Por este placar os paulistanos viram, voto a voto, a emenda Dante de Oliveira ir sendo rejeitada... |
As minhas melhores lembranças são:
— o mar de camisas amarelas sinalizando a volta da esperança;
— o incrível tour-de-force de Leonel Brizola que, em função da mesquinha disputa de espaço político no campo da esquerda, começou sob vaias seu discurso numa manifestação das diretas-já na Praça Clóvis (SP) e, com sua fala empolgante, conseguiu colocar o público a seu favor, terminando sob aplausos generalizados; e
— a promessa do craque Sócrates em comício-monstro no Anhangabaú (SP), de que, caso fosse restituído ao povo brasileiro o direito de escolher seu presidente, ele ficaria aqui para contribuir na redemocratização, recusando a proposta astronômica da Fiorentina.
Infelizmente, o Congresso rejeitou naquele funesto 25 de abril a emenda Dante de Oliveira e a eleição acabou sendo, mais uma vez, indireta.
...por haver obtido só 62,6% de votos favoráveis e não os 66,67% que seriam necessários. Os ausentes decidiram. |
Um dos piores deles era José Sarney, que presidia o PDS mas estimulou a dissidência que viraria PFL... tendo, contudo, ele próprio se filiado ao PMDB, provavelmente para tornar mais digerível sua indicação para vice na chapa de Tancredo (a qual, evidentemente, já haveria sido articulada nos bastidores).
A presidência acabou lhe caindo no colo: como Tancredo, vitimado por uma infecção generalizada, nem sequer pôde assumir (Deus castiga!, diziam os antigos), o primeiro presidente pós-ditadura acabou sendo alguém que, meses antes, era um dos mais servis serviçais dos militares.
2. foi só depois de eles terem assegurado, com seus votos, a rejeição da emenda Dante de Oliveira?
3. ou já era este seu objetivo desde o início, tendo voltado as costas ao povo para depois obterem bom preço nas barganhas com o PMDB?
Foto divulgada para tranquilizar os brasileiros quanto ao estado de saúde do Tancredo; causou péssima impressão. |
Vai daí que não se investigaram as atrocidades cometidas pelo regime militar, nem se julgaram os criminosos (já que haviam anistiado preventivamente a si próprios!).
A eles se juntaria em 2016 a Dilma, segunda impichada |
E, por havermos deixado passar o momento ideal para a apuração e punição dos responsáveis por tais episódios infames, a impunidade das bestas-feras e dos seus mandantes se tornou inevitável e irreversível.
"Não, não serei eu a tecer loas à transição manipulada que deu fim à ditadura militar sem mudança real na composição do poder (só nos métodos...) e sem que deixassem o povo decidir quem ele queria colocar no lugar do último general ditador.
Nem endeusarei –jamais!– o político conservador com carisma zero que preferiu ver os brasileiros derrotados mais uma vez, desde que isto lhe permitisse apropriar-se da faixa presidencial sem passar pelo crivo das urnas".
6 comentários:
é de matar de vergonha, o brasíu no The Guardian
https://www.theguardian.com/world/2024/apr/21/bolsonaro-supporters-hit-streets-of-rio-and-hail-new-hero-elon-musk
https://www.ihu.unisinos.br/638648-a-divida-e-para-o-capitalismo-o-que-o-inferno-e-para-o-cristianismo-artigo-de-yanis-varoufakis?utm_campaign=newsletter_ihu__22-04-2024&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
https://www.ihu.unisinos.br/638628-no-capitalismo-indigno-raiz-da-extrema-direita?utm_campaign=newsletter_ihu__22-04-2024&utm_medium=email&utm_source=RD+Station
Companheiros, agradecerei muito a quem repassar o artigo acima, ajudando a tornar conhecido esse meu contraponto à "História oficial".
Essa campanha das diretas-já eu acompanhei bem, fui a todos os atos públicos realizados em SP e não me conformo até agora com as forças de esquerda que negociaram com os militares uma redemocratização sob controle deles, como se fosse uma esmola e não a consequência do fracasso dos milicos em fazerem a economia brasileira voltar a crescer.
Chantagearam a "izquierda pero no mucho" com o espantalho da continuidade da ditadura e os "bons companheiros" correram a aceitar o Tancredo Neves como candidato pseudo-oposicionista na eleição indireta contra o Maluf. Aí, quando houve aquela morte insólita à véspera da posse, finalmente emplacaram o presidente dos seus sonhos, o arenoso José Sarney.
Eu não me esqueço e faço questão de contar às novas gerações o que realmente houve em 1984. Mas as verdades inconvenientes são sempre pouco divulgadas, porque não interessam aos poderosos do momento, tanto aos de direita quanto aos da esquerda que perdeu as garras.
Caro Celso
Apenas para corroborar a sua justa indignação com a transicao transada, quero dar um testemunho ocular da história.
Por uma dessas coincidências da história, fomos eu a a entao Deputada Maria Luíza à Recife para reivindicarmos na reuniao da Sudene verbas para o bolsao da seca que assolou o nordeste de 1979 a 1983 e provocou uma mistura de genocídio e fluxo migratório de milhões de pessoas.
Era a reuniao dos governadores do nordeste e Trancredo Neves estava por la como representante da parte de Minas Gerais que está inserida no semi-arido nordestino.
Ali vi consagrada a adesão ao colégio eleitoral que daria a Tancredo Neves a elegibilidade pela eleição indireta do colégio eleitoral, que afastaria uma necessária coalizão com a esquerda numa eleicao direta.
Tancredo foi o grande articulador/traidor da derrota das diretas porque queria ser presidente com o apoio da elite politica com quem ia divirdir a conciliacao freiando a esquerda e uma constituição futura mais progressista.
Daí saiu Sarney e tudo que conhecemos.conhecemos. Abracao.
Grato pelo testemunho, meu caro Dalton. Realmente, era inimaginável um político conservador tão insosso como o Tancredo Neves eleger-se presidente da República numa eleição direta. Presenciei várias vezes seus discursos nos palanques das diretas-já: davam sono.
E uma ironia da História fez com que o "Tranqueira" (seu apelido) não desfrutasse a faixa presidencial um dia sequer. Mas, com seu maquiavelismo canalha, ele legou ao Brasil o pesadelo Sarney, responsável pelo recorde absoluto de inflação no Brasil: 84,3% num único mês (março de 1989, quando terminou seu desgoverno).
Era o tempo em que recebíamos o pagamento e corríamos ao supermercado para fazer todas as compras do mês, porque no dia seguinte os preços já teriam aumentado.
Políticos... quem ainda vai nas águas deles?
Mas, pera! Há um povaréu a beira mar... naifs!
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