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sábado, 19 de outubro de 2019

O GOVERNO DA ENTROPIA ACELERA SUA MARCHA PARA O CAOS

vinícius torres freire
VELHA POLÍTICA COME BOLSONARISMO PELA 
BEIRADA E GOVERNO
 VIRA PÓ NO CONGRESSO
A primeira consequência do arranca-rabo no PSL é uma nova rendição de bolsonaristas ao que chamavam de gente da velha política. O DEM e dois grandes derrotados na eleição de 2018, o MDB e o PSDB, recolhem armas e despojos do governo e de seu partido saco-de-gatos, o PSL.

A segunda consequência do pega para capar é a exposição ainda mais pública de podres, o que pode degringolar em apresentação de recibos de crimes eleitorais e partidários, pois o objeto menos demente da disputa do PSL é dinheiro. 

A turumbamba vulgaríssima no partido do presidente parece tanto mais louca quando se observa que o governo talvez estivesse à beira de se aproveitar de um alívio, mesmo que temporário, na depressão econômica.

A sobrevivência econômica do governo já dependia da política de parlamentarismo branco de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, do DEM, e lideranças do centrão. Dependia também da experiência velha política de Fernando Bezerra, líder do governo no Senado, do MDB, mantido por Bolsonaro mesmo depois de avariado por batidas da Polícia Federal.

Agora, o novo líder do governo no Congresso é também do MDB, o senador Eduardo Gomes, de Tocantins. Foi do Solidariedade de Paulinho da Força, tem boas relações com Renan Calheiros, com o centrão e é tido como habilidoso por gente esperta no Congresso.

O líder do governo na Câmara é Major Vitor Hugo, PSL, bolsonarista de escol e ignorado por seu partido e deputados de relevância. 

O líder da bancada do PSL, Delegado Waldir, foi fritado pelo próprio Bolsonaro, como se soube pelo vazamento dos grampos das reuniões elegantes do PSL. O Delegado, por sua vez, chamou Bolsonaro de vagabundo, à maneira galante de seu partido.

Gomes, do MDB, substitui Joice Hasselmann, campeã de votos do PSL, estrela midiática do bolsonarismo, que pode se bandear para o PSDB, talvez possível candidata a prefeita de São Paulo, o que espremeria o espaço de um candidato de Bolsonaro na maior cidade do país. 

O PSDB de João Doria, governador paulista, quer levar mais dissidentes da rinha de galo bolsonarista. O DEM quer levar outros, quem sabe o resto do PSL inteiro, gordo de recursos partidários, por meio de uma fusão.

No retrato do tumulto, o governo enquanto tal, como conjunto político-administrativo com alguma direção, desaparece da foto ou nela sai muito mal. Há nichos de governo, como a Economia e a Infraestrutura, que discutem projetos com o premiê informal Maia, em particular. Conjunto, não há.

Além de cuidar dos filhos e dos negócios da família, Bolsonaro se limita à tentativa de fazer um catadão de gente de bancadas temáticas, em especial da Bala e da Bíblia, a fim de dar futuro a seu programa reacionário em direitos civis, participação social, educação, cultura e segurança. 

Um motivo do sururu do PSL, causa aparentemente menor, é o desejo dos Bolsonaro de criar um partido disciplinado de extrema-direita, quem sabe um movimento social amplo de militância contra o Iluminismo.

O sururu do PSL pode ser apenas espuma, um horror sensacional por alguns dias que não resulte em nada mais do que já era previsível: a desorientação política que vem desde a formação do governo.

O problema de fundo é o desprezo pela razão, no mero sentido de realismo político ou mesmo de pragmatismo vulgar, desprezo disparatado que pode tumultuar o programa que boa parte da elite econômica acerta diretamente com o Congresso. (por Vinícius Torres Freire)
"Conheço bem minha história/ Começa na lua cheia/ E termina antes do fim/ 
Aqui é o fim do mundo/ Aqui é o fim do mundo/ Aqui é o fim do mundo"

terça-feira, 19 de abril de 2016

AS LÁGRIMAS DOS TRABALHADORES ME COMOVEM. A AUTO-VITIMIZAÇÃO DOS PODEROSOS, NÃO!

Então, ficamos assim: Dilma Rousseff desistiu de convencer os cidadãos conscientes e politizados de que mereça continuar presidente da República, passando a direcionar seu discurso para os indivíduos despolitizados e suscetíveis de se deixarem iludir pela demagogia rasteira. 

Mas, claro, a penúria para a qual deu enorme contribuição é um considerável empecilho. Papo furado não bota pão na mesa. E quando falta pão, poucos se satisfazem com embromação.

Ela protesta inocência, mas sua culpa é imensa: assumiu a Presidência quando os cenários econômicos mundiais começavam a se tornar desfavoráveis para o Brasil e quis porque quis exumar o vetusto nacional-desenvolvimentismo da década de 1950, tentando fazer a economia deslanchar graças a  perdulários estímulos estatais. 

Como a História só se repete em farsa, o resultado foi péssimo: retração dos investimentos, perda de competitividade, evolução incipiente (e depois negativa) do PIB, tendência inflacionária só mitigada pela queda de poder aquisitivo dos consumidores. 

Resumindo: quebrou a cara  e engatilhou uma forte recessão para o quadriênio 2015/18. 

Aí bateu o desespero e ela mandou seus valores esquerdistas às urtigas, adotando a racionália do inimigo de classe.

Primeiramente fez campanha à reeleição escondendo do povo a situação crítica da economia e a decisão já tomada de dar uma guinada de 180º à direita. Pelo contrário, acusou Marina Silva e Aécio Neves de pretenderem fazer o que ela já havia resolvido fazer. Ou seja, o compromisso dos revolucionários com a verdade virou pó de traque. E os trabalhadores que seu partido deveria representar foram tratados como otários.

Foi o estelionato eleitoral mais grotesco da política brasileira em todos os tempos, pior ainda do que quando a campanha de Eurico Gaspar Dutra atribuiu em 1945 a Eduardo Gomes uma afirmação que este jamais fizera, a de que não necessitaria dos "votos de marmiteiros [operários]". 

Tão logo foi empossada, Dilma jogou as bandeiras econômicas do PT no lixo e aderiu ao neoliberalismo de Milton Friedman, Ronald Reagan, Margaret Thatcher e Augusto Pinochet tendo, ainda por cima, a implementá-lo um economista inexpressivo que o presidente do Bradesco, Luís Carlos Trabuco, indicou, depois de declinar o convite para pilotar ele próprio a barca furada.

Desde o primeiro momento alertei que jamais daria certo, pois um partido originário na esquerda não consegue governar com uma política econômica escrachadamente de direita. 

Foi o que João Goulart aprendeu da maneira mais difícil: ele pretendia ir transformando o Brasil com as reformas de base (vide aqui), enquanto, em termos imediatos, mantinha diretrizes econômicas convencionais, aplicadas por ministros moderados como Carvalho Pinto e San Tiago Dantas. Mas, o fogo amigo de Brizola e do PCB inviabilizou tal intenção e afugentou tais ministros, colocando o governo na rota da radicalização (que era tudo de que os golpistas precisavam para o sucesso da quartelada há tanto tramada...).

A História se repetiu: Joaquim Levy não conseguiu socar o ajuste fiscal goela dos brasileiros adentro e a situação econômica brasileira não cessa de piorar ao longo deste segundo governo de Dilma.

É difícil quantificar algo assim, mas o ziguezague de Dilma na condução da economia seguramente aumentou em milhões o número de desempregados, que seria considerável de qualquer forma, mas não tanto (uma pista: na comparação do quarto trimestre de 2014 com idêntico período de 2015, aumentou em 2,6 milhões o número de pessoas procurando emprego sem encontrar).

Por que considero Dilma pessoalmente responsável pelo desastre econômico?

Primeiramente, pela arrogância & ignorância com que tentou fazer a História retroceder mais de meio século, como se a globalização dos mercados não houvesse mudado a face da economia capitalista nesse meio tempo. 

O delírio retrô de Dilma acabou resultando num formidável tiro pela culatra: o símbolo maior do nacionalismo dos anos 50, a Petrobrás, foi praticamente destruído sob sua tutela, como presidente do Conselho de Administração (2003/2010), ministra das Minas e Energia (2003/2005), chefe da Casa Civil (2005/2010) e presidente da República (desde 2011).

E, após suas diretrizes econômicas do primeiro mandato terem sido pulverizadas pela realidade, por ter tentado conciliar duas grandezas incompatíveis entre si. Deveria governar como petista no segundo mandato ou afastar-se do PT e buscar o apoio de tucanos e peemedebistas para seu ajuste fiscal. Não fez uma coisa nem outra, acabando por nos conduzir ao pior dos mundos possíveis.

O estelionato eleitoral que a reelegeu e o desastre econômico que protagonizou a fazem totalmente merecedora do impeachment ou cassação do seu mandato, pois o País não pode continuar paralisado como está há 15 meses e meio. Blablablá legalista não altera o fato de que nações não se suicidam, nas circunstâncias extremas fazem o necessário para sobreviver (justificativas legais sempre são encontráveis).

E, o principal: o povo sofredor não merece tamanho aumento dos seus tormentos, nem tem como aguentar isso por muito tempo mais.  

Dilma jura inocência pessoal, como se fosse uma autista que ignorava todas as ilegalidades que ocorriam sob seu nariz e como se isto importasse alguma coisa em contraste com a devastação que causou. E os milhões de desempregados, eram culpados de alguma coisa? 

Como revolucionário, estarei sempre ao lado dos coitadezas contra os poderosos. Tenho dedicado toda minha vida consciente à causa dos explorados, não à defesa de governantes omissos e incompetentes. Mantenho minha opção.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

VICTOR LULENSTEIN OPTOU POR DESTRUIR SUA CRIATURA IMPERFEITA

A facção dilmista tudo fez para que o PT salvasse Eduardo Cunha no Conselho de Ética, pois este era o preço a ser pago para que o dito cujo não tocasse adiante o impeachment presidencial.

A facção lulista tudo fez para que o PT detonasse Cunha, com a consequência óbvia.

Qual a lógica?

Quanto maior for a duração da agonia de Dilma, mais se acentuará a desmoralização do partido, pulverizando as chances de Lula na eleição de 2018.

Se ela cair depressa haverá uma mexida no quadro e, caso o novo governante fracasse, é bem possível que Lula volte daqui a três anos nos braços do povo, erigido em salvador da Pátria.

Então, como na novela célebre de Mary Shelley e no filme ora em cartaz, Victor Frankenstein (ou seria Lulenstein?) optou por destruir sua criatura imperfeita.

A SEQUELA DO ESTELIONATO ELEITORAL: 
O BRASIL ESTÁ INGOVERNÁVEL HÁ 11 MESES.

Não sendo jurista, prefiro me manifestar sempre em consonância com o espírito de Justiça, que Platão dizia ser inerente ao ser humano.

Desde que Dilma Rousseff foi reeleita por pequena margem –38,16% dos eleitores votaram nela, 35,74% em Aécio Neves e 26,10% (abstenções, brancos e nulos) não se animaram a votar em ninguém–, considero sua vitória ilegítima.

O motivo, claro, é o clamoroso estelionato eleitoral. Quantos dos seus 54.501.117 eleitores a teriam escolhido se soubessem que, assim agindo, não estariam escapando do aperto de cinto e das vacas magras? 

A propaganda enganosa petista foi muito eficiente em convencer os incautos de que os adversários abririam as portas do inferno enquanto Dilma botaria pra correr os demônios da ganância. 

Mas, quando ela empossou um neoliberal como ministro da Fazenda, autorizando-o a socar goela dos brasileiros adentro um ajuste recessivo, os perfumes caros de Dilma não conseguiram mais encobrir o odor de enxofre: nem o mais crédulo dos otários é capaz de acreditar que ela só decidiu dar tal guinada de 180º após o 5 de outubro, dia do 2º turno. 

É repulsivo que, em 2014, se tenha cometido tamanha vigarice com o eleitorado, como se o relógio da História houvesse voltado a 1945, quando uma frase deturpada do brigadeiro Eduardo Gomes (ele jamais afirmou que não precisava do voto dos marmiteiros) foi espalhada pelo País inteiro, tendo considerável peso na vitória do general Eurico Gaspar Dutra.

Ao longo dos 11 meses deste desastroso 2º mandato de Dilma foram intensas as pressões da facção lulista e de quase toda a esquerda, no sentido de que ela exonerasse Joaquim Levy e passasse a governar de acordo com as bandeiras históricas do partido; mas encontraram sempre ouvidos moucos. Quem faz a cabeça dela é Luís Carlos Trabuco, o presidente do Bradesco, que nos momentos cruciais aconselha Dilma a continuar arrastando o Brasil para o inferno, de braços dados com o trapalhão Levy.

Então, como ela teimosamente resiste a cumprir as promessas de campanha e isto já gerou a pior recessão brasileira em décadas, com tendência a agravar-se cada vez mais, o processo de impeachment é muito bem-vindo: ou vai fazer com que seja um presidente de direita a governar segundo o ideário da direita, deixando de confundir os brasileiros e de destruir a esquerda, ou forçará Dilma a uma correção de rumo indispensável para salvar seu mandato.

Quanto ao impeachment ter ou não embasamento legal, é paradoxal que o hiper-estelionato eleitoral por ela cometido não constitua motivo suficiente para seu impedimento, mas um mini-estelionato talvez preencha os requisitos constitucionais: trata-se das pedaladas fiscais, que também serviram para iludir o eleitorado, pois a maquilagem das contas públicas impediu que seu descontrole servisse de munição de campanha para os adversários.

Mas, isto é uma discussão para juristas, e a experiência histórica nos ensina que impeachment é uma decisão eminentemente política tanto que a justificativa alegada para o de Fernando Collor acabou não subsistindo no Supremo Tribunal Federal, que, contudo, só a rechaçou quando a perda do mandato já era fato consumado e superado.

domingo, 22 de novembro de 2015

DETERIORAÇÃO AVANÇA: DESEMPREGO JÁ SE APROXIMA DA CASA DE DOIS DÍGITOS.

Neste sábado, eu e o Apollo Natali, meu ex-colega de Agência Estado e amigo há quase três décadas, tivemos o prazer de papear com o Rui Martins, o grande jornalista que foi para a Europa quando pipocavam os boatos de que estava na lista negra da ditadura militar, prestes a ser preso (o que Vladimir Herzog também deveria ter feito, por sinal).

Acabou ficando e, ganhando a vida como colaborador dos jornais e revistas de lá, nunca perdeu contato com as coisas do Brasil e dificilmente passa um semestre sem dar as caras por aqui. 

Ele foi o primeiro jornalista a engajar-se na luta pela liberdade de Cesare Battisti, carregando o piano no momento mais difícil, quando má parte da nossa esquerda preferia acreditar nas baboseiras rancorosas do Mino Carta, inimigo figadal dos ideais de 1968 e dos revolucionários italianos que ousaram confrontar a hegemonia do domesticado PCI.
Rui coincide comigo na avaliação de que o segundo mandato de Dilma tende a ser cada vez mais desastroso para o Brasil (explorados e coitadezas em primeiro lugar!) e um verdadeiro tsunami para a esquerda brasileira, atirando nosso prestígio e credibilidade no fundo do mais fundo poço. Mas, está desanimado com o aparente êxito palaciano em represar as mudanças necessárias recorrendo às jogadas imundas da politicalha (as mesmas que, com um estelionato eleitoral do tipo o brigadeiro Eduardo Gomes despreza o voto dos marmiteiros, garantiram-lhe a vitória-bumerangue de 2014).

Eu repeti o que há muito venho escrevendo: essas escaramuças na esfera dos podres poderes só alongam a agonia de um governo sob o qual a crise econômica se agudizará até tornar-se avassaladora. Não são as matreirices do Cunha que vão derrubar Dilma, mas sim a ortodoxia econômica e a crassa incompetência do Levy. Quando a recessão (ou depressão) começar a gerar turbulência social, alguma solução vai ser encontrada pelas forças políticas para impedir que o País exploda. 

Sei que a minha avaliação é meio chocante para os internautas que engolem a desinformação da rede chapa branca, majoritariamente incapazes de fazer uma leitura correta do quadro econômico e mesmerizados pela ópera bufa da política oficial. Então, reproduzo adiante um bom balanço da situação atual. 

O encolhimento já admitido do PIB (de mais de 3% em 2015), o avanço da inflação (9,99% é conta de mentiroso) e a escalada do desemprego são mais do que suficientes para os perspicazes perceberem que há uma tempestade se formando, para desabar com força total em 2016. Quanto aos demais, nada os convencerá, a ficha só vai cair para eles quando as multidões já estiverem saqueando supermercados e sendo reprimidas à bala. 

Antecipando-me à habitual desqualificação dos que preferem ignorar as verdades desagradáveis enfiando a cabeça na areia, explico que o editorial é um item muito nobre de um jornal e tratado com o máximo rigor em termos de informação; discutíveis são as opiniões nele expressas, mas dados como os que a Folha de S. Paulo alinhavou neste, dominical, tendem a ser sempre rigorosamente exatos, sob pena de enorme desmoralização do veículo. 
Portanto, vale a pena lermos, acreditarmos e fazermos tudo que estiver a nosso alcance para deter essa marcha da insensatez.

A Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE atesta que a deterioração do mercado de trabalho nas seis regiões metropolitanas acompanhadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre) avança numa velocidade cada vez maior.

A população ocupada caiu 3,5% em outubro, em relação ao mesmo mês de 2014, um ritmo inédito na série histórica. Por sua vez, a taxa de desemprego subiu para 7,9%. Há um ano, era de 4,7%.

A alta só não é maior porque continua a encolher a parcela dos que procuram emprego. A chamada taxa de participação, que mede o número de pessoas economicamente ativas em relação à população total em idade de trabalho, diminuiu de 56,2%, há um ano, para 55,4% em outubro. Se o índice tivesse ficado constante, o desemprego estaria em torno de 9%.

Talvez esteja em curso, por ora, o chamado efeito desalento –muitos indivíduos deixam de procurar emprego por acreditar que dificilmente terão sucesso em uma conjuntura tão negativa. Alguns recorrem às famílias, outros contam com seguros pagos pelo governo.

Por suas próprias características, contudo, tal efeito dura poucos meses. Com o elevado nível de endividamento das famílias e a queda da renda real (acima da inflação), logo não haverá alternativa senão voltar ao mercado em algum momento –e isso vai pressionar as taxas de desemprego.

O drama adquire contornos ainda mais cruéis quando se observa que a faixa etária mais afetada é a de jovens de 18 a 24 anos, entre os quais o desemprego saltou de 11,8% para 19,5% em apenas 12 meses. Assiste-se, assim, à reversão da dinâmica dos últimos anos, quando esse grupo passou a adiar a busca por trabalho –muitas vezes para estender os estudos.

Outra consequência desse quadro está na queda da massa real de salários: decréscimo de 10,3% no período. Trata-se do pior resultado desde 2003, quando caiu 12%. Não espanta que a recessão ora se aprofunde, com queda adicional das vendas e dos empregos.

A formalização do mercado também regrediu. Fecham-se empregos com carteira assinada; criam-se vagas somente entre autônomos.

Mantido o ritmo atual de deterioração, o desemprego deve logo superar 10%.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

VITÓRIA DE PIRRO NA CALADA DA MADRUGADA

O horário avançado não é desculpa: faltou aos parlamentares a iluminação da consciência.
O que mais me choca no governo do PT é seu pragmatismo tosco e obtuso. Desde a reviravolta na campanha presidencial de 2014 provocada pela morte de Eduardo Campos, o partido aboliu o pensamento estratégico e passou a ser movido pelo imediatismo dos apetites. Principalmente, sua fome avassaladora de poder.

Fez campanha sórdida e falaciosa contra Marina Silva, tornando-a para sempre inimiga. Reforçou, assim, a própria dependência dos apoios que necessita comprar, seja com cargos, seja com liberação de verbas, seja em espécie por debaixo do pano. 

Não dialoga com as forças afins, prefere discutir preço com os que antes eram inimigos e o continuariam sendo se tivessem caráter para tanto. Só que, identificando-se cada vez mais com as práticas podres da política oficial, cava a cova na qual acabará sendo enterrado.

O que começou mal só poderia mesmo acabar pior...
Fez campanha sórdida e falaciosa contra Aécio Neves, como se a esquerda tivesse o direito de ganhar eleições utilizando as mentiras e os abusos de poder característicos da direita. 

Não tem. Pois a esquerda almeja muito mais do que as meras vitórias eleitorais; existe para impulsionar uma transformação profunda da sociedade.  E só conseguirá concretizá-la incutindo esperanças nos explorados e organizando-os para a defesa dos seus direitos, não tangendo-os bovinizados para as cabines de votação.

Voltamos aos tempos em que se ganhavam eleições distorcendo as falas e intenções dos adversários, como em 1945, quando o brigadeiro Eduardo Gomes jamais disse que não precisava dos votos dos marmiteiros, mas a mentira mil vezes martelada acabou passando por verdade, à maneira de Goebbels.

Quase sete décadas depois, foi com mentiras tipo Marina Silva come na mão de uma banqueira e Aécio vai extinguir o bolsa-família que se desqualificaram os principais adversários. Continuamos sendo o país do eterno retorno.

Pior ainda foi o passa-moleque aplicado na esquerda independente (aquela que não oscila na órbita palaciana nem se deixa seduzir por boquinhas), aliciada pela candidatura governamental a golpes de alarmismo.

Vox populi, vox Dei (1)
Reais ou supostos intelectuais parecem ter acreditado candidamente que Marina e Aécio seguiriam o figurino neoliberal na condução da política econômica, enquanto Dilma jamais se avassalaria ao grande capital. 

Ledo engano. O Ministério anunciado para o segundo mandato, em termos ideológicos, arrancaria aplausos entusiásticos de Margaret Thatcher e Ronald Reagan; se alguma restrição houvesse, seria apenas quanto à insignificância pessoal e profissional dos novos titulares. 

Ainda na categoria estelionato eleitoral, era dado como favas contadas que os dois vilões-mores, e apenas eles, entregariam as Pastas da área econômica a representantes de bancos, grandes indústrias e agronegócio. Gente como Joaquim Levy, Armando Monteiro e Kátia Abreu. Só rindo pra não chorar...

Vitórias a qualquer preço, conquistadas por diferença mínima em países nos quais a posse e mau uso da máquina governamental têm influência máxima, possuem o inconveniente de desunirem tais nações. É praticamente inevitável que os derrotados, quando acreditam não terem sido licitamente vencidos, tentem reverter o quadro.

Se, ademais, são eles que predominam nos estados pujantes, a encrenca é maior ainda. Como Marx cansou de demonstrar, são os países e/ou regiões com forças produtivas mais desenvolvidas que determinam o rumo que todos acabarão por seguir, não os grotões.

Vox populi, vox Dei (2)
De um jeito ou de outro, o poder econômico, nos países capitalistas, acaba se impondo ao poder político. A alternativa? Em médio e longo prazos, só existe uma: a revolução. No curto prazo, o PT esfalfa-se para retardar o inexorável --sem, contudo, ousar romper o pacto mefistofélico que firmou em 2002, quando se domesticou para que lhe permitissem governar. 

Salta aos olhos que há um grande esquema político sendo montado para impedir a presidenta Dilma Rousseff pela via constitucional. Só falta a definição de qual será o motivo alegado no pedido de impeachment.

O PT acaba de travar batalha insana para evitar que o descumprimento de diretrizes orçamentárias pudesse ser tal motivo. Mas, o vergonhoso resultado da refrega consagrou um casuísmo escandaloso, o efeito retroativo que jamais poderia servir como tábua de salvação para quem não fez a lição de casa no momento certo. Algo tão estapafúrdio que me fez lembrar o causo contado por Sebastião Nery, o nosso grande nome do folclore político. 

O todo poderoso coronel de um cafundó nordestino assistia a um jogo de futebol disputadíssimo e, no apagar das luzes, acontece um pênalti a favor dos visitantes. Os atletas da casa se revoltam, o campo é invadido, o coronel acaba tendo de decidir a questão. E dá o veredito: "O pênalti tem de ser cobrado, sim! Só que a nosso favor..."

Preocupado apenas com as aparências e formalismos legais, o governo não se dá conta dos estragos que a batota fiscal produziu em sua imagem.

Vox populi, vox Dei (3)
Nem percebe que os partidários do impeachment não desistirão, apenas vão escolher outro motivo. Gilmar Mendes tenta prover um, o petrolão oferece infinitas possibilidades. Mas dia, menos dia, esse bloco sairá à rua. Não vai dar pra segurar.

Estancar o processo de impeachment no nascedouro, evitando que ele tramite no Congresso, será a pior solução possível, pois vai tanger os opositores para a via verdadeiramente golpista. Bateriam de imediato na porta dos quartéis.

O melhor será a batalha se travar no terreno da legalidade democrática, ou seja: 
  • que o impeachment vingue e se dê posse a Michel Temer (argh!), como manda a Constituição;
  • ou que o impeachment seja apreciado, votado e rejeitado, o que dará à Dilma a credibilidade para governar que não tem neste momento.
É esta a batalha que o PT deveria travar, ao invés de perseguir sofregamente vitórias de Pirro na calada da madrugada.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

CULPAR MARINA PELAS IRREGULARIDADES NO JATINHO DO PSB É "APELAÇÃO IMORAL"

Sempre detestei o aviltamento das campanhas eleitorais, que os obcecados em vencerem a qualquer preço transformam em batalha de tortas de lama ou festival de chutes na virilha dos adversários.

Já desmascarei a torpeza da rede de propaganda petista ao trombetear que a Marina Silva estaria sendo apoiada pelo Itaú, quando, na verdade, ela conta apenas com os préstimos voluntários de uma herdeira Setúbal que jamais exerceu atividade de banqueira nem apita nada nas decisões do grupo.

Tais invencionices colam no candidato e, depois de um certo tempo, todos começam a repeti-las como papagaios, sem a mínima noção de quem as colocou em circulação. Foi o caso da afirmação imputada ao brigadeiro Eduardo Gomes na eleição presidencial de 1945, de que ele recusava o voto dos marmiteiros (pejorativo de operários). A frase verdadeira de Gomes foi: "Não necessito dos votos dessa malta de desocupados que apoia o ditador para eleger-me presidente da República!".

Disse e repito que a política oficial me causa profundo tédio, tal o descompasso entre as mudanças mais do que necessárias e as miudezas de que se ocupam governantes resignados a não confrontarem o poder econômico. Mas, quando as campanhas descambam para o jogo sujo descarado e desbragado, isto me incomoda, talvez como consequência de já ter sido e continuar sendo até hoje muito prejudicado na vida por outro tipo de jogo sujo.

Então, registro mais um desmascaramento de falácia, desta vez por parte do veterano jornalista Jânio de Freitas, em sua coluna desta 3ª feira (26) na Folha de S. Paulo, cuja íntegra pode ser acessada aqui.

Tão apavorados ficaram petistas e tucanos com a entrada pra valer de Marina no páreo sucessório que se uniram para tentar imputar-lhe responsabilidade pessoal em irregularidades na posse e utilização do avião da tragédia. Houve quem falasse até em impugnação da candidatura dela, um grotesco wishful thinking.

Jânio --que geralmente mostra, digamos, mais simpatia pelas posições petistas-- é, sobretudo, um profissional honesto. Então, tal baixaria também o deixou indignado. E ele a pulverizou:
"...Ainda antes da queda, aquele avião já era portador de um risco desastroso para as pretensões políticas de Eduardo Campos. Com provável corresponsabilidade dele ou não, tanto faz.
Sejam quais forem os esclarecimentos vindouros, se causarem surpresas não estará entre elas o nome de Marina Silva. A composição que a comprometeu com a campanha foi muito posterior à inclusão do jato nas atividades de Eduardo Campos e do PSB. A cobrança que Aécio Neves faz de explicações de Marina Silva, sobre as suspeitas de irregularidades no uso do jato, é mais do que imprópria: é uma apelação imoral. E pior porque justificada por Aécio como contrapartida às cobranças sobre a construção do aeródromo em Cláudio -MG. Aí já é também falsificação de equivalências".
Eu só acrescentaria que a "apelação imoral" partiu da rede virtual petista e Aécio, percebendo que lhe poderia ser útil também, pegou o bonde andando.

Os opostos só se atraem quando um deles ou ambos estão sendo oportunistas e imorais. É o mesmo caso da utilização sistemática, por parte dos petistas, das catilinárias destrambelhadas contra Marina que não pára de lançar o colunista mais reacionário da revista mais reaça do Brasil.

Existem, certamente, motivos para não se votar na Marina. Mas, a pregação do Reinaldo Azevedo é do tipo bússola invertida: só serve como estímulo para as pessoas de bem votarem nela.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

MEU NOME É ALEXANDRE. MAS, PODE ME CHAMAR DE CRISTIANO.

O pior de tudo são as facadas nas costas
Em 1950, os três principais candidatos à Presidência da República eram Getúlio Vargas (PTB), ex-ditador de inspiração nazifascista que a mão oculta dos EUA contribuíra para expelir do poder ao fim da II Guerra Mundial, daí ter assumido o nacionalismo como seu novo figurino político, com o apoio oportunista do PCB (convenientemente esquecido de que fora a principal vítima da bestialidade de Filinto Müller e sua polícia política); o brigadeiro Eduardo Gomes, que conferia alguma respeitabilidade ao moralismo rançoso da UDN por ser, pessoalmente, um homem íntegro; e Cristiano Machado (PSD), deputado mineiro em duas Constituintes.

Percebendo que as chances de Cristiano eram ínfimas, muitos líderes do PSD mantiveram seu apoio formal a ele, mas, por baixo do pano, favoreceram descaradamente a candidatura de Vargas. Foi como se originou o uso da palavra cristianização para, no jargão político, designar candidatos traídos pelos próprios partidos na campanha eleitoral.

O mais novo exemplar desta fauna é o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, com quem o PT (leia-se Lula) contava para, finalmente, enxotar os tucanos do Palácio dos Bandeirantes, no qual estão empoleirados há duas décadas.

Mas, ao constatar que a candidatura de Padilha dificilmente decolaria, o partido oPTou (lembram-se dos adesivos? Bons tempos...) por sua cristianização, igualmente descarada.

Qualquer semelhança...
Primeiramente, estimulou a decisão do PSD de Gilberto Kassab, de trair Alckmin e apoiar o peemedebista Paulo Skaf; e do PP de Paulo Maluf, de renegar a aliança já firmada com Padilha, pulando para o galho do Skaf.

O tiro de misericórdia veio com a entrevista do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, à Rede Brasil Atual, cuja íntegra pode ser acessada aqui

Berzoini simplesmente informa que o PT adotará uma posição de neutralidade em relação às duas candidaturas, a própria e a peemedebista, evitando indispor-se com a segunda, pois (admite, mais uma vez descaradamente) pretende apoiá-la no 2º turno. Leiam e constatem:
"Onde há mais de um [candidato da base governista], nós temos que definir como nós vamos nos relacionar sem atrapalhar as campanhas de cada um (...). Em São Paulo, não haverá uma escolha, haverá o reconhecimento de que nós temos duas candidaturas fortes. (...) Hoje, uma delas se apresenta com mais intenção de votos (...), mas nós acreditamos que isso é muito dinâmico e não necessariamente se manterá assim. Vamos trabalhar tanto a relação com a campanha do Skaf quanto com a campanha do Padilha.
Não ter conflito é o desejo. Isso se constrói. (...) No primeiro [turno], cada um tem de buscar todas as positividades possíveis. No segundo, dependendo de quem for, se estabelece o contraditório. Então não há razão a priori para ficar Skaf procurando problema com o Padilha e o Padilha com o Skaf"
Berzoini: "Nós temos duas candidaturas fortes".
Ou seja, o candidato da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, além de ser mais rico (seu patrimônio pessoal declarado cresceu 60% desde a última eleição, estando hoje na casa de R$ 17,7 milhões), mais simpático aos ricos, mais charmoso e melhor situado nas pesquisas eleitorais, contará com a neutralidade do partido que detém o poder federal e com a certeza de que o candidato do dito cujo evitará bater pesado nele, pois a ordem para o Padilha é não ficar "procurando problema (...) com o Skaf".

O que lhe restará, como trunfo para tentar virar este jogo de cartas marcadas? Apenas o programa Mais Médicos (que é polêmico em demasia para ser trombeteado ad nauseam em campanha, havendo risco de, sob contra-ataque dos adversários, tornar-se um tiro no pé). Pois, quase desconhecido, Padilha é samba de uma nota só.

Nos bons tempos, o PT só vinha aqui para protestar.
Poderia, certamente, unir os eleitores petistas em torno de si lembrando que o partido nasceu das refregas com a Fiesp e que Skaf é um inimigo de classe por excelência. Só mesmo na geleia geral brasileira os ditos defensores dos trabalhadores se mancomunam descaradamente (o termo é novamente obrigatório...) com os baluartes do patronato.

Mas, se as mãos do cristianizado Padilha estarão atadas pela política de não-agressão ordenada por Berzoini, que chances ainda lhe restam? Nenhuma. Seria melhor desistir de uma vez, dando ao PT liberdade para celebrar desde já o pacto mefistofélico com o grande capital, se este é seu desejo.

Sartre dizia que fazer política é enfiar a mão no sangue e na m... Finda a ditadura, sobrou a segunda, cada vez mais abundante, pois o descaramento não tem limite. 
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