domingo, 22 de julho de 2012

A VIDA IMITA A ARTE: "DESEJO DE MATAR"

As platéias são levadas a simpatizar com assassinos...
Um dos filmes mais repulsivos da década de 1970 é Desejo de Matar (d. Michael Winner, 1974). Mostra um pacífico arquiteto que, depois de ter a esposa assassinada e a filha estuprada por marginais que invadem o apartamento na sua ausência, torna-se um sistemático justiceiro: perambula à noite pela cidade, buscando bandidos para os balear.

O pior é que se trata de uma obra de cineasta competente, então o espectador tendia a simpatizar com o carrasco voluntário, protagonizado por Charles Bronson.

Assim como o também competente Don Siegel tornara simpática a imagem de um policial matador de São Francisco (Clint Eastwood), em Perseguidor implacável (1971). A impotência das autoridades face aos criminosos, nas duas fitas, serviu como justificativa para execuções a sangue-frio.

Fora das telas isto nunca dá certo, nem mesmo na doentia ótica malufista de que "bandido bom é bandido morto".

...e a cultuar armas que são óbvios símbolos fálicos.
Os resultados vão desde balas atingindo inocentes até farsas montadas para acobertar vinganças pessoais, passando pela experiência do grupo de extermínio da polícia paulista que, descobriu-se mais tarde, estava a soldo de um grande bicheiro e servia para eliminar a  concorrência.

Como Freud cansou de explicar, os piores instintos humanos, deixados à solta, acabariam nos levando de volta às cavernas. Alguma autoridade precisa existir; o difícil é a mantermos sob controle, evitando que ultrapasse o limite entre a violência justificada e o o  desejo de matar, como cansa de fazer a PM de São Paulo --aquela que nos toma por tão imbecis a ponto de acreditarmos que um celular possa ser confundido com uma arma de fogo.

Na noite última 6ª feira (20), um motoqueiro teve a oportunidade de sentir-se como o próprio Paul Kersey/Charles Bronson: percebendo que três assaltantes rendiam uma mãe e seu bebê, matou o primeiro com um único disparo certeiro. Os outros dois correram, mas um seria depois encontrado 10 metros adiante, com uma bala na cabeça. A polícia acabou prendendo o terceiro. O motoqueiro sumiu.

A mulher comparou o assassino a um anjo. Menos. Quem demonstrou ter habilidade (e confiança) suficiente para acertar o marginal que estava bem ao lado dela, talvez pudesse administrar a situação sem matança. E foi puro  desejo de matar  a execução do outro bandido, que já estava em fuga.

Mesmo não sabendo que os três aprendizes de feiticeiros portavam apenas um revólver de brinquedo, ele extrapolou. E muito.

A mídia jamais deveria ser condescendente com tais atitudes. E a polícia tem a obrigação de tentar localizar e submeter à Justiça quem tomou a justiça em suas mãos e provavelmente não tinha o direito legal de andar armado. 

4 comentários:

Tadeu Braga disse...

Muito, bom, companheiros do Náufrago! Boa mensagem, para todos os que têm os horríveis sentimentos e instintos de 'vingança' e 'destruição' de um Ser Humano, e/ou, (in)justiça, seja pelas próprias mãos ou, por qualquer outro grupo ou polícia. Devemos, todos, SEMPRE almejarmos e buscarmos a PAZ, para TODOS os Homens...

Anônimo disse...

Olá Celso!
como leitor assíduo do seu blog, e simpático as suas idéias não posso me furtar a comentar seu texto de maneira contrária.
Acho que vc exagerou na mão.Vc pode muito bem ter sido um guerrilheiro, ter pego em armas, ter defendido a justiça naquele momento que o Brasil viveu nos Anos de Chumbo, eu eu te parabenizo por isso, porém querer defender bandido é demais.
Demonstra de sua parte uma tremenda falta de empatia com a sociedade aterrorizada por esses marginais que avançam no limite da convivência humana.
Especialmente em São Paulo a marginalidade esta vencendo.
Quando a Polícia pratica um ato heróico desse deveria receber elogios e não críticas.
Talvez, se em vez de ser a mulher fosse vc segurando seu filho e um bandido metesse uma bala na cabeça dele a sua versão dos fatos seria bem diferente.
Neste momenteo, vc não é o Celso que eu leio.Vc é um Celso travestido de bom samaritano que quer se passar por bom menino exaltando as qualidades de uma sociedade que não existe.
Por isso vc é utópico ainda, até o dia que um ladrão meter a bala na cabeça de um parente seu.
Abs e tomara que vc nunca seja assaltado.
Maurício - Santos

Anônimo disse...

Tadeu Braga, esse episódio relatado não se trata de vingança.
Um policial armado ao enfrentar 3 bandidos não pode vacilar.No episódio em questão era ele ou os bandidos.
Quem vc escolheria se vc fosse um policial nesta condição?

Maurício - Santos

celsolungaretti disse...

Maurício,

não se tratava de policial nenhum, mas sim de um motoqueiro. Um cidadão que estava passando e resolveu intervir, sem tirar o capacete, para não ser identificado nem mesmo pela mulher que salvou.

A primeira morte foi discutível, mas ter cravado uma bala na cabeça de um assaltante que já estava em fuga demonstra claramente que ele tinha desejo de matar.

O segundo corpo foi encontrado a 10 metros do local. Que perigo ele ainda representava, a ponto de justificar tal EXECUÇÃO?

Se localizado, talvez ele se safe da primeira morte sob a alegação de estar defendendo a mãe e a criança. Mas, pela segunda, será inevitavelmente condenado.

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