terça-feira, 31 de julho de 2012

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DO MENSALÃO

Você tem alguma discordância com relação ao texto jornalístico abaixo, ou ele descreve corretamente o ambiente criado na véspera do julgamento? Leia com atenção:
"O julgamento de Cesare Battisti pelo Supremo Tribunal Federal é desnecessário. Entre a insinuação mal disfarçada e a condenação explícita, a massa de reportagens e comentários lançados agora, sobre o italiano, contém uma evidência condenatória que equivale à dispensa dos magistrados e das leis a que devem servir os seus saberes.

Os trabalhos jornalísticos com esforço de equilíbrio estão em minoria quase comovente.

Na hipótese mais complacente com a imprensa, aí considerados também o rádio e a TV, o sentido e a massa de reportagens e comentários resulta em pressão forte, com duas direções.

Uma, sobre o Supremo. Sobre a liberdade dos magistrados de exercerem sua concepção de justiça, sem influências, inconscientes mesmo, de fatores externos ao julgamento, qualquer que seja.

Essa é a condição que os regimes autoritários negam aos magistrados e a democracia lhes oferece.

Dicotomia que permite pesar e medir o quanto há de apego à democracia em determinados modos de tratar o julgamento de Battisti e até o papel da defesa.
O outro rumo da pressão é, claro, a opinião pública que se forma sob as influências do que lhe ofereçam os meios de comunicação.
Se há indução de animosidade contra o réu, na hora de um julgamento, a resposta prevista só pode ser a expectativa de condenação e, no resultado alternativo, decepção exaltada".
Não, a análise é impecável: a grande imprensa condenou explicitamente Battisti, com uma massa de reportagens e comentários tendenciosos ao extremo, culminando nos editoriais dos jornalões que, no dia mesmo do julgamento, pressionaram escandalosamente os ministros do STF a fazerem a vontade de Berlusconi. As revistas Época e IstoÉ, com seu esforço de equilíbrio, ficaram em minoria quase comovente.

Só que, na verdade, a citação não se refere ao julgamento de Battisti, mas sim ao do  mensalão: é o início do artigo de Jânio de Freitas na Folha de S. Paulo desta 3ª feira, 31 (veja a íntegra aqui), com umas poucas adequações .

Tais rolos compressores midiáticos --o do Caso Battisti, o do julgamento do  mensalão  e tantos outros-- comprovam o acerto da previsão de Herbert Marcuse e da Escola de Frankfurt, feita meio século atrás: 
  • a consolidação da indústria cultural desfigurou mesmo a democracia, esvaziando-a em essência; 
  • a indústria cultural está mesmo exercendo uma influência massacrante e intrinsecamente totalitária sobre seus públicos, ao apresentar os valores e interesses burgueses como os únicos razoáveis, e todos os enfoques alternativos como inconsequentes;
  • e o pior é que, ao atingir por meio da  persuasão  os resultados antes obtidos pela força, a indústria cultural consegue manter as aparências, de forma que suas vítimas têm atualmente dificuldade bem maior para perceberem a dominação que lhes é imposta e aquilatarem sua amplitude.
Por último: não me esquivarei do assunto da moda, embora o considere pra lá de superdimensionado.

O grande erro do PT foi o de, traindo seus compromissos e sua história, haver incidido nas práticas que antes execrava: comprou o apoio de parlamentares fisiológicos com recursos públicos, pois acreditou que só assim conseguiria ter seus projetos mais importantes aprovados no verdadeiro balcão de trocas em que se transformou o Congresso.

A queda dos anjos provocou orgasmos de júbilo naqueles que sempre foram demônios.

Então, tendo vindo à tona o  mensalão, a apuração dessas práticas corriqueiras da política crapulosa foi feita, desta vez, com empenho obsessivo, inaudito; nunca havia sido colocada tamanha profusão de holofotes sobre os muitos esquemas IDÊNTICOS denunciados, só que referentes aos partidos mais à direita.

Então, no que diz respeito a este processo em particular, a condenação procederá.

Mas, vai implicar o estupro de um princípio fundamental das democracias: a igualdade de todos perante a lei.

Pois, pelos mesmíssimos motivos, todos os outros partidos que presidiram o Brasil desde a redemocratização deveriam ser também condenados.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

DILMA E O 'COMPLEXO DE VIRA-LATAS'

Nas Olimpíadas e nos Jogos Panamericanos, o nunca superado  complexo de vira-latas  leva os brasileiros a torcerem e a comemorarem a conquista de medalhas mesmo nos esportes pelos quais jamais demonstraram o mais remoto interesse.

Por ter sempre considerado esta reação simplesmente patética, concordo em gênero, número e grau com o puxão de orelhas que o comentarista esportivo Juca Kfouri, deu na nossa presidente,  no artigo O equívoco de Dilma, cujos principais trechos reproduzo:
"A presidenta Dilma Rousseff repetiu em Londres um erro comum de quem olha superficialmente para a atividade esportiva.

Em vez de olhar para o esporte como fator de saúde, a mais alta autoridade do país mirou-o apenas como fator de sucesso competitivo, jeito pobre de o conceber.

A preocupação de seu governo deve ser com a democratização do acesso à prática esportiva pela maioria dos brasileiros, e não, neste momento, com subidas ao pódio, por mais que as vitórias tenham o condão de estimular a atividade.
A Copa de 58 foi encarada como uma afirmação nacional
Pensar assim, como a rainha da Inglaterra pode pensar há décadas, é botar a carruagem à frente dos corcéis. E tão ruim quanto é a recorrente conversa de estimular a adoção de esportes individuais como meio de acumular mais ouros, pratas e bronzes, num atentado à cultura esportiva nacional, muito mais próxima dos esportes coletivos.
Ora, o que temos a ver com badminton, esgrima, halterofilismo, tiro com arco etc., com todo respeito aos esportes citados e aos seus aficionados? Alguém imagina o ginásio do Maracanãzinho num coro de 'força!, força!' para um brutamontes patrício levantar 500 quilos entre o arranque e o arremesso?
A antiga União Soviética fazia assim, como faz hoje a China e, francamente, eis aí métodos que não precisamos imitar. Muito melhor será ter política para massificar o esporte e da quantidade tirar qualidade, quase naturalmente.

O PT mesmo tem quadros especializados que poderiam ampliar e oxigenar a visão da presidenta".

SÓCRATES BRASILEIRO, BOLEIRO ALTANEIRO

É merecidíssima a homenagem prestada pelo Corinthians àquele que provavelmente foi o futebolista mais refinado a ter vestido a camisa do Timão; ao cérebro de um dos mais belos movimentos já lançados para dignificar a profissão, tirando os jogadores da dependência servil aos obtusos, insensíveis e repulsivos cartolas (a  democracia corinthiana); e a um dos maiores símbolos da campanha das diretas-já, o grande marco da redemocratização do Brasil.

O busto que acaba de ser inaugurado no Parque São Jorge mostra Sócrates exatamente como gostaria de ser lembrado: punho cerrado para o alto, fazendo a saudação altaneira do Poder Negro, tal qual a fizeram, nas Olimpíadas do México (1968),  os atletas  estadunidenses Tommie Smith e John Carlos. 


Tratou-se de um protesto contra o racismo nos EUA, criticadíssimo por ter sido realizado no pódio, durante a execução da  Star Spangled Banner.

domingo, 29 de julho de 2012

ONDE É MESMO QUE SATANÁS ESTAVA?

Notícia deste domingo na Folha On Line:
"'Foi uma tragédia, mas a gente achou que o satanás ia sair de dentro do carro.' A frase é de um dos policiais militares que participaram da ação que culminou na morte do empresário Ricardo Prudente de Aquino, 39, no dia 18, após perseguição por ruas de Alto de Pinheiros, na zona oeste de São Paulo.

Esse PM que falou à Folha pediu para não ser identificado, pois não tem autorização da corporação para conceder entrevistas. Ele não é um dos três policiais que foram presos..."
É fascinante a diversidade de pontos de vista, que já inspirou até filmes nos quais se explora o entendimento discrepante de vários personagens participantes do mesmo episódio: Rashomon (d. Akira Kurosawa, 1950, com Toshiro Mifune) e Quatro Confissões (d. Martin Ritt, 1964, com Paul Newman), entre outros.

O que, contudo, não se aplica ao episódio presente. Pessoas com mentalidade repressiva,   justiceiros  que integram grupos de extermínio e ultradireitistas à parte, todos os que tomaram conhecimento das circunstâncias da EXECUÇÃO de Aquino concordam num ponto: Satanás estava, isto sim, FORA do carro.

Fardado. Fazendo sete disparos contra quem não fez nenhum, pois celulares não atiram.

sábado, 28 de julho de 2012

JORNALÕES EXPÕEM OS PODRES DO RUSSOMANNO... PORQUE AGORA CONVÉM

Afilhado ruim está aí: começou com o Maluf...
Em período eleitoral a grande imprensa mostra que sabe muito bem como fazer reportagens esclarecedoras sobre as maracutaias e o ridículo de certos políticos. Pena que selecione os alvos, expondo a nudez apenas daqueles que estão incomodando algum candidato de sua predileção. 

Ou seja, pena que não atue desta forma sempre, e sem poupar nenhum pilantra. Aí teríamos uma imprensa de verdade e não o desmoralizadíssimo PIG.

Celso Russomanno representa tudo que eu detesto. É um oportunista que pula de galho em galho, já pertenceu às hostes malufistas e agora encontrou  Deu$  na Igreja Universal -- ou, mais precisamente, o bezerro de ouro, conforme se depreende do inesquecível vídeo da contagem da grana dos otários.

E, crime capital para mim, embora tenha um diploma de jornalismo, incide na demagogia mais vulgar. Faz-me lembrar esta fala genial de um clássico do western italiano, Quando os brutos se defrontam (d. Sergio Sollima, 1967):
...e agora é apadrinhado pelo Edir Macedo.
"Civilizado entre os civilizados, selvagem entre os selvagens, você é a pior espécie de parasita. Amolda-se como um verme para tirar o máximo proveito de cada ambiente".
Então, considero positivo que a mídia exponha seus podres... mas extremamente negativo que o faça apenas e tão somente porque Russomanno está em 2º lugar nas pesquisas de intenção de voto para prefeito paulistano, talvez atrapalhando o tucano José Serra, talvez atrapalhando o petista Fernando Haddad (as opiniões divergem). O que deveria fazer sempre, faz apenas quando convém.

Vejam aqui o que O Estado de S. Paulo apurou sobre Russomanno, no quesito  honestidade.

Vejam aqui o que a Folha de S. Paulo apurou sobre Russomanno, no quesito  propostas disparatadas.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

AMEAÇAS A BATTISTI: CÃO QUE LADRA, NÃO MORDE

Alarmismo nas redes sociais e a mensagem ameaçadora abaixo, amadoresca e com todo jeitão de blefe, apavoraram o proprietário da livraria do Arco da Velha, que cancelou a noite de autógrafos de Cesare Battisti, para lançamento do livro Ao pé do muro em Caxias do Sul (RS).

Eu, que ao longo da vida recebi ameaças de todo tipo, acredito na sabedoria popular: cão que ladra, não morde. O próprio fato de o debilóide ter redigido a carta com enorme empenho em ser levado a sério me leva a concluir que não era sério. Boa parte desse lixo nos vem de adolescentes metidos a bestas, cabeças feitas por HQs e filmecos.

Battisti tem o direito de participar de eventos literários onde bem entender e cabe às autoridades garantirem sua segurança.

Mas, ele e a editora Martins Fontes deveriam se assegurar de que os convites provêm de livreiros sem medo da própria sombra. Pega mal recuar face a uma mera carta, telefonema, e-mail ou boato espalhado  na web. Inexistindo ações concretas, a programação, noblesse oblige, deve ser sempre mantida.

Todas as vezes em que aconteceu comigo, ignorei. Continuo vivo. E posso afirmar que Battisti agiria da mesmíssima maneira, caso coubesse a ele decidir.

PASMEM: DESTA VEZ CONCORDO COM O ALCKMIN!

O governador Geraldo Alckmin qualificou de "totalmente descabida" a decisão do Ministério Público Federal, de acionar a Justiça para que o comando da PM seja trocado.

Concordo.

Pois, se a orientação veio de cima, é por cima que devem começar as mudanças.

O maior culpado pela blietzkrieg na Cracolândia, que escorraçou dependentes químicos a pontapés ao invés de lhes oferecer abrigo e tratamento, foi o Alckmin.

O maior culpado pela ocupação militar da USP, tratando uma cidade universitária como bastião inimigo, é o Alckmin.

O maior culpado pela barbárie no Pinheirinho, incluindo dois crimes gravíssimos --descumprimento de uma ordem judicial porque o governo preferia cumprir outra e sequestro de ferido para evitar que a imprensa noticiasse o estado lastimável em que ficou um idoso agredido pelos brutamontes fardados (tanto que acabou morrendo)--, foi o Alckmin.

O maior culpado pela escalada de execuções maquiladas pelos PMs em  resistência à prisão  é o Alckmin, que não tomou providências antes da situação chegar ao total descontrole.

Então, de nada adiantará trocar o comando da PM ou tirar o João Grandino Rodas da reitoria da USP enquanto couber ao Alckmin indicar subtitutos que decerto seriam tão péssimos quanto.

A prioridade é trocarmos o timoneiro.

IMPEACHMENT JÁ!!!

MINISTÉRIO PÚBLICO ACIONA A JUSTIÇA PARA COMANDO DA PM SER DESTITUÍDO

Em nome do Ministério Público Federal, o procurador da República Matheus Baraldi Magnani vai entrar nos próximos dias com ação na 1ª instância da Justiça Federal, pedindo a destituição do comando da Polícia Militar de São Paulo, que ele acusa de estimular a truculência da tropa e de não estar coibindo a "violência por mero prazer" dos PMs.

Na entrevista que concedeu após audiência pública (convocada pelo MPF e outras entidades) sobre o descontrole e as matanças da PM paulista, Magnani informou que a ação se baseará nas convenções e tratados internacionais de direitos humanos e de combate à tortura.

Embora o estopim da crise tenham sido os assassinatos a sangue frio de dois inocentes na semana passada --o empresário Ricardo Prudente de Aquino (na capital) e o estudante Bruno Vicente de Gouveia e Viana (em Santos)--, Magnani ponderou que as mortes injustificadas "têm sido sequenciais e exigem resposta da sociedade".

Ele quer, ainda, que o Ministério Público Federal acompanhe o combate à criminalidade no Estado pelos próximos 12 meses. E solicitará à Justiça que proíba a prisão em flagrante dos acusados de desacato à autoridade, pois "muitas arbitrariedades têm sido cometidas em função de supostos desacatos".

SECRETÁRIO DE ALCKMIN ELOGIA MOTOQUEIRO MATADOR!!!

Um RP competente alertaria Ferreira Pinto de que se deixar
clicar com copo na mão é pagar para não ser levado a sério
Não foi só o controle da PM que o Governo Alckmin perdeu. Anda tão desnorteado que já não sabe nem qual é o seu papel, a ponto de o secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, sair por aí rasgando seda para... JUSTICEIROS (!!!).

Ele levou um merecido puxão de orelhas de O Estado de S. Paulo, o vetusto jornalão que, de vez em quando, honra seu passado, fazendo jus ao papel exemplar que desempenhou na luta contra os exterminadores do passado, aquele Esquadrão da Morte que o delegado Sérgio Fleury criou e o promotor Hélio Bicudo derrotou.

Eis um trecho quase irrepreensível do editorial do  Estadão, Escalada de violência (cuja íntegra pode ser acessada aqui): 
Será este o personagem
predileto de Ferreira Pinto?
"...o súbito aumento dos últimos meses na capital, aliado à sensação de insegurança causada também por episódios de despreparo da polícia, revela sinais de fadiga da estratégia do governo. Como resposta, porém, as autoridades parecem mais preocupadas em reduzir sua parcela de responsabilidade.
A violência policial contra inocentes, por exemplo, é atribuída à 'tensão' causada pela onda de ataques do crime organizado contra policiais - ou seja, os óbvios problemas de treinamento da tropa para situações de confronto, nas quais mesmo bandidos têm de ter seus direitos assegurados, são convenientemente omitidos. O destempero de alguns PMs resultaria do medo que eles têm de serem mortos; logo, eles seriam tão 'vítimas' quanto as pessoas que mataram.
Essa inversão de papéis atinge um perigoso grau quando o secretário Ferreira Pinto elogia um motociclista que recentemente matou, a tiros, dois suspeitos de tentar assaltar uma mulher em Santo Amaro. Não se sabe quem é o atirador. 'Se ele atirou em defesa da senhora, ele atuou corretamente', disse Ferreira Pinto, como se o monopólio da violência legítima não estivesse nas mãos do Estado.
Ou, quem sabe, este...
Aqui, o importante não é o caso do motociclista em si, cujos detalhes ainda são obscuros, mas a aceitação, por parte de uma autoridade pública da área de segurança, de que haja um justiceiro à solta por aí - neste caso disfarçado não com uma máscara de morcego, mas com um capacete de motociclista.

'A segurança pública é dever de todos', disse o secretário, numa tentativa excêntrica de atribuir aos cidadãos sua própria defesa. É improvável que Ferreira Pinto tenha pretendido mesmo pregar o 'cada um por si', como sua declaração sugere, mas o ato falho da frase mal enunciada e o elogio ao justiceiro revelam que o governo paulista neste momento está mais preparado para capitalizar a redução da violência, quando ela ocorre, do que para enfrentar seu crescimento, quando ele se escancara".
O  "quase  irrepreensível"  fica por conta de o editorialista não haver notado um aspecto importante: a mulher e a criança estavam presumivelmente ameaçadas (na verdade, a arma dos assaltantes era de brinquedo) quando o motoqueiro fulminou o primeiro bandido; mas não quando ele perseguiu os dois que fugiam apavorados e cravou uma bala na cabeça de um deles DEZ METROS À FRENTE (!!!) -- pois foi a esta distância que encontraram o segundo corpo e, como o fulano teve morte instantânea, trata-se, obviamente, do local em que recebeu o tiro.

Secretário da Segurança Pública que endossa uma sádica execução a sangue frio não pode ser mantido no cargo.

EXECUTORES DO PUBLICITÁRIO PODERÃO SER LIBERTADOS

Em decisão extremamente questionável, o desembargador Willian Campos, do Tribunal de Justiça de São Paulo, concedeu nesta quinta-feira (26) habeas corpus aos policiais militares de São Paulo que executaram o publicitário Ricardo Prudente de Aquino no último dia 18, apresentando depois a estapafúrdia justificativa de que confundiram um celular com uma arma de fogo.

Esta desculpa esfarrapada só seria crível se os três apresentassem atestados de deficiência visual; e se fosse aceitável alguém fazer pelo menos SETE (!!!) disparos contra quem não estava reagindo.

Dependendo do êxito do defensor dos carrascos,  que tenta obter a extensão do habeas corpus ao Tribunal de Justiça Militar (que ainda os mantém presos), os assassinos poderão ser julgados como réus em liberdade, o que teria peso psicológico, contribuindo para fazer prevalecer a hedionda tese do comandante da PM segundo a qual a atuação deles foi "tecnicamente correta".

A corporação procura também deslocar o foco da questão para o fato de que os exterminadores não estavam sendo comandados por um oficial no momento do crime.

Tais evasivas lembram muito a defesa dos nazistas no Tribunal de Nuremberg, tentando transferir a culpa para Hitler e outros mortos. Não, quem fuzila um cidadão inocente e indefeso a sangue frio, com ou sem ordem superior, não passa de um homicida. Qualquer outro entendimento abre as portas para a  lei do cão  e a barbárie.

Em nome do espírito de justiça do qual (segundo Platão) somos todos imbuídos, pouco importando que um seja desembargador e outro jornalista, deixo registrado o meu mais veemente PROTESTO!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

URGENTE: MINISTÉRIO PÚBLICO PODERÁ PEDIR INTERVENÇÃO FEDERAL EM SP

Em audiência pública que realizará nas próximas horas, o Ministério Público Federal vai discutir a "perda do controle da segurança" em São Paulo, o eventual afastamento do comando da Polícia Militar paulista e até a necessidade ou não de um pedido de intervenção federal no Estado.

O MPF, a Defensoria Pública do Estado de São Paulo, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana e o Movimento Nacional dos Direitos Humanos questionarão autoridades públicas e instituições policiais a respeito do número exorbitante de homicídios praticados por agentes públicos nos últimos meses.

"Precisamos discutir as medidas e a reação da sociedade diante das violências que estão sendo praticadas por quem deveria proteger o cidadão", afirmou o procurador da República Matheus Baraldi Magnani.

ROTA: LETALIDADE DISPARA NOS ÚLTIMOS 5 ANOS

Um dado que dimensiona bem a escalada de  assassinatos legalizados  em SP: a Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, unidade mais truculenta da PM, aumentou sua letalidade em 78%, de 2007 (quando admitiu ter matado 46 pessoas por supostamente haverem resistido à prisão) a 2011 (quando o número disparou para 82).

A Rota fechou o primeiro semestre de 2012 com um saldo de 48 óbitos. Se não forem tomadas providências, deverá bater novo recorde.

Representando menos de 1% do efetivo total da PM, nos últimos cinco anos a Rota foi responsável por 14% dos casos de alegadas  resistências seguida de morte  da corporação como um todo.

Como enfatizou o Conselho de Direitos Humanos da ONU no final de maio, ao recomendar ao Brasil a extinção pura e simples das polícias militarizadas, a análise de 11 mil casos o levou a concluir que as ditas  resistências seguidas de morte  frequentemente encobrem homicídios desnecessários e covardes perpetrados pela PMs em episódios nos quais os marginais já estão rendidos.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

SERRA ESCORREGA DE NOVO. E DESTA VEZ TOMBA SOBRE SEU PASSADO

José Serra perdeu o equilíbrio de novo.

Fez triste figura mais uma vez.

Desonrou novamente os ideais de outrora.

Embora tenha terceirizado o ataque jurídico e verbal contra o blogue Conversa Afiada  (do Paulo Henrique Amorim) e o site Luís Nassif OnLine, as responsabilidades política e moral são dele, Serra. Só dele. Pessoais e intransferíveis.

Pois foi em benefício de sua candidatura que o PSDB fez uma representação à Procuradoria Geral Eleitoral, pedindo investigações... com o evidente objetivo de promover intimidações!

E foi para evitar que Serra aparecesse como paladino da imposição da censura na internet, qual um  velho cavalheiro indigno  (1) a clamar pela volta da Dª Solange (2), que o presidente tucano Sérgio Guerra incumbiu-se de tentar justificar o injustificável nos papos com a imprensa.

Assim como era seu vice, Índio da Costa, quem cortejava os eleitores de extrema-direita durante a campanha eleitoral de 2010, poupando o ex-presidente da UNE da  saia justa  de aderir ele próprio à retórica de quem fechou a UNE.

Que moral tem para falar em "atentado à democracia brasileira" o dirigente máximo do partido de Geraldo Alckmin?!

A barbárie no Pinheirinho e a ocupação militar da USP não passam de balões de ensaio golpistas, para aferir a resistência da sociedade brasileira a uma recaída totalitária, a um novo 1964. 

Ou seja, estes episódios sim merecem ser qualificados de atentados à democracia --pois são reais, bem reais, tanto que houve até uma vítima fatal (ver aqui). Não virtuais e supostos.

Pior do que escorregar do skate é vacilar em relação ao próprio passado, perdendo a identidade que o sustentava e esborrachando-se no chão dos oportunistas.
  1. aos patrulheiros do politicamente correto, informo que não se trata de afronta aos idosos, mas sim de alusão irônica ao título de uma peça do Brecht, A velha dama indigna. 
  2. Solange Teixeira Hernandes, a censora-símbolo da ditadura militar.

terça-feira, 24 de julho de 2012

PARA LER E MEDITAR (É ESTA A POLÍCIA QUE QUEREMOS?)

"Ao começar a fazer este livro, meu objetivo era denunciar a ação de matadores oficiais contra os civis envolvidos em crimes na cidade. O balanço final do meu trabalho, em junho de 92, acabou surpreendendo a mim mesmo. Os criminosos não representam a maioria entre as pessoas mortas pelos policiais militares.

O resultado de minha investigação, que abrange o período de 22 anos de ação dos matadores, mostra que a maior parte dos civis mortos pela PM de São Paulo é constituída pelo cidadão comum que nunca praticou um crime: o inocente.

O resultado do confronto do nosso Banco de Dados com os arquivos da Justiça Civil revela que 65 por cento das vítimas da PM que conseguimos identificar eram inocentes."

(Caco Barcellos no livro Rota 66 - a história da polícia que mata, cujo texto integral pode ser acessado neste endereço)

É HORA DE NOS LIVRARMOS DE MAIS UM ENTULHO AUTORITÁRIO: A PM

Lendo o artigo do filósofo Vladimir Safatle, Pela extinção da PM, dei-me conta de que, quando a Polícia Militar paulista executou cidadãos honestos na semana passada, a ficha não me caiu e deixei de relacionar as matanças à recente recomendação da ONU, no sentido de que o Brasil elimine mais este entulho autoritário. 

Lapso imperdoável, pois eu havia sido o primeiro a concordar entusiasticamente com tal proposta, conforme se pode constatar no meu artigo de 04/06/2012, Da ONU para o Brasil: extingam as PM's!!! (ver aqui).

Então, é uma bandeira que estou levantando e convidando os companheiros a levantarem.

Na contramão do Paulo Maluf, que adotava como bordão o sinistro vou botar a Rota na rua!, tem tudo a ver exigirmos: vamos botar a PM no museu da ditadura!  Quiçá na mesma prateleira do Doi-Codi...

Eis o artigo do Safatle, que, claro, aprovo e recomendo:
 "No final do mês de maio, o Conselho de Direitos Humanos da ONU sugeriu a pura e simples extinção da Polícia Militar no Brasil. Para vários membros do conselho (como Dinamarca, Espanha e Coreia do Sul), estava claro que a própria existência de uma polícia militar era uma aberração só explicável pela dificuldade crônica do Brasil de livrar-se das amarras institucionais produzidas pela ditadura.
No resto do mundo, uma polícia militar é, normalmente, a corporação que exerce a função de polícia no interior das Forças Armadas. Nesse sentido, seu espaço de ação costuma restringir-se às instalações militares, aos prédios públicos e aos seus membros.

Apenas em situações de guerra e exceção, a Polícia Militar pode ampliar o escopo de sua atuação para fora dos quartéis e da segurança de prédios públicos.

No Brasil, principalmente depois da ditadura militar, a Polícia Militar paulatinamente consolidou sua posição de responsável pela completa extensão do policiamento urbano. Com isso, as portas estavam abertas para impor, à política de segurança interna, uma lógica militar.

Assim, quando a sociedade acorda periodicamente e se descobre vítima de violência da polícia em ações de mediação de conflitos sociais (como em Pinheirinho, na cracolândia ou na USP) e em ações triviais de policiamento, de nada adianta pedir melhor 'formação' da Polícia Militar.

Dentro da lógica militar, as ações são plenamente justificadas. O único detalhe é que a população não equivale a um inimigo externo.
Isto talvez explique por que, segundo pesquisa divulgada pelo Ipea, 62% dos entrevistados afirmaram não confiar ou confiar pouco na Polícia Militar. Da mesma forma, 51,5% dos entrevistados afirmaram que as abordagens de PMs são desrespeitosas e inadequadas.
Como se não bastasse, essa Folha mostrou no domingo que, em cinco anos, a Polícia Militar de São Paulo matou nove vezes mais do que toda a polícia norte-americana ('PM de SP mata mais que a polícia dos EUA', 'Cotidiano').
Ou seja, temos uma polícia que mata de maneira assustadora, que age de maneira truculenta e, mesmo assim (ou melhor, por isso mesmo), não é capaz de dar sensação de segurança à maioria da população.

É fato que há aqueles que não querem ouvir falar de extinção da PM por acreditar que a insegurança social pode ser diminuída com manifestações teatrais de força.

São pessoas que não se sentem tocadas com o fato de nossa polícia torturar mais do que se torturava na ditadura militar. Tais pessoas continuarão a aplaudir todas as vezes em que a polícia brandir histericamente seu porrete. Até o dia em que o porrete acertar seus filhos".

segunda-feira, 23 de julho de 2012

OMISSÃO, CEGUEIRA IDEOLÓGICA E DESUMANIDADE DESTROEM A SÍRIA

Na mesma linha do meu artigo O açougueiro de Damasco tem os dias contados (ver aqui), o comentarista internacional Clóvis Rossi fulminou as potências insensatas que impediram uma solução menos sanguinária da crise síria, ao vetarem sistematicamente a aplicação de sanções rigorosas contra o  açougueiro de Damasco.

A percepção do veterano colega é idêntica à minha: a omissão dos (que deveriam agir como) civilizados não alterará em nada o desfecho inevitável, a derrubada de Bashar al-Assad, que agora é mera questão de tempo. Apenas maximizou o prejuízo, com a desintegração do país e uma verdadeira tragédia humanitária.

Desde o início tenho alertado que a velha racionália geopolítica dos tempos da guerra fria estava sendo exumada pelos Pepes Escobares da vida para justificar o injustificável: terríveis massacres perpetrados pelo terrível herdeiro de uma terrível tirania familiar. A qual, ademais, tem utilizado o terrorismo de estado para tentar perpetuar a dominação da maioria (sunita) por uma minoria (alauíta).


Trata-se apenas de outro dos recorrentes conflitos religiosos e tribais do Oriente Médio, com os abutres capitalistas (qualificação que hoje se aplica também à Rússia e a China) jogando dos dois lados, como sempre fazem.

A avaliação do Clóvis Rossi coincide, ainda, com a minha num ponto que sustento desde sempre: mais do que com os movimentos no tabuleiro político e econômico mundial, deveríamos nos preocupar é com as vidas dizimadas ou arruinadas ao longo desses conflitos. 

Se já me deixa perplexo que tal obviedade esteja ausente de muitas análises ditas de esquerda, pior ainda é quando tal insensibilidade desumana se aplica a uma crise como a síria, na qual nenhuma das forças envolvidas tem absolutamente nada de revolucionária. Estão em jogo apenas interesses e credos; é tão somente por causa da ganância e do fanatismo religioso que os civis sírios amargam horrores infernais.

Quem acredita ser de esquerda havendo feito apenas uma opção intelectual, mas sem ter nenhum sentimento real de solidariedade para com os indefesos e compaixão pelo sofrimento humano, verdadeiramente não é de esquerda --pelo menos daquela que remonta a Marx e a Proudhon. Quanto muito, são os herdeiros de Stálin.

Segue-se o exemplar texto de Clóvis Rossi, A Síria e o fracasso do mundo, que reproduzo na íntegra e recomendo sem restrições.

A destruição da Síria é um caso emblemático de fracasso do mundo ou, ao menos, da governança global.

O Conselho de Segurança, coração do sistema ONU, ficou paralisado por uma disputa entre potências, com interesses que pouco ou nada têm a ver com o interesse primordial dos sírios, que era e continua sendo sobreviver.

Não sobreviveram 19.687 pessoas, das quais 1.522 crianças, entre o início da revolta contra a ditadura Bashar Assad, em março de 2011, e o último dia 15. Há entre 112 mil e 250 mil refugiados nos países vizinhos, quantidade que aumenta exponencialmente a cada dia.

Há 200 mil pessoas, pelo menos, deslocadas de suas casas. Há 3 milhões de sírios que precisam de ajuda humanitária para sobreviver. Tudo isso em um país de apenas 21 milhões de habitantes.

Pior: não há o mais leve indício de que se esteja perto de algum alívio para a tragédia, até porque "os acontecimentos em Damasco e Nova York tornam claro que o desenlace da guerra civil síria será decidido no campo de batalha, em vez de no Conselho de Segurança", como escreve Richard Gowan, diretor-associado do Centro para a Cooperação Internacional da Universidade de Nova York.

O veto permanente da Rússia às propostas ocidentais de apertar mais ainda as sanções contra a ditadura Assad tiraram do Conselho de Segurança qualquer chance de influenciar na crise.

Está falido o modelo que dá direito de veto aos cinco países vencedores de uma guerra que terminou já faz quase 70 anos.

Aliás, chega a ser irônico que o suporte inoxidável da Rússia ao ditador acabe sendo inútil, como afirma Gowan: "A Rússia pode continuar a vetar as resoluções do Conselho de Segurança pelo tempo que quiser, mas, enquanto consegue levar ao impasse a batalha diplomática em Nova York, ela está perdendo a verdadeira guerra, na Síria".

Quem está ganhando, com a ascensão dos rebeldes, são Arábia Saudita e Qatar, que armam o chamado Exército Sírio Livre, e a Turquia, que lhes oferece um santuário. A Arábia Saudita é uma ditadura não muito diferente da que está ajudando a depor na Síria, embora de signo religioso diferente.

Ante a impotência da comunidade internacional, a única que seria capaz de exercer um poder moderador, o pós-Assad será tremendamente complexo, mais complexo quanto mais demorar.

Complexidade assim resumida pela revista "The Economist": "A Síria após Assad será um perigo para seu próprio povo e seus vizinhos. Um banho de sangue sectário é um risco, armas químicas sem controle são outro, ondas de refugiados um terceiro. A Síria poderia se tornar o foco de rivalidade entre Irã, Turquia e o mundo árabe. A violência poderia sugar Israel ou espalhar-se pelo Líbano".

Enfim, há uma boa possibilidade de que ocorra tudo ou quase tudo que os opositores a uma intervenção externa na Síria esgrimiam como argumento para descartá-la.

O impasse entre as potências e a omissão de muitos (Brasil inclusive) acabaram produzindo um cenário assustador e não evitaram mais uma catástrofe humanitária.

domingo, 22 de julho de 2012

A VIDA IMITA A ARTE: "DESEJO DE MATAR"

As platéias são levadas a simpatizar com assassinos...
Um dos filmes mais repulsivos da década de 1970 é Desejo de Matar (d. Michael Winner, 1974). Mostra um pacífico arquiteto que, depois de ter a esposa assassinada e a filha estuprada por marginais que invadem o apartamento na sua ausência, torna-se um sistemático justiceiro: perambula à noite pela cidade, buscando bandidos para os balear.

O pior é que se trata de uma obra de cineasta competente, então o espectador tendia a simpatizar com o carrasco voluntário, protagonizado por Charles Bronson.

Assim como o também competente Don Siegel tornara simpática a imagem de um policial matador de São Francisco (Clint Eastwood), em Perseguidor implacável (1971). A impotência das autoridades face aos criminosos, nas duas fitas, serviu como justificativa para execuções a sangue-frio.

Fora das telas isto nunca dá certo, nem mesmo na doentia ótica malufista de que "bandido bom é bandido morto".

...e a cultuar armas que são óbvios símbolos fálicos.
Os resultados vão desde balas atingindo inocentes até farsas montadas para acobertar vinganças pessoais, passando pela experiência do grupo de extermínio da polícia paulista que, descobriu-se mais tarde, estava a soldo de um grande bicheiro e servia para eliminar a  concorrência.

Como Freud cansou de explicar, os piores instintos humanos, deixados à solta, acabariam nos levando de volta às cavernas. Alguma autoridade precisa existir; o difícil é a mantermos sob controle, evitando que ultrapasse o limite entre a violência justificada e o o  desejo de matar, como cansa de fazer a PM de São Paulo --aquela que nos toma por tão imbecis a ponto de acreditarmos que um celular possa ser confundido com uma arma de fogo.

Na noite última 6ª feira (20), um motoqueiro teve a oportunidade de sentir-se como o próprio Paul Kersey/Charles Bronson: percebendo que três assaltantes rendiam uma mãe e seu bebê, matou o primeiro com um único disparo certeiro. Os outros dois correram, mas um seria depois encontrado 10 metros adiante, com uma bala na cabeça. A polícia acabou prendendo o terceiro. O motoqueiro sumiu.

A mulher comparou o assassino a um anjo. Menos. Quem demonstrou ter habilidade (e confiança) suficiente para acertar o marginal que estava bem ao lado dela, talvez pudesse administrar a situação sem matança. E foi puro  desejo de matar  a execução do outro bandido, que já estava em fuga.

Mesmo não sabendo que os três aprendizes de feiticeiros portavam apenas um revólver de brinquedo, ele extrapolou. E muito.

A mídia jamais deveria ser condescendente com tais atitudes. E a polícia tem a obrigação de tentar localizar e submeter à Justiça quem tomou a justiça em suas mãos e provavelmente não tinha o direito legal de andar armado. 

sábado, 21 de julho de 2012

"TECNICAMENTE CORRETA" É A PQP!!!

A atuação dos policiais militares que fuzilaram um empresário por haver cometido o crime de  lesa-otoridade, não parando num daqueles bloqueios policiais típicos de ditaduras, foi assim avaliada pelo  comandante-geral interino da Polícia Militar de São Paulo, coronel Hudson Camilli:
"Do ponto de vista técnico, a ação deles não pode ser criticada".
Já o governador Geraldo Alckmin (PSDB) considerou a morte de Ricardo de Aquino "injustificada", fazendo jus ao apelido de  picolé de chuchu. Os termos corretos são covarde, bestial e criminosa.

Quem fala, afinal, pelo governo paulista?

Ambos.

O primeiro fornece desde já uma linha de defesa para os assassinos usarem no julgamento, que certamente ocorrerá depois das eleições municipais.

O segundo tenta evitar uma corrosão maior na já anêmica candidatura de José Serra. Então, por enquanto, vai interpretando o papel de governador que não compactua com a truculência policial, embora esta seja marca registrada do seu desgoverno.

Quem, para favorecer a especulação imobiliária, escorraçou os dependentes químicos a pontapés da Cracolândia, ao invés de tratá-los como os doentes que são?

Quem instalou tropas de choque na Cidade Universitária, para intimidar e hostilizar permanentemente os estudantes da USP? 

Quem é o maior culpado da barbárie no Pinheirinho, que incluiu até sequestro de ferido para evitar que a brutal agressão (ver aqui) a um idoso fosse destacada pela imprensa? 

Quem, em última análise, é o responsável por tal homicídio, já que Ivo Teles da Silva acabou morrendo?

O governo de São Paulo fala pelos dois cantos da boca, mas sua voz real é a do coronelão que considera tecnicamente correta a execução de um inocente.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O AÇOUGUEIRO DE DAMASCO TEM OS DIAS CONTADOS

Quando eu comecei a cursar a Escola de Comunicações e Artes da USP, em 1972, fiquei pasmo com o estilo de atuação dos dirigentes do centro acadêmico: propunham lutas pouco viáveis, abandonavam-nas no meio do caminho e iniciavam outras, que também não levariam até o fim. Pareciam acreditar que as derrotas ajudassem a conscientizar os derrotados...

Saído há poucos meses da prisão e alvo de óbvia vigilância dos infiltrados da ditadura, fiquei na minha. Mas, nem sempre eu conseguia manter-me impassível.  Havia muita raiva fervendo dentro de mim, pronta para eclodir.

Como quando fiquei furibundo com a passividade dos colegas: eles permitiram que uma professora autoritária trancasse a porta para não permitir o ingresso dos alunos que chegavam atrasados para a primeira aula do dia (a USP ficava um bocado distante para quem, como eu, vinha de ônibus, sempre sujeito a engarrafamentos e imprevistos). Nunca professor nenhum ousara agir assim na ECA.

A fulana ainda estava saindo e olhou espantada quando, porta finalmente aberta, eu entrei e gritei apenas uma frase para os colegas: "Se vocês deixam qualquer uma vir aqui e trancar a porta, estão todos mortos!".

Mexi com os brios da classe. Seguiu-se uma discussão sobre providências a tomar e, quando optaram por um abaixo-assinado exigindo o afastamento da rabugenta, fui logo indicado para o redigir. Noblesse oblige, aceitei a responsabilidade e o risco.

O presidente do centro acadêmico --ninguém menos do que o hoje reaça Augusto Nunes, da Veja (as voltas que o mundo dá!)-- prometeu entregar ao diretor e distribuir na escola inteira.

Mas, preferiu esperar a resposta superior. Que foi a pior possível:
  • o abaixo-assinado seria encaminhado ao Depto. de Arte, interinamente chefiado... pela própria professora da qual nos queríamos livrar;
  • o diretor ameaçou, caso espalhássemos o abaixo-assinado pela ECA, aplicar o decreto 477, mostrengo ditatorial que permitia a expulsão sumária dos estudantes.
O Augusto Nunes, hipocritamente, submeteu a questão à classe: "Se vocês ainda quiserem que eu mimeografe e mande distribuir o abaixo-assinado, contem comigo..."

Que calouro se arriscaria a ser expulso, depois de todo trabalho para chegar à melhor escola de jornalismo de SP? Nenhum, claro. Enojado, virei as costas e saí batendo a porta.

A partir daí, todas as vezes em que ele vinha levantar novas bandeiras que certamente não honraria, eu abandonava a classe.

Ou seja, desde aquele tempo eu detestava derrotas. Nunca as considerei educativas. Só servem para abater a moral e desestimular os novos recrutas.

Hoje, quatro décadas depois, continuo perplexo ao ver a opção pela derrota que certos companheiros fazem. Marcham de fracasso anunciado em fracasso anunciado.

O apoio irracional aos  ditadores das Arábias  é um exemplo. 

Utilizaram uma paupérrima racionália geopolítica para tentarem apresentar um aliado do Silvio Berlusconi como líder popular e seus inimigos como agentes do colonialismo, quando saltava aos olhos que os imperialistas jogavam dos dois lados. Com crassa miopia política, associaram-se à derrota de um ditador sanguinário que encabeçava uma mera tirania familiar, saqueando o país em benefício próprio.

E, se o dito cujo começou a carreira como um simulacro de Nasser, utilizando o nacionalismo dos seus colegas de farda como trampolim para o poder, pior ainda é Bashar al-Assad, o açougueiro de Damasco. Este jamais foi nada além do herdeiro de um despotismo transmitido de pai para filho.

Bem vistas as coisas, nunca houve motivo real nenhum para qualquer homem de esquerda tomar o partido da Rússia e da China (que hoje nada têm de revolucionárias) nessa disputa de interesses capitalistas.

Ao passo que defender um assassino serial como al-Assad mancha qualquer reputação. O único lugar para gente assim é o banco dos réus num novo tribunal como o de Nuremberg.

E, como ele empregava o terrorismo de estado mais bestial para perpetuar o domínio de 12% dos sírios (os alauítas) sobre o restante da nação, era favas contadas que acabaria dando com os burros n'água. Mera questão aritmética.

Este desfecho se evidencia cada vez mais como inevitável. Só que não à maneira da Líbia; o mais provável é que os sunitas assumam o poder e os alauítas mantenham um território próprio, um enclave. Os dois contingentes, aliás, já começam a separar-se, percebendo para onde os ventos sopram.

Embora hajam despertado muito ódio com seus massacres hediondos, não deverá haver nenhuma  solução final  para os alauítas. Em último caso, ocorrerá uma intervenção internacional para separar os litigantes, evitando que eles sejam exterminados pelos sunitas. Podem anotar e me cobrarem depois.

Muitas vidas de inocentes teriam sido salvas se esta intervenção ocorresse antes. E o resultado do jogo político seria exatamente o mesmo, pois nunca haveria paz na Síria enquanto uma minoria estivesse oprimindo a maioria.

Há derrotas que nos enobrecem. Mas, quando se é derrotado na contramão dos próprios valores (desde quando é papel da esquerda preservar tiranos?!), trata-se de perda total.  Ou seja, o resultado que os semeadores de derrotas quase sempre acabam colhendo.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

O PT FEZ PACTO COM O DIABO OU COALIZÃO COM JUDAS?

Em seu editorial desta 5ª feira (19), É dando que se recebe (ver íntegra aqui), a Folha de S. Paulo constata: houve um "repentino e acentuado aumento de emendas parlamentares liberadas em benefício do Partido Progressista (PP), do deputado federal paulista Paulo Maluf ... paralelamente à aproximação entre a agremiação malufista e o PT para apoiar a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo".

Sem quê nem pra quê, a quinta maior bancada do Legislativo se tornou a segunda em acesso aos cofres da  viúva, superando o próprio PT e só ficando atrás do PMDB.

Os dados exibidos pelo jornal da  ditabranda  (cujas opiniões e interpretações costumam ser, no mínimo, discutíveis, mas que jamais ousaria distorcer informações que qualquer um pode checar) são conclusivos:
"Desde janeiro, o PP fora contemplado com a liberação de R$ 7,2 milhões. Nos últimos 30 dias, já obteve concessão para emendas [no Orçamento federal] que atingem R$ 36,6 milhões".
Desta vez, não há como discordarmos da conclusão da Folha:
"A estrutura pública, que deveria ser mantida à distância do jogo eleitoral, é instrumentalizada para servir a candidaturas e interesses partidários".
Não considero Maluf (veja seu perfil aqui) o pior diabo com quem o PT já fez pactos para atender a interesses eleitoreiros ou garantir a  governabilidade ao preço da amoralidade. Eu colocaria Antônio Carlos Magalhães, José Sarney e Fernando Collor no mesmíssimo patamar infernal. 

E faço questão de deixar registrado meu repúdio à promiscuidade do Partido dos Trabalhadores (ao qual me filiei antes mesmo de ele obter o registro na Justiça Eleitoral e do qual me desfiliei quando começou a negociar sua alma) com capetas menores como Renan Calheiros e Jader Barbalho.

Aliás, numa de suas frases mais infelizes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou perceber qual a imagem que realmente tem desses aliados circunstanciais: ele os equiparou a ninguém menos do que Judas, além de invocar o santo nome do Senhor em vão, para tentar justificar o injustificável:
"Se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".
O que explica a facilidade com que ele aparece aos beijos e abraços com o  Judas  da vez.

E não hesita em favorecê-lo escancaradamente, usando como moeda de troca os recursos de que o Governo petista é depositário (não proprietário) e, por respeito à democracia e também às suas bandeiras de outrora, deveria destinar aos usos mais urgentes e necessários para a coletividade, não aos que sirvam para aumentar o prestígio de tal ou qual partido.
Obs.: por não haver, desta vez, incompatibilidade, estou publicando aqui também o artigo do blogue Diário de campanha do Lungaretti

quarta-feira, 18 de julho de 2012

NOVA FOTO COMPROVA QUE LAMARCA FOI EXECUTADO

A Folha de S. Paulo noticia (vide aqui): os ferimentos à bala evidenciados em foto por ela obtida comprovam o que todo mundo soube já na época e a Comissão de Mortos e Desaparecidos depois confirmou, a covarde execução do comandante Carlos Lamarca pelos militares, depois de o terem aprisionado com vida.

O mesmo destino teve o Zequinha (José Campos Barreto), cujo irmão Olival declarou: "Essas fotos, desconhecidas, mostram claramente que houve uma execução".

Elementar, meu caro Watson.

Chocante mesmo para mim foi saber que a indenização concedida à família de Lamarca pela Comissão de Anistia em junho de 2007 (ver aqui) até hoje não está sendo paga em função de uma liminar obtida pelos três clubes militares. OU SEJA, JÁ SE PASSARAM CINCO ANOS SEM QUE O MÉRITO DA QUESTÃO FOSSE JULGADO!!! 

Por que os processos relacionados aos direitos de antigos resistentes demoram tanto? Já lá se vão cinco anos e meio que um mandado de segurança meu se arrasta no STJ e um ano e meio desde que saí vencedor no julgamento do mérito da questão por 9x0. O trâmite deveria ser agilizado até por força da minha condição de idoso. Mas...

Há mais coisas entre o céu e a Terra do que supõe nossa vã filosofia (Shakespeare).

FARSA DESMASCARADA

Outra versão que não se sustenta mais graças a uma foto encontrada nos arquivos macabros é a de que o engenheiro Raul Amaro Nin Ferreira teria morrido de uma doença no fígado. A imagem dele, 11 dias antes de ser assassinado pela repressão, é a de um homem em perfeitas condições de saúde.

O que também não constitui nenhuma novidade: o general Adyr Fiúza de Castro já havia reconhecido que Nin Ferreira, "quando foi entregue ao Exército, estava com umas marcas, havia sido chicoteado com fio no DOPS".

Ou seja, o bravo militar admitiu que a causa da morte foram as torturas, mas tentou jogar a culpa para o vizinho; quem detonou Nin Ferreira, na verdade, foi o DOI-Codi.

P.S.: É tão relevante o comentário que o sr. (ou doutor? Fiquei com a impressão de ser ele um dos discípulos a que se refere no finalzinho do texto...) Wanderley Almeida de Macedo postou sobre este meu artigo  no site Consciência Net, que tomarei a liberdade de o reproduzir aqui:

"A verdade é única. O  Prof. Dr Aníbal Silvany Filho, legista do Instituto de Medicina Legal Nina Rodrigues - BA, encarregado de realizar a autopsia de Lamarca, foi sumariamente afastado de realizar o ato pelos militares que presenciaram o minuncioso exame cadavérico no corpo do guerrilheiro, por não concordarem com que fosse registrado o número dos ferimentos perfúro-contusos, bem como a direção dos projeteis de arma de fogo que atingiram o corpo de Lamarca (de trás pra frente, da frente pra trás, de cima para baixo, de baixo para cima, etc.).  O emérito prof. não se encontra mais entre nós, mas, felizmente, seus discípulos souberam aprender a lição do mestre".
 

terça-feira, 17 de julho de 2012

ARTIGO IMPERDÍVEL DO STÉDILE SOBRE O GOLPE PARAGUAIO

AS MENTIRAS PARAGUAIAS DAS ELITES BRASILEIRAS

João Pedro Stédile (*)
 
Mal havia terminado o golpe de Estado contra o presidente Fernando Lugo e flamantes porta-vozes da burguesia brasileira saíram em coro a defender os golpistas.

Seus argumentos eram os mesmos da corrupta oligarquia paraguaia, repetidos também de forma articulada por outros direitistas em todo continente. O impeachment, apesar de tão rápido, teria sido legal. Não importa se os motivos alegados eram verdadeiros ou justos.

Foram repetidos surrados argumentos paranoicos da Guerra Fria: "O Paraguai foi salvo de uma guerra civil" ou "o Paraguai foi salvo do terrorismo dos sem-terra".

Se a sociedade paraguaia estivesse dividida e armada, certamente os defensores do presidente Lugo não aceitariam pacificamente o golpe.

Curuguaty, que resultou em sete policiais e 11 sem-terra assassinados, não foi um conflito de terra tradicional. Sem que ninguém dos dois lados estivesse disposto, houve uma matança indiscriminada, claramente planejada para criar uma comoção nacional. Há indícios de que foi uma emboscada armada pela direita paraguaia para culpar o governo.

Foi o conflito o principal argumento utilizado para depor o presidente. Se esse critério fosse utilizado em todos os países latino-americanos, FHC seria deposto pelo massacre de Carajás. Ou o governador Alckmin pelo caso Pinheirinho.

O Paraguai é o país do mundo de maior concentração da terra. De seus 40 milhões de hectares, 31.086.893 ha são de propriedade privada. Os outros 9 milhões são ainda terras públicas no Chaco, região de baixa fertilidade e incidência de água.

Apenas 2% dos proprietários são donos de 85% de todas as terras. Entre os grandes proprietários de terras no Paraguai, os fazendeiros estrangeiros são donos de 7.889.128 hectares, 25% das fazendas.

Não há paralelo no mundo: um país que tenha "cedido" pacificamente para estrangeiros 25% de seu território cultivável. Dessa área total dos estrangeiros, 4,8 milhões de hectares pertencem brasileiros.

Na base da estrutura fundiária, há 350 mil famílias, em sua maioria pequenos camponeses e médios proprietários. Cerca de cem mil famílias são sem-terra.

O governo reconhece que desde a ditadura Stroessner (1954-1989) foram entregues a fazendeiros locais e estrangeiros ao redor de 10 milhões de hectares de terras públicas, de forma ilegal e corrupta. E é sobre essas terras que os movimentos camponeses do Paraguai exigem a revisão.

Segundo o censo paraguaio, em 2002 existiam 120 mil brasileiros no país sem cidadania. Desses, 2.000 grandes fazendeiros controlam áreas superiores a mil ha e se dedicam a produzir soja e algodão para empresas transnacionais como Monsanto, Syngenta, Dupont, Cargill, Bungue...

Há ainda um setor importante de médios proprietários, e um grande número de sem-terra brasileiros vivem como trabalhadores por lá. São esses brasileiros pobres que a imprensa e a sociologia rural apelidaram de "brasiguaios".

O conflito maior é da sociedade paraguaia e dos camponeses paraguaios: reaver os 4,8 milhões de hectares usurpados pelos fazendeiros brasileiros. Daí a solidariedade de classe que os demais ruralistas brasileiros manifestaram imediatamente contra o governo Lugo e a favor de seus colegas usurpadores.

O mais engraçado é que as elites brasileiras nunca reclamaram de, em função de o Senado paraguaio sempre barrar todas as indicações de nomes durante os quatro anos do governo Lugo, a embaixada no Brasil ter ficado sem mandatário durante todo esse período. 
* economista e coordenador do MST, em artigo publicado na Folha de S. Paulo.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

EU, CELSO L., 61 ANOS, EX-RESISTENTE, TORTURADO E... VEREADOR?!

Sou o candidato a vereador nº 50005 da cidade de São Paulo, pelo Partido Socialismo e Liberdade.

Os que acompanham minha trajetória, provavelmente estranharão: por que entrar na política oficial aos 61 anos, depois de uma jornada tão atribulada? Não deveria estar curtindo esta fase tranquila da vida familiar, dedicando-me às filhas e netos?

Parafraseando Brecht: eu não consigo agir assim.

Os objetivos que, aos 16 anos, me motivaram a contestar uma ditadura sanguinária ainda não foram atingidos. Nem considero este Brasil com democracia tão imperfeita e desigualdade tão gritante, suficiente para justificar a perda de 20 companheiros estimados e os terríveis sofrimentos impostos a tantos outros.

Como sobrevivente de uma luta que tragou alguns dos melhores cidadãos que este país já produziu, assumi o compromisso de dedicar o resto dos meus anos aos ideais pelos quais eles se sacrificaram.

Foi assim que em 1986, mesmo sem as facilidades da internet, consegui, com um golpe de sorte, evitar que a greve de fome dos quatro de Salvador  terminasse em tragédia.

E o advento da web facilitou em muito as cruzadas em defesa dos direitos humanos, como a vitória épica que ajudei a conquistarmos no Caso Battisti, contra a perseguição inquisitorial e as pressões arrogantes de um país do 1º mundo, apoiado pelo que havia de pior na Justiça, na imprensa e na política brasileiras.

Mas, a influência das redes sociais não é ilimitada e, em várias outras lutas, tenho me chocado com o boicote da grande imprensa que, além de me negar o direito de exercer a minha profissão de jornalista,  esconde-me  como personagem histórico e participante de embates políticos marcantes. Nem o direito de resposta ou de apresentar o outro lado ela me concede, mesmo quando são incontestáveis à luz das boas práticas jornalísticas e não há ninguém para os exercer além de mim.

Não nego: é terrível a sensação de impotência que sinto por não estarmos conseguindo obter a responsabilização dos culpados pela barbárie no Pinheirinho nem o levantamento imediato da ocupação militar da USP, dentre outros episódios inadmissíveis numa verdadeira democracia.

Os balões de ensaio para testar a resistência dos brasileiros a uma recaída totalitária não estão tendo resposta à altura; daí minha ansiedade em buscar maior amplitude de atuação. E, como este novo macartismo vigente no Brasil tenta me transformar num fantasma virtual, quero mais é mostrar ao sistema que estou bem vivo, firme e forte.

Se não me mataram nos porões nem conseguiram me destruir com a estigmatização por eles ensejada, tampouco me farão recuar com ameaças, pressões nem manipulações midiáticas.

Foi um motivo a mais para eu ter aceitado de pronto o convite do professor Carlos Giannazi, no sentido de somar forças com ele na campanha municipal de 2012.

Ou outros são a concordância básica que temos na maioria dos assuntos e o fato de vê-lo como o único candidato da esquerda anticapitalista com reais chances de derrotar a direita e os reformistas na cidade mais importante do País.

Tenho razões para crer que o PSOL não só tende a adquirir a influência que o PT adquiriu, como pode obtê-la sem abandonar suas principais bandeiras pelo caminho.

Até porque o mundo começa a ser varrido por uma nova onda revolucionária, potencializada pela depressão que o capitalismo está engendrando; e, neste novo cenário, o PSOL tem-se alinhado decididamente com a contestação nas ruas (o que é um antídoto ao deslumbramento com os gabinetes do poder...).

Não há nenhum fatalismo histórico a tanger os partidos de esquerda ao comprometimento com o status quo como condição indispensável para crescerem; a decisão que o PT tomou há uma década, de negociar com banqueiros e grandes capitalistas a  permissão  para chegar ao poder e as concessões que teria de fazer em troca, não foi imposta pelos deuses, foi decidida por homens.

Agora, é imperativo provarmos ao cidadão comum que a esquerda pode decidir noutro sentido, mantendo a fidelidade a seus grandes ideais em quaisquer circunstâncias; até porque disto depende o ressurgimento da esperança na política. A minha parte eu farei.

Também quero ajudar a manter vivos alguns valores dos revolucionários da década de 1960, como o de que os vários agrupamentos da esquerda anticapitalista devem ver a si próprios como integrantes de um  campo, parceiros e aliados no bom combate, e não como adversários na disputa por migalhas de poder numa sociedade desumana.

O de que mandatos legislativos e posições no Executivo só se justificam no nosso caso quando colocados a serviço dos explorados e injustiçados, e se nos permitirem acumular forças para a mudança maior da sociedade. São meios, nunca fins em si. Nosso objetivo não é ganharmos a eleição seguinte, é prepararmos o terreno para o  reino da liberdade, para além da necessidade (Marx).

O de que honestidade pessoal e coerência para nós não são méritos, apenas obrigação.

E o de que temos de honrar os mandatos, pois nossos ideais serão julgados pelo desempenho visível. Vereador ou presidente da República, cabe-nos dar o exemplo de como age um militante de esquerda, tanto em termos de probidade, quanto de competência e coragem.

A partir daqui os meus textos referentes à campanha separam-se das comunicações costumeiras, a menos que os donos de cada espaço os autorizarem. Peço a todos que passem a acompanhá-los no blogue Diário de Campanha do Lungaretti, cujo endereço é este aqui: http://quero50005.blogspot.com.br/

E que, concordando com minhas propostas e conteúdos, ajudem-me a torná-los conhecidas no Facebook, no Orkut e no twitter, bem como seguindo e divulgando o novo blogue –no qual tentarei oferecer um enfoque bem diferente de uma campanha eleitoral, mais reflexivo, jornalístico e literário–, até porque é isto que os leitores habituais esperam de mim. Sempre considerarei mais importante propagar os nossos ideais do que convencer alguém a votar em mim. Manterei esta linha.

De resto, inexperiente, sem mobilização na base e sem recursos, só terei sucesso se os internautas alavancarem a minha campanha, que vai ser bem do tipo  tostão contra milhão. [Se receber doações, produzirei folhetos caseiros e vou distribui-los pessoalmente; quem quiser me dar uma força, por favor, escreva p/ lungaretti@gmail.com.]

E peço antecipadamente desculpas pelos textos mais ligeiros que produzirei, até o 7 de outubro, para os outros espaços e tribunas. De qualquer forma, o compromisso há muito assumido de colocar todo dia algo novo no blogue Náufrago da Utopia será respeitado.

A sorte está lançada. 
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