quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

A MÚSICA DO DIA VAI PARA A CÂMARA FEDERAL, QUE LIVROU A CARA ATÉ DA GOLPISTA DO GATILHO

P
alhaçada sadia é aquela que faz as crianças rirem. 

Palhaçada doentia é a que a Câmara Federal entrega: faz os adultos conscientes chorarem. 

O Jair transformou Brasília num trem fantasma de mafuá.

A Carla fez o Brasil virar piada no mundo inteiro,  como se fosse uma versão destrambelhada da Annie Oakley do show do Buffalo Bill.

A Câmara precisa distribuir urgentemente uma cartilha sobre decoro parlamentar. De preferência com figurinhas, para que Suas Excrescências a compreendam. 

E também um atlas brasileiro, para que os ditos sujos sejam inteirados de que o Rancho  Fundo, bem pra lá do fim do mundo não é a capital federal. (por Celso Lungaretti)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

EXISTE UM POVO QUE ELEGE DEPUTADOS CAPAZES DE TANTA INFÂMIA E COVARDIA!

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
(trechos de Navio Negreiro, do Castro Alves)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

AGONIZANTE, O CAPITALISMO EXIBE BEM A SUA CARANTONHA DE MISÉRIA E DESIGUALDADE SOCIAL

"Tempo é dinheiro"
dalton rosado
O GRANDE ENTRAVE SOCIAL
Costuma-se dizer que “só se faz alguma coisa com dinheiro”. É claro que essa conclusão somente é correta sob a lógica do capitalismo, porque quase todas as iniciativas de ação dependem do capital, ou seja, da mercadoria dinheiro que faz dinheiro.

Mas, paradoxalmente, a mercadoria dinheiro escasseia por ser cada vez mais difícil a sua autorreprodução, graças ao critério da viabilidade econômica dos empreendimentos dos setores primário, secundário e terciário da economia (capacidade de realização lucros), precarizados pelos conflitos na concorrência de mercado. Como consequência, é restrita a capacidade de ação. 

É justamente por conta de um critério próprio à relação social, estabelecida a partir da produção de mercadorias destinada à compra e venda, ora em depressão por força de inúmeras contradições de forma e conteúdo que está sendo travada a produção social. 

Somente se faz aquilo que se compra e vende; como  há redução da capacidade de compra numa sociedade na qual tudo é mercadoria, ocorre a paralisia da produção ao nível global, ainda que tal produção se intensifique de modo concentrado em algumas regiões, como é o caso da China.   
  
Há, simultaneamente, na economia mundial capitalista, uma conjunção explosiva de fatores próprios à explicitação das suas contradições que em síntese podem ser assim explicados por um fenômeno emblemático, qual seja: 
a) ao mesmo tempo se reduz o valor das mercadorias graças ao aumento vertiginoso da produtividade da produção destas pelo uso da alta tecnologia da terceira revolução industrial (microeletrônica/cibernética), que não produz valor;
b) reduzem-se os salários e o volume global destes e, consequentemente, a massa de extração de mais-valia, de lucros e, por fim, da massa global de valor válido.
  
Decorrem do fator de base acima identificado uma série de fenômenos que somente podem ser compreendidos na sua gênese se entendermos o problema estrutural, senão vejamos os mais flagrantemente perceptíveis:
-- o crescente endividamento do capital privado decorre da necessidade de investimento de capital constante (instalações, equipamentos sofisticados e pesquisas) objetivando a redução de custos de produção que consiste na eliminação de capital variável (postos de trabalho abstrato, assalariado), única fonte da produção de valor novo;
-- o contínuo endividamento do capital estatal decorre do fato de que o Estado não produz valor, apenas extrai extraindo o dito cujo da economia sob a forma de impostos (muita gente entende equivocadamente que o Estado, por emitir moeda e fazer o controle desta, pode produzir valor válido). Aí, como tem a obrigação constitucional de suprir algumas demandas sociais e institucionais que justificam a cobrança de impostos, os quais escasseiam em face da depressão econômica (redução de valor válido, advindo da produção de mercadorias), esse endividamento caminha para a insolvência do pagamento dos juros e do principal;
-- já circula na economia mundial uma quantidade enorme de valores meramente escriturais sob a forma de padrões monetários (principalmente do dólar, moeda fiduciária) sem correspondência com a produção de mercadorias, seja por conta de capital fictício bancário cujos conteúdos são tão vazios quanto uma bolha de ar, e que num futuro não muito distante explodirá, seja pela emissão de títulos públicos que jamais serão resgatados ou pelo volume de moeda sem lastro emitidas pelos Bancos Centrais dos Estados Unidos (dólar) e União Europeia (euro);  
-- continua a irracionalidade da emissão de gás carbônico na atmosfera pelo capital privado, que submete os governos a um conluio genocida, ao aquecer a temperatura do Planeta ameaçando a sua/nossa vida animal e vegetal, bem como pelos fenômenos climáticos cada vez mais agressivos;
-- permanência das guerras por conquistas territoriais e hegemonias políticas, religiosas e étnicas, fruto de um retrógrado, abominável e patético poder governamental submisso ao capital na sua fase terminal, com ameaças de destruições atômicas e poderio bélico comprovado;
-- instalação da barbárie dos crimes organizados do colarinho branco e das facções (nome que se dá atualmente no Brasil às quadrilhas de bandidos assassinos), com incrustações nas instituições do aparelho de Estado. Isto para ficarmos apenas nesses exemplos emblemáticos.   

Na vida mercantil, cujo objeto é o vazio sentido da obtenção do lucro como forma de reprodução aumentada do capital, a produção de mercadorias, instrumento de sua viabilização, não tem como prioridade a satisfação das necessidades humanas, mas apenas usa tal necessidade de modo oportunista para coexistir; é por isso que o capital incinera alimentos num país faminto.

Entretanto, as contradições de sua natureza exploradora da vida humana tendem a aparecer. Na atualidade a mais flagrante delas é a tal da “viabilidade econômica” para qualquer iniciativa, seja do ponto de vista empresarial ou social. 

A pergunta inicial que o capital faz para qualquer empreendimento capitalista é: “o que você quer produzir é viável economicamente, ou seja, dá lucro?”. Já no caso da ação social estatal se pergunta: “o Estado pode custear a implementação e sustentação com o dinheiro dos impostos?” (cada vez mais comprometidos com rubricas orçamentárias obrigatórias). 

Ora, já não se produz senão aquilo que o mercado sinaliza como capaz de gerar lucros, e poucas mercadorias têm a sua produção num nível de produtividade capaz de gerar lucros, e é aí que a inviabilidade econômica dá ordens desumanas para os humanos travando a produção; é o capitalismo mostrando a sua carantonha de miséria e desigualdade social.

Tudo se processa no altar fratricida da concorrência de mercado que estabelece regras rígidas de produção e comercialização e, assim, somente sob critérios de alta produtividade e com custos baixos (mecanizados ao extremo, inclusive com robotização, programação computadorizada e outros usos tecnológicos) é que se pode produzir uma gama variada de mercadorias, ou seja, é o mercado e sua lógica desumana a instância na qual se determina o grande entrave social da atualidade.

Raciocinando em termos fora da lógica mercantil capitalista, livre do fetichismo da mercadoria, descortinamos ao nosso favor uma quantidade enorme de possibilidades materiais de interações humanas com a natureza e com o uso de toda essa tecnologia e saberes que são ganhos da humanidade, e não do capital.

Pergunta-se: sem a intermediação do dinheiro,
-- é tecnicamente possível irrigar as terras do nordeste e enriquecer seu solo trazendo as águas abundantes do norte do país?
-- é tecnicamente possível acabar com a fome no mundo produzindo para dar ao invés de produzir para vender?
-- é tecnicamente possível se produzir equipamentos tecnológicos (tudo que já conhecemos) que nos auxiliem na produção, com menor esforço físico, sem a intermediação do capital?
-- é tecnicamente possível se criar um ambiente em que os indivíduos sociais não sejam adversários entre si na busca do dinheiro, mas solidários e de modo a que cada semelhante seja apoio do outro? 
-- é possível que o prodigioso saber adquirido pela humanidade nos vários ramos das ciências (medicina (biologia terapêutica) e engenharia (agronômica, mecânica, civil, da computação, comunicação, etc.) seja usado em benefício da humanidade sem a intermediação do dinheiro? 

Se as respostas a estas indagações e outras de iguais sentidos forem afirmativas, poderemos acreditar que a vida tem jeito. (por Dalton Rosado)

domingo, 7 de dezembro de 2025

O HOMEM DA TORNOZELEIRA DE FERRO CONTINUA MISÓGINO E MEGALOMANÍACO

D
ata Folha confirma que a disputa presidencial no campo da direita continua restrita a dois nomes, em disputa autofágica: Michelle Bolsonaro é a preferida de 22% do eleitorado e Tarcísio de Freitas, de 20%.

Flávio Bolsonaro, o favorito do Papai, não passa de carta fora do baralho, com míseros 8% de adesões. 

Mas, misógino como sempre, o Jair prefere apostar no azarão Flávio do que na esposa Michelle. Já está em franca decadência e ainda desperdiça a oportunidade de agradar às mulheres (52,5% do eleitorado). 

Ademais megalomaníaco, o homem da tornozeleira de ferro parece ignorar que não tem mais poder de fogo para obrigar o Legislativo a conceder-lhe anistia nenhuma.    

Possuidor de carisma zero, Flávio pouco tende a melhorar agora que o Jair fez a besteira de definir seu apoio a ele, o filho número umJá passou o tempo em que o posicionamento do então presidente demente tinha peso decisivo... 

Como cansei de repetir aqui, ninguém é líder dos brucutus da extrema-direita depois de refugar em três momentos decisivos, como o Jair fez no 7 de setembro de 2021, no Dia da Pátria de 2022 e no 08.01.2023.

Já o Lula, único candidato da domesticada ex-querda, terá de fazer o milagre da multiplicação dos votos se quiser um quarto mandato apesar de não estar dando conta nem do terceiro. 

É que ele precisará desesperadamente de 50% mais um dos votos no primeiro turno, caso contrário será engolido pela direita unida no segundo turno.

Optar pelas eleições da democracia burguesa ao invés dos movimentos no seio da sociedade, deixando o terreno livre para a direita na praça que era do povo como o céu era do condor (agora a praça pertence mais aos urubus...) teve um preço. 

Se a direita continuar cometendo tantos erros, o Lula poderá até ganhar eleições mas não para ser presidente de verdade, dependente que está do centrão. para vencer qualquer votação importante no Legislativo.

Depois de dois mandatos presidenciais, talvez ele acumule outros dois como rainha da Inglaterra. Talvez. (por Celso Lungaretti)

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

ESTARÁ MICHELLE BOLSONARO DESTINADA A TORNAR-SE A EVA PERÓN BRASILEIRA?

A vitória de Michelle Bolsonaro contra a articulação PL-PSDB no Ceará dá o que pensar. 

Foi um claro movimento para ela se colocar como a herdeira do bolsonarismo, botando para escanteio Flávio e Carlos Bolsonaro, que haviam acertado a barganha para viabilização da candidatura de Ciro Gomes ao Senado.  

Como Eduardo Bolsonaro se desmoralizou totalmente com suas estrepolias estadunidenses, a candidatura presidencial mais viável da família, neste momento, é a de Michelle.

Faz lembrar a Eva Perón, que não passava de uma atriz de novelas radiofônicas  quando a união com Juan Domingos Perón lhe deu a oportunidade de se tornar a segunda maior liderança política da Argentina. 

Se Evita virou a voz estridente dos descamisados, Michelle tem tudo para se tornar a santa redentora dos evangélicos (embora haja quem a considere apenas uma santinha do pau oco).

Quem chegou a acreditar que o Jair fosse Messias em algo além do sobrenome, crê em qualquer coisa.

Michelle é, provavelmente, o único contraponto à união da direita em torno de Tarcísio Freitas. Os três filhos Patetas do Jair não têm carisma nem base eleitoral própria para competirem com ela. E Papai, no xilindró, pode fazer muito pouco por eles.

Há outra afinidade entre as trajetórias de Eva e Michelle que quem assistiu  ao filme Evita, dirigido por Alan Parker e estrelado pela Madonna, certamente notará. A fita está disponível no streaming da Disney para quem quiser conferir.

Eu sei o que elas duas fizeram em verões passados. 

Registro a semelhança, mas só como curiosidade. Se há algo que eu não sou é preconceituoso...

(por Celso Lungaretti)

domingo, 30 de novembro de 2025

ULTRAPASSAMOS A MARCA DE 5 MILHÕES DE ACESSOS. HÁ 17 ANOS DESAFINAMOS O CORO DOS CONTENTES.

C
om alguns dias de atraso, registro que o blog Náufrago da Utopia ultrapassou a marca de 5 milhões de acessos em 17 anos de existência (foi lançado em 8 de agosto de 2008).

É um projeto praticamente simultâneo à minha participação na luta contra a extradição de Cesare Battisti, que considero a maior vitória que ajudei a concretizar na vida. 

E cumpriu bem o seu papel de estar aberto à participação de todas as tendências anticapitalistas da esquerda brasileira, jamais deixando de denunciar e combater aquelas que se descaracterizaram, tornando-se meras forças auxiliares da dominação burguesa. 

Mato a cobra e mostro o pau: é do PT mesmo que estou falando.  Até agora ele se beneficia da imagem de uma força de esquerda, embora não passe de um partido reformista, que nunca pretendeu nada além de tornar o capitalismo menos desumano. E nem isto conseguiu.

Eu e os colaboradores --o Dalton Rosado, o David Coelho, o Rui Martins e o falecido Apollo Natali-- mantivemos até agora o Náufrago como um dos blogs mais corajosos e combativos da web. 

E nos orgulhamos disto. São mais de 5 milhões de acessos sem jamais negociarmos nossa independência. É, depois de tanto tempo, estarmos ainda batendo recordes, como os 33.987 hits do último dia 29.

Parafraseando o recém-falecido Jards Macalé, tentaremos continuar durante muito tempo desafinando o coro dos contentes. (por Celso Lungaretti)

sábado, 29 de novembro de 2025

APÓS DERROTAR O PALMEIRAS NAS DUAS PARTIDAS DO BRASILEIRÃO, FLAMENGO VENCE TAMBÉM NA LIBERTADORES

De Arrascaeta, o melhor jogador da decisão
e autor da assistência a Danilo.
O Flamengo nem sequer precisou de Pedro, o melhor centroavante brasileiro da atualidade, para vencer de novo o Palmeiras, desta vez por 1x0, e conquistar sua quarta Libertadores.

Foi um jogo chato, com poucas oportunidades de gol e apenas três finalizações no alvo, duas do Flamengo e uma do Palmeiras.

Para piorar, o título não foi decidido numa jogada trabalhada, mas por uma bola aérea. Castigo para Abel Ferreira, que insiste em manter o grandalhão Carlos Miguel no gol, embora Weverton seja muito melhor.

Assim, Rossi atuava em grande estilo, interceptando vários cruzamentos perigosos do ataque sem quaisquer outras ideias do Palmeiras, ao passo que Carlos Miguel ficou estático sob as traves enquanto Danilo cabeceava à vontade. Em seguida, ainda estático, foi a pessoa presente no Estádio Monumental de Lima que assistiu mais de perto à bola entrando.
Filipe Luís coleciona títulos como jogador e treinador 

Vale também ressaltar o nó tático que Filipe Luís deu no superestimadíssimo Abel Ferreira. Graças a ele, o Palmeiras não conseguiu jogar e bastou o Flamengo jogar um pouquinho para obter a vitória.

Impressionante a trajetória do catarinense. Campeão da Libertadores no sábado e do Brasileirão na próxima quarta-feira. 

É o melhor técnico em atividade no Brasil desde que Jorge Jesus voltou à terrinha, para, em seguida, ir fazer fortuna na Arábia. (por Celso Lungaretti)

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

ENQUANTO FESTEJÁVAMOS A PRISÃO DO BOLSONARO, ÉRAMOS TUNGADOS NA REVISÃO DA VIDA TODA DO INSS

N
esta terça (25), o plenário virtual do STF, por 8x3, extinguiu a última esperança dos trabalhadores, de receberem de volta o que lhes foi tungado pelos pacotes econômicos da ditadura militar.

Votaram a favor da canalhice Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Cristiano Zanin, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Kassio Nunes Marques e Luiz Fux. A orientação do governo do PT, que tem trabalhadores até na sigla, foi de que os ministros com ele alinhados favorecessem o esbulho dos direitos dos ditos trabalhadores (!).

O imbróglio começou em dezembro de 2019, quando uma decisão do Superior Tribunal de Justiça determinou o reconhecimento do direito dos aposentados e pensionistas a terem acrescidos aos cálculos de seus benefícios o universo de suas contribuições ao longo da vida, as quais não mais ficariam restritas àquelas feitas de 1994 em diante, conforme determinou a ditadura. Aí, um ano depois, o STF validou a revisão dos benefícios por 5 votos a 4.

No entanto, por pressões petistas o assunto votou a ser votado pelo Supremo e aí o digno voto de Ricardo Lewandowski foi desonrado por Cristiano Zanin, que herdou sua cadeira após a aposentadoria e mudou o resultado do julgamento. O governo do PT preferiu preservar recursos para a politicalha imunda do que pagar o que devia aos trabalhadores. 

Não me surpreendeu nem um pouco. Nós, os anistiados políticos, já havíamos sido vítimas de decisão semelhante. 

A lei que instituiu a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça garantia aos pensionistas o recebimento em 60 dias de uma indenização retroativa pelo tempo transcorrido desde que havíamos sido barbarizados pelas bestas-feras do regime militar, sem termos recebido nenhuma compensação durante décadas.

O governo do PT não cumpriu a lei e, ao invés de pagar tudo de uma vez, mandou um documento para assinarmos, concordando em receber o que nos era devido em suaves prestações mensais.

Não assinei o tal documento, por considerá-lo uma ofensa a quem tinha sangrado na luta contra a ditadura, já que nos chegou como uma ordem, sem justificação nenhuma. O governo do PT não julgou necessário dar a mínima explicação sobre o porquê de nos pedir que agíssemos contra nossos interesses. 

Então a AGU adotou uma infinidade de medidas protelatórias contra mim e demais insatisfeitos (cerca de um milhar), todas elas derrubadas pelo STJ por unanimidade. Quando uma era negada, a AGU entrava com outra.

Houve anistiados que me recriminavam, afirmando que eu deveria ser grato ao governo do PT. Grato por quê? Por ele estar escamoteando o pagamento do que o governo do FHC me concedera?

Finalmente o STF avocou o caso dos retroativos não pagos como repercussão geral e decidiu que deveriam, sim, ser pagos imediatamente. 

Na sessão de julgamento, dois ministros do Supremo salientaram que sempre existiram recursos para o pagamento imediato do que nos era devido, mas o governo do PT só usava para sua destinação original uma parcela mínima desses recursos,  para depois poder remanejar os quase 98% que sobravam para as habituais utilizações politiqueiras.

Eis uma afirmação esclarecedora do Dias Toffoli:
"...2,1% do total previsto nas leis orçamentárias atuais para indenização de anistiados foram efetivamente gastos, segundo as informações do próprio governo federal. Portanto, os outros 97,9% restantes representam valores disponibilizados e não pagos. As leis orçamentárias anuais disponibilizam valores para o pagamento da específica ação governamental de indenização aos anistiados políticos..."
E pensar que fui criticado por  não ter-me deixado enganar pelo governo do PT, que agia com má fé o tempo todo! (por Celso Lungaretti)      

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

E QUANDO EU PENSO NA MORTE DO MACALÉ EU TENHO SOLUÇOS, E OS SOLUÇOS ESTRAGAM MINHA GARGANTA


O
Jards Macalé morreu na semana passada, aos 82 anos. Foi um dos talentos que despontaram em meio ao tropicalismo, mas não conseguiram, de início, brilhar tão intensamente como Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia.

Mas, quando o quarteto de elite do tropicalismo foi intimidado pela ditadura, inclusive com prisão e desterro do Caetano e do Gil, a linha experimental do movimento sobreviveu graças ao Macalé e ao Tomzé.

O Macalé começou sua carreira profissional em 1965, como violonista nos espetáculos do Grupo Opinião. Mas só se tornou um artista notado pelo público e pela imprensa a partir de sua participação no quarto FIC, quando cantou "Gotham City" e recebeu uma das maiores vaias da época dos festivais. Com isto, de imediato ficou conhecido como artista maldito

Também em 1970 lançou o compacto duplo Só Morto, que ouvimos até ficar riscado na nossa comunidade alternativa no Jardim Bonfiglioli. Morríamos de rir com a ingenuidade dos censores, que não perceberam as referências ao uso da maconha na canção "Soluços" ("Minha garganta fica vermelha, irritada, eu ainda não comprei meus óculos escuros") nem ao clima de medo e terror criado pela ditadura militar ("Esse sol tão forte é um sol de morte"). 

Adiante, contudo, os censores considerariam o xote "Sim ou não" um atentado à moral e aos bons costumes, tendo o imbróglio até causado a prisão do Macalé por alguns dias. O motivo foi o palavrão subentendido em "se você disser que pode, garota, eu me caso com você". O que será que eles queriam, casamentos assexuados? 

É um arraso o LP de 1972, que leva o nome dele e tem o melhor repertório  de todos os seus discos, incluindo parcerias com Torquato Neto e Capinam.

E foi um ato de coragem sua iniciativa de promover, em 1973, um show celebrando os 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, com a participação do Chico Buarque, Gal Costa, Gonzaguinha, Luiz Melodia, Paulinho da Viola e Raul Seixas, entre outros. Imediatamente proibido, o álbum duplo dele derivado acabou  sendo lançado em 1979, quando Ernesto Geisel desmontava o aparato repressivo dos anos de chumbo . 

É superlativa a canção "Let's play that", na qual ele recriou o "Poema de Sete Faces", do Carlos Drummond de Andrade. O "Quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: 'Vai, Carlos! Ser gauche na vida' virou "Quando eu nasci um anjo torto, um anjo solto, um anjo louco veio ler a minha mão. Não era um anjo barroco, era um anjo muito solto, louco, louco, muito doido, com asas de avião. E eis que o anjo me disse, apertando a minha mão, entre um sorriso de dentes: 'Vai, bicho, desafinar o coro dos contentes!'"

Foi esta a fase em que acompanhei bem o trabalho do Jards Anet da Silva, mas ele ainda fez muita coisa boa. 

E quando penso na morte do Macalé eu tenho soluços, e os soluços estragam minha garganta. Até a vista, mermão! (por Celso Lungaretti)

domingo, 23 de novembro de 2025

BOLSONARISMO, EM FRANGALHOS, ALEGA PERSEGUIÇÃO RELIGIOSA. E A ARMNINHA, ONDE É QUE FICA?

Como se fôssemos ingênuos ou desmemoriados, os bolsonaristas agora querem nos convencer de que a prisão domiciliar do Jair foi revogada e ele passou para o regime fechado como consequência de perseguição religiosa (!).

Nem sequer tentam justificar a tentativa dele de livrar-se da tornozeleira danificando-a com um ferro de solda. Até mesmo a conversa pra boi dormir tem limite.

Quanto à religiosidade do condenado, nós a conhecemos bem de outros carnavais. 

Lembram de quando ele fez arminha na Marcha Para Jesus de 2019?

Pois é, o evangelho dele é o do Armai-vos uns aos outros, e não o do Amai-vos uns aos outros.

Quanto aos pastores evangélicos que embarcaram na canoa furada desse cidadão que de cristão nunca teve nada, Silas Malafaia em primeiro lugar, merecem ajoelhar no milho como penitência...  (por Celso Lungaretti) 

sábado, 22 de novembro de 2025

PRISÃO DO JAIR BOLSONARO PODE TER EVITADO UMA TENTATIVA DE FUGA. PARABÉNS À VIGILANTE PF!

J
air Bolsonaro finalmente está preso!

Levaram-no para a Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Antes estava em prisão domiciliar, mas descumpriu exigências cautelares. A medida foi tomada também para evitar riscos de fuga.

Não é ainda a morada definitiva do nosso pior presidente de todos os tempos e do responsável (com sua sabotagem à vacinação contra a covid) pelo maior número de homicídios culposos de brasileiros em toda a História. 

A decisão sobre o novo endereço do chefão dos golpistas só será tomada quando forem esgotados todos os embargos da defesa, no próximo dia 29.

O descumprimento das medidas cautelares foi uma tentativa do Bolsonaro de romper a sua tornozeleira com (conforme ele admitiu) ferro de solda  para retirá-la da perna. 

O chamamento para vigílias em favor de Bolsonaro, feito pelo filho Flávio Bolsonaro, foi visto pela PF como uma possível criação de condições propícias para a fuga do condenado, aproveitando a aglomeração.

O ministro do STF Alexandre de Moras, que atendeu a um pedido da PF, justificou assim sua decisão: 
"Embora a convocação de manifestantes esteja disfarçada de vigília para a saúde do réu Jair Bolsonaroa conduta indica a repetição do modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu, no sentido da utilização de manifestações populares criminosas, com o objetivo de conseguir vantagens pessoais".

O único senão é que a prisão do Bolsonaro chegou com um atraso de 35 meses. Deveria ter sido decretada logo após o 08.01. Réu mais culpado do que ele, impossível! (por Celso Lungaretti)

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

DOIS COMPANHEIROS QUE EU ESTIMAVA MUITO, EXECUTADOS NA CASA DA MORTE

Nunca procurara conhecer em detalhes como morreram companheiros queridos, nem mesmo quando esses relatos ficaram fáceis de levantar na internet. Sabia que isso me deprimiria demais.

Contudo, ao escrever o Náufrago da Utopia, tal informação se tornou obrigatória.

Sabia que desaparecera prisioneira da repressão a Heleny Ferreira Guariba (de quem muito gostei mas me contive porque em cada instante que passava com ela a colocava em perigo, a Lucy ainda desconhecida do DOI-Codi  e eu com a face estampada nos cartazes de procurados espalhados por todo lugar). Mas ignorava que ele expirara na famigerada Casa da Morte de Petrópolis. 

À dor da perda, que nunca deixei de sentir, acrescentou-se a raiva impotente ao saber que ela foi levada a um centro clandestino de torturas, sem esperança de sobreviver, para passar pelos piores tormentos e, no final, ser abatida com um animal.

Quando estava sendo torturado no limite das minhas forças, consolava-me a certeza de que aquilo teria um fim. Bastaria aguentar mais um dia, e outro, e outro… até que os companheiros tomassem providências defensivas lá fora e não sobrassem mais  motivos operacionais  para aquela bestialidade.

Sem luz nenhuma no fim do túnel, apenas a certeza da morte, como terão sido os últimos dias da Lucy?

Foi o que me atormentou ao longo de toda uma noite insone, no pior momento possível, pois estava em má situação financeira e era obrigado a passar umas 14 horas por dia escrevendo o livro que, contra a entrega dos originais, iria me livrar de outro pesadelo, o despejo.
Também supunha que José Raimundo da Costa, a melhor amizade que formei na VPR, houvesse mesmo morrido ao resistir à prisão, como os jornais noticiaram.

Já no momento dos acontecimentos, eu sabia muito bem que boa parte das mortes noticiadas dessa forma não passava de execuções a sangue-frio.

Ao ser levado para depor numa auditoria do Exército, certa vez, o oficial que comandava a escolta comentou o sucessivo anúncio de mortes de companheiros do Movimento Revolucionário Tiradentes. Segundo os jornais, depois da morte em combate, sempre era encontrada uma pista que levava ao elo seguinte da cadeia. Risível.

Para não deixar dúvidas, aquele oficial disse: "Você tem sorte de estar preso. Lá fora, hoje, não escaparia com vida"

Mesmo assim, no caso do Moisés, eu acreditei — quis crer — na versão oficial.

Quem sobrevivia na clandestinidade desde 1964 e se safara de tantas armadilhas, certamente resistiria até a última bala — pensei.

Não levei em conta, no entanto, sua amizade com o cabo Anselmo, a quem sempre defendera das acusações lançadas por outros agrupamentos de esquerda.

A confiança no velho companheiro dos movimentos da marujada, com certeza, causou sua prisão com vida. Quem foi capaz de armar uma cilada mortal para a mulher que engravidara, não hesitaria em impedir que um velho amigo tivesse um final menos atroz.

Moisés era um homem forte, que convivia há muito tempo com a ideia de morrer pelas mãos dos inimigos. Mas, o que ele deve ter passado  antes, também na Casa da Morte, é que me horroriza até hoje.

Pois, com o Moisés, o ressentimento era, inclusive, pessoal.

Pouco antes do golpe de 1964, sua prisão foi ordenada e o oficial encarregado de cumprir a missão fez a besteira de não levar escolta.

Os marinheiros do navio em que o Moisés servia simplesmente lhe perguntaram: "O que fazemos com esse palhaço?".

Ao que ele respondeu: "Jogamos no mar, é claro!".

Dito e feito. Só que o  palhaço  ensopado, submetido à pior das humilhações, conquistaria depois posição importante no Cenimar, o serviço de informações da Marinha. Da qual se serviu para mover uma caçada ao Moisés no País inteiro, obcecado com a ideia da desforra.

Só em pensar que esse reencontro haja finalmente ocorrido, tenho arrepios. (por Celso Lungaretti)
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