sábado, 29 de março de 2025

GOLPISTAS DE 1964 ERAM PROFISSIONAIS. OS DE 2023 NÃO PASSAVAM DE VIRA-LATAS.

Chegou a ser chocante a incompetência com que os aprendizes de golpistas do 08.01.2023 tentaram seguir os passos dos seus antecessores de 1964, tropeçando nas próprias pernas e deixando um mundo de provas para trás, como se jamais lhes tivesse passado pelas cabeças ocas que seu putsch poderia fracassar, sujeitando os envolvidos na quartelada a severas punições.

É verdade que os castellistas aprenderam com o fracasso de 1961 a evitarem os principais erros cometidos, enquanto os bolsonaristas, depois de muito refugarem, tiveram de partir para o tudo ou nada, sem margem para uma segunda tentativa.

Afora que, como militar de carreira, Jair Bolsonaro jamais chegou aos pés do Castello Branco, tanto que o primeiro era respeitadíssimo por seus pares e o segundo acabou expulso da caserna, obrigado a aposentar a farda da forma mais desonrosa possível.

O esquema dos golpistas de 1964 vinha sendo montado desde a década anterior, mas ainda não estava pronto quando da renúncia do presidente Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961. 

Os conspiradores nela viram, contudo, uma oportunidade de queimar etapas, daí terem decidido precipitar as coisas: convenceram os comandantes das três Armas a tentarem impedir a posse do vice-presidente legal (João Goulart), que estava ausente, visitando a China em missão oficial.

Como o afobado come cru, eles foram derrotados:
1961: governador valente e general legalista barram o golpe
— pela resistência do governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que passou a conclamar o Brasil inteiro a não permitir a usurpação de poder, utilizando para tanto uma rede de emissoras de rádio que se formou espontaneamente  (a Rede da Legalidade);
— pela decisão do comandante do III Exército (RS), o general legalista Machado Lopes, de colocar-se ao lado de Brizola, passando, portanto, a existir a ameaça de militares combaterem uns aos outros, hipótese que sempre horrorizou nossas Forças Armadas; e
— pela firme oposição de cabos e sargentos do Exército e Marinha ao golpe, criando outra divisão entre os fardados.

A crise acabou com a solução conciliatória de se dar posse a Goulart mas instituir-se o parlamentarismo, de forma que os poderes presidenciais foram momentaneamente reduzidos (o plebiscito de janeiro de 1963, contudo, restabeleceu o status quo ante).

Os conspiradores, face ao fracasso inicial, tiveram de repensar todo seu planejamento. Desfecharam perseguições nos quartéis, isolando e transferindo para unidades distantes os líderes dos subalternos que haviam se colocado contra o golpe, enquanto o pusilânime Goulart nada fazia para proteger quem lhe havia sido leal.

E, percebendo que careciam de algum respaldo na coletividade, partiram para a conquista do apoio da classe média conservadora, contando para tanto com o apoio do clero reacionário e de entidades anticomunistas como a TFP e a TFM. Só se considerariam prontos para nova tentativa 20 meses depois.
Arcebispo de SP convenceu seu rebanho a ajudar os lobos
O passo final foi a conquista da caserna, empreitada facilitada pelo apoio crescente que passaram a ter da classe média (afinal, os oficiais eram majoritariamente dela oriundos) e pelos préstimos de provocadores como o cabo Anselmo, que radicalizaram ao máximo a insubordinação dos cabos e sargentos das Forças Armadas contra o oficialato. 

[Meu saudoso companheiro na VPR, o José Raimundo da Costa, o Moisés, era um dos líderes dos marinheiros e nunca quis acreditar que Anselmo fosse um infiltrado, embora já existissem suspeitas. 

O Moisés me contou como ele e os marujos atiraram no mar um capitão que veio prendê-lo. O oficial, furibundo com a humilhação que sofrera, ingressou no Cenimar após o golpe e o que mais fez foi perseguir o Moisés, com o propósito obsessivo de capturá-lo para o torturar até a morte.]

O que os oficiais mais prezam é sua autoridade. E, dias antes do golpe, a viram estridentemente ultrapassada por Jango. 

Com o mandato cada vez mais ameaçado, Goulart havia finalmente descido do muro; daí ter ousado proibir a prisão de marinheiros e fuzileiros navais responsáveis por uma comemoração levada a efeito depois de vetada pelos escalões superiores. Foi a gota d'água: o oficialato alinhou-se em massa com o golpe. 
Johnson gostava de ser clicado como Texas ranger

A ruptura da ordem legal àquela altura já estava sendo amplamente requerida pelos capitalistas e latifundiários, além de endossada pelo presidente Lyndon Johnson.

A CIA favorecia e financiava os conspiradores há muito tempo, mas John Kennedy, caso tivesse sobrevivido ao atentado de Dallas, dificilmente lhe daria sinal verde, assim como não autorizou a disponibilização de cobertura aérea para a invasão da Baía dos Porcos, crucial para o sucesso da empreitada, mas que deixaria as digitais dos EUA impressas numa flagrante interferência na política interna de um país soberano (Cuba). 

A posse em 22 de novembro de 1963 de Johnson, um texano anticomunista que comeria na mão da CIA, significou a remoção de um importante obstáculo para o golpe, tanto que, a partir daí, só transcorreriam quatro meses e uma semana até Olympio Mourão Filho começar a descer a BR-3 (hoje rodovia BR-040) com suas tropas.

Enfim, com idênticas intenções. os golpistas de 1964 foram profissionais ao planejarem e executarem a tomada ilegal do poder, enquanto os de 2023 pavimentaram o caminho do fracasso com uma sucessão interminável de erros e lambanças.

Se, por um milagre, gente tão despreparada como os bolsonaristas lograsse êxito, teríamos obtusos irascíveis no poder. Seus principais quadros eram vira-latas mesmo para os pouco exigentes padrões da direita brasileira. 
            
                                  (por Celso Lungaretti)

2 comentários:

Anônimo disse...

Se a moda pega! Sei não!
https://www.aljazeera.com/wp-content/uploads/2025/03/AFP__20250329__38D36T4__v1__HighRes__SkoreaPoliticsCourtYoon-1743241676.jpg?resize=770%2C513&quality=80

Anônimo disse...

instantâneo de quando ele ia se dizer fu*(&# Sei lá, será 5 vezes?! (foto REUTERS)
https://imagenes.elpais.com/resizer/v2/NXDDORN3G5DZZEGA3HTHM6I3KM.jpg?auth=e6aa375e98effed631ebff35b32ec2b2b80153878d92d65c5f3fb2125451d614&width=828&height=828&focal=2504%2C1171

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