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sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

EM MANAUS A SITUAÇÃO É CALAMITOSA; REPETEM-SE AS TRAGÉDIAS DA 1ª ONDA.

L
eio no Estadão que o estoque de oxigênio acabou em vários hospitais de Manaus nesta 5ª feira (14), provocando a morte por asfixia de vários pacientes internados com covid. 

O governo federal, surpreendido por tal emergência (como sempre!), tentará remediar a situação transferindo pacientes para outros Estados e pedindo aos EUA que lhe forneçam um avião apropriado para levar os cilindros com oxigênio a Manaus.

E o pandemônio não ficou por aí:
— o Hospital Universitário Getúlio Vargas passou cerca de quatro horas sem oxigênio para seus doentes;
— o Hospital e Pronto-Socorro 28 de agosto está tendo de racionalizar o uso do oxigênio, mas, mesmo assim, com o aumento da demanda e a diminuição da oferta, poderá logo tornar-se incapaz de atender a todas suas necessidades;
— sabe-se que cidadãos desesperados já tentam conseguir oxigênio por conta própria para socorrer seus enfermos;
— a prefeitura de Manaus informa que o número de enterros aumentou 450% em apenas um mês, enquanto as mortes em domicílio quadruplicaram, e por aí vai.

O caos hoje vivido no Amazonas, particularmente em Manaus, possuí nome e sobrenome:
JAIR MESSIAS BOLSONARO.

O estado foi um dos mais atingidos pela ignorância e negacionismo irradiados de Brasília. 

Após a primeira onda do coronavírus, por volta de março/abril de 2020, governador e prefeito passaram a esposar a tese presidencial liberação das atividades. Chegaram mesmo a reabrir as escolas. 

Quando a situação começou a piorar, no fim de novembro, o governador tentou retomar as rédeas da razão, impondo um isolamento mínimo. Foi atacado nas ruas por comerciantes galvanizados pelo bolsonarismo, que ameaçavam até mesmo assassinar o governador, caso este não voltasse atrás. O recuo veio e o resultado chega agora. 

Em paralelo, pouco foi feito para munir hospitais de insumos e ampliar a oferta de leitos. Pazuello, dublê de ministro da Saúde, foi a Manaus pressionar pelo uso de cloroquina –a poção mágica do  do doutor Messias–, mas não levou insumos. Tragicamente, o preço é pago em vidas, a maioria de pobres. 

O genocida Bolsonaro e seu serviçal general  um dia hão de responder por mais essa tragédia. (por David Emanuel Coelho)

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

VAI-SE A FORD SEM NADA DEIXAR PARA TRÁS, SALVO ESTA CERTEZA: O MODELO COLONIZADO BRASILEIRO FRACASSOU!

D
elfim Netto, num momento, era o grande timoneiro econômico da esquerda brasileira. Foi consultor de Lula, Dilma e Ciro, escrevia na Carta Capital e suas declarações contrárias ao impeachment de Dilma Rousseff recebiam destaque imenso nos sites e blogs caudatários do PT. 

Delfim também foi o homem forte da ditadura militar, responsável pelo malogrado milagre brasileiro, do qual resultou hiperinflação e desigualdade social recorde.

Mesmo assim, o milagre do Delfim Netto continua sendo sentido até hoje. O projeto dele e da ditadura de industrializar o Brasil via instalação de multinacionais acabou de dar mais um de seus frutos: a saída da Ford do Brasil. 

O modelo Delfim-milicos foi uma contrapartida ao nacional-desenvolvimentismo pré-64, que previa, num processo liderado pelo Estado e fortemente estimulado por investimentos estatais, um crescimento econômico alicerçado principalmente na expansão do mercado interno  e numa participação cada vez maior dos trabalhadores no dito cujo, à medida que o aumento de sua capacidade aquisitiva lhes permitiria consumir mais. 

Complementarmente, reformas estruturais (agrária, bancária, fiscal, urbana, administrativa e universitária) para eliminar distorções e focos de atraso, desimpedindo o caminho para um capitalismo moderno no Brasil (e não para o comunismo, como martelava a propaganda reacionária).
O golpe de 64 veio para impedir este modelo e implementar o desenvolvimento industrial por via conservadora, sem reformas e com inclusão relativa e controlada das classes trabalhadoras. 

Ao invés de reformas estruturais, pequenas mudanças cosméticas. Ao invés do desenvolvimento de forças produtivas nacionais, a mera transposição de indústrias multinacionais, com gordos incentivos fiscais (até mesmo os terrenos e a eletricidade lhes eram subsidiados!). O Brasil se endividava para alavancar o lucro das múltis. 

Optava-se, assim, pela transformação do país em mera barriga de aluguel das multinacionais, com um desenvolvimento superficial, pautado nas decisões volúveis dos proprietários das empresas, estes residentes fora do país. O país, portanto, criava um modelo de desenvolvimento refém dos movimentos de acionistas cujo único objetivo era o lucro. 

Enquanto as polpudas isenções fiscais e os nababescos incentivos do governo fluíam, as multinacionais iam ficando. Sem compromisso com transferência tecnológica ou com implementação de qualquer estrutura científica ou mesmo econômica. 

Mas, quando se tornou mais lucrativo para as multinacionais irem para outras bandas, elas saíram em peso. E assim foi ao longo da década de 90, com a transferência de fábricas para a Ásia, particularmente para a China. 

Não à toa, os últimos 30 anos viram o crescimento do peso das commodities no PIB nacional. A soja e o minério de ferro foram substituindo os manufaturados, à medida que a desindustrialização se acelerava. 

Portanto, não se trata de um fenômeno recente ou cuja responsabilidade recaia apenas sobre a insegurança econômica gerada pelo errático Governo Bolsonaro. Ele apenas é o epílogo deste processo, sendo também efeito dele. 

O modelo criado por Delfim e pelos militares mostrou-se insustentável justamente porque não trouxe complexificação e enraizamento industrial ao país. Sem reformas estruturais e desenvolvimento tecnológico nacional, era apenas questão de tempo para as multinacionais partirem daqui, seja em busca de lugares mais atrativos, seja por questões de reorganização produtiva. 

Algo irônico nisso tudo é que os militares golpistas diziam ser necessário impor a ditadura para evitar que o Brasil se tornasse uma nova China. Que palpite infeliz!

O modelo chinês hoje, para o bem ou para o mal, obtém sucesso em desenvolver o país, graças imensamente às reformas estruturais feitas por Mao. E, enquanto a China inaugura milhares de quilômetros de trens e cria um sol artificial, o Brasil se avacalha, com generais semialfabetizados sendo utilizados como dublês de ministros. 

Longe de fazer uma louvação acrítica do desenvolvimento capitalista chinês, pretendo apenas mostrar o quanto opções distintas feitas há mais de meio século levaram os dois países a condições radicalmente opostas no presente. 

Lamentável pela perda de empregos e de renda, bem como pela falência da cadeia de insumos, o fechamento da Ford é apenas mais uma comprovação da essência do capitalismo e de como as opções nefastas do regime de 1964, mantidas na redemocratização, conduziram o Brasil ao abismo. (por David Emanuel de Souza Coelho

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

O GOLPE PARA REELEIÇÃO NO CONGRESSO COMPROVA MAIS UMA VEZ QUE O SISTEMA POLÍTICO LIBERAL É UMA FARSA

E
stá sendo dado em Brasília, mais precisamente no Supremo Tribunal Federal, um golpe. Sim, um golpe puro e simples.

A constituição federal, em seu artigo 57, parágrafo 4, é clara:
"Cada uma das Casas reunir-se-á em sessões preparatórias, a partir de 1º de fevereiro, no primeiro ano da legislatura, para a posse de seus membros e eleição das respectivas Mesas, para mandato de dois anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subsequente".
Ora, não há meio termo ou espaço para interpretação divergente no que está escrito acima. Basta ter a capacidade da leitura para compreender o texto constitucional. 

No entanto, um julgamento bizarro é conduzido no Supremo Tribunal Federal para rasgar o texto constitucional e permitir a reeleição dos atuais presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, respectivamente. 

Com Gilmar Mendes à frente – sempre ele! –, o objetivo é permitir que o arranjo político atual nas duas casas permaneça, favorecendo aprovação de medidas draconianas contra o povo. 

Meu objetivo aqui, contudo, não é pregar um purismo legalista ou mesmo dar lições constitucionais. Longe disso. Tenciono apenas mostrar o quanto este fato é mais um exemplo da farsa do sistema político liberal e suas leis de conveniência. 

Na realidade, e sabemos isto de cor, o verdadeiro poder é o capital. Este determina o que pode ou não ser feito e quando será ou não feito. 

É em função de suas tensões, crises, expansões e articulações que toda instituição política é criada e mantida. E, por sua conveniência, toda instituição pode ser mudada ou destruída. 

O poder constitucional é apenas uma emanação do poder material da burguesia. Este é que detém a última palavra. 

No século 17, Thomas Hobbes já era um cético do nascente sistema liberal de governo, pois acreditava que, em última instância, o poder de fato era um poder de força material, nunca de legalidade. 

Por isso, para ele mesmo a propriedade privada era um direito concedido pelo governante, pois apenas este poderia se impor na sociedade pela força das armas e determinar o que era de cada um. 

Quando o STF, de modo tão desinibido, ataca e subverte a constituição – que ele, supostamente, deveria proteger –, é a prova cabal de que a legalidade burguesa é apenas um biombo, facilmente movível a depender da necessidade do momento. 

E aqui cabe a pergunta: por que, diante disso, a esquerda ainda se arvora em crédula no sistema legal? Por qual motivo se lança de cabeça em campanhas eleitorais, quando do centro do poder vem o explícito desprezo às leis e ao bom ordenamento jurídico? Não deveria ser a hora de a esquerda abandonar de vez seu preciosismo e ir denunciar em alto e bom som a farsa do sistema legal burguês e apontar para o verdadeiro poder, que sempre foi e só pode ser o material?

Quando o ataque à legalidade parte do centro protetor da legalidade burguesa, é sinal de que a falência generalizada deste sistema já está em estado avançado. É apenas questão de tempo para sua ruína final e aí a grande questão será: o que vai vir depois?
(por David Emanuel de Souza Coelho)

terça-feira, 11 de agosto de 2020

AGINDO POR PROCURAÇÃO DA ELITE BRASILEIRA, O MOTOQUEIRO FANTASMA TRAZ EM SUA GARUPA O COLAPSO DO PAÍS

Bolsonaro de moto no meio da tragédia: isto só é possível porque a burguesia brasileira assim decidiu
"Nesses últimos seis meses, vou me dedicar à reforma tributária."

Esta frase foi proferida por Rodrigo Maia, presidente da câmara dos deputados, na semana em que o Brasil alcançou a triste marca de 100 mil óbitos por causa da Covid-19, tornando-se o segundo país do mundo com maior número de mortos, atrás apenas do disfuncional Estados Unidos de Trump. 

A frase de Maia é apenas exemplo do profundo nível de alienação e indiferença que paira no sistema político brasileiro. 

Um pouco antes, o mesmo sujeito já havia dito não ter ainda elementos para levar adiante o impeachment de Jair Bolsonaro. Para ele, nenhum dos 50 pedidos possuíam a mesma força de evidências do pedido contra a ex-presidente Dilma, cassada por ter dado pedaladas fiscais

Rodrigo Maia é a expressão acabada de um regime falido. Pusilânime, inexpressivo e nanico, pensa apenas em seu próprio projeto de poder, o qual incluí muita coisa de ilícita, conforme já mostrado pela Lava-Jato em épocas anteriores. Mas ele não é o único. 

Iguais a ele são os presidentes do Senado e do STF, liliputianos políticos priorizando seus interesses particulares. Mas há também um exército de políticos em Brasília e no país afora que apenas se importam consigo mesmos e com o bolso. 

A política existe para servir à classe dominante, já mostrava a lição do velho Marx. Então, o sistema político é deste modo porque a própria classe dominante assim o é. 

Já tive oportunidade de mostrar que o projeto da burguesia brasileira é o de terra arrasada. O fracasso da industrialização pela via colonial – conforme termo consagrado pelo filósofo José Chasin – fez a burguesia nacional regredir suas fontes de extração de valor para a atividade predatória pura e simples: predatória do meio ambiente, dos recursos naturais e da vida da população. 

Daí, a eleição de Bolsonaro não ter sido um acidente. Foi o resultado direto de um projeto destrutivo, disruptivo, que apenas poderia ser conduzido sob um governo igualmente destrutivo e disruptivo. O caos, o desnorteamento, a universalização da criminalidade no aparelho de Estado e a disfuncionalidade são método, mas um método originário do próprio projeto da classe dominante brasileira. 

Por isso, Bolsonaro não cai. Por isso, Rodrigo Maia, office boy da burguesia nacional, não vê crime algum para justificar um impeachment. Bolsonaro é necessário à burguesia nacional para levar a cabo o programa de devastação e regressividade socioeconômica. 

A missão dele ainda não está terminada. Somente quando a devastação chegar a um ponto de não retorno, ou que for possível fazer um arranjo institucional em que o sucessor esteja dentro do esquema, é que Bolsonaro será descartado. 

As 100 mil mortes mostraram o quanto a classe dominante brasileira valoriza seu próprio povo. Enquanto outras burguesias sacrificam seus trabalhadores na guerra, a nossa burguesia deixa os trabalhadores morrerem pela ação de um vírus. 

Não podemos ter nenhum pingo de dúvida quanto à ação política deliberada que norteou tais mortes. Não foi obra da natureza. Foi resultado direto de uma política genocida, levada a cabo por Bolsonaro e seu ministro militar, mas cuja liderança intelectual é da burguesia brasileira. 

Basta lembrar dos empresários que vieram à público meses atrás para relativizar as mortes; das pressões contra o isolamento social; mas, sobretudo, da omissão diante da prática genocida do governo. 

A frase de Maia é expressiva quanto a esta omissão. Enquanto 100 mil pessoas expiram no Brasil, com maioria esmagadora de pobres e negros, a elite brasileira está preocupada com a reforma tributária, está preocupada em saquear mais ainda seu povo, ampliando a taxação sobre o pobre e isentando os ricos. 

A imagem de Bolsonaro passeando de moto no meio da tragédia só é possível porque a elite brasileira decidiu que a destruição e a morte devem ser a meta. Para esta elite, as 100 mil mortes são um dado da paisagem. O importante é apressar as reformas e preparar a mudança para Miami. 
Simbólico, portanto, o passeio de moto do presidente. É a exata medida da alienação da burguesia nacional e de seu sistema político diante do colapso nacional, colapso que é acelerado com as medidas disruptivas do projeto de reformas

Bolsonaro, o genocídio por covid, Rodrigo Maia, as reformas, todos embaralhados num mesmo processo de colapso do regime burguês do Brasil. 

O tempo dirá o que vai sair disso. No entanto, é preciso lembrar das lições da história. Sempre que um regime estava decadente e sua elite refugiava-se na alienação, não apenas considerando o povo descartável, mas também aumentando em demasia os sacrifícios impostos a ele, o resultado invariavelmente foi uma brutal ruptura revolucionária, com a explosão de violência contra a antiga classe dominante. A França em 1789 e a Rússia em 1917 são exemplos. 

A elite brasileira pode estar acelerando seu próprio fim, violento e doloroso fim. (por David Emanuel de Souza Coelho)

segunda-feira, 10 de agosto de 2020

HÁ 12 ANOS PRODUZINDO UM PENSAR SOCIAL REFLEXIVO E CONTUNDENTE

dalton rosado
ANIVERSÁRIO DE UMA TRINCHEIRA DE LUTA
Sábado passado (08/08) o blog Náufrago da Utopia completou 12 anos de existência ininterrupta, com o expressivo número de mais de 3,3 milhões de acessos.

Trata-se da vitória de um instrumento de comunicação que sobrevive sem nenhum patrocínio comercial, a despeito do grande esforço pessoal e dificuldades financeiras do seu editor e criador Celso Lungaretti.

Não é ao Celso que queremos reverenciar, uma vez que somos, por princípio avessos ao culto da personalidade; mas ao significado de um veículo de comunicação aberto ao debate, sem censura e que, mesmo se posicionando no campo anticapitalista em termos de linha editorial, não deixa de reconhecer méritos dos seus adversários ideológicos ou equivocados, quando eles existem. 

É fundamental, por sua transcendência, a importância de um veículo que se viabiliza graças à conjunção de esforços propiciada pelos avanços tecnológicos da área da comunicação via satélite, a permitir que se aliem ao Celso, o editor paulistano, colaboradores sem remuneração e tão distantes entre si: 
— o David Emanuel, de Belo Horizonte;
— o Dalton Rosado, de Fortaleza; e
— o Rui Martins, de Genebra, na Suíça.

O objetivo: produzir um pensar social reflexivo e contundente. E, para benefício dos leitores, a seus textos são acrescentados os de outros escribas, pinçados dos muitos veículos de comunicação, desde que tenham dado contribuições significativas no sentido de condensar um posicionamento crítico leal e firme sobre o processo dialético histórico e suas transformações irrefreáveis.

Quantos jornais foram empastelados pelas ditaduras mundo afora por terem se posicionado em favor das franquias sociais detestadas pelos ditadores??? 

Quantos deles acabaram facilitando os esforços dos tiranos para os neutralizarem, por dependerem de uma estrutura industrial de edição e publicação???

Quantos veículos de comunicação faliram como consequência das dificuldades econômicas de edição e, principalmente, do boicote do poder econômico, que jamais apoiou aqueles que se posicionam contra a tirania do lucro acumulador de capital escravista e segregacionista??? 

Quantos jornalistas foram assassinados por promoverem a divulgação de verdades que incomodam os opressores mundo afora, desde o árabe saudita Jamal Khashogg até o mais humilde radialista de província???
É graças a esses avanços tecnológicos, próprios de uma das contradições do capitalismo (o qual, como dizia Marx, cava a sua própria sepultura), que nascem tecnologias capazes de fazer e proporcionar a comunicação instantânea, mais difíceis de serem censuradas pelos déspotas de todos os tempos. 

Não devemos temer, portanto, as fábricas de fake news que infestam a internet, com sua massificação de mentiras à moda de Joseph Goebbels porque elas têm pernas curtas como todas as mentiras, logo se desmoralizando pela própria inconsistência.

A verdade (ainda que nunca seja absoluta, porque condicionada ao mesmo processo dialético que tudo transmuta, mas que protege no longo prazo aqueles que a buscam) tende a prevalecer sobre a mentira, tal qual o óleo, dentro d'água, termina vindo à tona.

Como poderiam, p. ex., imaginar os eleitores menos informados que o presidente Boçalnaro, o ignaro, eleito como candidato anticorrupção, fosse agir como o mais cínico praticante da velha política à qual dizia não pertencer?! 

Mas, os observadores atentos do processo histórico, munidos das ferramentas de análise dialéticas, já anteviam tal desfecho, que hoje deixa atônitos os seus incautos adeptos.

[aqueles que ingenuamente acreditaram nas falácias eleitorais de quem nada jamais construiu e baseou sua nefasta carreira parlamentar no elogio da morte e na agressão verbal em todos os níveis comportamentais.] 

As teses levantadas neste blog sempre podem ser reproduzidas com atualidade, justamente porque, ao contrário da mentira e do engodo, o tempo somente as ratifica e lhes empresta credibilidade.

Quantos visitantes, dentre os mais de 3,3 milhões de acessos ao blog nesses 12 anos, puderam se instruir e formar um pensamento crítico sobre a realidade que os rodeia, daí extraindo conclusões libertárias que formam um conjunto de visões transformadores e redentoras?

São os nossos leitores que alimentam o nosso esforço de redação, e é a eles que destinamos toda a nossa contribuição, que esperamos seja valiosa.

Este é o grande mérito do blog e aquilo que nos deixa, ao mesmo tempo, esperançosos e sentindo-nos responsáveis por sua continuidade e perpetuação, seja por nossas mãos, seja pelos que hão de nos sobrevir. (por Dalton Rosado) 
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UM ADENDO QUE NÃO PODERIA FALTAR
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Caro Celso, 

não fosse o testemunho de sua têmpera revolucionária atestada desde a mais tenra idade (que é fato histórico educativo) e tantas outras lutas travadas, bastaria, para justificar-lhe a existência, a criação e edição do Náufrago da Utopia, instrumento de educação e pesquisa histórica de inegável utilidade na construção de um novo porvir.

Parabéns dos seus colaboradores, agradecidos pelos esforços que você desenvolve a cada dia.  (DR)
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TOQUE DO EDITOR Se há algo que não aprendi nesses 52 anos em que venho travando o bom combate é a lidar com elogios. Sempre fico com a impressão de não os merecer e de que poderia ter feito mais e melhor. 

Só duas vezes, por ter contribuído para arrancarmos vitórias na bacia das almas quando a correlação de forças nos era esmagadoramente desfavorável, eu tive a sensação de dever cumprido em sua totalidade: a greve de fome dos quatro de Salvador em 1986 e a libertação de Cesare Battisti em 2011.  

Agradeço as palavras generosas do Dalton, até porque percebo sua intenção de animar-me, pois, mesmo afastados os piores augúrios sobre Bolsonaro, hoje apenas outro dos nossos muitos presidentes medíocres que se mantiveram no poder recorrendo à politicalha imunda, o desencanto da eleição presidencial de 2018 persiste latejando em mim como uma ferida aberta. 
Agora falta Nuremberg para alguém

Jamais deixarei de considerar que o Brasil não mereceu o sacrifício daqueles  meus heroicos companheiros que de tudo se privaram, inclusive dos anos de vida que lhes restavam, para que nunca mais este país sucumbisse à sanha bestial e boçal dos que negam tudo que há de belo, livre, amoroso, criativo, solidário, desprendido, pacífico, digno e nobre em nossa existência. 

Voltando ao blog, prefiro considerá-lo uma obra em construção, que ainda comporta aperfeiçoamentos e melhoras, principalmente no sentido de fazermos chegar a contingentes mais amplos as sementes que espalhamos, sem prejuízo da consistência ideológica e da honestidade de propósitos que nos trouxe até aqui.

Meu abraço fraterno e minha gratidão a você, Dalton, e aos incansáveis David e Rui. 

Meu muito obrigado aos leitores que nos prestigiam e incentivam, pois são eles a razão de nossa... insistência

E meu sonho de um dia ainda ver o Náufrago dedicando posts e mais posts a um novo julgamento com o mesmo espírito daqueles de Nuremberg, tendo como réu principal vocês sabem quem... (por Celso Lungaretti)

domingo, 9 de agosto de 2020

NÁUFRAGO DA UTOPIA: UM BLOG QUE HÁ 12 ANOS DESAFINA O CORO DOS CONTENTES

Mea culpa: neste ano estou noticiando com um dia de atraso o aniversário do blog. A minha atenção estava tão voltada para o Dia dos Pais que passei batido pelos 12 anos do Náufrago.

Coisas de pai idoso, que só pôde realizar o sonho de ter crianças do seu sangue já cinquentão, precisou dar uma guinada radical numa vida  já estabilizada e, apesar dos muitos percalços, hoje tem como seus entes mais queridos uma filha de 18 anos e outra de 12, que são uma razão muito forte para continuar lutando contra todas as adversidades do destino e todas as insídias dos genocidas.

Mais do que todos os outros, este Dia dos Pais teve um significado muito especial, já que veio depois da quarentena que nos manteve afastados por quase cinco meses, com muitas dúvidas sobre se conseguiríamos comemorá-lo juntos. Acabou dando tudo certo, felizmente.
Apollo Natali

Quanto à nossa efeméride particular, ela sempre terá um sabor meio amargo por causa da proximidade do aniversário da morte do Apollo Natali, um dos melhores colaboradores que já tivemos, extraordinário cronista e um ser humano como poucos, falecido em 31/07/2018.  

Tive o privilégio de contar com sua amizade e suas iluminações durante 27 anos, então foi como perder o irmão que nunca tive, mas a vida me concedeu.

O único consolo para nós é que ele foi poupado de testemunhar o que o Brasil se tornou a partir do pleito de três meses depois, pois lhe teria partido o coração. 

É, contudo, gratificante a sensação de dever cumprido que a data nos inspira. Mantemos intransigentemente os compromissos com a justiça social, a liberdade, os direitos humanos e o pensamento crítico, jamais cedendo a pressões nem buscando o sucesso fácil. 
Dalton Rosado

Quando se consumou a eleição de um presidente que inspirava graves temores de iminência da instalação de alguma forma de fascismo no Brasil, não abandonamos por um dia sequer nossa postura combativa, colocando a preservação de outras vidas muito acima de nossa autopreservação. 

Felizmente, não houve Operação Jacarta nenhuma e a ameaça (que realmente chegou a existir), por não ser sólida, foi se desmanchando no ar.

Mantivemos o foco no futuro, jamais transigindo com uma esquerda que teve imensa responsabilidade pelos desastres da década que está se encerrando, quais sejam: 
— o abandono dos jovens manifestantes de 2013 à sua própria sorte, permitindo que fossem esmagados pela reação; 
David Emanuel Coelho
— o ideologicamente aberrante e economicamente catastrófico governo neoliberal de Dilma Rousseff a partir de 2015, que nos fez perder as ruas e ensejou o renascimento da extrema-direita que saíra desmoralizada da ditadura militar;
— a incapacidade de articulação de qualquer reação significativa ao impeachment da Dilma e à prisão do Lula; e
— a eleição de um presidente que empunhava as bandeiras do retrocesso, do atraso e da desumanidade, além de cercado por sérias suspeitas de envolvimento numa infinidade de crimes comuns.

Quem a tudo isso assistiu perplexo e perdeu todas as batalhas que tentou travar só poderá ser aceito como defensor das causas populares se fizer rigorosa autocrítica, reconhecendo os erros cometidos e se comprometendo a nunca neles reincidir, bem como a rever com humildade e discernimento sua prática, principalmente no que tange à aposta (cada vez mais insensata!) numa regeneração do capitalismo, algo tão improvável quanto um lobo virar carneiro. 
Rui Martins

O capitalismo se encaminha, isto sim, para sua pior depressão econômica em todos os tempos, quando utilizará todos os recursos disponíveis para a própria sobrevivência, não para socorrer as vítimas de sua ganância desmedida.

Enfim, o Dalton Rosado, o David Emanuel de Souza Coelho, o Rui Martins, eu e quem mais quiser nos ajudar nessa luta, manteremos o Náufrago como:
— uma trincheira na luta contra o capitalismo e suas manifestações agônicas, como esse neofascismo que está morrendo na praia após causar imensos danos aos brasileiros (aí inclusas algumas dezenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas na atual pandemia); e 
— como um espaço aberto para a discussão franca de teses, posturas e propostas que nos possam conduzir a um estágio superior de civilização, com a priorização do bem comum e da realização plena dos seres humanos.

Celso Lungaretti
No que depender de nós, continuaremos desafinando o coro dos contentes (grande Torquato Neto, que tão jovem nos deixou!) nos próximos 12 anos e por quantos mais o destino nos permitir. 

Contamos com o apoio de todos vocês, principalmente divulgando o blog e seus posts, pois quem marcha na contramão tanto do sistema dominante quanto da esquerda institucionalizada enfrenta dificuldades bem maiores e depende muito mais do apoio de seus companheiros de ideais.

A luta continua. (Celso Lungaretti)
"Vai, bicho, desafinar o coro dos contentes"

domingo, 7 de junho de 2020

O RECADO DAS RUAS FOI DADO: FORA, BOZO!

O grandioso ato no Largo da Batata comprovou: os donos das ruas de São Paulo agora são os antifascistas!
Sim, ainda temos pandemia. E mais de 35 mil brasileiros morreram até agora, apesar de o governo Bolsonaro tentar ocultar os dados.

No entanto, cada vez mais pessoas tomam consciência de que derrotar  o vírus  passa por derrotar tal governo. Pois a atitude genocida do presidente  está estimulando a ampliação no número de mortes no país.

Ele não apenas desconsiderou a gravidade da pandemia, como também fez tudo para dificultar o auxílio financeiro às classes mais pobres do Brasil. Seu descaso com a vida dos brasileiros mostra claramente a personalidade de um sociopata. 

Cercado por militares igualmente genocidas, começou agora a destruir também o Ministério da Saúde e a sonegar dados sobre a evolução da doença. Como se fosse um Hitler piorado, decidiu cair levando consigo todos os brasileiros que puder.
Dura derrota para Bolsonaro foi este seu bastião também ter caído nas mãos do povo: Brasília!
Por isso, mesmo correndo risco de contaminação, milhares de pessoas decidiram ir às ruas neste domingo (7), em inúmeras  manifestações por todo o Brasil. 

Só podemos agradecer o heroísmo dessas pessoas que, mesmo expondo-se ao perigo, saíram às ruas para defender os interesses maiores do povo brasileiro.

Saíram às ruas para pregar o afastamento do presidente e também para lutar contra o racismo que tão impregnado ainda está em nossa sociedade.

Racismo, inclusive, que é responsável por ampliar o número de óbitos pela Covid-19 entre os negros: eles constituem a maioria esmagadora dos trabalhadores precarizados que não possuem outra opção que não a de buscar nas ruas o necessário para a sobrevivência familiar, mesmo sabendo que estão sujeitos à fatalidade.
No Rio de Janeiro a luta contra o racismo foi destacada
Na verdade, a luta contra o racismo e a luta contra Bolsonaro são a mesma coisa, pois ele é o grande promotor do racismo no Brasil. 

Quando incentiva as pessoas a saírem da segurança de suas casas para trabalhar, sem importar-se com sua possível contaminação, ele está mexendo justamente com o emocional da parte mais pobre e precarizada da população, ou seja, os negros. Isso transforma seu ato praticamente numa ação de limpeza étnica, ou seja, puro genocídio.

Daí as manifestações de hoje se haverem tornado, praticamente, uma ação de sobrevivência.

É este, fora de dúvida, o grande triunfo de tais protestos, que mobilizaram número gigantesco de participantes. Seu sucesso pode ser melhor dimensionado quando se observa quão poucos bolsonaristas ousaram  sair às ruas. Um número bem diminuto, poucas dezenas de cabeças de gado.

O contraste foi claro. O povo brasileiro, massivamente, está contra Bolsonaro e seu projeto destrutivo. A tendência é de que o movimento doravante só cresça, apesar da permanência da pandemia. 
Belô também repudiou o presidente em franco declínio

Com isto Bolsonaro prova do seu próprio veneno, pois não foi ele quem, apesar das recomendações sanitárias, convocou seus apoiadores a irem às ruas? Isto só serviu para que ele provasse o gosto amargo de vê-las tomadas por seus opositores.

Apenas a pressão popular será capaz de derrubar Bolsonaro. mas não devemos exigir apenas sua remoção. É imperativa sua prisão e julgamento pelos crimes cometidos durante  a pandemia e mesmo antes. 

Não podemos e não devemos repetir os erros da redemocratização de 1985. A queda do Bolsonaro deve ser por nós encarada como um ponto de partida, não como ponto final. Nada de ficarmos a reboque das forças liberais que apenas querem retirar o vilão mais identificado como tal pela coletividade, para que o restante possa permanecer tudo como está.

É preciso irmos além,  atacando as bases estruturais que fomentam e possibilitam a ascensão de Bolsonaros.

Mas, já existe o que comemorarmos: o pontapé inicial foi dado e, pelo jeito, a partida poderá se resolver em pouco tempo, com uma massacrante  vitória dos democratas.

E a prudência manda ficarmos mais atentos do que nunca, pois um animal acuado é sempre mais perigoso. 

A luta só começou. Por isso, para todos aqueles que puderem e quiserem, é preciso ir às ruas já! Fora, Bolsonaro! 
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(David Emanuel 
de Souza Coelho) 

sexta-feira, 15 de maio de 2020

FOLHA DE S. PAULO, EM EDITORIAL, AVALIA O BOLSONARO COMO "UM PRESIDENTE QUE JÁ NEM MESMO FINGE GOVERNAR O PAÍS"

A QUEDA
O pedido de demissão de mais um ministro da Saúde —em menos de um mês e durante a mais grave emergência sanitária da história contemporânea— escancara a derrocada de um presidente da República que já nem mesmo finge governar o país.

Importa menos, até, a perda de um quadro como Nelson Teich, de permanência no posto insuficiente para tomar conhecimento dos meandros da máquina administrativa. Tampouco seria insuperável a saída do antecessor, Luiz Henrique Mandetta, que cultivara boa imagem em entrevistas acerca do combate ao coronavírus.

Está em curso, isso sim, a completa e justificada desmoralização do governo nacional, a cada dia nublado pela mesquinharia e pela estupidez de Jair Bolsonaro.

Torna-se inimaginável, na Saúde, que algum profissional sério e sensato vá conformar-se a um chefete obcecado com quiméricas cloroquinas e, pior, empenhado numa cruzada macabra contra as imprescindíveis políticas de distanciamento social a custo tocadas por governadores e prefeitos.

Obstáculos similares se apresentam às demais áreas da gestão que ainda gozam de alguma credibilidade. Todas, cedo ou tarde, tendem a estar subordinadas à única prioridade real do presidente —agarrar-se a um cargo para o qual reúne parcas condições intelectuais, morais, programáticas e políticas.
Sua intervenção cretina na gestão da saúde pouco difere da ingerência na Polícia Federal que pode custar-lhe o mandato. Num e noutro caso, trata-se de colocar a própria sobrevivência acima das políticas de Estado e do interesse nacional.

Ao investir contra quarentenas, Bolsonaro pretende se eximir de responsabilidade pela recessão inevitável. Na acintosa afronta à autonomia da PF, ambiciona desvencilhar-se de investigações que o envolvem e a seus filhos. O próximo passo, tudo indica, será o loteamento do Executivo em favor de forças partidárias fisiológicas.

“Vou interferir. Ponto final”, vociferou o presidente na reunião ministerial de 22 de abril, cujo conteúdo gravado em vídeo é peça-chave no inquérito que apura um possível —e crescentemente plausível— crime de responsabilidade.

Sua defesa se apega à ausência de menção explícita à instituição policial no trecho, o que soa como filigrana diante do conjunto da obra. Na saída de Sergio Moro da Justiça, como nas de Teich e Mandetta, sobram as evidências da recusa presidencial à impessoalidade da administração, que as trocas na PF apenas expõem formalmente.

Com meros 500 dias de mandato, Bolsonaro subtrai opções. Não bastassem as calamidades sanitária e econômica, ele próprio converteu-se em crise a ser enfrentada. 
Toque do editor — Talvez eu trouxesse de qualquer maneira este editorial da Folha de S. Paulo para o blogue, pois concordo com ele da primeira à última palavra. Contudo, o que mais pesou na minha decisão foi sua contundência, inusual nos posicionamentos da grande imprensa.

Vieram-me logo à lembrança os famosos editoriais do Correio da Manhã em 1964 —o Basta e o Fora—, defendendo o afastamento do presidente João Goulart. Embora, no caso presente, o alvo seja um mandatário mais assemelhado ao Jânio Quadros e ao Fernando Collor.

O certo é que pode estar iminente a retirada do bode da sala, operação à qual tanto o David Emanuel Coelho quanto eu já aludimos várias vezes: vai chegar o dia em  que os próprios poderosos se incumbirão de fazer a faxina à qual nós, da esquerda, deveríamos estar dedicando prioridade máxima, caso não atravessássemos um período de hibernação interminável ou de combatividade zero... (por Celso Lungaretti) 
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