sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

"FOLHA" FAZ NOVA PROVOCAÇÃO

Ives Gandra Martins é um advogado tributarista que ensina a grandes clientes como pagarem menos, ou nenhum, imposto de renda.

Ou seja, presta relevantes serviços à causa da desigualdade social, já que alivia os ricos das mordidas do leão, enquanto os pobres, não contando com assessoria jurídica da mesma qualidade, acabam se sujeitando a tributos injustos e até ilegais.
Houve tempo em que ele era atração exclusiva do jornal O Estado de S. Paulo, eternamente alinhado com os interesses empresariais.

Agora, a Folha de S. Paulo também lhe concede espaço de articulista. E não na sua área específica, mas para falar sobre o que desconhece e não tem isenção para abordar: ditadura militar x resistência.

Seu artigo de hoje (22), Guerrilha e redemocratização, não passa de uma síntese da propaganda enganosa que os sites fascistas trombeteiam sobre o período de 1964/85 e, mais especificamente, sobre a terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos.

Parece que, ao lecionar Direito na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e na Escola Superior de Guerra, foi ele quem recebeu lições dos alunos: ensinaram-lhe o Torto.

Diz que, ao resistir ao terrorismo de estado implantado pelos golpistas de 1964, "a guerrilha apenas atrasou o processo de retorno à democracia".

Justifica as atrocidades ditatoriais com a falácia de que os verdadeiros responsáveis foram os que não se submeteram a viver debaixo das botas, pois "ódio gera ódio, e a luta armada acaba por provocar excessos de ambos os lados". É a velha piada do brutamontes se queixando de haver machucado a mão ao esmurrar a cara de um fracote...

Minimiza a contribuição dos movimentos de resistência à democratização, que, segundo ele, se deveu principalmente à atuação da OAB e de alguns parlamentares.

Aponta Hugo Chávez como eminência parda do PNDH-3 ("o programa é uma reprodução dos modelos constitucionais venezuelano, equatoriano e boliviano"), o qual estaria sendo "organizado por inspiração dos guerrilheiros pretéritos" (leia-se Paulo Vannuchi).

E insinua que a presidenciável do PT tem esqueletos no armário, pois, se forem apurados também os excessos porventura cometidos pelos resistentes, "isso não será bom para a candidata Dilma Rousseff". [Se tivesse algo consistente para dizer faria acusações concretas, ao invés de servir-se de indiretas para insuflar suspeitas, sem correr o risco de ser acionado por calúnia e difamação.]

Caso essa visão distorcida e tendenciosa da extrema-direita, expressa pelo Gandra Martins, tivesse a mínima relevância à luz dos valores civilizados, seria fácil refutar seu artigo de amador que invade destrambelhadamente a seara dos profissionais.

Mas, nem ele é importante como analista político, nem os artigos de Opinião da Folha são referencial para coisíssima nenhuma atualmente.

O jornal da ditabranda está sempre laçando fascistas acidentais para escreverem textos provocativos, capazes de motivar muitas refutações. Quer dar a impressão de que ainda é um veículo polêmico, trepidante.

Não farei o seu jogo, pois tanto a Folha de S. Paulo quanto o ideário que norteou o artigo de Gandra Martins só merecem de mim o mais absoluto desprezo.

4 comentários:

Anônimo disse...

Pô Celso, mas se fez um post no blog em função desse artigo, não houve esse despreso todo em relação à Folha.

Frau BUP disse...

O que me consola é que saber que o Partido da Imprensa Golpista nao detém mais o poder como antes e também nao podem mais usar de truculencia para nos calar.

graciliano disse...

Sua conclusão é perfeita: a Folha provoca dar a impressão de que ainda gera debates, que suas páginas repercutem no mundo político e intelectual.
Isso já ocorreu no passado, mas nos últimos anos, desde que se tornou um panfleto de comitê e porta-voz da extrema-direita, suas opiniões e de seus convidados esgotam-se num mesmo círculo, cada vez mais reduzido.
Quanto ao Ives Gandra, eu o admiro: não deve ser fácil escrever artigos e dar cinco entrevistas por dia usando cilício...e sem chorar!

celsolungaretti disse...

Ao anônimo das 15h49: fiz questão de informar aos companheiros que lêem meus artigos (não só aqui, mas em muitos outros endereços, além da rede virtual) que a "Folha" havia cometido mais uma falácia.

Quanto ao desprezo, creio ter ficado evidente na forma como eu tratei o artigo do Gandra Martins, momento nenhum o levando a sério. Se estivesse refutando algo intelectualmente respeitável, minha postura seria bem diferente.

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