segunda-feira, 7 de outubro de 2024
LEÕES DESDENTADOS, O PTB, PDT, PMDB E PSDB DIZEM AO PT: EU SOU VOCÊ AMANHÃ!
sábado, 5 de outubro de 2024
A CRUEL E TOTALITÁRIA MATEMÁTICA DO CAPITAL
Dias 18 e 19 de setembro de 2024 os Bancos Centrais mundo afora definiram as taxas de juros. No Brasil, o Copom – Comitê de Política Monetária - definiu a subida da taxa Selic em 0,25%, totalizando 10,75%, a segunda maior do mundo, para alegria dos rentistas e infortúnio dos brasileiros, que pagam juros muito altos por sua dívida pública.
No ranking dos juros reais, descontada a inflação, no acumulado de 12 meses, em primeiro lugar está a Rússia, em guerra, com 9.05%; o Brasil em segundo lugar com 7,73% ao ano e em terceiro a Turquia, com 5,47% ao ano.
Isso significa muito para a bolsa popular, posto que incide sobre a nossa dívida pública crescente, que já ultrapassou R$ 7,1 trilhões, e deve alcançar um custo de cerca de R$ 760 bilhões ao ano no orçamento federal, ou seja, cada brasileirinho da favela vai pagar, com os impostos que lhe são cobrados, e em benefício dos especuladores financeiros e rentistas ricos, cerca de R$ 3.600,00 de juros ao ano.
Com juros reais de 7,73% ao ano, já descontada a inflação, só o capitalismo falido pode nos impor um sacrifício destes à nossa população na base do “ou dá ou desce”. Precisamos mais do que nunca nos rebelarmos e dar um basta em tal imposição.
Nós, os países da periferia do capitalismo sustentamos com nosso sangue e suor o refinanciamento da dívida pública, o sistema bancário financeiro mundial e o lucro dos especuladores e rentistas.
Mundo afora, o capitalismo vive o fantasma da inflação, que devora salários empobrecendo a população, desorganiza ainda mais a produção de mercadorias e faz a alegria dos rentistas e daqueles que, dispondo de crédito, por conta de seus lucros empresariais, patrimônios e aplicações financeiras, ganham com a especulação comercial e financeira.
Como sabemos, o flagelo da inflação decorre da maior circulação de dinheiro sem lastro que provoca o crescimento doentio da economia em face da insubsistente produção de valor válido em mercadorias.
Essa doença do crescimento econômico artificialmente induzido consiste no fato de que a perda de poder aquisitivo da população, como um todo, gera um descompasso entre a diminuição da capacidade industrial e comercial de produzir e vender, respectivamente, e a perda de valor real da moeda, afetando os lucros da produção de valor válido, advindos da produção de mercadorias, e em benefício da especulação financeira estagnante.
Há, atualmente, e mais do que antes, um empobrecimento da população mundial em face de uma relação social que hoje atingiu o seu limite de expansão e crescimento, que no passado, apesar desse crescimento ter tido sempre segregacionista, escravizador, deformado e excludente de parte da população, ganhava velocidade por conta de uma força causada pela introdução crescente do trabalho abstrato no sistema produtor de mercadorias.
Hoje, com o desemprego estrutural causado pela redução dos custos de produção que reduz a massa global de valor válido induzida pelo mercado que sinaliza ditatorialmente a substituição substancial do homem pela máquina - trabalho morto, sem salários -, essa força original é permanentemente reduzida, e com ela vem a queda no fluxo de irrigação saudável da economia com valor válido advindo da produção e consumo de mercadorias, fato que conspira contra a necessidade capitalista de aumento permanente desse mesmo consumo e produção impossíveis de serem obtidos no atual estágio da economia.
É a cobra engolindo o próprio rabo.
A resultante do descompasso entre produção de mercadorias, vendas e correspondente capacidade de compras, consumos e necessidade de produção de valor válido, advindo da produção ora inviabilizada, produz a inevitável emissão de moeda sem lastro como forma desesperada dos Bancos Centrais lubrificarem o fluxo monetário econômico-financeiro-social, e é isso que causa a inflação. É importante informar que o setor terciário, de serviços, que mais cresce na composição dos PIBs mundiais, não produz valor novo, mas apenas transfere valor, artificial ou não, já em circulação na economia.
A emissão de moeda sem lastro pelos Bancos Centrais corresponde justamente à desesperada produção de vida artificial por aparelhos num corpo septicémico condenado à morte, e o aumento dos juros corresponde a um remédio amargo, mas ineficaz no longo prazo, que funciona como tentativa desesperada de se conter e se manter, momentaneamente, ao mesmo tempo e, contraditoriamente, controladas(os) as vendas e consumos artificializados.
Se a economia cresce induzida artificialmente pela emissão de moeda sem lastro e endividamento público crescente, tal remédio causa inflação que decompõe a moeda e capacidade de consumo; mas se não se emite moeda sem lastro há uma paralisia completa da vida social regida pela forma valor.
Estamos, portanto, diante de uma equação irresolúvel que somente pode ser superada pela adoção de uma relação social de produção fora dessa lógica, e na qual os bens de consumo não sejam mercadorias e o cada vez mais confortável esforço humano tecnológico na produção de bens de consumo seja o condutor de máquinas, sem ser mercadoria.
As entidades capitalistas de mercado, e todos os governos, direcionam as suas políticas, liberais clássicas ou keynesianas, para a impossível retomada do desenvolvimento econômico como fato gerador de empregos e valor, principalmente nos setores primário, do agronegócio, e secundário das indústrias.
Entretanto, vem a concorrência de mercado, na autofagia de sua mão invisível - Adam Smith, assim o denominou há mais de duzentos anos -, e diz paradoxalmente: use a tecnologia na sua produção; reduza custos desta produção; ganhe a concorrência de mercado; produza mais e mais barato com melhor qualidade; reduza direitos trabalhistas e previdenciários; fortaleça o Estado, seja ele mínimo ou máximo; e para vencer seus concorrentes concentre capital e faça investimentos em capital fixo - instalações e equipamentos ultramodernos; seja monopolista de mercado e obtenha riqueza e poder... Aí vem o Banco Central e aumenta os juros para conter a inflação e o consumo, mas emite moeda sem lastro porque a receita fiscal, mesmo crescente, é ainda menor do que as despesas correntes... etc., etc., etc.
Essa é a matemática contraditória do capitalismo que se decompõe pelos seus próprios fundamentos, como previra Karl Marx.
Nesse contexto, as eleições para a governança do aparelho de estado que serve a essa lógica corresponde a uma preocupação com a infecção de uma unha cravada num corpo septicémico, o que torna a discussão eleitoral algo fora de foco.Toda a discussão eleitoral é fora de foco porque a questão não é, por exemplo, de apenas como criminalizar os incêndios provocados e contermos o fogo que se alastra florestas afora até os centros urbanos e cobre as cidades de fumaça tóxica e chuva preta de fuligem - questão minimalista de forma, que precisa ser feita dada a urgência de solução do problema -, mas se perguntar por que há aquecimento global que provoca incêndios e inundações severas, questão de conteúdo.
O discurso eleitoral é superficial e sistêmico porque a eleição é antidemocrática, no sentido de prover o exercício da vontade soberana, por não permitir a contestação do sistema pelo candidato, que se assim o fizesse teria cassada a sua candidatura;
- não representa a antítese à ditadura, seja ela eletiva ou militar, mas apenas uma forma política submissa ao Estado opressor e cobrador de impostos e, principalmente, ao absolutismo ditatorial da forma valor;
- porque se prende às providências a serem tomadas dentro da escassez, e não como evitar a escassez, ou, antes disso, procura nas causas da escassez a solução para ela mesma;
- porque é o canal legitimador do acesso ao subpoder político, assim considerado por falta de soberania de vontade, vez que é projetado e delimitado constitucionalmente para cumprir previamente a tarefa de regulamentação da ordem capitalista e ser a ela submisso, além de que os políticos (e não só) se obrigam a tecer loas a tal ordem jurídica e econômica sob pena de faltarem com o decoro institucional.Informar sobre a negatividade da essência do dinheiro, categoria capitalista à qual nos obrigamos todos os dias a buscá-la para a nossa sobrevivência, e assim mesmo sendo desconhecida quase unanimemente na sua constituição e função socialmente negativa, deveria ser matéria curricular nas escolas e nas academias que ensinam aos ensinadores, os professores nas escolas, ao invés de incensá-lo como algo inocente e benéfico para a vida social. (por Dalton Rosado)
terça-feira, 1 de outubro de 2024
MARÇAL DISPUTA A ELEIÇÃO MUNICIPAL DE 2024 DE OLHO NA PRESIDENCIAL DE 2026
Lamarca, o capitão da guerrilha. |
Dou um exemplo. Em meados de 2014 já percebi que a anacrônica política econômica neodesenvolvimentista de Dilma Rousseff no seu primeiro mandato presidencial incubara uma aguda recessão com a qual ela, reeleita, não saberia lidar. Embora eu tivesse sérias restrições ao Lula, várias vezes escrevi em apoio à ala do PT que tentava convencê-lo a ser ele o candidato, em lugar da trapalhona Dilma.
Esta gerentona trapalhona abriu a porta para o Bozo |
Marçal, o bad boy provocador. |
"Do início ao fim, Marçal centralizou os debates, jogou as discussões para o campo das agressões e fake news, desorientou as campanhas dos adversários, deixou os institutos de pesquisa inseguros e virou o foco de toda a mídia, inclusive com a cadeirada que levou de Datena e do soco de seu assessor na cara do marqueteiro de Nunes".
segunda-feira, 30 de setembro de 2024
O BRASIL SE AVACALHA CADA VEZ MAIS
domingo, 29 de setembro de 2024
O CRIADOR DO ORKUT ADVERTE: "AS REDES SOCIAIS ESTÃO ESPALHANDO LOUCAMENTE ÓDIO, RAIVA E DESINFORMAÇÃO".
Estão espalhando negatividade porque lucram com a negatividade. Eles lucram com o ódio. E essa é uma das razões pelas quais as redes se tornaram tão tóxicas. É a priorização da monetização sobre a sociedade.
sábado, 28 de setembro de 2024
LULA, UM PROBLEMA DE COMUNICAÇÃO?
Correm nos bastidores a crítica de que o governo Lula não consegue levar ao povo os bons resultados de sua administração, justamente num mundo dominado pelos meios de comunicação. É uma crítica para se levar a sério, pois a eleição de Bolsonaro e seu índice de aprovação, durante os quatro anos de governo, se deveu a uma explosão de redes sociais a ele favoráveis com altos níveis de participação de seguidores ativos e mesmo fanatizados.
Bolsonaro tinha um encontro diário com seus seguidores no chamado cercadinho, já desmontado, junto do Palácio do Alvorada, repercutido depois pela imprensa e suas redes sociais. Como não era um presidente revolucionário ou inovador, surpreende a constatação de que ali não fazia comunicações de medidas sociais que favorecessem seus seguidores, mesmo porque durante seu governo sequer reajustou o salário mínimo. Era uma conversa conservadora, utilizando uma linguagem bem popular, às vezes mesmo chula. Ora, era isso, o fato de ser um presidente que aceitava manter um bate-papo com simples admiradores, tudo sob uma aura evangélica, que mantinha a popularidade de Bolsonaro, a ponto de quase ter conseguido se reeleger.
Não se pode também esquecer o papel das igrejas, congregações que nos seus cultos duas ou três vezes na semana, escolas dominicais e grupos de juventude, que reprisavam e agradeciam nas orações a presença de um ungido na direção do país. Como as religiões postergam para o futuro o bem-estar de seus fiéis destinados ao céu, essa mistura bem sucedida de uma espécie de política evangélica, era o contraponto tranquilo e abençoado às manifestações sociais pedindo transformações que exigiam rupturas coloridas, feministas, salariais ou climáticas, criando temores e apreensões nas pessoas conservadoras.
Essa situação pouco mudou, durante o retorno de Lula ao governo, pode-se dizer que estão num compasso de espera. Estão marcando passo, à espera do retorno ao poder. As prévias e sondagens eleitorais mostram uma provável derrota do governo na tentativa de conquistar as principais prefeituras do país. Até agora, nenhuma sondagem dá vitória ao candidato da esquerda em São Paulo, sinalizando uma possível vitória do atual prefeito e dos bolsonaristas, enquanto o surgimento do candidato outsider Pablo Marçal mostra existir de forma latente um eleitorado capaz de seguir um candidato de linguagem e gestos extremados.
Essa é uma introdução necessária na busca de uma possibilidade de o governo Lula conseguir furar o bloqueio que lhe fazem a extrema direita e os fundamentalistas evangélicos, repetindo uma situação semelhante nos Estados Unidos. Entretanto, o surgimento, nos EUA, da candidatura de uma mulher negra vinda da emigração poderá quebrar a máquina trumpista e isso, se ocorrer, terá forte repercussão no Brasil. Será igualmente importante uma vitória de Guilherme Boulos em São Paulo. Nada disso ocorrendo, Lula, se quiser ser reeleito, precisará reformular sua política de contato com o povo e reavaliar o uso das redes sociais e da Empresa Brasileira de Comunicação, que gere a TV Brasil.
Estas observações decorrem, em grande parte, de uma entrevista do influencer responsável pelo Portal do José e de seus comentários sobre o papel que ocupa atualmente a TV Brasil e de sua falta de audiência, publicada numa reportagem do jornal Estadão, retomada pelo grupo midiático de direita Antagonista. Como alguns leitores poderão imaginar, estarmos fazendo a apologia das tevês públicas que fazem propaganda de seus governos, é bom ressaltar que isso ocorre só nas ditaduras. Nem se trata de defender a privatização total das tevês, mas de se imaginar como se obter mais audiência na concorrência com tantas redes sociais convertidas em mini-TVs.
A TV Brasil gasta 600 milhões de reais por ano - este ano são 800 milhões - mas não tem audiência e nem metas a alcançar, comenta o influencer, professor e jurista José Fernandes Jr, entrevistado por Pedro Zambarda, do Portal Folha Democrata. A declaração foi a propósito do governo Lula não contar com uma boa base mediática para debater e divulgar as iniciativas do seu governo e seus ministérios.
Na verdade, praticamente só o canal 247 cuida disso, enquanto a oposição a Lula e a extrema direita dispõe de centenas de redes sociais populares, uma grande parte utilizando fake-news. Isso mostra não haver uma contrapartida para se enfrentar o enxame de canais preocupados em manter vivo o bolsonarismo.
E a totalidade desses canais é auto suficiente, mantida por seus criadores ou por pequenos grupos, contando com a monetização paga pelo youtube ou com contribuições de seguidores permitidas nas chamadas comunidades.
Uma das consequências da criação das redes sociais foi a da fragmentação e personificação de lideranças, tanto entre os bolsonaristas e evangélicos como entre as lideranças de esquerda. Embora pareça não haver ainda um estudo sobre a consequência da monetização dos influencers, aqueles que conseguem reunir um grupo importante de seguidores, centenas de milhares, passam a receber uma participação nas publicidades veiculadas com seus vídeos, equivalente a um salário.
Isso lhes permite ter um canal próprio independente, no qual gozam de ampla liberdade sendo seus próprios editores, ficando ao seu critério pertencer ou não a um grupo de canais com ideias e objetivos semelhantes. Entre os influenciadores de esquerda, uma grande parte prefere se individualizar e guardar sua independência, livrando-se assim de críticas e da obrigação de obedecer a códigos de partidos ou obrigações comuns. Alguns se sentem mais fortes unidos em grupo para ter maior audiência como Opera Mundi, Forum, Meteoro, Metrópoles e MyNews. Outros preferem manter seu ideal de esquerda, sem abrir mão de sua individualidade - é o caso de Bob Fernandes, de Andrea Gonçalves, do controvertido Paulo Ghiraldelli ou do Clayson, para citar só alguns dos mais vistos entre canais de esquerda, para citar apenas alguns entre dezenas e centenas com menor número de seguidores.
Na sua crítica à TV Brasil, o influencer do Portal do José oferece a sugestão ao presidente Lula de frequentar e conceder entrevistas aos principais canais e portais Youtube, com audiência mínima de meio milhão de visualizações, e isso sem nenhum custo. Esse contato direto com youtubers e seguidores permitirá que as ações do governo cheguem ao povo e lhe garantam popularidade com alto nível e sem as baixarias do cercadinho.
A título de comparação, as Tvs francesas France 2 e France 3, assim como as suíças TS1 e TS2, mostram boa audiência e cumprem seu papel informativo sem se tornarem instrumentos de propaganda do governo. Isso valeria uma pesquisa, uma reflexão e uma avaliação pelo governo e parlamentares. (por Rui Martins)
terça-feira, 24 de setembro de 2024
A ESQUERDA QUE NÃO SE DEIXOU COOPTAR PELO CAPITALISMO: UM LEGADO (parte 4)
Assim, eu me reportava diretamente aos dois integrantes do Comando Nacional (o Jamil/Ladislau Dowbor e a Lia/Maria do Carmo Brito, esta de origem Colina) que faziam a ponte entre a cidade e o campo, onde o terceiro comandante nacional (o Cid/Carlos Lamarca) tratava de implantar a escola de treinamento guerrilheiro.
E mantinha-me em contato diário com os outros comandantes baseados no RJ, o Juvenal/Juarez Guimarães de Brito e o Roberto Gordo/José Ronaldo Tavares de Lira e Silva, responsáveis pelas nossas duas unidades de combate lá atuantes.
Já não era tratado como neófito inexperiente, mas aceito como igual pelos veteranos, naquela fase da luta em que sobreviver quase um ano aos perigos diários se tornara um marco inalcançável para muitos.
Como cantou Milton Nascimento, memória não morrerá! |
Ponderei que era arriscado exagerarmos, já que para a ditadura um embaixador dos EUA tinha peso muito maior do que um cônsul nipônico. Também não poderíamos trocá-lo apenas pelo Mário Japa, caso contrário cairia para o inimigo a ficha de que tinha nas mãos um quadro que valorizávamos muito.
Então, precisávamos botar outros companheiros na lista, mas não a ponto de os fardados ficarem em dúvida sobre o atendimento ou não da nossa exigência. Propus o número de cinco, cinco pedimos e cinco obtivemos.
Enviado o Japa para a Argélia, restava a dúvida sobre se ele teria dado alguma pista sobre a área ou os trabalhos nela poderiam prosseguir normalmente.
Albuquerque Lima (esq.) queria reproduzir no Brasil o nacionalismo do ditador peruano Juan Velasco Alvarado |
Enfim, no RJ eu estava atuando verdadeiramente como um quadro de Inteligência, ao contrário do que acontecera em SP, onde a minha contribuição era maior como integrante do Comando estadual do que na minha função específica.
Mais: desenvolveu-se uma grande afinidade entre o Juvenal e eu, pois ambos éramos egressos do movimento estudantil (ele fora professor e se tornou o comandante militar do Colina, com um notável talento para planejar ações astutas como a expropriação do cofre do Ademar).
Tínhamos formação humanista: acreditávamos na luta armada, mas travada com critério, sem bravatas nem desnecessário derramamento de sangue. Nossa visão da organização era bem profissional, ao estilo dos tupamaros uruguaios. E sabíamos que, se porventura vencêssemos (hipótese que sabíamos ser remota), deveríamos evitar a todo custo as armadilhas do autoritarismo que desfigurara outras revoluções.
Depondo na Auditoria da Marinha um dia após a Dilma |
Não se é verdadeiramente revolucionário sem esse desejo ardente de transformar a sociedade que nos leva a assumir os piores riscos que surjam pelo caminho. Mas, nem meus piores augúrios igualavam o pesadelo que veio a seguir.
Se valho alguma coisa, foi por não ter-me deixado quebrar pelas adversidades que despencaram sobre mim a partir daquela funesta quinta-feira, 16 de abril de 1970.
Antes, aconteceu o que se repetiria muitas vezes na minha militância: tive uma forte suspeita de que algo muito ruim estava a caminho, mas não consegui convencer quem poderia evitá-lo.
Foi num ponto meu com a Lia e o Jamil, na segunda ou terça-feira. Disseram que o Lamarca exigira a presença dos demais comandantes nacionais e dos comandantes de unidades de combate na área de treinamento guerrilheiro, pois temia que a Organização novamente não estivesse priorizando a tarefa principal (lançamento da coluna guerrilheira) como deveria.
Wellington Moreira Diniz em 2013, ao ser julgada sua anistia |
Eu o conhecia do congresso de outubro da VAR-Palmares e não acreditava que faltaria a dois compromissos com a Organização por motivo fútil. Pensei logo que ele deveria ter sido morto ou preso.
E me ocorreu que, se ele houvesse mesmo caído no sábado, seria uma temeridade os comandantes estarem reunidos no campo e não a postos para lidar com uma possível emergência. A VPR, por causa das quedas que se sucediam implacavelmente, resolvera adotar um modelo vertical, com cada unidade de combate, bem como a minha de Inteligência, conhecendo apenas seu comandante.
O contato entre elas era unicamente o contato entre os comandantes. Com estes ausentes, ficaria muito mais difícil cientificarmos uns aos outros e tomamos providências para evitar uma sucessão de quedas em cascata.
Insisti longamente com o Jamil e a Lia no sentido de que adiassem a reunião com o Lamarca, mas ambos não ousaram discrepar dele. Representavam dois terços do Comando Nacional, portanto poderiam fazê-lo, mas refugaram. Foi fatal.
O Wellington tinha mesmo sido preso no sábado e desde então sofria as piores torturas, mas aguentou bravamente até a quarta-feira, quando acabou abrindo o fotógrafo ao qual conduzira o Lamarca para tirar fotos após a sua operação plástica. O fotógrafo, por sua vez, entregou um médico que era nossa principal fonte de aliados e, ao mesmo tempo, a maior vulnerabilidade que tínhamos no RJ.
Comissão Nacional da Verdade falhou em entregar às famílias os restos mortais dos desaparecidos |
Ao ser conduzido para a sede do DOI-Codi, no quartel da Polícia do Exército na Tijuca, eu quase sufocava por causa do capuz que me colocaram e de me forçarem a cabeça para baixo a fim de não ser visto da rua ou dos carros que passavam ao lado.
Sabia que, mesmo se sobrevivesse, nunca mais seria o mesmo. E não tinha certeza de que valeria a pena sobreviver.
Se funcionasse a capsula de cianureto produzida por estudantes de química aliados da VPR, eu a teria usado, mas aqueles aprendizes de feiticeiro haviam falhado em algum detalhe, de forma que poucos dias antes o Juvenal me informara do fracasso colhido por quem a utilizara. Então, só restava preparar-me para o pior. (por Celso Lungaretti)
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sábado, 21 de setembro de 2024
BEM QUE GEORGE ORWELL NOS ALERTOU CONTRA A POLÍCIA DO PENSAMENTO: HOJE, OS PATRULHEIROS CRICRIS GERAM PÂNICO
O verso inicial deste tributo a Martin Luther King é "Sim, sou
um negro de cor". Hoje os patrulheiros cricris chiariam...
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
REITORIA DO PSOL JOGA TROPA DE CHOQUE EM ALUNOS DA UERJ
Nesta sexta-feira, 20/09, a tropa de choque da polícia militar do Rio de Janeiro cumpriu ordem de reintegração de posse da UERJ no Rio. A reintegração foi pedida pela reitoria da universidade, ligada ao PSOL, após quase dois meses de ocupação estudantil contra a chamada AEDA da Fome, uma medida draconiana baixada pela reitoria daquela instituição que suspende uma série de benefícios e auxílios vitais para milhares de alunos pobres.
Na quinta, a reitoria já havia enviado para o campus jagunços descaracterizados para tentar expulsar os estudantes, sem sucesso. Hoje, as forças repressivas vieram em peso e cercaram o prédio, lançando bombas de gás e de efeito. Os confrontos se espalharam pelas ruas do entorno e terminaram com quatro estudantes presos, além do deputado federal Glauber Braga.
Por trás da ação está a aliança entre o lulopetismo, o PSOL e amplos setores do bolsonarismo no Rio de Janeiro, que estão aliados em diversas eleições municipais e estão unidos na defesa dos interesses do financismo e do grande capital. Enquanto estudantes são condenados a abandonar os estudos, por contingência de gastos, bilhões são canalizados para banqueiros e para o agronegócio.
Deixamos aqui nossa solidariedade aos estudantes da UERJ, aos estudantes detidos e ao deputado Glauber Braga! (por David Coelho)