domingo, 9 de agosto de 2020

NÁUFRAGO DA UTOPIA: UM BLOG QUE HÁ 12 ANOS DESAFINA O CORO DOS CONTENTES

Mea culpa: neste ano estou noticiando com um dia de atraso o aniversário do blog. A minha atenção estava tão voltada para o Dia dos Pais que passei batido pelos 12 anos do Náufrago.

Coisas de pai idoso, que só pôde realizar o sonho de ter crianças do seu sangue já cinquentão, precisou dar uma guinada radical numa vida  já estabilizada e, apesar dos muitos percalços, hoje tem como seus entes mais queridos uma filha de 18 anos e outra de 12, que são uma razão muito forte para continuar lutando contra todas as adversidades do destino e todas as insídias dos genocidas.

Mais do que todos os outros, este Dia dos Pais teve um significado muito especial, já que veio depois da quarentena que nos manteve afastados por quase cinco meses, com muitas dúvidas sobre se conseguiríamos comemorá-lo juntos. Acabou dando tudo certo, felizmente.
Apollo Natali

Quanto à nossa efeméride particular, ela sempre terá um sabor meio amargo por causa da proximidade do aniversário da morte do Apollo Natali, um dos melhores colaboradores que já tivemos, extraordinário cronista e um ser humano como poucos, falecido em 31/07/2018.  

Tive o privilégio de contar com sua amizade e suas iluminações durante 27 anos, então foi como perder o irmão que nunca tive, mas a vida me concedeu.

O único consolo para nós é que ele foi poupado de testemunhar o que o Brasil se tornou a partir do pleito de três meses depois, pois lhe teria partido o coração. 

É, contudo, gratificante a sensação de dever cumprido que a data nos inspira. Mantemos intransigentemente os compromissos com a justiça social, a liberdade, os direitos humanos e o pensamento crítico, jamais cedendo a pressões nem buscando o sucesso fácil. 
Dalton Rosado

Quando se consumou a eleição de um presidente que inspirava graves temores de iminência da instalação de alguma forma de fascismo no Brasil, não abandonamos por um dia sequer nossa postura combativa, colocando a preservação de outras vidas muito acima de nossa autopreservação. 

Felizmente, não houve Operação Jacarta nenhuma e a ameaça (que realmente chegou a existir), por não ser sólida, foi se desmanchando no ar.

Mantivemos o foco no futuro, jamais transigindo com uma esquerda que teve imensa responsabilidade pelos desastres da década que está se encerrando, quais sejam: 
— o abandono dos jovens manifestantes de 2013 à sua própria sorte, permitindo que fossem esmagados pela reação; 
David Emanuel Coelho
— o ideologicamente aberrante e economicamente catastrófico governo neoliberal de Dilma Rousseff a partir de 2015, que nos fez perder as ruas e ensejou o renascimento da extrema-direita que saíra desmoralizada da ditadura militar;
— a incapacidade de articulação de qualquer reação significativa ao impeachment da Dilma e à prisão do Lula; e
— a eleição de um presidente que empunhava as bandeiras do retrocesso, do atraso e da desumanidade, além de cercado por sérias suspeitas de envolvimento numa infinidade de crimes comuns.

Quem a tudo isso assistiu perplexo e perdeu todas as batalhas que tentou travar só poderá ser aceito como defensor das causas populares se fizer rigorosa autocrítica, reconhecendo os erros cometidos e se comprometendo a nunca neles reincidir, bem como a rever com humildade e discernimento sua prática, principalmente no que tange à aposta (cada vez mais insensata!) numa regeneração do capitalismo, algo tão improvável quanto um lobo virar carneiro. 
Rui Martins

O capitalismo se encaminha, isto sim, para sua pior depressão econômica em todos os tempos, quando utilizará todos os recursos disponíveis para a própria sobrevivência, não para socorrer as vítimas de sua ganância desmedida.

Enfim, o Dalton Rosado, o David Emanuel de Souza Coelho, o Rui Martins, eu e quem mais quiser nos ajudar nessa luta, manteremos o Náufrago como:
— uma trincheira na luta contra o capitalismo e suas manifestações agônicas, como esse neofascismo que está morrendo na praia após causar imensos danos aos brasileiros (aí inclusas algumas dezenas de milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas na atual pandemia); e 
— como um espaço aberto para a discussão franca de teses, posturas e propostas que nos possam conduzir a um estágio superior de civilização, com a priorização do bem comum e da realização plena dos seres humanos.

Celso Lungaretti
No que depender de nós, continuaremos desafinando o coro dos contentes (grande Torquato Neto, que tão jovem nos deixou!) nos próximos 12 anos e por quantos mais o destino nos permitir. 

Contamos com o apoio de todos vocês, principalmente divulgando o blog e seus posts, pois quem marcha na contramão tanto do sistema dominante quanto da esquerda institucionalizada enfrenta dificuldades bem maiores e depende muito mais do apoio de seus companheiros de ideais.

A luta continua. (Celso Lungaretti)
"Vai, bicho, desafinar o coro dos contentes"

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