domingo, 8 de setembro de 2024

A DEMONSTRAÇÃO DE FRAQUEZA DO BOLSONARO VAI ACELERAR A PERDA DA CONDIÇÃO DE LÍDER DA EXTREMA-DIREITA

Jair Bolsonaro tentou reagir ao declínio de sua influência política dando demonstração de força no Dia da Pátria, mas o tiro saiu pela culatra. 

Em fevereiro último, o gado reunido em sua micareta na avenida Paulista totalizara cerca de 185 mil reses; agora, contudo, o rebanho ficou reduzido a uns 45 mil quadrúpedes (ambas as contagens são do Monitor do Debate Político da USP).

Isto exatamente quando Pablo Marçal desponta com força como o seu provável sucessor no comando da extrema-direita brasileira. 

Ou seja, tratou-se de um péssimo momento para ele dar tamanha demonstração de fraqueza. Quem estava em cima do muro e tem um mínimo de perspicácia já saberá para qual lado descer, o que vai reforçar a desmontagem do circo dos horrores do palhaço psicopata.

E, se sua pregação de anistia para os golpistas do 08/01 visava obviamente a própria impunidade, o recado que as ruas passaram para o Judiciário é exatamente o oposto: pode marcar logo os vários julgamentos pendentes do presidente mais crapuloso do Brasil em todos os tempos, pois pouca reação popular haverá.

Os "patriotas" apoiam a interferência falaciosa de
um magnata estrangeiro nos assuntos brasileiros
 

Aliás, são exatamente as sucessivas demonstrações de fraqueza que explicam o abandono a que ele está sendo relegado pelos antigos devotos. A sucessão delas os fez perceber que, apesar de suas bravatas ridículas, nunca foi o ferrabrás que tentava aparentar.

Assim, engatilhou golpes nos Dias da Pátria de 2021 e 2022, brochando miseravelmente nas duas ocasiões. 

Só assumiu o risco de botar o bloco na rua quando já perdera a reeleição, mas tratou de colocar-se antecipadamente  a salvo na Disneylândia, torcendo de longe para o sucesso da tentativa mas evitando deixar suas digitais nela impressas. 

Finalmente, reencenou a farsa da radicalização neste 7 de setembro, na esperança de fidelizar a boiada, mas cometeu o pecado capital  de centrar seu fogo num alvo menor. 

Aparentemente, muitos que o seguiam na esperança de ganharem uma boquinha no governo federal não gostaram de vê-lo direcionar suas principais diatribes contra um mero ministro do Supremo. 

"Nem a cabeça do Lula esse bundão ousa mais pedir", devem ter concluído.  Então, passaram recibo de que as palhaçadas do Bozo provocam cada vez menos risos. (por Celso Lungaretti)    

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

LINGUAGEM NEUTRA DÁ ILUSÃO DE MUDANÇA, MAS O EDIFÍCIO CAPITALISTA, EMBORA CONDENADO, CONTINUARÁ EM PÉ

F
oi de um ridículo atroz o episódio em que amigos da onça contratados pela campanha do Guilherme Boulos decidiram alinhar sorrateiramente o candidato à prefeitura paulistana com aquela besteirinha da linguagem neutra, alterando o Hino Nacional na calada da noite e fornecendo, de mão beijada, um ótimo trunfo propagandístico para os adversários.

Aconteceu o óbvio: rejeição esmagadora da iniciativa por parte dos cidadãos comuns, o que obrigou Boulos a renegar as peças promocionais adulteradas, declarando que não concordava com aquilo que havia sido feito em seu nome. 

Que imagem patética ele teve de projetar, tipo marido traído, o último a saber das coisas! Quem quer um prefeito desses?

No entanto, o  que mais o Boulos poderia fazer, colocado numa saia justa dessas? 

A maioria das pessoas já se acostumou com esse hino cuja música de 1890 evoca bandas marciais tocando nos coretos de cidades do interior; e a letra, rebuscada e ufanista, foi incluída em 1909, trazendo à lembrança aqueles baús antigos que só fechavam quando alguém sentava em cima. 
O uvirandu traz à lembrança bandas
tocando nos coretos de cidades do interior

Escolhendo-se música e letra em concursos públicos e depois juntando ambas à base da forçação de barra nunca se chegará a uma Marselhesa...

Infelizmente, desperdiçou-se tempo discutindo se era um crime de lesa-pátria trocar todos por todes, quando se poderia, por exemplo, colocar em questão se não seria melhor trocar o uvirandu pelo hino libertário composto no momento dos acontecimentos por D. Pedro I, infinitamente melhor.

Quanto à linguagem neutra, nada tenho a acrescentar ao que escrevi em novembro de 2010, no artigo O Waterloo do patrulhamento cricri, tomando como ponto de partida duas das Teses sobre Feuerbach (1845), de Karl Marx: 
"A doutrina materialista de que os seres humanos são produtos das circunstâncias e da educação, de que seres humanos transformados são, portanto, produtos de outras circunstâncias e de uma educação mudada, esquece que as circunstâncias são transformadas precisamente pelos seres humanos e que o educador tem ele próprio de ser educado. 
Ela acaba, por isso, necessariamente, por separar a sociedade em duas partes, uma das quais fica elevada acima da sociedade. 
A coincidência do mudar das circunstâncias e da atividade humana só pode ser tomada e racionalmente entendida como praxis revolucionária". (3ª tese) 
"Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de diversas maneiras; chegou a hora de transformá-lo". (11ª tese)
Não basta mudarmos a forma como aludimos
às coisas do mundo. Temos é de mudar o mundo.
Ou seja, os educadores [ou, atualmente, também os influenciadores] que se arrogam o direito de decidir o que crianças (ou a sociedade como um todo) podem ou não ler, e com que ressalvas lhes devem ser apresentadas tais leituras, têm, eles próprios, de ser educados.

As mudanças das circunstâncias e da atividade humana só se dão por meio da prática revolucionária, não de uma educação mudada (ou expurgada, censurada, castrada, mutilada, maquilada, engessada, etc.).

Pois não basta a adoção de outras palavras para eliminar-se a carga de preconceitos com que as pessoas as impregnaram, nem fazer triagem de obras artísticas para extirparem-se os comportamentos condenáveis nela retratados.

Somente livrando a humanidade do pesadelo capitalista conseguiremos dar um fim a todas as formas de discriminação, pois uma das molas-mestras da sociedade atual é exatamente a busca da diferenciação, do privilégio, do status, da superioridade.

Enquanto os seres humanos forem compelidos a lutarem com todas as suas forças para se colocarem acima de outros seres humanos, será ilusório pretendermos tangê-los ao respeito mútuo por meio dessas ninharias cosméticas.

É desprezando os iguais que eles adquirem forças para a luta insana que travam, pisando até no pescoço da mãe para alçarem-se a outro patamar da hierarquia social.
Enquanto nos iludirmos com pequenos retoques na
fachada do edifício capitalista perderemos tempo

Então, a verdadeira tarefa continua sendo a transformação do mundo, para que não haja mais hierarquia e sim a priorização do bem comum, com todos contribuindo no limite de suas possibilidades para que sejam atendidas as necessidades de todos.

Enquanto nos iludirmos com esses pequenos retoques no edifício capitalista continuaremos perdendo tempo, pois mesmo que suas fundações estejam podres, além de qualquer possibilidade de recuperação, ele continuará em pé (por Celso Lungaretti)

quarta-feira, 4 de setembro de 2024

PARLAMENTO NÃO E NUNCA SERÁ A CASA DO POVO!

 


C
ostuma-se dizer que o parlamento é a casa do povo. Tal denominação, que jamais foi assim entendida e considerada pelo povo, mas definida de modo astucioso pela constituição republicana, corresponde ao mais ignominioso embuste da democracia burguesa.  

Nunca, nem mesmo no início da revolução russa de 1917, o parlamento russo denominado como Duma, liderado inicialmente pelos mencheviques, teve representação que demonstrasse a equidade de participação das classes sociais. Foi necessário que Lenin, nas famosas teses de abril, denunciasse o seu caráter reformista burguês, apelando para que o poder legislativo fosse diretamente exercido pelos conselhos populares, formado por trabalhadores e revolucionários, também conhecido como sovietes. 

Uma lástima que desde a NEP – Nova Política Econômica – que admitiu concessões de práticas burguesas como forma de adaptação inicial à implementação do capitalismo de estado posterior, pós-revolucionária e proposta por Lenin, tenha provocado a continuidade de relações mercantis cada vez mais praticadas depois de sua morte precoce.  

Hoje a Rússia é o paraíso dos empresários bilionários, de lá e de fora, que adquiriram as estatais, e se tornou um país de governo militarista autocrata praticante de um capitalismo decadente. O capitalismo não perdoa: ajoelhou, tem que rezar, como dizia o velho Guerreiro, o Chacrinha. 

O parlamento é a casa das elites, que é onde se formulam leis em nome do povo e contra ele, de modo que se estabeleça a obediência isonômica por todos a estas regras feitas dentro do interesse do capital, algo assim como se um jogo entre Real Madrid com o Ibis, de Pernambuco, tivesse paridade de armas por jogarem sob regras iguais.          

No Brasil, portanto, não poderia ser diferente, fato que denuncia o caráter antidemocrático da democracia - tomando-se por termo o significado semântico que a palavra adquiriu sub-repticiamente. É por isso, entre outras razões, que nego meu voto, como protesto, e sem medo de ser feliz e tão pouco da direita.  

As eleições Parlamentares brasileiras de 2022 aprofundaram a tradicional predominância elitista de classes sociais no parlamento, e isto tem se transformado num tormento dentro do quadro de dificuldades de depressão capitalista mundo afora ao qual o Brasil não pode ficar imune, obviamente.  

Vejamos a composição das cadeiras na Câmara Federal, por partidos: 

Partido Liberal ....................................................... 92; 

Partido dos Trabalhadores .........................................  68; 

Partido União.......................................................... 58; 

PP – Partido Progressista ...........................................  51; 

MDB – Movimento Democrático Brasileiro......................... 44; 

Partido Republicano.................................................. 44; 

PSD – Partido Social Democrático................................... 44;  

PDT - Partido Democrático Trabalhista ........................... 18; 

PSDB - Partido da Social-Democracia Brasileira e Cidadania..  17; 

Partido Podemos....................................................... 15; 

Partido Socialista Brasileiro ......................................... 14; 

PSOL – Partido Socialismo e Liberdade ............................. 13; 

Partido Avante .........................................................   7; 

PC do B - Partido Comunista do Brasil..............................   7 

PRD - Partido Renovação Democrática .............................   5; 

Partido Solidariedade ................................................    5; 

Partido Verde...........................................................   5; 

Partido Novo ...........................................................   4; 

Partido da Rede Solidariedade ......................................   1; 

Sem partido ............................................................   1; 

Total de cadeiras ...................................................... 513  

Como se vê, há uma hegemonia de poder conservador configurado nas 326 cadeiras de partidos de direita, que equivalem a 63,5%; 61 partidos de centro, que equivalem a 11,8%, e 126 partidos de esquerda, que equivalem a 24,5% do total de cadeiras.  

Aí está a razão pela qual no Brasil, a direita, ao perder o controle do executivo, tenta reforçar o poder político do parlamento como forma de submeter as verbas orçamentárias discricionárias ao seu controle. Assim, o congresso nacional concede a ele mesmo o poder de derrubar decisões do supremo tribunal federal, ou seja, de eliminar do judiciário qualquer análise de descumprimento constitucional pelo parlamento.  

 Além de tentar aprovar, e de fato conseguir, leis absurdas como podemos citar a título de exemplos resumidos mais recentes: 

- Lei da privatização das praias; 

- criação e conservação da lei das desonerações fiscais previdenciárias das folhas de pagamento das empresas de 17 setores de grande empregabilidade, que abrange centenas de grandes empresas - substituiu a anterior CPP  - Contribuição Previdenciária Patronal -, e reduziu o pagamento de 20% sobre pagamentos de salários para 1% a 4,5% sobre a renda bruta de empreendimento - volume bem menor em valores -, a título de isenção fiscal empresarial previdenciária, fato que dificulta ainda mais as deficitárias contas previdenciárias e suas baixas pensões aos beneficiários - após uma grita geral contra tal benefício se formou o consenso de isenção total em 2024 e retomada gradual até 2027; 

- de liberação de áreas de proteção ambiental para o agronegócio;  

- análise e registro de agrotóxicos pelo Ministério da Agricultura tirando tal função do Ibama e da Anvisa, órgãos especializados (PL 6288/20)

- leilão de bens fora da esfera judicial, e que permite a ação administrativa para pagamento de dívida até de bens de família (PL 4188/21);  

- de constituir o parlamento como uma custosa rubrica orçamentária institucional em salários altamente discrepantes da realidade salarial dos trabalhadores e mordomias injustificáveis, tudo às custas da empobrecida bolsa popular que tudo sustenta através dos impostos que lhe são cobrados; 

- verba de R$ 4,9 bilhões para o fundo partidário das eleições e o perdão das multas partidárias;    

Isso tudo sem se falar nas tradicionais rachadinhas apropriação parcial dos salários de assessores por eles nomeados - e das comissões cobradas aos prefeitos nas obras superfaturadas resultantes das emendas parlamentares.    

O capitalismo é isso, a autotélica lógica de apropriação indébita da riqueza abstrata socialmente produzida - e que remunera seus agentes mais proeminentes, o grande empresariado - no seu desiderato de acumulação ad infinitum. Ora, se é assim, como poderia o parlamento ter natureza diferente da que tem, se sua função precípua é a elaboração de leis voltadas para a regulamentação e manutenção desse modo de relação social enquanto instituição do Estado burguês?!   

Há quem argumente, e com boas intenções, que os anticapitalistas de esquerda devem participar do parlamento como forma de se colocar uma cunha no conservadorismo parlamentar de sempre, e fazer proposições que estabelecem a diferença entre estes e aqueles; e este é um argumento que embute uma meia verdade que costuma ser um equívoco completo. 

Na verdade, ao participar de uma instituição que tem caráter burguês, e é eleita com o voto manipulado pelo poder político e econômico nos grotões mais distantes do centro de comando, e que sempre lhe concede maioria, os parlamentares de pretensa oposição sistêmica legitimam o jogo burguês parlamentar que se sabe de antemão vencido pelos seus adversários de classe. 

Uma vez investido como parte da casa, não podem denunciar o caráter parlamentar, porque se assim o fizessem, estariam ofendendo o famoso decoro parlamentar e, também, porque não se pode denunciar a prostituição dentro de um prostíbulo, se me permitem o exagero. Além do mais, os salários e verbas partidárias sustentam muita gente que por dependência econômica beija a mão de quem segura o chicote.  

São muitas as contradições que nos transformam em gado no corredor do matadouro. A primeira delas é a aceitação do trabalho abstrato, que se constitui como o artífice de todo o edifício capitalista e da forma valor; nossa presença no parlamento é apenas mais uma delas. 

Os sindicatos, por exemplo, ao invés de clamarem por mais empregos e salários, deveriam clamar pelo fim destas duas categorias capitalistas, e este é mais um comportamento dentro do espectro de boas e infrutíferas intenções.    

A luta política dentro da imanência capitalista sempre naufraga no vazio da sua inconsistência. Abaixo a casa das elites! (por Dalton Rosado) 

domingo, 1 de setembro de 2024

NÃO EXISTEM HERÓIS NA BRIGA MUSK X MORAES

 

Alexandre de Moraes determinou nesta sexta-feira, 30/08, a suspensão do twitter no Brasil após Elon Musk, o bilionário proprietário da rede, ter desobedecido ordens de exclusão de perfis e não ter apontado um representante legal no país. Essa história é a exemplificação, ao mesmo tempo, da batalha em nível global dentro da própria burguesia entre a ala neofascista e a direita liberal e do colapso da internet enquanto espaço democrático e livre. 

Quando surgiu, o twitter representou as melhores potencialidades da internet. Livre, fora do controle e da manipulação da mídia corporativa, era uma rede social dinâmica em que as pessoas podiam se expressar de forma ampla. Foi mesmo importante nas mobilizações populares que explodiram na década passada, da Primavera Árabe às Jornadas de Junho de 2013, além de ter sido o canal de inúmeros movimentos políticos revolucionários e anticapitalistas, a exemplo do Anonymous e do Wikileaks. Ou seja, era a marca maior da época heróica da internet, quando a rede mundial de computadores possuía natureza horizontal e se fundava no trabalho hercúleo de milhões de voluntários. 

Mas tal era acabou. Ao longo dos anos 2010 as corporações começaram a se apoderar da internet, transformando cada serviço e cada pedaço do ciberespaço em uma grama de mercadoria. Os compartilhamentos de vídeos foram sendo substituídos pelas plataformas de vídeo, as redes sociais passaram a ser dominadas pelos algoritmos em que apenas os pagantes atingiam um público maior, a espionagem, a venda de informações pessoais e outras coisas se espalharam, a mídia corporativa retomou as rédeas sufocando blogs e páginas independentes nas buscas do Google, etc. Quando Musk compra o twitter, a mutação dessa rede já tinha avançado imensamente, tendo ela se tornado uma rentosa fonte de negócios. Foi nesse contexto que as redes passaram a ser inundadas de informações falsas e manipuladoras, em uma espécie de reverso da moeda do período libertador de antes. 

Não é possível pensar tais ações manipulatórias  sem o investimento maciço de grandes grupos empresariais e sem o apoio das corporações que dominam a internet. Enquanto, por exemplo, no Facebook, páginas de esquerda eram ou derrubadas ou ostracizadas, páginas de mentira, de discurso de extrema direita, permaneciam ativas e ganhavam visibilidade. Claramente tais ações expressavam a ascensão da extrema direita em nível mundial, catapultada por vastos setores do grande capital. Em oposição, a direita liberal lança uma contraofensiva política e jurídica, pressionando as empresas por regulações.

É a velha vontade política, que na realidade é pura impotência: acreditar que regulando o mercado se domará a selvageria do capitalismo. E quem melhor para encarnar isso que um Juiz, alçado à qualidade de xerife? Xandão, assim, entra de sola no processo de suspender contas e cassar postagens nas redes sociais daqueles ligados ao bolsonarismo ou que de alguma forma questionem sua autoridade. Dentro do hermético inquérito das fake news - em que ele é vítima, acusador, julgador e executor -, se pode tudo e cabe tudo. 

Não é preciso muito português para determinar as ações de Moraes pelo que são, pura e simples censura, mas supostamente uma censura do bem. Nada disso, porém, deve ser surpreendente porque na sociedade de classes a liberdade de expressão é sempre tolerada pela burguesia até certos limites e mesmo nos EUA é possível sair às ruas trajando uma suástica, mas os Panteras Negras eram impiedosamente caçados pelo FBI. 

Contudo, as ações de Moraes não tornam Musk um herói da liberdade de expressão. Muito pelo contrário! O bilionário, hoje um dos maiores promotores da extrema direita mundial, está nessa batalha apenas em defesa do bolsonarismo, fato comprovado por seu aceite às censuras impostas pelos governos neofascistas da Índia e da Turquia, além da suspensão de inúmeras contas de ativistas da causa da Palestina em sua rede. O burguesão também sabe censurar quando isso lhe convém. 

Cabe aos revolucionários não firmar posição entre Xandão e Musk, mas nega-los em bloco! (por David Coelho)

A música que melhor expressa quem é Elon Musk.


quinta-feira, 29 de agosto de 2024

A ESQUERDA QUE NÃO SE DEIXOU COOPTAR PELO CAPITALISMO: UM LEGADO (parte 3)

Enquanto era realizado o congresso do racha dos sete, transcorriam
as negociações do sequestro do embaixador estadunidense Charles Elbrick.
Até o racha dos sete, as circunstâncias vinham me propiciando uma escalada relâmpago nas fileiras da esquerda. 

Era, contudo, algo que eu não cogitava, nem sequer pretendia. Nunca tive obsessão pelo poder e. aos 18/19 anos, já possuía suficiente senso de autocrítica para perceber que não estava pronto para voos tão altos.  

Mas, eu mentiria se não admitisse que o novo status me deslumbrou um pouquinho que fosse, principalmente após passar 1968 inteiro ressentido com o tratamento entre paternal e ligeiramente desdenhoso que os militantes universitários dedicavam a nós, secundaristas, colocando-nos ora no papel de tarefeiros, ora no de bois de piranha

[Caso, p. ex., de quando nos escolheram para panfletar Osasco ocupada pela PM em junho de 1968, sob a alegação de que, presos, iríamos para o Juizado de Menores e não para o Deops. Mas isto não passava de papo furado: a ditadura não tinha tais melindres.]  

Quando a minha sorte de principiante acabou e a realidade crua da luta armada começou a desabar sobre mim, isso me abalou mais do que deveria. Primeira foi a morte de um companheiro da VPR a quem não conhecia, Carlos Zanirato, em junho. Preso, ele resolveu dar um fim às torturas pela via do suicídio. conduzindo a repressão a um ponto falso e atirando-se sob um veículo pesado. 
Fernando Ruivo, vítima de um acaso.

No mês seguinte vieram o
Elias e um  ex-dirigente da Dissidência Estudantil de São Paulo, de quem eu muito ouvia falar quando fazia movimento secundarista na órbita dessa organização universitária em 1968: o Fernando Ruivo (Fernando Borges de Paula Ferreira). 

Um caso chocante porque ambos tiveram o azar de estarem num carro que empacou logo quando passava por uma boca quente paulistana. Havia policiais emboscados esperando surpreender traficantes, então os dois, sabendo que uma revista revelaria a existência de armas e munição no porta-malas, abriram fogo. 

O Ruivo morreu na hora e o Elias foi salvo pelos médicos mas expirou quando submetido a torturas prematuras.

Em outubro veio o pior baque para mim: a morte do meu colega de escola, amigo, companheiro de militância secundarista e um dos sete quadros que conduzi para as fileiras da VPR, Eremias Delizoicov. 

Eu estava longe, participando da equipe precursora do treinamento guerrilheiro na região de Registro (SP), mas me senti culpado mesmo assim: tornara-me comandante estadual graças aos que, como ele, me haviam escolhido como líder de nossa base e delegado ao congresso de 1969 da VPR. 

Mas, não zelara por nenhum dos sete, absorvido que estava pelas minhas novas funções. A morte do Eremias, que preferira trocar tiros do que entregar-se vivo, embora pouca participação tivesse até então na VPR e não fosse depositário de segredos valiosos para a Operação Bandeirantes (precursora do DOI-Codi) pesava sobre meus ombros. Apesar das normas de segurança em contrário, eu teria como contatar alguns dos sete, mas não o fizera. E o despreparo do Eremias terminara em tragédia.

O certo é que, após estar a um passo da expulsão durante o Congresso de Teresópolis e ver-me salvo na enésima hora  pela decisão do Lamarca de desfechar o racha dos sete, não me senti vitorioso, muito pelo contrário. A beligerância com que se travara a luta interna, com os neo-massistas utilizando um verdadeiro arsenal de meias-verdades e mentiras descaradas para prevalecerem contra o Moisés e eu me lembrou os piores momentos do movimento estudantil.

Não conseguia engolir o episódio em que até a minha queda os adversários do nosso campo tramaram, como se fôssemos inimigos mortais. 



É que voltei de Teresópolis com a missão de apresentar aos militantes da VAR em SP  a visão dos refundadores da VPR, enquanto o Antônio Roberto Espinoza expressava a posição neo-massista. Isto só ocorreu, contudo, duas vezes.

Na primeira, apesar de o Espinosa ter sido sempre do Comando Nacional enquanto eu era comandante estadual, sai-me melhor do que o outro lado esperava. Aí, finda a segunda dessas reuniões, fui  a um ponto com antigos companheiros secundaristas que eu queria atrair para a VPR; em seguida, deveria ser apanhado por pessoal da VAR, pois nós havíamos ficado sem aparelhos em SP  e competia a eles me abrigarem.

Faltaram ao ponto e também faltaram na alternativa horas depois, deixando-me entregue à própria sorte, com meu rosto nos cartazes de procurados vistos em todo lugar, sem documentos capazes de enganar policial algum e com um .38 embaixo do braço. E deixara de ser seguro enfiar-me num hotelzinho barato, como fizera meses antes, ao sair de casa para entrar na clandestinidade.

Mas, uma moeda caiu em pé. Andando por ruas menos movimentadas do centro velho de SP, enquanto refletia sobre como escapar daquela enrascada, dei de cara com o Devanir de Carvalho, do Movimento Revolucionário Tiradentes, mais procurado ainda do que eu (travara tiroteio com agentes da repressão que vinham prendê-lo e aos irmãos, acabando por escapar ferido no braço).

Encontrá-lo caminhando pela rua, ainda com o braço na tipoia, foi um inacreditável golpe de sorte. Ele me abrigou como pôde e reatou meu contato com a VPR. Mas, a solidariedade impecável do Devanir não foi suficiente para eu esquecer que aqueles que nem duas semanas antes pertenciam à mesma organização, acabavam de tentar entregar-me às feras.

Amargurado, nem quis participar do rápido encontro no qual alguns dos principais quadros da VPR refundada aprovaram basicamente as teses do Jamil como plataforma doutrinária e elegeram um novo Comando Nacional. 

Em seguida, por estar muito queimado em SP (até na Biblioteca Central a Oban plantou agentes, na esperança de que eu aparecesse por lá, como fazia amiúde nos tempos de secundarista!), incumbiram-me de ajudar a preparar uma área de treinamento guerrilheiro para receber os primeiros aprendizes.
Livro raro, é o que melhor reconstitui
a queda das áreas guerrilheiras da VPR

Não fui tão mal no trabalho de campo como detratores exagerariam depois, mas o noticiário de cada dia me fazia tanta falta quanto o ar para respirar. 

Não suportava permanecer distante enquanto outros companheiros poderiam estar morrendo nas cidades. Quando chegava o motorista que trazia nossas provisões, mensagens e utensílios, eu simplesmente devorava os jornais recentes.

Então, quando o Lamarca decidiu que aquele sítio próximo a Jacupiranga tinha vários inconvenientes para nosso projeto e os trabalhos deveriam ser transferidos para outro município, supostamente longínquo, pedi para voltar ao trabalho urbano, pois avaliara que nele seria mais útil.

O Massafumi Yoshinaga, velho companheiro de militância secundarista (atuava na zona Sul e eu na Leste, mas ambos pertencíamos à mesma entidade), também aproveitou a ocasião para sair, não para outro tipo de trabalho, mas para desligar-se da VPR. Não suportava o isolamento das massas, "ficar ouvindo o dia inteiro papo sobre assuntos militares".

Iniciei 1970 no Rio de Janeiro, novamente designado para criar e comandar um serviço de Inteligência integrado por aliados e simpatizantes. É um momento em que tinha até receio de abrir o jornal a cada manhã, pois eram cada vez mais frequentes as notícias de quedas e mortes de companheiros que eu conhecia pessoalmente.  

Organicamente ligado apenas a dois comandantes nacionais e a dois comandantes de unidades de combate. aos quais municiava com informações e análises, tinha uma visão bem clara de que nossa luta estava nos estertores: ou conseguiríamos virar o jogo com o lançamento da coluna móvel estratégica, ou definharíamos aos poucos. 

E chegou a mim uma mensagem familiar: um tio rico estava disposto a bancar a minha fuga para algum país da América do Sul ou Europa. 

Pensei um pouco no assunto e conclui que, ficando no Brasil, apostaria num fio de esperança e possibilidade muito maior seria a de acabar preso, torturado, morto. Não tinha ilusões quanto a isto.

Se partisse, minha utilidade para a revolução seria praticamente nenhuma. Como já queimara as pontes com a sociedade burguesa, eu alhures me tornaria um estranho numa terra estranha, perdendo inclusive a auto-estima.

Decidi ficar, até a improvável vitória ou até o mais amargo fim. (por Celso Lungaretti -- continua)   
 
Tecle aqui para acessar a 1ª parte desta série; aqui  para acessar a 2ª parte.

quarta-feira, 28 de agosto de 2024

TODO APOIO À OCUPAÇÃO ESTUDANTIL DA UERJ! ABAIXO A AEDA DA FOME!

 

Estive na ocupação estudantil da UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro - nesta segunda-feira, 26/08, e pude testemunhar o renascimento do movimento estudantil brasileiro pós-pandemia. Certamente, é a principal mobilização dos estudantes de nosso país nos últimos anos e signo de movimentações maiores que virão no futuro. 

A ocupação, que visa fazer cumprir a greve estudantil decretada desde o começo de agosto, ocorre após a reitoria da universidade baixar uma norma cancelando uma série de benefícios pagos aos estudantes carentes. A chamada AEDA da Fome compromete diretamente a permanência e a sobrevivência de milhares de alunos que precisam dos recursos para pagar alimentação, transporte e aluguel e que se viram, da noite para o dia, sem os benefícios. 

Como soa acontecer, a Reitoria, supostamente de esquerda, impôs a chamada AEDA (Ato Executivo de Decisão Administrativa, um tipo de decreto-lei dos reitores daquela instituição) sem qualquer diálogo com a comunidade acadêmica e sem consultar qualquer órgão deliberativo. Diante do protesto dos estudantes, agiu com truculência, enviando seguranças privados para reprimir os alunos que ocupavam a sede da reitoria. O efeito, já comprovado à exaustão pela história, foi o alastramento da mobilização estudantil, com o decreto da greve e a ocupação generalizada do prédio da UERJ. 

A adesão à greve estudantil é imensa e enquanto estive em visita, mais uma faculdade havia aderido, dessa vez a de Enfermagem. Certamente, a partir de agora será um cabo de guerra com a reitoria aplicando a tática do cansaço e cozinhando os estudantes até esses se desgastarem e aceitarem algum acordo rebaixado, com a ajuda dos agrupamentos estudantis ligados ao PSOL e ao lulismo, que não possuem interesse em ampliar a mobilização dos estudantes. 

Porém, longe de ser um ponto isolado, a atual mobilização dos estudantes da UERJ tende a ser um ponto de inflexão de outras mobilizações futuras diante da situação de agravamento da crise capitalista e da falta de respostas do lulopetismo em acelerada decadência. Estamos vendo apenas o começo de imensas batalhas futuras. (por David Coelho) 



terça-feira, 27 de agosto de 2024

A GIGANTESCA CRISE CAPITALISTA ESTÁ CADA DIA MAIS PRÓXIMA

Uma expectativa de tsunami na economia mundial faz com que qualquer notícia menos alvissareira vinda dos Estados Unidos, a maior economia do mundo, seja suficiente para provocar abalos sísmicos na especulação financeira sob a qual gira o capitalismo na sua fase de circulação gigantesca de valor sem lastro.  

A consequência do desacoplamento das moedas fiduciárias como representação de valor válido advindo da produção de mercadorias, e oriundo da emissão de moedas sem lastro, tem provocado a inflação mundial que se situou na faixa anual de 5,8%, em 2023, sendo que na União Europeia ficou em 6,3%, e nos Estados Unidos se situou em 4,1%.  

Há quem considere que tais níveis de inflação são elementos essenciais para a estabilidade monetária, mas já são índices preocupantes.  

Isto tem provocado a elevação das taxas de juros que fazem a alegria dos rentistas, mas acende a luz amarela de perigo porque o aumento do endividamento público, que sacrifica os países pobres com os juros extorsivos para fazer face à rolagem de suas dívidas, cada vez mais está se aproximando dos níveis de inadimplência dos juros, também chamados de serviços da dívida - nome educado para a agiotagem do sistema bancário internacional -, que deverá ser catastrófico para a economia mundial.  

Após a queda vertiginosa do PIB dos Estados Unidos, ocorrida durante a pandemia da Covid19 em 2020, que chegou a -2,2% ao ano, houve uma recuperação em 2021 para 5,8%, e 1,9% em 2022, e 2,5% em 2023, que corresponde a uma média de 2,0% nesses últimos quatro anos, considerada renitentemente baixa desde a crise do subprime de 2008/2009, vez que o crescimento médio do PIB de lá de 2008 a 2019, se situou em 1,78% ao ano.  

A dívida pública dos Estados Unidos, acima de 100% do seu PIB, subiu recentemente a mais de US$ 30 trilhões, e vem crescendo constantemente, fato que implicou no pagamento de juros num total de US$ 1 trilhão no período de 19 meses, representando 15,9% do orçamento federal para o ano fiscal de 2022. Segundo o FMI, a continuar nessa pisada, a dívida pública nos Estados Unidos deve atingir 133,9% do seu PIB em 2029, acima dos 122,1% de 2023, o que significa existência de um endividamento constante e explosivo.                  

Os dados oficiais ora analisados, de inconteste veracidade, demonstram que há um freio de mão puxado na locomotiva da economia mundial, os Estados unidos, mesmo sendo detentor e emissor do dólar, divisa internacional que serve de referência como equivalente geral válido, e que assim é respeitado. 

Ora, se a locomotiva da economia mundial e detentora do seu maior PIB apresenta dados que demonstram fragilidade, o que se dizer dos vagões que são por ela puxados e que pagam taxas de juros bem mais elevadas sobre suas dívidas?! 

É graças a isso que na segunda-feira, 05/08, bastou a apresentação de dados negativos de empregabilidade e redução de crescimento para o último trimestre nos Estado Unidos, para desabarem as bolsas de valores do mundo inteiro, que embora recuperadas do susto nos dias seguintes, bem demonstram a instabilidade do sistema financeiro internacional cujo prenúncio é de cataclisma.    

O que está na base dessa instabilidade é a consciência que os agentes financeiros têm de que já não se produz um volume de valor válido necessário para a irrigação saudável do fluxo monetário, bem como de volume de lucros advindos de extração de mais-valia na produção de mercadorias - setores primário e secundário - e que tal fato tem data aprazada de possibilidade de sustentação de todo o sistema financeiro, que se vê ameaçado de colapso. 

Esses tempos especulativos financeiros provocou a prática do carry trade por grandes especuladores privados internacionais e que consiste em se contrair empréstimos a juros mais baratos para aplicar o dinheiro obtido em taxas mais altas, obtendo-se lucros em tais operações.  

Tal prática bem demonstra que a questão das taxas de juros na economia globalizada, na qual se transferem valores eletronicamente em segundos, é o que tem gerado lucros financeiros meramente especulativos que em algum momento vão se esfumar nas labaredas do incêndio anunciado, transformando o dinheiro sem valor em congelamentos bancários e/ou moeda podre sem poder de compra.  

As criptomoedas, hoje tão em voga, são também uma demonstração da prática de especulação financeira visando a obtenção de lucros com dinheiro gerando dinheiro fora da produção de mercadorias por mecanismo de oferta e procura limitada de fundos de várias moedas fora do sistema bancário e fora controle fiscal do estado, que num dado momento irão ruir pelo mesmo fator de inconsistência de valor das moedas fiduciárias que compõem tais fundos monetários.   

Quando se olha para a economia chinesa, que os desavisados consideram como um fenômeno de sucesso no mundo capitalista, e se vê o crescimento de sua dívida pública crescente, que o FMI prevê que em 2029 chegue a 110,1% do seu PIB provocando uma obrigação de juros de 3% ao ano em média, e num país que está enfrentando quedas anuais de crescimento do PIB - cerca de 4,7% em base anual de 2024 -, pode-se antever o tamanho da encrenca para os anos vindouros. 

A China já enfrenta sérios problemas de inadimplência da dívida pública de governos de várias cidades e uma crise no setor imobiliário provocada pela incapacidade de aquisição de unidades construídas ou mesmo de inadimplência das dívidas existentes de aquisições anteriores.  

Não é diferente o quadro financeiro na União Europeia, que aglutina as locomotivas da economia mundial no velho continente. Em que pese a queda da inflação ocorrida em 2023 e 2024 em torno de 3% ao ano, as taxas de inflação dos anos anteriores foram extremamente altas - em torno de 10% ao ano -, fato que denuncia a instabilidade econômica havida nos 27 países que compõem a comunidade do euro.   

As altas taxas de desemprego e a dívida pública em torno de 83,7% do PIB da União Europeia calculado em US$ 19,8 trilhões, sobre a qual incide juros de 3,7% ao ano, indica que estes últimos se equivalem ao crescimento do PIB antes referido, de onde se pode concluir que há prenúncio de estagnação ao invés de crescimento da economia como um todo.  

Os dados ora indicados, das maiores economias do mundo, e que significam cerca de 75% do PIB mundial, com dívidas públicas superiores aos respectivos PIBs, dá bem a dimensão de como vive o restante dos países da periferia capitalista, obrigados ao pagamento de taxas de juros elevadas e com Produtos Internos muito inferiores àqueles existentes nos países ditos ricos, além de altas taxas de desemprego e inflação. 

Segundo o FMI, a dívida pública mundial está em torno de US$ 91 trilhões e a dívida pública se situa em 92% do PIB mundial, ou seja, o que o mundo produz de riqueza abstrata, valor, em um ano, não é suficiente para pagá-la, mesmo que fosse possível, e não é, obviamente, que todos os recursos fossem apenas destinados para tal fim. É graças a isto que nos aproximamos do momento em que nem os juros da dívida serão possíveis de serem saldados, e todo o sistema financeiro ruirá inapelavelmente.  

A razão pela qual os Estados não conseguem refrear o crescimento de suas dívidas públicas deriva de uma realidade inafastável: se não se endividam, deixam de pagar as suas contas e de cumprir a função fundamental de fornecer infraestrutura para o desenvolvimento econômico pífio já existente; e se se endividam apenas adiam a hora da verdade, quando anunciarão aos rentistas o congelamento dos seus ativos.  

É que na economia mundial já não se produz valor no volume necessário numa economia interligada e dependente desse mesmo valor para continuar existindo.    

A constatação é de que, além do quadro de dificuldades que se avolumam nos países detentores da hegemonia capitalista, conforme demonstramos, a pobreza mundial reproduz a concentração de riqueza abstrata produzida pelo capitalismo levando miséria à maioria da humanidade. 

O mais grave é que com a depressão econômica mundial renitente, o quadro de dificuldades vem causando e se agravando com a eclosão de guerras, levantes populares e crises ecológicas provocadas pelo aquecimento global que se traduz em fenômenos atmosféricos e terrestres da natureza cada vez mais intensos.   

Há que se conjecturar, urgentemente, novos parâmetros de socialização fora dos critérios estabelecidos por uma lógica de relação social capitalista que tem se mostrado incapaz de usar os avançados conhecimentos da ciência em favor do bem-estar coletivo.  (por Dalton Rosado)  

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

A FAMIGLIA BOLSONARO ESTÁ EM PÂNICO: PABLO MARÇAL AVANÇA PARA SER O NOVO MALVADO FAVORITO DA EXTREMA-DIREITA.

N
uma única semana, o ultradireitista Pablo Marçal deu um salto gigantesco nas pesquisas de intenção de voto para prefeito de São Paulo, passando a ser visto e temido pela famiglia Bolsonaro como a maior ameaça atual ao seu futuro político.  

E isto no que tange não apenas  à anistia ilegal e inconstitucional que o palhaço psicopata espera obter do Congresso Nacional para disputar a presidência da República em 2026, quanto à sua própria chance de êxito em tal eleição.

[A segunda hipótese, evidentemente, no caso de o Brasil avacalhar-se em definitivo e admitir a candidatura do responsável indiscutível pelo maior extermínio de brasileiros em todos os tempos: os cerca de 400 mil que teriam sobrevivido à covid se a presidência não estivesse sendo exercida por um sabotador da vacinação.] 

Por que Pablo Marçal assusta tanto seus iguais? A melhor explicação que encontrei é a de Celso Rocha de Barros neste artigo simplesmente brilhante. Sua conclusão:
Na disputa de qual parlapatão é mais crível fazendo cara de mau...
"...a guerra civil na extrema-direita prova que há riscos em recrutar seus eleitores apenas por estímulos emocionais de curto prazo, por choques de adrenalina causados por ofensas e grosserias, por reflexos de autodefesa diante de ameaças imaginárias. Deu certo para Bolsonaro até aparecer alguém com ainda mais disposição do que ele para mentir, para ofender, para chocar pela baixeza".
É bom que já haja quem analise o fenômeno sem papas na língua. A vitória do Bozo em 2018 apenas confirmou o que Charles De Gaulle disse  (ou lhe imputam erroneamente) quando da chamada guerra da lagosta, seis décadas atrás: "O Brasil não é um país sério". 

Ademais, tem um povo tão embasbacado diante do autoritarismo que já elegeu abominações como Jânio Quadros, Fernando Collor e Jair Bolsonaro. além de sujeitar-se docilmente a 15 anos de ditadura sob Vargas e a 21 anos de ditadura sob os generais.

A grande novidade deste mês do cachorro louco, contudo, foi apenas e tão somente o que eu já venho cantando em prosa e verso desde a tentativa circense de golpe de estado no 08.01.2023: que Jair Bolsonaro seria fatalmente substituído por outra aberração qualquer como principal líder da extrema-direita brasileira. Agora já sabemos quem vai para o trono.
...o Bozo, após as brochadas de 2021, 2022 e 2023, não dá nem pra saída.

E isso não foi nenhuma adivinhação ou fruto de profundas análises acadêmicas. Bastava o bom conhecimento que tenho das trajetórias tanto dos chefões fascistas do século passado quanto dos que seguem seus passos no século atual; ele me dava a certeza de que, para liderar tal malta ignara, seria sempre necessário alguém com uma forte imagem de valentia e truculência.

Então, depois de o bufão amarelão haver convocado duas vezes seu gado para o golpe (nos Dias da Pátria de 2021 e 2022), refugando vergonhosamente na hora H; e de haver engatilhado a terceira tentativa para quando estivesse a salvo na Disneylândia, deixando os seguidores no Brasil a sofrerem as consequências no seu lugar, era impensável que continuasse a liderá-los. 

Inevitavelmente haveria de surgir quem desempenhasse o papel de Brucutu com a credibilidade que ele perdera. 

E esse alguém tomaria o seu lugar, como o Pablo Marçal está avançando para tomar. Quem viver, verá. (por Celso Lungaretti)
 
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