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segunda-feira, 17 de abril de 2017

DALTON ROSADO DISSECA O ABOMINÁVEL TERRORISMO DE ESTADO

"No manicômio global, entre um senhor que julga ser Maomé e outro que acredita ser Buffalo Bill; entre
o terrorismo dos atentados e o terrorismo da 
guerra, a violência está nos arruinando."
(Eduardo Galeano, escritor uruguaio)
Há o terrorismo de estado; de grupos; e de tresloucados lobos solitários. Todos eles apenas representam a bestialidade do estágio inferior da sociabilidade humana e são igualmente abomináveis.  

Entretanto, quando praticado pelo Estado, e em nome de uma suposta razão justificadora incensada pela propaganda oficial, pode parecer aos olhos desavisados como menos grave. Mas não é. O terrorismo é sempre repugnante, não devendo ser confundido com ação que represente a legítima defesa da vida. Covarde e cruel, o terrorismo vitima inocentes.    
"Veem? Este é o pauzinho de amassar ideologias"

As ações revolucionárias verdadeiramente emancipacionistas não podem, portanto, apoiar o terrorismo e a barbárie social (que é uma de suas formas), caso contrário se igualaria aos déspotas do capital de todos os tempos, que sempre a praticaram.

A força das manifestações populares, quando canalizadas para o repúdio à opressão sistêmica, não deve ser contaminada por depredações e saques como as que ocorrem em períodos e momentos de anomia social, pois tais atos as enfraquecem moralmente.  

Devemos ser o oposto da violência sob a égide do capital. Deixemos a truculência despropositada para a força militar sistêmica que sempre agride os manifestantes em nome de uma ordem opressora. Nos casos em que sofrem violências, os manifestantes terão legitimidade para o revide até o limite de suas legítimas defesas, que não deve ser confundido com ação terrorista. 

Ressalte-se que o revide revolucionário das massas contra o terrorismo de estado não é ação bárbara, mas, pelo contrário, uma legítima defesa contra a barbárie terrorista institucionalizada. 
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APOCALYPSE NOW
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Os estados nacionais são instituições recentes em termos históricos, tendo sido criados pelo desenvolvimento das relações pré-capitalistas, as quais necessitavam de espaços e formas político-institucionais que dessem vasão ao seu desenvolvimento e abrissem caminhos para o que viria a ser o capitalismo desenvolvido. 

O capitalismo, por sua vez, necessitava do estado nacional que fizesse o controle monetário; mantivesse uma força militar permanente e bem equipada; e promovesse o desenvolvimento econômico com a inserção cada vez maior do escravismo indireto do trabalho abstrato em substituição ao escravismo direto feudal, predominantemente rural. 

O capital passou a ser o senhor e o sujeito do poder; uma lógica funcional abstrata que dita ordens de terror aos seus súditos. 

Para a imposição da nova ordem econômica-politico-institucional e sua expansão mundo afora, fez-se então, mais do que nunca, necessário o uso das armas de fogo com contingente militar permanente remunerado em dinheiro. Tudo visava à imposição das guerras, que se tornaram mais frequentes e com maior capacidade letal dada a variedade de armamentos. Isto custava dinheiro que somente poderia ser assegurado pela nova ordem. O capital passou a alimentar a guerra e por ela ser alimentado.  

A nova ordem burguesa, na qual toda riqueza material passou a ser dimensionada abstratamente (pela forma-valor), eclipsou o estado feudal monárquico, fundou o estado nacional (o nacionalismo é capitalista) e colocou-o a seu serviço de modo impessoal.  

A guerra de conquista para a implantação da nova ordem planetária, na qual se estabelecessem relações mercantis sob a hegemonia bélica dos conquistadores, transformou-se na pedra de toque. A produção do dinheiro como modo de relação social hegemônico nasce, assim, sob o pálio da violência das armas de fogo, com o terrorismo de estado passando a ser a sua tônica usual.  

Não há capitalismo desenvolvido ou subdesenvolvido sem terrorismo de estado; é da sua natureza constitutiva. 

Mas foi infundido na consciência coletiva o falso conceito de que o capitalismo é a forma social da liberdade, da igualdade e da fraternidade, em contraponto à tirania das sociedades do escravismo direto. Assim, as sociedades mercantis não querem se reconhecer como terroristas, somente aplicando tal rótulo àquele que é praticado pelos outros. 

O exemplo mais eloquente disto foi o repúdio ao ataque praticado por fanáticos suicidas vindo das trevas da irracionalidade do fundamentalismo religioso contra as torres gêmeas no WTC em Nova York, que legitimou o bombardeio a Bagdá (no qual milhares de crianças foram mortas enquanto dormiam, sem que o Iraque e seu cruel ditador Saddam Hussein tivessem qualquer relação com o ataque de 11 de setembro). 
Um terrorismo não justifica outro e a desproporção deste segundo genocídio com o primeiro foi gritante, sem que tenha havido qualquer autocrítica oficial. 

[Muito menos filme de Hollywood lamentando o extermínio das crianças iraquianas, enquanto as vítimas do WTC já foram choradas em várias dezenas deles...]

No ataque ao Iraque de 2003, mais desproporção: os dados dos EUA contabilizam 172 marines que foram mortos no curso da invasão terrorista de estado, contra cerca de 30 mil militares e 7.269 civis iraquianos atingidos por balas e bombas. 

E na semana passada fomos informados de que os militares estadunidenses lançaram, na fronteira do Afeganistão, a chamada mãe de todas as bombas, não nuclear, de 10 toneladas e com efeito de destruição devastador, na fronteira do Afeganistão. A decisão do tresloucado presidente Donald Trump atesta que está se iniciando uma nova escalada do terror de estado.   

O sangrento governo sírio de Bashar Al-Assad não fica atrás, como se pode inferir do morticínio de civis causado pelo bombardeio com armas químicas que matou adultos e crianças com crueldade repugnante.
The Wall, do Pink Floyd: crítica contundente à fascistização sob o capitalismo agônico.
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Há um liame entre a escalada do terrorismo de estado (e, por incrível que pareça, também existe um nexo causal com a corrosiva corrupção política brasileira) e a decadência do capitalismo mundial, que quer se manter vivo pela força, a despeito de ser exatamente o bom senso ocidental-democrático que patrocina tal mega-terror...

A cada ação terrorista do inimigo a mídia oficial legitima o contra-terror dos mocinhos ofendidos, sem que se culpe o substrato econômico-jurídico-institucional-miliar que está na base de todos os terrorismos em curso.          
Um salvador da pátria desastroso

Depois de a indústria cultural ter martelado suficientemente nas mentes dos seus mesmerizados públicos a falsa dicotomia entre o capitalismo liberal e o capitalismo de estado do chamado socialismo real, o tal bom senso ocidental-capitalista-democrático alardeou a vitória definitiva do capital. 

Mas, paradoxalmente, aquilo não passava do esgotamento de uma etapa evolutiva do capitalismo, representando, na verdade, o início do seu fim. 

Assim, com a aparentemente definitiva derrota da razão crítica, sobreveio o ódio assassino como forma de sustentação da irracionalidade de um sistema fadado à auto-extinção por suas contradições endógenas e exógenas. A resultante disso é o terrorismo de estado, legitimado pelo apoio político das massas desesperadas aos outsiders que se candidatam ao papel de salvadores da pátria

O terror de estado passa a ser legitimado como forma de combate ao abominável terrorismo fundamentalista religioso, equivocadamente eleito (juntamente com a corrupção e os desvios burocráticos) como o grande vilão causador de todos os infortúnios sociais da atualidade. O mega-terror de estado assume, então, uma nova e tenebrosa dimensão. 

Os Osama Bin Laden e Saddam Hussein da vida, criados pelo terror de estado para combater inimigos estratégicos do Ocidente como os aiatolás no Irã, saíram do controle, passaram a disputar poder, e foram eliminados. 

O caldo de cultura que os originou, contudo, permaneceu o mesmo; e agora ressurgiu revigorado sob a forma do abominável terrorismo fundamentalista autodenominado Al-Qaeda, Estado Islâmico, Boko Haram e tantas outras seitas que florescem sobre os escombros da miséria capitalista.
(por Dalton Rosado)
O mega-terror de estado agora deixa perplexa a humanidade, horrorizada com a possibilidade de utilização do arsenal nuclear por parte da Coréia do Norte e dos Estados Unidos, que têm dois aloprados a comandarem os botões que acionam tais armas.

Mas, a utopia emancipatória da paz não morreu: vive sob a forma da crítica categorial ao capitalismo, que é especialmente avessa a todo tipo de terrorismo, seja ele estatal ou sob qualquer outra forma. 

sexta-feira, 7 de abril de 2017

TRUMP FEZ SOAR A TROMPA GUERREIRA? NÃO, FOI APENAS UMA AÇÃO DE MARKETING.

TRAGÉDIA SÍRIA
O ataque deslanchado por Donald Trump contra um alvo militar sírio parece mais uma operação de marketing do que o início de uma ação consistente destinada a pôr um fim à guerra civil na Síria.

Ao disparar mísseis contra a base aérea de al-Shayrat, de onde supostamente o governo sírio lançou o ataque com armas químicas, Trump pode dizer que, ao contrário de Obama, agiu contra o sanguinário ditador sírio que mata "lindos bebês" e sinalizou que os EUA não tolerarão violações ao tabu contra a utilização de agentes químicos. 

É pouco provável, porém, que Trump esteja disposto a envolver mais profundamente os EUA em outra aventura no Oriente Médio.

A espécie humana é meio esquisita. A guerra síria já consumiu cerca de 500 mil vidas, a esmagadora maioria dos óbitos produzidos por balas e bombas convencionais, mas são os poucos milhares de mortes provocadas por agentes químicos que geram a maior reação.

Por quê? Por algum motivo escondido nas profundezas de nossos neurônios, associamos o envenenamento deliberado à traição e o julgamos moralmente mais reprovável do que outras formas de matar.

Quanto ao conflito sírio, receio que ainda não será desta vez que assistiremos à sua resolução. Em setembro, o The New York Times publicou longa reportagem com acadêmicos especializados no estudo de guerras civis e eles traçavam um panorama sombrio.

A maioria dos conflitos acaba quando um dos lados é derrotado, o que em geral ocorre ou por causa de batalhas decisivas ou porque uma ou mais partes fica sem recursos para continuar guerreando. É improvável, porém, que alguma dessas circunstâncias aconteça em breve na Síria.

Os lados em guerra não são dois, mas pelo menos quatro, que dificilmente esgotarão seus recursos, já que recebem armas, dinheiro e apoio militar de estrangeiros. Mudar esse statu quo é muito mais tarefa para a diplomacia do que para mísseis. 

quinta-feira, 6 de abril de 2017

HORRORIZADO COM A FEIRA DA MORTE, DALTON ROSADO DÁ UM VIVA À VIDA!

"A guerra nada mais é que continuação
da política por outros meios" 
(Carl von Clausewitz)
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O noticiário da grande mídia retrata diariamente, consecutivamente, insistentemente, de modo repugnante e por vezes contraditório e hipócrita, a bestialidade da guerra convencional e urbana em curso no planeta.   

Depois da devastação causada pelas bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki, que mataram entre 129 mil e 246 mil seres humanos (cerca da metade de imediato e os demais como consequência das queimaduras, envenenamento radioativo e outras lesões que foram agravadas pelos efeitos da radiação), pondo fim à estupidez suicida da resistência japonesa esfacelada, viria algo novo.

Pensou-se que o poder destrutivo alcançado, bem como o horror causado pelo novo e devastador potencial bélico recém-descoberto, que se somava às traumáticas histórias de aniquilamento de vidas e barbárie ocorridos na 2ª guerra mundial, fariam com que a humanidade reavaliasse o seu instinto animalesco genocida – se não por sentimento de fraternidade, ao menos por medo. 

Ledo engano. A guerra quente logo voltaria, alimentada pela guerra fria e com ela se alternando, motivada pelo mesmo leitmotiv anterior, qual seja a disputa pela hegemonia do poder político-econômico entre os aliados vitoriosos na  guerra mundial. Tal retomada foi uma consequência da própria natureza do capitalismo. 

Assim, de 1950 a 1953 se travou a Guerra da Coréia, entre o Norte pró-comunistas e o Sul pró-capitalistas (uma falsa dicotomia na essência, pois a diferença era e ainda é meramente política), evidenciando que tudo continuava como dantes no Quartel de Abrantes. 

Hoje assistimos à presença dos mesmos interesses mesquinhos que estão na base de todas as guerras. Há um certo alheamento do significado desta questão por parte da maioria das pessoas, que não se apercebe do paradoxo que ela representa e da dose de hipocrisia que a envolve.

Uma emissora de TV exibiu nesta 3ª feira (4) uma matéria sobre a maior feira de artefatos bélicos da América Latina, que está se realizando no Riocentro (RJ): a Laad Defense & Segurity. Nela são mostradas as mais modernas armas da morte, que arrancaram elogios da apresentadora, como se sua finalidade fosse nobre e não infame.

A mostra sinistra atraiu, na sua maioria, industriais, comerciantes e muitos militares fardados, que observavam os itens, filmavam-nos e fotografavam. Trata-se de um comércio que movimenta bilhões de dólares mundo afora, o que bem demonstra o estágio inferior da civilização sob a égide do capital. Uma civilização belicista.

Pior ainda foi a reportagem, após destacar os méritos da alta tecnologia da morte, ter-se encerrado com os augúrios de que a feira gerasse grandes negócios, capazes de dar um ânimo à combalida economia nacional (já que o Brasil ocupa posição de destaque na produção industrial de armas). 

Ou seja, que importa a morte de muitas e muitas pessoas, se isto alavancar a retomada econômica? O prioritário é que se produza valor. Só faltou acrescentar "às favas os escrúpulos!", como disse certa vez o ministro do Trabalho Jarbas Passarinho, aparentemente preocupado com a falta de trabalho para os coveiros..
E QUANDO TAIS BRINQUEDINHOS SÃO UTILIZADOS, O QUE ACONTECE?
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Veio em seguida uma matéria sobre o extermínio de crianças na Síria, atingidas pelo gás Sarin, aquele que não tem cheiro e nem cor, ataca o sistema nervoso e mata queimando o corpo e sufocando a vítima. Por sua letalidade e crueldade, seu uso é tipificado como crime de guerra

A mesma repórter que antes torcia por um boom na produção e venda de equipamentos bélicos, mostrou-se indignada com a morte das crianças, como se uma coisa não tivesse ligação direta com a outra (a natureza político-econômica é a mesmíssima!). 

É incrível como tantas pessoas são contraditórias nas suas avaliações quando se prostram ao imperativo de se obter desenvolvimento econômico a qualquer custo, ainda que com práticas genocidas. [É o caso do retrocesso ecológico patrocinado pelo mais novo tirano salvador da pátria – Donald Trump , que quer a volta ao primado do carvão como combustível fóssil, em substituição à moderna exploração de energias limpas ora em fase de desenvolvimento tecnológico.]     

Acaso o bombardeio de Bagdá por parte dos EUA, visando atingir Saddam Hussein mas matando milhares de crianças, não se configurou como crime de guerra ou terrorismo de estado? 
EUA bombardeando Bagdá. Neste caso, houve menos lágrimas para as crianças mortas...
Acaso a morte de uma jovem atleta de 13 anos, no interior da escola de Acari, RJ, por uma bala de fuzil que não se sabe quem disparou (noutro dia foi mortalmente alvejada mais uma jovem de 13 anos, no mesmo bairro e não por mera coincidência) não se caracteriza como barbárie capitalista? 

Acaso a execuções recíprocas de militares e meliantes rendidos não significa um estágio de guerra urbana bárbara?   

Acaso o atentado no metrô da cidade russa de São Petersburgo, causador de 14 mortes, praticado em nome de um fundamentalismo religioso bárbaro, não é resultante de uma ordem política, social e econômica igualmente bárbara?

Acaso a morte de um ativista no interior do prédio do Legislativo na capital paraguaia não evidencia que o poder institucional está acentuadamente decomposto?

Acaso as mortes que se sucedem no mundo inteiro em guerras de torcidas de futebol não significa uma catarse social que remete aos mais primitivos instintos humanos?

Acaso todas as mortes provocadas por artefatos bélicos, conduzidas por mentes aferradas a conceitos de socialização equivocados, não se configuram como crimes de guerras convencionais ou urbanas?

Produzir armas e comercializá-las é um crime de guerra. A guerra é um crime, sempre. O capital é sempre um crime.

Mas o capitalismo, como filho da guerra, não pode prescindir dos lucros dessa atividade macabra que é, também e a um só tempo, seu móvel econômico e seu instrumento de coerção bélica, aliado aos outros tipos de coerção (Direito, instituições do Estado, força militar, etc.).

Tentando fugir do desejo irrealizável de entrar no vídeo e demonstrar a contradição e hipocrisia do noticiário, mudo de canal de TV para assistir ao futebol internacional e ouço o hino dos países em disputa por uma vaga na Copa do Mundo de 2018, com letra traduzida para o português. 

Eis que tanto de um lado como do outro só se fala no heroísmo da defesa da pátria e do sacrifício por ela até com a própria morte. Uma certidão do espírito belicista entre os povos, e não da sua fraternidade. 

É que todos esses países e seus modernos Estados foram criados pelo capitalismo. 

Basta! 
Viva a fraternidade entre os seres humanos!

Abaixo as armas, desde as nucleares até as destinadas às guerras convencionais ou urbanas!

Viva a vida! (Dalton Rosado)

A NOVA BESTIALIDADE DO CARNICEIRO DE DAMASCO

Já lá se vão 11 anos que eu divulgo sistematicamente meus artigos na internet. Uma posição que mantenho desde o início e da qual jamais abrirei mão é a de colocar os princípios revolucionários acima de todas e quaisquer conveniências. Quem vai ao povo pregar a luta contra a desumanidade não pode, ele mesmo, compactuar com práticas desumanas.

Pouco se me dão as alianças firmadas por ditadores sanguinários como Bashar al-Assad, o carniceiro de Damasco. Mesmo que sua permanência no poder incomode EUA, Israel, as nações ricas da Europa Ocidental ou qualquer outro grande vilão da esquerda, ainda assim ele tem de ser afastado o quanto antes. 

Não passa de um réprobo da civilização, um genocida e um psicopata, tanto quanto Adolf Hitler. ou Pol-Pot. Deveria estar num tribunal como o de Nuremberg, sendo julgado por crimes contra a humanidade.

Das muitas distorções em que incorre a esquerda desvirtuada do pós-1968, uma das piores é avaliar os acontecimentos internacionais sob a ótica desumana da realpolitik, como se o mundo fosse um enorme tabuleiro de xadrez. Ao copiarmos a amoralidade estadunidense (expressa de forma emblemática na frase do secretário de Estado Cordell Hull a respeito do ditador dominicano Rafael Trujillo, “ele pode ser um filho da puta, mas é nosso filho da puta”), deixamos os melhores seres humanos sem motivos para nos seguirem. 
Exemplo de realismo político: pacto Hitler-Stalin de 1939.

Bom para quem quer convencer o povo de que os políticos são todos farinha do mesmo saco e que é melhor cada um de nós cuidar da própria vida. Péssimo para quem precisa reavivar as esperanças de que, unidos, possamos dar um fim à exploração do homem pelo homem.

Revolucionários existem para conduzirem a humanidade a um estágio superior de civilização. Traem sua missão quando compactuam com a barbárie, seja lá qual for o pretexto. Ponto final. 

As sucessivas opções pelo supostamente menos pior em detrimento do realmente melhor vêm conduzindo a humanidade para a beira do abismo e a esquerda para a impotência e até a irrelevância. É hora de voltarmos a nossos clássicos, a Marx, Engels, Proudhon, Lênin, Trotsky, Rosa Luxemburgo e outros deste porte, pois, como aprendizes de Maquiavel, fracassamos miseravelmente.

A indignação do veterano Clóvis Rossi com mais uma bestialidade cometida por Assad é minha também. 

Idem o desalento, pois ele escreveu e eu o subscrevo por mero desencargo de consciência. Ambos estamos carecas de saber que nem desta vez o cão danado será, pelo menos, neutralizado. Continuará barbarizando, continuará mentindo e aqueles que o protegem continuarão fingindo que acreditam. (Celso Lungaretti)
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DITADURAS SÃO SEMPRE TÓXICAS
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É tarde demais para o mundo se horrorizar com o ataque com armas químicas ocorrido na 3ª feira (4) na Síria.

O horror é inerente às ditaduras, de qualquer coloração política, e elas se instalam ou se mantêm ante a indiferença e/ou impotência do mundo civilizado. No caso da Síria, a ditadura do clã Assad já dura 46 anos, primeiro com o pai, Hafez, e a partir de 2000 com o filho Bashar. Que esse horror suba alguns pontos na escala, com ataques com armas químicas, é tudo menos surpreendente.

Até porque já ocorreu antes: o BuzzFeed relata que, em outubro passado, uma investigação conjunta das Nações Unidas e da Organização para a Proibição de Armas Químicas denunciou que forças aliadas ao governo sírio haviam usado armas químicas pelo menos três vezes entre 2014 e 2015.

O caso mais notório ocorreu em 2013, com o uso de gás sarin em Ghouta, nas imediações de Damasco, o que causou a morte de cerca de 500 pessoas. O episódio levou a um acordo, organizado por EUA e Rússia, pelo qual o governo sírio entregou, em tese, todo o seu arsenal de armas químicas para destruição.

Se, como tudo parece indicar, o ataque desta semana é de responsabilidade do governo ou de aliados, fica claro que nem todo o arsenal foi destruído. Escrevo antes de saber o resultado da sessão de emergência das Nações Unidas (*), até porque é desnecessário esperar: se tivesse que agir, a comunidade internacional deveria tê-lo feito no início da crise síria, em março de 2011.
Tratava-se, então, da revolta de parcela importante da sociedade civil contra a ditadura. Revolta pacífica, reprimida, porém, com a violência característica de toda ditadura.

Deu no que deu: os rebeldes pegaram em armas, o regime endureceu ainda mais, outros países se envolveram – e, seis anos depois, "era uma vez um país, a Síria", como escreve o radialista Fouad Roueiha no capítulo sírio do livro Rivoluzioni Violate, editado na Itália a propósito da fracassada Primavera Árabe.

É natural que um ataque com armas químicas acenda sinais de alarme e desperte gritos de indignação, mas o alarme e a indignação deveriam ter ocorrido também (ou principalmente) ante os 470 mil mortos, os 5 milhões de refugiados no exterior e os 6,3 milhões de refugiados internos.

Para ficar só no tema armas químicas, "desde o início do conflito em 2011, mais de 14 mil pessoas foram vítimas de ataques com armas químicas e mais de 1.500 morreram em decorrência", escreve para o New York Times Ahmad Tarakji, da Sociedade Médica Sírio-Americana.

Para um país de cerca de 18 milhões de habitantes, tais números desenham o pior desastre humanitário desde a 2ª Guerra Mundial, como admitem os organismos das Nações Unidas. A ditadura e a guerra que ela atiçou deixaram a Síria com 85% da população na pobreza, com mais de 2/3 em extrema pobreza, e 1,75 milhão de crianças sem escola.

Uma tragédia inenarrável a que o mundo assistiu, às vezes horrorizado, mas sempre passivo. (Clóvis Rossi)
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* Nota do editor: como o Clóvis Rossi previa, a reunião deu em nada, pois o representante russo conseguiu criar um impasse ao sustentar que as armas químicas pertenceriam aos rebeldes, estando estocadas num depósito atingido pelos bombardeios de Assad. Esopo e La Fontaine não fariam melhor. Como alguém consegue mentir tão descaradamente sem sequer enrubescer?! 

sábado, 10 de setembro de 2016

SALVEM O POVO SÍRIO!

Salvem o povo sírio!

Trata-se do pedido de uma mulher síria, aproveitando uma rede de TV para apelar desesperadamente ao mundo. Era pedido resignado, frio, sem esperança; apenas o desabafo de uma pessoa agoniada, sob o jugo do poder e da falta de racionalidade de uma guerra sobre a qual o planeta silencia.

Talvez devido à oficialidade das guerras declaradas, a comoção seja maior sobre as atrocidades praticadas na Síria, mas, no Brasil de paz, morre muito mais gente assassinada por ano do que em qualquer guerra. Abordaremos nossa tragédia cotidiana noutra oportunidade.

Os Estados, como instituições de organização social, são defendidos ou aceitos por todos como uma necessidade indissociável da moderna convivência da humanidade; nem se vislumbra mais outra forma de organização de pessoas. 
E, na esmagadora maioria das vezes, são os dirigentes desses Estados os responsáveis pela provocação e pelo surgimento desses conflitos mundiais.

Após iniciadas as batalhas sangrentas, os governos envolvidos tentam fazer uma lavagem cerebral no inconsciente coletivo; em alguns casos, felizmente raros hoje em dia, obtêm até apoio popular.

Os responsáveis pela decretação dessas guerras nunca vão para o front. Obrigam pessoas indefesas a se matarem sem nenhuma divergência ou causa pessoal entre elas. Muitos desses guerreiros morrem internamente antes de matar outros.

Uma guerra só poderia ser justificada para salvar vidas de inocentes. Caso da intervenção que atualmente se faz necessária para salvar o povo sírio. 

As grandes potências mundiais não podem ficar apenas no discurso. Precisam agir, ao menos para amenizar o sofrimento daquele povo com comida, água, e remédios.
Bashar al-Assad, o carniceiro de Damasco.

Todos precisam viver em paz e segurança nos seus países. As outras nações não têm espaço, nem condições econômicas para sustentar milhões de refugiados com dignidade. 

Para exemplificar: imaginemos uma pessoa de família grande do Nordeste que resida em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Ela poderia trazer um, dois ou até alguns para sua casa, mas não teria condições de abrigar dezenas de pessoas, mesmo que quisesse.

As Nações Unidas deveriam criar regra de exceção para suspender automaticamente a soberania de países em guerra.

As pessoas famosas deveriam realizar um movimento de repúdio às guerras com atuação permanente. 
Por enquanto, a tragédia do povo sírio é respondida apenas com palavras, seja das potências mundiais, seja dos famosos ou at[é de pessoas comuns. Tal  povo não tem como se defender sozinho. O mundo precisa dar um basta a este extermínio! 

Já disseram que o omisso está do lado do opressor. Sob nenhum aspecto uma guerra traz ou deixa algo positivo como consequência. (por Pedro Cardoso da Costa)

terça-feira, 3 de setembro de 2013

ARROGÂNCIA IMPERIAL, TIRO PELA CULATRA E OCASO MELANCÓLICO

Os Estados Unidos, com extrema arrogância, recusam-se a encarar a arapongagem  que praticam sob a ótica das leis internacionais. Mesmo agora, ao serem flagrados espionando ninguém menos do que a presidenta do Brasil, deixam claro que continuarão agindo de acordo com as próprias leis e o resto do mundo que se dane. 

Da mesma forma, o presidente Barack Obama considera que só precisa do aval do seu Congresso para ordenar bombardeios à Síria. Com isto, a ONU perde a razão de existir. 

Se tivessem um pingo de dignidade, as demais nações dela se retirariam, já que seu papel é apenas de figurantes, enquanto o protagonista aplica a seu bel prazer a lei do mais forte.

* * *

Se dúvida havia sobre a perda de mandato de João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto, Pedro Henry e José Genoíno, condenados à prisão como  mensaleiros, não há mais nenhuma. A péssima repercussão da lambança perpetrada pela Câmara Federal, ao permitir que o presidiário Natan Donadon continuasse deputado, selou-lhes o destino e fechou o caixão. 

Então, se houve quem tenha livrado a cara de Donadon para abrir um precedente favorável ao quarteto, deu um formidável tiro pela culatra.

Certos aprendizes de feiticeiro de Brasília continuam ignorando os humores do cidadão comum e a capacidade da indústria cultural, de amplificar rejeições ao máximo. 

Quem é burro, pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue...

* * *

A imprensa dá destaque excessivo ao julgamento do  mensalão, como se ainda existisse algum coelho para ser tirado da cartola. 

Não há. As condenações serão confirmadas e as penas, cumpridas. A esta altura do campeonato, qualquer outra decisão deixaria a imagem do STF em frangalhos. E os ministros estão bem cientes disto.

Os advogados deram o seu showzinho, mas de antemão sabiam que nada mudaria. Os acusados jogaram fora o dinheiro que melhor fariam se tivessem guardado para pagar as multas.

É comum os revolucionários, tendo meios para escapar, não cumprirem decisões judiciais que consideram injustas. A questão é: o Zé Dirceu e o Genoíno ainda se veem como tais? 

E há outro aspecto, o da própria injustiça. Pois a opção pela fuga só se justificaria na hipótese de inocência, não na de terem sido condenados por práticas nas quais quase todos os políticos incidem sem ser punidos. 

Incomoda-me muito, admito, a perspectiva de ver o Dirceu e o Genoíno presos. O simbolismo será deprimente ao extremo. Por mais que eles tenham se distanciado dos ideais de 1968, a direita vai celebrar como uma vitória sobre os revolucionários da nossa geração.  Posso imaginar o triunfalismo estampado na capa da Veja, que tanto fez para colocar o Dirceu no pelourinho, chegando até a espioná-lo da forma mais abjeta.

Sem afirmá-lo taxativamente, o Cesare Battisti várias vezes deu a entender que, caso se tornasse inexorável sua extradição, preferiria a morte do que oferecer a cabeça para ser exibida na sala de troféus do Berlusconi. 

Mas, claro, tudo depende da convicção íntima de cada um. 

Melhor teria sido se os ex companheiros jamais houvessem superestimado seu poder e exposto o flanco de forma tão temerária. Deram sopa pro azar e estão pagando caro por isso.

* * *

Roger Federer, o maior tenista de todos os tempos, teima em continuar nas quadras quando seu momento passou. A marcha do tempo é impiedosa. 

Ter recuperado a posição de nº 1 em 2012 já foi uma moeda que caiu em pé, permitindo-lhe quebrar mais um recorde importante (o de semanas liderando o ranking da ATP), além de ampliar para 17 o número de conquistas de torneios grand slam. 

Quando foi novamente desalojado do topo, faltou-lhe humildade para reconhecer que se tratara do seu (magnífico) canto do cisne e, dali em diante, só desceria a ladeira. 

A temporada de 2013 está sendo humilhante ao extremo para ele. Quem o admira, torce para que não haja temporada de 2014. 

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

FIM DO PODER, FIM DO CAPITALISMO OU FIM DO MUNDO?

O fim do poder, do escritor e analista de assuntos econômicos e políticos Moisés Naím, é um artigo inspirado: aborda tendências que muitos já havíamos percebido, sem relacioná-las umas às outras. Paradoxalmente, às vezes é difícil enxergarmos o óbvio.

Vale a pena reproduzir, na íntegra, o texto do venezuelano Naím, que serve como ponto de partida para depois eu ampliar um pouco o foco:
"O que têm em comum o aquecimento global, a crise na zona do euro e os massacres na Síria? O fato de ninguém ter o poder de detê-los. Cada uma dessas situações vem se deteriorando em plena vista do mundo. As três implicam graves perigos e o sofrimento de milhões de pessoas. Há ideias do que fazer em relação às três. Mas não acontece nada.

Há reuniões de ministros, cúpulas de chefes de Estado, exortações de líderes sociais, religiosos e acadêmicos. Nada. Diariamente, somos informados de que cada uma dessas crises segue adiante na corrida desembestada rumo ao despenhadeiro. E...? Nada. Não ocorre nada.

É como assistir a um filme em câmera lenta em que um ônibus cheio de passageiros ruma ao precipício, enquanto o motorista não pisa no freio nem muda de direção. O problema é que todos estamos nesse ônibus. No mundo atual, o que acontece em outro lugar, por distante que pareça ser, acaba nos afetando.

Mas minha metáfora é imperfeita. Supõe que o freio e o volante funcionem e que exista um motorista com o poder de frear ou mudar de rumo. Porém não é o que ocorre.

No caso dessas três crises -e de muitas outras-, não há um motorista único, e sim vários. E cada vez há mais motoristas, ou candidatos a motoristas, que, embora não tenham o poder de decidir a direção e a velocidade do ônibus, têm, sim, o poder de impedir que sejam tomadas decisões das quais discordam.
"É impossível ignorar os efeitos do clima sobre
todos nós e sobre as gerações que vão nos seguir"
Rússia e China não podem solucionar a crise na Síria. Mas podem vetar as tentativas de outros países de deter as matanças. Os líderes de Itália, Espanha ou Grécia precisam da ajuda de outros países e de entidades como o Banco Central Europeu ou o FMI para enfrentar sua crise. Contudo, embora nem Angela Merkel nem os órgãos internacionais tenham o poder de solucionar a crise, eles podem bloquear o jogo.
Com o aquecimento global é a mesma coisa. As evidências científicas avassaladoras confirmam que a atividade humana está aquecendo o planeta, o que gera variações climáticas traumáticas. Se as emissões de certos gases não diminuírem, as consequências para a humanidade serão desastrosas.

E, se para alguns é fácil ignorar a tragédia síria, por estar muito distante, ou a europeia, por lhes ser alheia, é impossível ignorar os efeitos do clima sobre todos nós e sobre as gerações que vão nos seguir.

Essas três crises são uma manifestação de uma tendência que as ultrapassa e que molda muitas outras esferas: o fim do poder. Isso não significa que o poder vá desaparecer ou que já não haja atores com imensa capacidade de impor sua vontade a outros. Significa que o poder vem ficando cada vez mais difícil de exercer e mais fácil de perder. E que quem tem poder hoje está mais limitado em sua aplicação do que eram seus predecessores.

O presidente dos EUA (ou da China), o papa, o chefe do Pentágono ou os responsáveis por Banco Mundial, Goldman Sachs, 'The New York Times' ou qualquer partido político hoje têm menos poder do que aqueles que os precederam.

O fim do poder é uma das principais tendências que vão definir o nosso tempo".
A SOLUÇÃO REAL PARA A CRISE
ECONÔMICA É O FIM DO CAPITALISMO

Apesar de terem como ponto comum a chocante omissão dos que deveriam liderar a humanidade face a elas, tais crises guardam também diferenças significativas entre si.

O colapso da economia capitalista é inevitável e sua agonia já se prolonga muito mais do que deveria. Trata-se de uma óbvia consequência da contradição entre a produção coletiva dos bens e a apropriação individual de parte significativa dos frutos desse trabalho coletivo, gerando permanente  descasamento  entre produção e consumo.

Como uns não recebem um quinhão proporcional ao que produziram e outros não têm nem o que fazer com a imensidão de quinhões alheios que usurparam, geram-se distorções em escala geométrica, desembocando nas crises cíclicas do capitalismo flagradas no tempo de Marx.

O capitalismo conseguiu, principalmente graças aos mecanismos de crédito que vão esticando a corda do elástico, impedir que tais crises ocorram periodicamente (como outrora pipocavam mais ou menos de dez em dez anos).

Mas, a artificialidade do edifício erigido é tal que o acerto de contas --todo mundo, governos, empresas e cidadãos, gasta mais do que possui e vai empurrando com a barriga dividas que não teria como saldar--, adiado indefinidamente, acabou emperrando a economia mundial como um todo.

Não há mais como escapar. Marchamos para uma depressão pior ainda que a da década de 1930; e, se tivermos sorte, para uma revolução que conduza a humanidade para um estágio superior de civilização. Se tivermos azar, para o caos e a barbárie.

Engels alertou que é esta a consequência de se represar as revoluções necessárias e prementes; segundo ele, ao impedir que o levante dos gladiadores de Spartacus desse fim à escravidão, liberando as forças produtivas do Império Romano, este se condenou ao desaparecimento, ensejando um retrocesso tão acentuado que a civilização levou um milênio para alcançar de novo o estágio de desenvolvimento já atingido por Roma.

JÁ PASSOU DA HORA DE DETERMOS
A HECATOMBE HUMANITÁRIA NA SÍRIA

Diferentemente, a crise síria poderia ser resolvida. Ocorre que os desatinos da intervenção da Otan na Líbia estão sendo, até agora, obstáculo a uma solução civilizada.

Ditadores são difíceis de remover, pois usam parte do que saquearam dos seus povos para armarem-se até os dentes e não hesitam em recorrer às mais bestiais torturas e as matanças mais indicriminadas para perpetuarem-se no poder.

Quando, finalmente, os cidadãos pegam em armas contra as tiranias, há, sim, motivo para (e necessidade de) a comunidade internacional intervir, para evitar que sejam massacrados. Até aí a ONU estava certa no caso da Líbia --por mais que uma esquerda que ainda não saiu das trevas do stalinismo berre e esperneie, continuarei defendendo esta postura civilizada.

Mas, num ponto qualquer do caminho, a Otan extrapolou a missão que a ONU lhe conferiu. Ao invés de apenas defender a população civil e evitar massacres, passou a conduzir ela própria as operações militares para a derrubada de Gaddafi. Cabia aos líbios livrarem-se por si sós do odioso tirano, não à Otan fazer o serviço no lugar deles.

Tal erro acabou tendo trágicas consequências, não só na Líbia, como as que se verificam hoje na Síria, onde há muito tempo deveria ter havido uma intervenção da ONU, nos mesmíssimos moldes daquela que ela autorizou contra Gaddafi, apenas zelando para que desta vez fosse mantida sob estrito controle.

O preço da omissão é a destruição do país e os sofrimentos terríveis que estão sendo impostos a centenas de milhares de sírios. Nenhuma racionália geopolítica justifica tal hecatombe humanitária. Quem compactua com tais horrores é tudo, menos um seguidor de Marx ou Proudhon. Está mais para herdeiro de Pol Pot e Vlad Dracul.

A CONTAGEM REGRESSIVA PARA O
FIM DA HUMANIDADE ESTÁ EM CURSO

Finalmente, a destruição das próprias bases da sobrevivência da espécie humana por parte do capitalismo --e aqui nos referimos não só ao aquecimento global, mas também ao malbaratamento de recursos finitos que nos são essenciais, como a água-- não cessará enquanto a organização social e econômica priorizar interesses particulares e não a promoção do bem comum.

Ninguém precisa ser cientista para perceber que o quadro se agrava insensivelmente, que as alterações climáticas causam cada vez mais estragos e (vide Fukushima) que corremos enorme risco de as inundações e terremotos servirem como estopins de acidentes nucleares.

Mas, há cientistas pagos pelos  agentes do juízo final  para proclamarem exatamente o contrário, minimizando o perigo. Há nações que proclamam a prevalência do seu direito ao crescimento econômico sobre os interesses maiores da humanidade, inclusive a salvação da espécie humana.

Então, repetindo a conclusão sobre a agonia da economia capitalista:
  • se tivermos sorte, quando a escalada de catástrofes intensificar-se a ponto de não restarem mais dúvidas de que marchamos para o fim, os homens se unirão numa luta coletiva pela sobrevivência e depois cuidarão de reconstruir a sociedade em bases solidárias, pois vão saber muito bem aonde o  cada um por si  desemboca;
  • se tivermos azar, ou a espécie humana será extinta, ou o retrocesso vai ser maior ainda que o ocorrido após a queda do Império Romano.
É simples assim. É terrível assim.
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