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sexta-feira, 24 de abril de 2015

O HOMEM BIÔNICO E O PREJUÍZO FARAÔNICO

Seriado de TV cujo primeiro episódio completou 40 anos no último mês de janeiro, O homem de 6 milhões de dólares vai ter uma versão cinematográfica, com Mark Wahlberg no papel que celebrizou Lee Majors.

Os valores, contudo, serão atualizados: o filme vai se chamar O homem de 6 bilhões de dólares

Para evitar mal entendidos, sugiro aos exibidores brasileiros que incluam este esclarecimento no material promocional: não confundir com o Sr. Corrupção da Petrobrás...

Primeiramente, porque continua havendo grande diferença entre dólares e reais, entre os senhores do mundo e seus lacaios.

E depois, porque a série não se refere a 6 bilhões jogados no ralo, mas sim a uma quantia bem utilizada.

Por aqui, esta grana preta só serviu mesmo para quantificar a corrupção que alguns dirigentes petistas juravam não existir na Petrobrás. Doravante, cada vez que fizerem afirmações igualmente estapafúrdias, teremos 6 bilhões de motivos para botar as barbas de molho.

Quanto à companhia emblemática do nacionalismo tupiniquim, suponho que não vá trombetear o novo recorde como sempre fez com os outros. E nem precisará: um prejuízo de R$ 21,6 bilhões é tão exagerado que todo mundo toma conhecimento imediato.

Como a quota da corrupção foi de R$ 6,2 bilhões, suponho que devamos atribuir os R$ 15,4 bilhões restantes à má gestão.

É para isto que servem as gerentonas?!

terça-feira, 7 de abril de 2015

DESATAI-A E DEIXAI-A IR!

Presidenta Dilma Rousseff, prometendo bisar Cristo: 
"...a luta pela recuperação da Petrobras que está em curso, é minha, é do meu governo..." 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

MAIS UMA VEZ A "FOLHA" SE CURVA DIANTE DO "NÁUFRAGO"

Sócrates, em sua correta dimensão...
A coluna de Bernardo Mello Franco, que está na edição impressa da Folha de S. Paulo desta 5ª feira (2) e entrou no site às 2h00, pegou uma óbvia carona no meu post Depois do Black Power, o Corrupt Power?!, de quase 25 horas antes (1h09 do dia 1º). 

E foi cópia piorada pois, talvez para não dar muito na vista, o ex-correspondente do jornal da ditabranda em Londres omitiu algo que enfatizei (até porque o desagrado com tal apropriação indébita foi o real motivo de minha catilinária): trata-se da saudação característica do Poder Negro, tendo se tornado mundialmente conhecida a partir dos Jogos Olímpicos de 1968. 

Aliás, o dr. Sócrates também a adotava, mas não julguei importante lembrar este detalhe. Pensando bem, deveria,  pois se trata de outro símbolo da fase heroica do PT, enquanto o que acabamos de ver é exatamente o contrário.

Eis o texto do Mello Franco:   
"Nesta terça-feira, apareceu a melhor imagem do escândalo até aqui. É uma foto de José Sergio Gabrielli, ex-presidente da estatal, em ato promovido pelo PT e pela CUT na Quadra dos Bancários de São Paulo.
A cena foi fabricada pelo próprio personagem. Estrategicamente posicionado atrás do ex-presidente Lula, Gabrielli se levantou e ergueu o braço direito com o punho cerrado.
...e Gabrielli.
O petista imitava o gesto de José Dirceu e José Genoino, seus colegas de partido, ao serem presos no fim do processo do mensalão.
Gabrielli já teve os bens bloqueados pela Justiça e pelo Tribunal de Contas da União, que investigam sua participação na compra da notória refinaria de Pasadena.
Sob seu comando, atuavam três diretores da petroleira presos na Lava Jato: Duque, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró. Um quarto diretor, Jorge Zelada, acaba de ter R$ 40 milhões bloqueados em Mônaco.
O ex-presidente da Petrobras ainda não é réu na Lava Jato, mas quem acompanha as investigações não se surpreenderá se ele aparecer na próxima leva de denúncias".

quarta-feira, 1 de abril de 2015

DEPOIS DO BLACK POWER, O CORRUPT POWER?!

Este gesto é a saudação do Black Power e foi celebrizado por medalhistas negros estadunidenses na Olimpíada de 1968, no México. 

Pega bem para dignos VENCEDORES, não para o FRACASSADO presidente da Petrobrás em 2005/2012, quando um esquema criminoso saqueava implacavelmente a empresa, motivo de ela estar quase DESTRUÍDA nos dias de hoje.

Os negros tinham motivos de sobra para protestar, pois seus direitos civis e humanos eram estuprados o tempo todo pela elite branca, anglo-saxã e protestante. 

Já Sergio Gabrielli posar de vítima não passa de piada de mau gosto. Deveria estar é ajoelhado, pedindo perdão ao povo brasileiro por sua gestão desastrosa. No mínimo, foi guardião relapso do bem a ele confiado.

E este bem era, simplesmente, a maior empresa nacional! Que agora dá a impressão de haver sido devastada por uma praga de gafanhotos...

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

OU DILMA SALVA GRAÇAS, OU SALVA A PETROBRÁS. AMBAS, NÃO DÁ.

Não precisaremos esperar até janeiro de 2016 para assistirmos ao Missão Impossível 5, ainda em fase de produção. Algo bem parecido, só que mais inverossímil ainda, acaba de ser visto no Brasil.

Foi no café da manhã no Palácio do Planalto desta 2ª feira (22), quando a presidenta Dilma Rousseff mostrou acreditar que ainda seja possível salvar a chefona da Petrobrás, Graças Foster, ao afirmar que sua demissão "não é necessária". 

Foi algo tão estapafúrdio como se o comandante do Titanic, depois do navio chocar-se com o iceberg, tivesse dito que a evacuação dos passageiros era dispensável...

Só nos vossos sonhos, presidenta. No mundo real, trata-se do primeiro e fundamental passo para o governo deter o derretimento da Petrobrás. Esta ficha já deveria ter caído para V. Exa. há muito tempo. 

Tanto que, nesta altura do campeonato, não tem mais a menor importância a honestidade ou não da vossa protegida. Podemos até admitir que ela haja deixado de tomar as providências indispensáveis contra a corrupção explícita na estatal porque havia obstáculos políticos intransponíveis, do tipo herança maldita

E daí? O certo é que se conformou com uma situação inaceitável e o elástico, de tanto ser esticado, arrebentou na cara dela. Agora, Graças está além de qualquer possibilidade (não catastrófica) de salvação.

Ou seja, a alternativa que resta para Dilma é exonerá-la o quanto antes ou impor ao Brasil um prejuízo de bilhões e bilhões de dólares, pois a Petrobrás perde valor de mercado a cada dia que passa.

Os investidores só acreditarão que há chance de recuperação se a direção for mudada; caso contrário, a sangria continuará até o mais amargo fim. É simples assim.

Quem quer participar da política oficial, tem de aceitar as regras do jogo. Quando eu percebi que não me passariam pela goela as concessões inerentes, desisti para sempre, optando pela integridade.

No caso da Dilma, contudo, é tarde demais, comprometeu-se até 2018. Então, só lhe resta seguir adiante no rumo livremente escolhido; e, portanto, deve agir conforme o seu cargo impõe, doa o quanto lhe doer.

Um paradoxo: por mais que se esforçassem, os privatizantes nunca conseguiram afundar tanto a Petrobrás quanto os últimos governos, ideologicamente simpáticos à estatal. O caminho do inferno está pavimentado de boas intenções.

domingo, 21 de dezembro de 2014

A BELA VENINA E AS FERAS DO PODER

Um dos meus artigos mais controversos de todos os tempos foi Combate à corrupção é bandeira da direita (vide íntegra aqui), que lancei em abril de 2009, alguns meses depois que parte da esquerda pateticamente tomou partido numa guerra de gangsteres pelo mercado de telecomunicações, travada bem no centro dos podres poderes.  Enojara-me sobremaneira o endeusamento a um delegado metido a Quixote, mas que não passava do laranja de uma das facções mafiosas.

Como a sucessão de escândalos na política e na economia parecia não ter mais fim (dura até hoje, por sinal...), resolvi recolocar em circulação a tese corretíssima do Paulo Francis, de que só à direita convém manter a opinião pública mesmerizada por esses roubos menores, intrínsecos ao capitalismo, enquanto é levada a passar batido pelo maior de todos os roubos: a propriedade privada dos meios de produção.

Assim, quando a lama novamente inundava o noticiário, escrevi estas verdades:
"...a desproporção entre o dano causado ao cidadão comum pelos ladrões de galinha da política e as atividades corriqueiras dos capitalistas é incomensurável.
O capitalismo nos acarreta:
* emergências ecológicas como as alterações climáticas que ameaçam a própria sobrevivência da nossa espécie; 
* recessões desnecessárias como a atual (que ainda não se sabe se evoluirá ou não para depressão);
* a condenação de parcela considerável da humanidade a vegetar em condições subumanas;
* o desperdício criminoso do potencial ora existente para assegurar-se a cada habitante deste sofrido planeta o mínimo condizente com uma sobrevivência digna;
* a mobilização permanente dos homens para atividades improdutivas e desnecessárias ao invés da redução da jornada de trabalho para que todos possam desenvolver-se plenamente como seres humanos; 
* etc. (muitos, muitos etcéteras!).
 ...interessa aos defensores do capitalismo fazer a patuléia acreditar que a razão maior de seus apuros econômicos são os impostos, que estes acabam sendo em grande parte desviados pelos políticos e que isto, só isto, impediria nosso país de deslanchar.
Ademais, as intermináveis denúncias de corrupção acabam minando as esperanças do cidadão comum na transformação da realidade por meio da ação política. Se tudo não passa de um lodaçal, as pessoas de bem devem mesmo é cuidar de sua vida...
De quebra, fornecem pretextos para quarteladas, sempre que os meios de controle democráticos das massas não estão funcionando a contento..."
Coerentemente, escândalos como o do mensalão e o do petrolão só entram nos meus textos em função de suas consequências políticas. Pouco me importariam as investigações da Polícia Federal e a miséria moral dos delatores premiados, se as revelações bombásticas não parecessem estar pavimentando o caminho para uma tentativa de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Afinal, acusações de corrupção já derrubaram um presidente (Fernando Collor) e ajudaram a derrubar outros três (Washington Luís, Getúlio Vargas e João Goulart).

Jamais poderia, contudo, ignorar uma das escaramuças da batalha de opinião que se trava entre acusadores e defensores da direção da Petrobrás: as tentativas de desqualificação da ex-gerente Venina Velosa da Fonseca, uma Francenildo de saias, que certamente seria aclamada pelo PT dos velhos e bons tempos.  Como a perspectiva dos companheiros mudou depois da chegada ao poder!

Nem sequer se dão conta de que os relatos de Venina convencem por estarem vindo ao encontro do que todo cidadão minimamente perspicaz já terá percebido. Os ataques a ela, além de sórdidos, são contraproducentes, autênticos tiros pela culatra.

Quando um partido dos trabalhadores começa a satanizar caseiros e funcionários para livrar a cara de ministros e presidentas de empresas, é hora de refletir seriamente sobre se sua sigla não virou propaganda enganosa.

O assassinato de reputações é uma das práticas mais odiosas da nossa vil política. 

domingo, 7 de dezembro de 2014

E AGORA, BRASIL?

"E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?

...o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?"
(Carlos Drummond
de Andrade)
A desinformação e a manipulação campeiam na internet, então é importante tornarmos conhecidas as poucas análises que realmente nos ajudam a compreender onde pisamos e o que nos espera adiante. 

É o que procuro sempre fazer, pinçando, aqui e ali, os textos jornalísticos que ainda cumprem a função de tornarem a verdade acessível aos cidadãos, ao invés de manipulá-los ao sabor de conveniências políticas.

Caso do excelente A música parou. E agora? (clique aqui para ler a íntegra), do veteraníssimo comentarista internacional Clóvis Rossi, cujos principais trechos reproduzo em seguida:

"...[quanto à América Latina], o sentimento predominante hoje é o de que a festa acabou ou, pelo menos, entrou em hibernação, até um novo ciclo de crescimento.

No Financial Times, John Paul Rathbone compara o momento latino-americano a um ciclista que atinge o pé de uma colina, depois de longo e fácil trajeto, e vê surgir nova colina.

'Exigirá trabalho duro para chegar ao topo', escreve. Até porque o crescimento, completa, pode se tornar rastejante.

Já se tornou, como mostram os dados divulgados na semana passada pela Cepal.

A previsão para este ano é de um crescimento de apenas 1,1% para os 20 países da América Latina, excluídos, portanto, os 13 do Caribe.

Distância sideral dos 6,2% registrados quando o subcontinente explodiu economicamente, na saída da grande crise de 2008/2009.

Foi o último ano dourado. De lá para cá, o crescimento foi minguando: 4,3% em 2011; 2,7% no ano seguinte; 2,8% em 2013.

Para o ano que vem, a previsão é de 2,2%, o dobro, portanto, do que se espera de 2014, mas, mesmo assim, um registro inferior ao de todos os demais anos 10, exceto 2014.

...Em balanço sobre a região, o jornal espanhol El País diz que 'a América Latina necessita adotar uma agenda audaciosa e crível de reformas estruturais, focalizada na melhoria da educação, das infraestruturas e do clima de negócios'.

Seriam, completa, 'as reformas de segunda geração, as reformas 2.0, longe do viés liberalizante dos anos 90 e adaptadas a economias que abandonaram os últimos postos em desenvolvimento econômico mas que ainda estão longe de dar respostas às demandas de sua crescente classe média'.

De fato, a América Latina chega à metade dos anos 10 em uma situação bem precária nos seus quatro grandes países.

O Brasil é uma ruína ética e tem sistema político claramente disfuncional; a Argentina voltou ao labirinto da crise; a Venezuela é uma ruína econômica e institucional; e o México corre o risco de tornar-se um Estado falido, em que o poder público perde o controle para o narcotráfico".

O artigo de Rossi desfaz quaisquer ilusões sobre a nossa situação atual: estamos no meio do que deverá ser outra década perdida para nosso subcontinente, sem que sequer possamos antever quando se dará a retomada do crescimento econômico. Vêm mais pibinhos por aí, com as consequências previsíveis em países que mal começavam a melhorar, homeopaticamente, seus indicadores socio-econômicos.

Talvez os rigores a que todos seremos submetidos causem turbulência em alguns dos países vizinhos, mas o povo brasileiro, pelo menos até agora, vem mantendo seu secular conformismo: acaba de reeleger uma presidenta que já demonstrou cabalmente não estar à altura dos desafios atuais (precisaríamos de estadista, não de uma gerentona) e, pior, parece ter perdido até as referências morais. 

É simplesmente estarrecedor que, em pesquisa recém divulgada pelo DataFolha, 68% dos consultados tenham considerado Dilma Rousseff parcial ou totalmente responsável pelo maior escândalo de corrupção de todos os tempos no Brasil, mas apenas 24% avaliem sua gestão como ruim ou péssima.

Não vou entrar no mérito da correção ou não do juízo que 68% fazem. Apenas, aponto o óbvio: é tamanha a gravidade do petrolão (o qual, ainda por cima, parece ser apenas a ponta de um iceberg) que, atribuindo culpa à presidenta, esses 68% teriam, obrigatoriamente, de repudiar sua gestão. Quase dois terços não o fizeram. 

Bem dizia Torquato Neto: aqui é o fim do mundo.  

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

VITÓRIA DE PIRRO NA CALADA DA MADRUGADA

O horário avançado não é desculpa: faltou aos parlamentares a iluminação da consciência.
O que mais me choca no governo do PT é seu pragmatismo tosco e obtuso. Desde a reviravolta na campanha presidencial de 2014 provocada pela morte de Eduardo Campos, o partido aboliu o pensamento estratégico e passou a ser movido pelo imediatismo dos apetites. Principalmente, sua fome avassaladora de poder.

Fez campanha sórdida e falaciosa contra Marina Silva, tornando-a para sempre inimiga. Reforçou, assim, a própria dependência dos apoios que necessita comprar, seja com cargos, seja com liberação de verbas, seja em espécie por debaixo do pano. 

Não dialoga com as forças afins, prefere discutir preço com os que antes eram inimigos e o continuariam sendo se tivessem caráter para tanto. Só que, identificando-se cada vez mais com as práticas podres da política oficial, cava a cova na qual acabará sendo enterrado.

O que começou mal só poderia mesmo acabar pior...
Fez campanha sórdida e falaciosa contra Aécio Neves, como se a esquerda tivesse o direito de ganhar eleições utilizando as mentiras e os abusos de poder característicos da direita. 

Não tem. Pois a esquerda almeja muito mais do que as meras vitórias eleitorais; existe para impulsionar uma transformação profunda da sociedade.  E só conseguirá concretizá-la incutindo esperanças nos explorados e organizando-os para a defesa dos seus direitos, não tangendo-os bovinizados para as cabines de votação.

Voltamos aos tempos em que se ganhavam eleições distorcendo as falas e intenções dos adversários, como em 1945, quando o brigadeiro Eduardo Gomes jamais disse que não precisava dos votos dos marmiteiros, mas a mentira mil vezes martelada acabou passando por verdade, à maneira de Goebbels.

Quase sete décadas depois, foi com mentiras tipo Marina Silva come na mão de uma banqueira e Aécio vai extinguir o bolsa-família que se desqualificaram os principais adversários. Continuamos sendo o país do eterno retorno.

Pior ainda foi o passa-moleque aplicado na esquerda independente (aquela que não oscila na órbita palaciana nem se deixa seduzir por boquinhas), aliciada pela candidatura governamental a golpes de alarmismo.

Vox populi, vox Dei (1)
Reais ou supostos intelectuais parecem ter acreditado candidamente que Marina e Aécio seguiriam o figurino neoliberal na condução da política econômica, enquanto Dilma jamais se avassalaria ao grande capital. 

Ledo engano. O Ministério anunciado para o segundo mandato, em termos ideológicos, arrancaria aplausos entusiásticos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan; se alguma restrição houvesse, seria apenas quanto à insignificância pessoal e profissional dos novos titulares. 

Ainda na categoria estelionato eleitoral, era dado como favas contadas que os dois vilões-mores, e apenas eles, entregariam as Pastas da área econômica a representantes de bancos, grandes indústrias e agronegócio. Gente como Joaquim Levy, Armando Monteiro e Kátia Abreu. Só rindo pra não chorar...

Vitórias a qualquer preço, conquistadas por diferença mínima em países nos quais a posse e mau uso da máquina governamental têm influência máxima, possuem o inconveniente de desunirem tais nações. É praticamente inevitável que os derrotados, quando acreditam não terem sido licitamente vencidos, tentem reverter o quadro.

Se, ademais, são eles que predominam nos estados pujantes, a encrenca é maior ainda. Como Marx cansou de demonstrar, são os países e/ou regiões com forças produtivas mais desenvolvidas que determinam o rumo que todos acabarão por seguir, não os grotões.

Vox populi, vox Dei (2)
De um jeito ou de outro, o poder econômico, nos países capitalistas, acaba se impondo ao poder político. A alternativa? Em médio e longo prazos, só existe uma: a revolução. No curto prazo, o PT esfalfa-se para retardar o inexorável --sem, contudo, ousar romper o pacto mefistofélico que firmou em 2002, quando se domesticou para que lhe permitissem governar. 

Salta aos olhos que há um grande esquema político sendo montado para impedir a presidenta Dilma Rousseff pela via constitucional. Só falta a definição de qual será o motivo alegado no pedido de impeachment.

O PT acaba de travar batalha insana para evitar que o descumprimento de diretrizes orçamentárias pudesse ser tal motivo. Mas, o vergonhoso resultado da refrega consagrou um casuísmo escandaloso, o efeito retroativo que jamais poderia servir como tábua de salvação para quem não fez a lição de casa no momento certo. Algo tão estapafúrdio que me fez lembrar o causo contado por Sebastião Nery, o nosso grande nome do folclore político. 

O todo poderoso coronel de um cafundó nordestino assistia a um jogo de futebol disputadíssimo e, no apagar das luzes, acontece um pênalti a favor dos visitantes. Os atletas da casa se revoltam, o campo é invadido, o coronel acaba tendo de decidir a questão. E dá o veredito: "O pênalti tem de ser cobrado, sim! Só que a nosso favor..."

Preocupado apenas com as aparências e formalismos legais, o governo não se dá conta dos estragos que a batota fiscal produziu em sua imagem.

Vox populi, vox Dei (3)
Nem percebe que os partidários do impeachment não desistirão, apenas vão escolher outro motivo. Gilmar Mendes tenta prover um, o petrolão oferece infinitas possibilidades. Mas dia, menos dia, esse bloco sairá à rua. Não vai dar pra segurar.

Estancar o processo de impeachment no nascedouro, evitando que ele tramite no Congresso, será a pior solução possível, pois vai tanger os opositores para a via verdadeiramente golpista. Bateriam de imediato na porta dos quartéis.

O melhor será a batalha se travar no terreno da legalidade democrática, ou seja: 
  • que o impeachment vingue e se dê posse a Michel Temer (argh!), como manda a Constituição;
  • ou que o impeachment seja apreciado, votado e rejeitado, o que dará à Dilma a credibilidade para governar que não tem neste momento.
É esta a batalha que o PT deveria travar, ao invés de perseguir sofregamente vitórias de Pirro na calada da madrugada.

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

PARA GABEIRA, DEPOIS DO JUÍZO FINAL VEM O APOCALIPSE...

Cada vez que aqui reproduzo textos alheios, recebo como troco as habituais espinafrações ad hominem, pois o debate de idéias e argumentos é estranho à maioria dos internautas. Estes preferem impugnar pessoas do que refletir sobre o que elas pensam. Seguem sempre a lei do menor esforço.

O diabo é que, assim, não sobra ninguém. Todo autor que escreve coisas minimamente interessantes pode ser acusado disto ou daquilo. A burrice, penhorada, agradece.

Então, tomei a decisão de acolher neste espaço o que, na minha avaliação, for inteligente e/ou consistente e/ou criativo e/ou relevante, pouco me importando os pecados e pecadilhos outrora cometidos ou atribuídos ao autor.

P. ex., vêm de longe minhas discordâncias e dissonâncias em relação ao Fernando Gabeira, mas seu artigo desta 6ª feira, 21, em O Estado de S. Paulo -Apocalipse, agora (acesse a íntegra aqui)- pegou no breu em vários trechos, os quais  reproduzo em seguida. 

Não estou endossando tudo que ele já escreveu, nem todas as decisões que tomou na vida. Mas, como o bom jornalista e perspicaz analista que ele é, hoje acertou várias vezes na mosca. E é isto o que importa, hoje. Quem fica escarafunchando o passado é arqueólogo.

Eis os trechos em questão:

"Passada uma semana do juízo final, ainda me pergunto: cadê a Dilma? Ela disse que as contas públicas estavam sob controle e elas aparecem com imenso rombo. Como superar essa traição da aritmética? Uma lei que altere as regras. A partir de hoje, dois e dois são cinco, revogam-se as disposições em contrário.

...Cadê você, Dilma? Disse que o desmatamento na Amazônia estava sob controle e desaba sobre nós o aumento de 122% no mês de outubro. Por mais cética que possa ser, você vai acabar encontrando um elo entre o desmatamento na Amazônia e a seca no Sudeste.

Cadê você, Dilma? Atacou Marina porque sua colaboradora em educação era da família de banqueiros; atacou Aécio porque indicou um homem do mercado, dos mais talentosos, para ministro da Fazenda. E hoje você procura com uma lanterna alguém do mercado que assuma o ministério.

Podia parar por aqui. Mas sua declaração na Austrália sobre a prisão dos empreiteiros foi fantástica. O Brasil vai mudar, não é mais como no passado, quando se fazia vista grossa para a corrupção. Não se lembrou de que seu governo bombardeou a CPI. Nem que a Petrobrás fez um inquérito vazio sobre corrupção na compra de plataformas. A SBM holandesa confessou que gastou US$ 139 milhões em propina.

E Pasadena, companheira?

O PT está aí há 12 anos. Lula vez vista grossa para a corrupção? Se você quer definir uma diferença, não se esqueça de que o homem do PT na Petrobrás foi preso. Ele é amigo do tesoureiro do PT. A cunhada do tesoureiro do PT foi levada a depor porque recebeu grana em seu apartamento em São Paulo.

De que passado você fala, Dilma? Como acha que vai conseguir se desvencilhar dele? A grana de suas campanhas foi um maná que caiu dos céus?

Um dos traços do PT é sempre criar uma versão vitoriosa para suas trapalhadas. José Dirceu ergueu o punho cerrado, entrando na prisão, como se fosse o herói de uma nobre resistência. Se Dilma e Lula, por acaso, um dia forem presos, certamente, dirão: nunca antes neste país um presidente determinou que prendessem a si próprio.

...É muito aflitivo ver o País nessa situação, enquanto robôs pousam em cometas e EUA e China concordam em reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O realismo precisa chegar rápido para a equação, pelo menos, de dois problemas urgentes: água e energia. Lobão é o ministro da energia e foi citado no escândalo. Com perdão da rima, paira sobre o Lobão a espada do petrolão. Como é que um homem desses pode enfrentar os desafios modernos da energia, sobretudo a autoprodução por fontes renováveis?

Grandes obras ainda são necessárias. Mas enquanto houver gente querendo abarcar o mundo a partir das estatais, empreiteiras pautando os projetos, como foi o caso da Petrobrás, vamos patinar. O mesmo vale para o saneamento, que pode ser feito também por pequenas iniciativas e técnicas, adequadas ao lugar.

Os homens das empreiteiras foram presos no dia do juízo final. Este pode ser um caminho não apenas para mudar a política no Brasil, mas mudar também o planejamento. A crise hídrica mostra como o mundo girou e a gente ficou no mesmo lugar. Existe planejamento, mas baseado em regularidades que estão indo água abaixo com as mudanças climáticas.

O dia do juízo final não foi o último dia da vida. É preciso que isso avance rápido porque um ano de dificuldades nos espera. Não adianta Dilma dizer que toda a sua política foi para manter o emprego. Em outubro, tenho 30.283 razões para desmentir sua fala de campanha: postos de trabalho perdidos no período.

Não será derrubando a aritmética, driblando os fatos que o governo conseguirá sair do seu labirinto. 

...O ministro da Justiça vê o incômodo de um terceiro turno. Não haverá terceiro turno, e, sim, terceiro ato. E ato final de uma peça de teatro é, quase sempre, aquele em que os personagens se revelam. Por que esses olhos tão grandes? Por que esse nariz tão grande, as mãos tão grandes, vovozinha?"

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

JUÍZO FINAL: RIU MELHOR QUEM RIU POR ÚLTIMO!

"[Quando se constatou que] havia alguma coisa de podre no reino da Petrobras, meu primeiro pensamento foi o calvário de um jornalista, meu amigo Paulo Francis. No programa que então fazia, gravado em Nova York, ele acusou os sobas que mandavam na maior estatal do Brasil.

Não chegou a citar nomes, falou que o estado maior da Petrobras, engenheiros, diretores e seus respectivos patronos formavam uma quadrilha de bandidos que roubavam descaradamente a empresa, justamente em sua cúpula administrativa e técnica.
Evidente que a 'suspeita' do Francis foi desmoralizada pela própria Petrobras, que usando e abusando do dinheiro da fraude, processou o jornalista por calúnia, no foro de um país que tem a fama de ser o mais severo na matéria. A multa chegaria a US$ 100 milhões, mais custas e honorários.

...A Petrobras, com o dinheiro dos outros, venceu a questão.

Paulo Francis entrou em depressão, tal e tanta, que meses depois morreu subitamente..." (Carlos Heitor Cony)

sábado, 15 de novembro de 2014

TEMPESTADE À VISTA!

O post do início da tarde desta 6ª feira (14), Amanhã é dia do PT segurar seus radicais (clique p/ abrir), foi a forma que encontrei para ir fazendo os companheiros petistas se compenetrarem de uma perspectiva desagradável: Dilma Rousseff dificilmente chegará ao final de 2015 como presidenta da República.

E a crise se agravou ainda mais com o lançamento, por parte da Polícia Federal, de uma nova e estridente fase da Operação Lava-Jato --a qual, somada às investigações estrangeiras, praticamente obriga outros órgãos e Poderes a saírem de sua letargia, começando a cumprirem verdadeiramente seu papel. 

Para os petistas ainda lembrados da velha dialética que aprendíamos no comecinho da nossa trajetória na esquerda, explico didaticamente: a quantidade de evidências insofismáveis de corrupção governamental já é suficiente para gerar um salto de qualidade, qual seja o questionamento do governo como um todo. O escândalo tem proporção muito maior que o do mensalão e deixa o Collorgate no chinelo.

Dilma, pateticamente, reluta em descartar Graças Foster, quando deveria é estar se ocupando das próprias chances de permanência no poder, cada vez menores.

Então, só me resta reforçar o recado dado nas entrelinhas do texto anterior: é o pior momento possível para radicalismos na defesa do mandato de Dilma, pois existe enorme risco de novamente inaugurarmos a temporada de golpes de direita na América do Sul, como aconteceu em 1964.

Caso as consequências políticas da petrotempestade sejam decididas pelo Congresso, aprovando ou negando o impeachment de Dilma, permaneceremos no terreno da civilização. Com as regras do jogo democrático mantidas, o PT poderia até dar a volta por cima na eleição presidencial de 2018, por que não? Foi o que Getúlio Vargas fez em 1950.

Se, contudo, os petistas conseguirem fechar esta porta, evitando que o impeachment seja objeto de deliberação do Legislativo, todos deveremos precavermo-nos contra a repetição dos cenários de 1954 e 1964, que passará a ser uma possibilidade bem concreta. 

Quem conhece a direita brasileira sabe que, em tais situações, a porta seguinte na qual ela bate é sempre a mesma: a dos quartéis.

sábado, 18 de outubro de 2014

DILMA SEGUE O CONSELHO DO BLOGUE: ADMITE CORRUPÇÃO NA PETROBRÁS E PROMETE "RESSARCIR TUDO E TODOS".


No post Propinoduto: Dilma deve fazer o jogo da verdade ou continuar tapando o sol com a peneira? (acesse aqui), eu reproduzi uma notícia da Folha de S. Paulo sobre os bastidores do PT, dando conta de que alguns grãos petistas aconselhavam a presidenta a admitir a ocorrência de práticas condenáveis na Petrobrás e outros, a manter a desconversa.

Apontei-lhe o bom caminho: "...agirá bem a presidenta Dilma se preferir fazer o jogo da verdade, deixando de tapar o sol com a peneira".

E conclui com um bordão de minha autoria (por que não?): a transparência é revolucionária!

Registro, com satisfação, que desta vez a Dilma ficou com os mocinhos, botando os bandidos pra correr. Eis sua declaração deste sábado, 18:
"Eu farei todo o meu possível para ressarcir o País. Se houve desvio de dinheiro público, nós queremos ele de volta. Se houve, não; houve! Eu tomarei todas as medidas para ressarcir tudo e todos".
Bravíssimo! 

UM ESPECTRO RONDA O BRASIL

Este blogue tem, para mim, dupla função: 
  • há textos que publico aqui e também em vários outros espaços cativos de que disponho, além de difundir por e-mails, pois quero que tenham repercussão mais ampla; e
  • há textos que publico apenas aqui, como um tipo de conversa íntima com meu público mais constante.
No segundo caso está este post, na esperança de que permaneça no círculo de meus amigos e leitores de longa data. Os demais poderiam interpretar como terrorismo eleitoral, o que não é.

Quero apenas deixar registrado que me inquietam muito os rumos da sucessão presidencial. Pode vir coisa ruim demais por aí.

Na edição da veja que chegou às bancas neste sábado, a matéria de capa é exatamente a que previ. Desde que os delatores premiados começaram a abrir o bico, eu não tinha nenhuma dúvida de que, no penúltimo sábado antes do 2º turno, a revista faria estardalhaço com sua denúncia mais contundente.

O doleiro Alberto Yousself, diz a revista, acaba de entregar à Polícia Federal provas de que a campanha de 2010 de Dilma foi em parte financiada com dinheiro desviado da Petrobras.

Então, podemos ter a certeza de que, caso Dilma seja reeleita:

  • a oposição entrará em 2015 com um pedido de impeachment, pois o apurado na Operação Lava Jato é suficiente para o respaldar;
  • no ano que vem necessariamente começará um ajuste recessivo na economia, cuja intensidade e duração não é possível prevermos, mas fará, claro, aumentar a insatisfação popular.
A simultaneidade destes dois acontecimentos criará um caldo de cultura propício para golpe de estado. 

Convido os companheiros a refletirem sobre meu alerta, não com antolhos eleitoreiros, mas pensando mais longe. O perigo que nos ronda vai muito além desse duelo de baixarias que passa por ser eleição. E, repito, não podemos ser pegos desprevenidos como o fomos em 1964. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

PROPINODUTO: DILMA DEVE FAZER O JOGO DA VERDADE OU CONTINUAR TAPANDO O SOL COM A PENEIRA?

Como jornalista veterano, sinto-me muito frustrado por não contar atualmente com fontes que me passem informações de cocheira. Este é um privilégio de quem está na ativa e em veículos importantes, podendo, portanto, oferecer a contrapartida --ou seja, prestar favores jornalísticos a tais fontes. Toma lá, dá cá.

Então, só me resta disponibilizar para os leitores deste blogue as notícias sobre movimentações nos bastidores que encontro na mídia e me pareçam significativas, de antemão alertando que nem sempre os informantes são isentos, podendo ter induzido os repórteres a erros.

A notícia Ala do PT propõe que Dilma reconheça erros na Petrobras, da sucursal de Brasília da Folha de S. Paulo, apresenta um quadro plausível da disputa que certamente está rolando nos círculos decisórios do partido. Se correto ou não, é impossível nós, que estamos do lado de fora, determinarmos.

Enfim, se non è vero, è ben trovato, diriam os italianões da Mooca e do Brás que eu conheci na minha meninice.

Dando-se crédito ao relato dos repórteres Valdo Cruz e Natuza Nery, agirá bem a presidenta Dilma se preferir fazer o jogo da verdade, deixando de tapar o sol com a peneira.

Hoje mais do que nunca, face ao que muitos esquerdistas se tornaram, a transparência é revolucionária! 

Eis o que há de mais interessante na notícia:

A cúpula da campanha da presidente Dilma Rousseff está dividida sobre a melhor estratégia para enfrentar o escândalo da Petrobras...

Um grupo avalia que a tática mais eficaz seria reconhecer que houve erros na gestão da estatal, insistir que os culpados devem pagar por eles e que a Justiça Federal dará a palavra final sobre a responsabilidade de cada um, buscando virar a página do escândalo.

Segundo a Folha apurou, são favoráveis a esta posição o marqueteiro da campanha João Santana, Miguel Rossetto, um dos coordenadores da campanha, Jaques Wagner, atual governador da Bahia, e Fernando Pimentel, governador eleito de Minas Gerais.

Outro grupo, integrado por Rui Falcão, presidente do PT, Aloizio Mercadante, ministro da Casa Civil, e Franklin Martins, da coordenação da campanha, acredita que Dilma deveria seguir na linha atual, defendendo a reforma política como escudo contra desvios e questionando as acusações feitas pelo ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.

O tema foi debatido nesta semana em reunião da cúpula de campanha petista. Por enquanto, prevalece a tese do segundo grupo... 

A presidente Dilma, segundo interlocutores, até gostaria de optar pela estratégia de admitir que houve erros na estatal e tentar se descolar do escândalo da Petrobras. Mas resiste, ainda, por acreditar que compraria briga com o PT na reta final da campanha.

...Segundo auxiliares da petista, o desgaste do governo só aumentará, se o PT e o Palácio do Planalto optarem apenas por uma postura reativa. Como na semana passada, em que negaram as irregularidades e atacaram a divulgação dos depoimentos do ex-diretor da Petrobras e do doleiro Youssef à Justiça.

Um interlocutor de Dilma disse que será um erro o PT ficar insistindo na tecla de que as declarações do ex-diretor e do doleiro são caluniosas. 

Segundo ele, os áudios divulgados e a informação de que Paulo Roberto Costa vai devolver R$ 70 milhões frutos de corrupção dão credibilidade a, no mínimo, parte importante das acusações contra o partido.

...O receio é que, nos próximos dias, surjam mais novidades do escândalo, com citação de envolvimento de assessores do governo e de aliados, o que deixaria a presidente em situação ainda mais difícil.

Pesquisas qualitativas mostram que já se cristalizou na opinião pública a visão de que existia, de fato, um esquema de corrupção dentro da Petrobras.

A cúpula petista, porém, não concorda com essa visão. Diz que o partido e o governo não podem ficar acuados diante das denúncias e que precisam se defender.

DEBATE DE CANDIDATOS-PRODUTO É A QUINTESSÊNCIA DA CHATICE

Certa vez, no auge de Hollywood, um grande escritor foi convidado a criar o roteiro de um filme. Como não estivesse familiarizado com a chamada sétima arte, pediu para os produtores lhe mostrarem uma fita que desse boa noção de sua tarefa. Foi, começou a assistir... e logo saiu correndo, horrorizado com a mediocridade do cinema comercial. 

É o que tenho vontade de fazer sempre que acompanho um debate eleitoral da era dos candidatos-produto, exaustivamente adestrados por uma legião de marqueteiros para darem as respostas que melhor cumpram a função de bajular eleitores, a partir das conclusões tiradas de toneladas de pesquisas qualitativas sobre as reações dos vários segmentos da população a cada tema. 

Que saudades dos tempos em que não havia pacote pronto nem staff todo-poderoso, em que ainda se desbravavam os caminhos e aconteciam situações realmente pitorescas, como estas:
  • quando Richard Nixon foi ao confronto decisivo contra John Kennedy com a barba por fazer. Mais do que os argumentos, o eleitorado dos EUA comparou o garboso Kennedy ao mal-encarado Nixon, com os resultados conhecidos;
  • quando um deputado dos mais obesos, querendo entregar alguns papéis a Jânio Quadros no ar, foi se arrastando pelo chão com seu corpanzil de urso, por baixo do ângulo captado pelas câmeras... sem imaginar que, maldosamente, elas se voltariam na sua direção, expondo a todos os telespectadores o ato de puxa-saquismo explícito;
  • quando Franco Montoro, aproveitando a vantagem de ser sua a última intervenção do debate, acusou Jânio Quadros de torpeza (havia sido vítima da ditadura e estava mancomunado com os antigos perseguidores), deixando o homem da vassoura à beira de um ataque de nervos, pois suas tentativas furibundas de retrucar eram bloqueadas pelo mediador;
  • quando o jornalista Boris Casoy perguntou a Fernando Henrique Cardoso se ele acreditava em Deus e FHC se queixou de que haviam combinado não tocar nesse assunto, deixando a impressão de que ele evitava admitir sua condição de ateu (muitos analistas acreditaram ser este o motivo da surpreendente virada de Jânio Quadros, na enésima hora);
  • quando Brizola e Maluf perderam as estribeiras e ficaram se xingando no ar. "Filhote da ditadura!", repetiu várias vezes o gaúcho, enquanto o outro respondia: "Desequilibrado! Desequilibrado! Passou 15 anos no estrangeiro e não aprendeu nada!";
  • quando Lula teve um apagão no debate decisivo com Collor e reagiu com apatia aos ataques do inimigo, não contestando sequer a afirmação de que seu aparelho de som era melhor que o do ricaço das Alagoas (já ouvi dizerem que se tratou de uma armadilha evitada: a espionagem do Collor teria obtido um recibo de compra de aparelho de som caro, constrangedor para Lula);
  • quando o mesmo Collor, tentando voltar à tona depois de expelido do poder, foi escalado para formular uma questão ao folclórico Enéas Carneiro e, depois de pensar um pouco, desistiu: "Fale qualquer coisa aí!". Enéas gastou seu tempo criticando o próprio Collor, que esnobou de novo o adversário, desprezando a chance da réplica: "Pode continuar!".
Hoje tudo é mais previsível, os escorregões são menos frequentes e os candidatos para cargos importantes estão bem escolados nas técnicas da embromation. O tédio impera, a chatice é insuportável.

EXAUSTOS, AMBOS ENTOARAM 
VÁRIAS VEZES A MESMA LADAINHA...

No debate entre a presidenta Dilma Rousseff  e o senador Aécio Neves na Band, o que saiu do script foi a primeira ter dado uma ligeira travada (lembrou o filme 8 mile), recompondo-se depois de angustiantes segundos de branco; a exaustão física e mental que se notava em ambos, a ponto de entoarem várias vezes a mesma ladainha (Aécio invocando seu índice de aprovação quando deixou o governo de MG, Dilma aludindo ao Pronatec umas 30 vezes, como vitrola quebrada de outrora); pelo mesmo motivo, a falta de articulação que mostravam em alguns momentos, perdendo o fio da meada e enveredando, para disfarçar, por assuntos sem ligação nenhuma com o que estavam falando; os erros crassos de concordância que cometiam quando exaltavam as excelências... da educação!

Pior mesmo foi o medo de chutar o balde, mesmo quando a verdade pegaria muito melhor do que as desculpas esfarrapadas.

Ao invés de sustentar (e ninguém acreditar) que nada houve de errado na construção do aeroporto de Cláudio, Aécio poderia ter dito que o custo de R$ 13,4 milhões, ou R$ 17,9 milhões corrigidos, foi uma merreca na comparação, p. ex., com o propinoduto, em que um personagem do escalão intermediário do esquema mafioso admitiu um ganho ilícito de R$ 70 milhões (é quanto vai devolver aos cofres públicos, mas, se alguém acreditar que o Paulo Roberto Costa abocanhou só isto, pode passar na secretaria e retirar seu diploma de otário...).

Quanto ao Pronatec, nenhum político ousará lembrar que as empresas, para disporem dos quadros técnicos que lhes são imprescindíveis, sempre os formaram por si mesmas quando o governo não investia nesta área. Então, a menina dos olhos da Dilma é um programa que transferiu para a União parte dos custos que os Senais da vida bancavam sozinhos. Os capitalistas agradecem. 

E que dizer da insistência de Dilma em insinuar que quem não apoiou a CPMF, aquele famigerado imposto do cheque, foi um sabotador da Saúde? Contribuição introduzida emergencialmente e que foi sendo eternizada à base de subterfúgios, servia (como os pedágios das rodovias) para o Estado espertamente poupar verbas que eram desviadas/desperdiçadas alhures. Terminou da forma mais melancólica possível, com rejeição acachapante e sob suspiros aliviados dos cidadãos, os quais detestavam ser extorquidos por um tributo travestido em contribuição provisória.  

O festival de escândalos que assola o País e as evidências gritantes de parasitismo e esbanjamentos na administração pública são evidências mais do que suficientes de que não faltariam verbas para a Educação, a Saúde, a humanização do transporte coletivo e outras prioridades verdadeiras, se os recursos existentes não fossem drenados pela politicalha. Afinal, a carga tributária brasileira é das mais elevadas e não pára de crescer, como se constata aqui.

De resto, o debate foi parelho nas escaramuças entre ambos. No entanto, o Aécio levou a vantagem de ir ao encontro do que o homem comum está sentindo: a economia estagnou e a inflação voltou. Ele martelou isto ad nauseam, sem que a Dilma, coitada!, tivesse como retrucar de forma convincente. Contra fatos não há argumentos.

Ainda não caiu, para a campanha da Dilma, a ficha de que o eleitorado não quer MAIS DO MESMO, Quer, isto sim, MAIS DO QUE O MESMO.

Se a candidatura governista não conseguir convencê-lo de que a Dilma tem como ir além do que já foi, ele tentará avançar com o Aécio, por mais que os petistas gritem "cuidado com o tucano papão!".

terça-feira, 14 de outubro de 2014

AINDA SOBRE O AMARGOR E A ESPERANÇA

Seu espectro agora é amplo, não apenas midiático...
Como não acredito que as verdadeiras soluções para os dramas brasileiros possam ser oferecidas pelos partidos e candidatos da política oficial, além de avaliar as opções oferecidas ao eleitorado na eleição presidencial de 2014 como pouquíssimo alentadoras, tenho me limitado a defender algumas posturas mais consequentes e a apresentar contrapontos  às propostas dos principais candidatos. Ou seja, tento levantar discussões que considero mais importantes do que a eleição em si, aproveitando o interesse despertado pelo pleito. 

Nem sempre sou bem sucedido, pois a forma primária e simplista da maioria dos internautas encarar as reflexões sobre política é atribuindo aos articulistas motivações menores, torcida por tal ou qual candidato. Colocada a questão nestes termos, eu verdadeiramente não estaria torcendo por ninguém, mas sim torcendo contra as principais candidaturas.

Como meus textos costumam seguir na contramão das pregações e práticas petistas, os fanáticos pela estrela desbotada já tentaram me desqualificar com absurdos (o de que, depois de 46 anos lutando pela revolução, eu teria mudado de lado) ou psicologices (a de que eu estaria desnorteado pelo rancor, em razão da falta de solidariedade e de espírito de justiça por parte dos grãos petistas, que cruzam os braços diante da perseguição que as burocracias do Estado me movem na questão da minha indenização retroativa de vítima da ditadura).

O segundo motivo faria algum sentido em se tratando de outra pessoa, mas os verdadeiros militantes revolucionários somos diferentes. Espelho-me na postura de Trotsky, o comandante operacional da revolução soviética de 1917 e o grande responsável por sua sobrevivência nos campos de batalha, que depois sofreria as piores injustiças. Nem mesmo seus entes queridos foram poupados. Ainda assim, ele se recusava a ser erigido em mártir, afirmando desconhecer qualquer "tragédia pessoal". Ou seja, o desvirtuamento da revolução era uma tragédia coletiva que atingira a ele como a tantos outros que se mantiveram fiéis aos ideais bolcheviques.
Aniquilação do inimigo é parte da cultura fascista, não da nossa.

O fato certo é que eu estava plenamente sintonizado com o ideário petista ao aderir ao partido nos seus primórdios, mas nossos caminhos cada vez mais foram se distanciando. 

Agora, p. ex., vejo a campanha dilmista insuflar desmedidamente o ódio e o medo, como se o único motivo para o eleitor reeleger a presidenta fossem as mazelas supostas ou reais de Aécio Neves e dos tucanos.

Enquanto isto, muito mais perspicazes e profissionais, os opositores fazem uma campanha para cima e martelam o tempo todo que, aos ataques e agressões, respondem com metas e soluções.

Os torcedores de esquerda, aqueles que abdicam do pensamento crítico e se tornam tão fanáticos quanto os devotos da Igreja Universal ou da Renascer, não só aplaudem tal postura execrável, quanto a praticam. Parecem ignorar que, assim, só sensibilizam e atraem os piores seres humanos. Satanizar o inimigo, desumanizando-o para transformá-lo no espantalho contra o qual os prosélitos se unem, não difere em nada do que a Ku Klux Klan fazia com os negros e Hitler com os judeus. 

Então, ao deplorar tal linha de atuação, apenas estou sendo coerente com o que sempre preguei. E não vejo motivo nenhum para deixar de fazê-lo só porque do outro lado está o PT. Defendo os mesmos princípios em todas as situações e quaisquer que sejam os personagens do drama. Isto se chama coerência.
Devemos personificar a esperança, não a vingança.

Eis, p. ex., como me posicionei em agosto de 2011 sobre o assunto, num artigo apropriadamente intitulado O amargor e a esperança (acesse-o aqui), no qual: 1) questionava os internautas que defendiam a aplicação da lei de talião contra os criminosos; e 2) recriminava os esquerdistas selvagens que, em nome da realpolitik, se alinhavam com um dos ditadores mais sanguinários do planeta:
"No fundo, são dois exemplos de um mesmo comportamento: pessoas que abdicam de serem boas, justas, nobres e dignas. Preferem ser amargas, más, rancorosas e vingativas. Optam por jogar a civilização no lixo, apoiando a imposição da força bruta e abrindo as portas para a barbárie.
Mas, nem a criminalidade será extinta com o extermínio dos bandidos (outros tomarão seu lugar, indefinidamente), nem a revolução mundial avançará um milímetro com a esquerda apoiando tiranos execráveis. Quem é guiado pelo amargor, apenas se coloca no mesmo plano do mal que combate, abdicando da superioridade moral e desqualificando-e para liderar o povo na busca de soluções reais.
No caso dos esquerdistas desnorteados, eles esquecem que os podres poderes se sustentam exatamente na descrença dos homens quanto às possibilidades de mudar o mundo.
Céticos, eles se tornam impotentes. Cabe a nós devolvermo-lhes as esperanças.
Nunca teremos recursos materiais equiparáveis aos do capitalismo. Nosso verdadeiro trunfo é personificarmos tais esperanças -- principalmente a de que a justiça social e a liberdade venham, enfim, a prevalecer. 
...ou falamos o que faz sentido para os melhores seres humanos (os únicos que conseguiremos trazer para nosso lado no atual estágio da luta) ou continuaremos falando sozinhos, sem força política para sermos verdadeiramente influentes".
É no que sempre acreditarei. Então, lamento imensamente que, no 2º turno da eleição presidencial, sejam os tucanos que apostem na esperança e seja o PT que instile o ódio. Isto poderá até servir para ganhar a eleição, mas não para reconquistar os idealistas e os justos, trazendo-os de volta para o nosso lado, como estavam, em peso, nos estertores da ditadura e alvorecer da Nova República.

Nós carecemos, desesperadamente, desses quadros de qualidade superior, movidos por ideais e não por interesses. São o ponto de partida para começarmos a reconstruir a esquerda brasileira, depois de sua credibilidade ter atingido o fundo do poço. 
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