares também teriam concordado com a definição de sionismo, dada pela ONU, Resolução 3379, que considerou o sionismo como forma de racismo e discriminação racial.

A aprovação da Resolução 3379 teria sido também uma condenação da decisão israelense de permanecer nos territórios ocupados na Guerra dos Seis Dias, como resultado da ascensão política do terceiro-mundismo e da legitimidade da causa palestina.

Nessa época, há 48 anos, os evangélicos – que se identificam com a história bíblica do povo judeu, são de extrema direita e apoiam Netanyahu e Israel contra os palestinos – não possuíam a mesma força religiosa de hoje para influir no voto do Brasil.

Em 1991, com o fim da guerra fria, a maioria dos países não árabes mudou o voto e anulou a Resolução 3379, votando a Resolução 4686, cujo texto é o mais sucinto da história da ONU. Só diz o seguinte: a Assembleia Geral decide revogar a determinação contida na resolução 3379 de 10 de novembro de 1975. (por Rui Martins)

 

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

COMO TÉCNICO DA SELEÇÃO BRASILEIRA, NEM MESMO O DUNGA FOI PIOR DO QUE O DINIZ.

Em 2018, o técnico Dunga  foi demitido da seleção brasileira depois de, nas seis primeiras partidas das eliminatórias sul-americanas, o escrete obter míseros 9 pontos (50% de aproveitamento).

A situação agora se reapresenta, só que piorada. Após as mesmas seis partidas iniciais, sob o comando (?) do superestimadíssimo Fernando Diniz, o escrete se mantém com ridículos 7 pontos (39% de aproveitamento). 

E vem de três derrotas consecutivas, o que nunca antes acontecera em tais eliminatórias.

Só para lembrar: o aproveitamento de Tite em 2018 foi de 88,9% e em 2022, de 88,2%. Com ele perdíamos dos europeus nos Mundiais, mas ao menos passávamos com imensa facilidade pelos nossos hermanos nas eliminatórias.

Técnico de clube desde 2010, Diniz chegou ao primeiro título em time grande neste ano. Se mantiver a média, ele só conseguirá ser campeão pela seleção brasileira em 2036.... (CL)

A WEB SE TORNOU UM ESPAÇO CONCEDIDO PELO SISTEMA PARA CRERMOS QUE AINDA INFLUENCIAMOS AS GRANDES DECISÕES/2

O ENTRETENIMENTO ENGOLE A POLÍTICA
Você olha e fica boquiaberto. Mas como pode ser? Você esfrega os olhos, não é possível que esteja vendo o que vê. O modo como as pessoas reagem às notícias desperta no seu espírito uma incredulidade perplexa. Tudo na política – tudo mesmo, sem exceção – virou uma questão de torcida organizada, de arrebatamento de almas (pequenas) e de furor irracional. 

Nos tempos da covid a gente viu de perto: a hidroxicloroquina vai dar certo porque eu tenho fé; a ivermectina vai salvar vidas porque eu acredito; a vacina chinesa carrega um chip oculto que vai rastrear os desejos de consumo da vizinha, eu sei, eu vi um vídeo na internet. Parece loucura. É loucura.

A polarização se faz de ânimos conflagrados, não mais de opiniões divergentes. A metáfora da ágora grega não serve mais para representar o debate público. A imagem da disputa de pontos de vista entre seres racionais perdeu a validade. 

Agora, as multidões se sentem em guerras santas, em cruzadas sanguinárias, se sentem no Coliseu de Roma apontando o polegar para baixo. O script do tempo são os linchamentos virtuais. O fundamentalismo corre solto. Intolerância na veia. 
Nos Estados Unidos, os numerosos radicais do Partido Republicano trabalham com o dogma tácito de que as eleições de 2020 foram roubadas, e ai de quem discordar. Para muita gente, o aquecimento global é um mito fabricado. Eis o colégio eleitoral do nosso tempo.

Como explicar esses efeitos de estrondos e de fúria? 

As hipóteses são múltiplas, não necessariamente excludentes, mas uma delas fala mais alto: o universo da política foi inteiramente tragado pela linguagem do entretenimento – e, no entretenimento, a reafirmação do ego (ou do eu) vale mais do que a verdade dos fatos. Ponto. Parágrafo.

É verdade que, desde que o mundo é imundo, a política traz na sua fórmula ingredientes teatrais, elementos lúdicos e temperos passionais. Sempre foi assim. 

A partir da prevalência das plataformas sociais, contudo, a coisa mudou de patamar. Todas as escolhas que antes se resolviam na esfera da pólis hoje se decidem num imenso reality show interativo, no qual o desejo íntimo sobrepuja com folga (e com gozo) o interesse público. A razão e a objetividade escasseiam, enquanto as emoções eclodem, em apoteoses surdas.

O que vemos diante de nós não combina mais com os conceitos que valiam até algumas décadas atrás. É outra coisa, outro bicho. Já deram a esse ambiente, em que as questões políticas se comportam como atrações circenses, o nome de era da pós-verdade

Foi com esta expressão, aliás, que a revista The Economist se referiu à campanha presidencial de Donald Trump, numa reportagem de capa em setembro de 2016. Por certo, podemos nos referir à nova geleia geral como a era da pós-verdade, mas o fenômeno é maior do que imaginávamos em 2016. É mais monstruoso e mais profundo.

Vejamos o que se passa com a comunicação dos partidos, das autoridades estatais, das ONGs ou dos organismos internacionais. Tal comunicação já não interpela a razão, mas a emoção – e faz isso em formatos melodramáticos. 

Ou a mensagem segue o alfabeto visual estabelecido pela indústria do entretenimento, quer dizer, ou a propaganda assimila as narrativas baseadas no modelo bonzinhos-contra-malvados, ou não encontrará eco nas mentes e nos corações.

A que se reduziu o impasse da guerra do Oriente Médio? A uma disputa interminável sobre quem é que merece ser posto no papel de vítima. Os escombros da Faixa de Gaza – escombros urbanos, escombros humanos – são apenas o epicentro cenográfico de uma imensa guerra de imagem para ver quem consegue tomar para si o papel de vítima. 

Quem fizer jus a esse lugar merecerá o amor incondicional da plateia (antes conhecida como opinião pública). Acostume-se. A realidade se comporta como um filme de aventura, com princesinhas desprotegidas, cavalos suados e rapazes incultos, mas valentes.

Assim como o ideólogo do início do século 20 cedeu seu posto ao marqueteiro do início do século 21, o instituto da razão perdeu terreno para as identificações pulsionais, libidinais, fáceis e acachapantes propiciadas pelas técnicas industriais do entretenimento. A política hoje integra o vasto comércio das diversões públicas. 
O cidadão, que era a fonte de todo o poder, acomodou-se na condição de consumidor voraz de sensações estupefacientes. Não é mais como cidadão que ele se mobiliza, mas como torcedor fanático, como religioso fiel ou, ainda, como fã ardoroso. 

Se você ainda tem dúvidas, releia as mensagens que chegam nos grupos de WhatsApp. Lá estão os sintomas: os abaixo-assinados sentimentais, as figurinhas animadas que defendem uma tese em um único segundo, as subcelebridades desocupadas pontificando sobre assuntos complexos como se discorressem sobre o uso da cebola numa receita vegana. Está na cara, não está?

Não, isso aí não vai dar certo. Quando as decisões que afetam a ordem do comum repelem o entendimento do que seja o bem comum, é porque vai dar ruim. O conceito de República se desfaz na poeira do tempo. (por Eugênio Bucci, professor da ECA-USP e articulista do jornal O Estado de S. Paulo)
clique aqui para acessar o artigo inicial desta duologia,
CASO BATTISTI: EM 2011 A MOEDA CAIU EM PÉ,
MAS HOJE ELA DESLIZARIA PARA O RALO.
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