segunda-feira, 31 de agosto de 2015

CLÓVIS ROSSI: OU A PRESIDENTE É MUITO DISTRAÍDA OU MENTIU NA ENTREVISTA DA SEMANA PASSADA.

Novamente trago cá para o blogue um texto relevante e irrepreensível de autor alheio: o veterano Clóvis Rossi simplesmente completou o serviço que eu iniciara seis dias atrás com "A culpa é da China!". Me engana que eu gosto... 

Eu sempre preferi me manifestar de bate-pronto, mesmo sabendo que daria para fazer um artigo mais completo esperando alguns dias. Questão de temperamento; sou guerreiro e encaro cada escrito como parte de uma batalha. O calor dos acontecimentos me inspira e dá tesão...  

Mas, exulto quando posso agregar a posteriori uma análise tão primorosa quanto a do Clóvis Rossi. Aí não fica faltando nada para dizer, deixando-me com a certeza de haver informado bem meus leitores.

Leiam e avaliem.

A CRISE QUE SÓ DILMA NÃO VIU

Clóvis Rossi: distraída ou mentirosa?
De duas, uma: ou a presidente Dilma Rousseff é muito distraída ou mentiu na entrevista dada na semana passada à Folha, Globo e Estadão.

Nela, afirmou: "A crise começa em agosto, mas só vai ficar grave, grave mesmo, entre novembro e dezembro [de 2014]".

Não, presidente, a crise já estava grave, muito grave, antes disso: a economia brasileira retrocedeu nos dois primeiros trimestres de 2014, o que, tecnicamente, significa recessão.

Portanto, em agosto (o mês em que os dados do segundo trimestre foram dados a público), a situação já era "grave mesmo". Ou recessão não é grave, presidente?

Pior: o investimento vinha caindo desde o terceiro trimestre de 2013 e continuou caindo em todos os trimestres sucessivos até agora.

Ora, qualquer criança escolarizada sabe que queda do investimento, ainda mais em série, é sinal de crise grave, porque o crescimento à frente fica anêmico ou desaparece (como de fato desapareceu).

Tem mais: o site "Aos Fatos" justificou o nome e montou uma tabelinha sobre a arrecadação federal que mostra que, antes de agosto, a economia já estava estrebuchando: em julho/14, a arrecadação foi 0,23% inferior à de julho/13.

Foi o terceiro mês consecutivo em que a arrecadação aumentou muito menos do que nos mesmos períodos de 2013 ou até retrocedeu, como em julho.

Arrecadação crescendo pouco ou nada é óbvio sinal de problemas para as contas públicas.

Problemas para a economia vinham de mais longe ainda, conforme se lê na Carta de Conjuntura do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de dezembro de 2013, igualmente recuperada pelo "Aos Fatos".

O texto do Ipea dizia que "a perda de dinamismo da região [América do Sul] se deve basicamente a três fatores: a deterioração dos termos de troca; o menor crescimento da economia mundial, especialmente com a recessão na Europa e a desaceleração chinesa; e o esgotamento do impacto das medidas anticíclicas adotadas em toda a região em reação à crise financeira de 2008-2009. Aparentemente, os países do Mercado Comum do Sul (Mercosul) –em especial, a Argentina, o Brasil e o Paraguai– foram mais rapidamente afetados, de forma que o crescimento do PIB se desacelerou fortemente já em 2012".

De fato, a economia brasileira cresceu, em 2012, apenas 1% na comparação com o ano anterior.

Uma gerente atenta teria acendido o sinal vermelho ante dados (oficiais) desse teor.

No entanto, a gerente Dilma só viu algo um pouco preocupante no mês seguinte, agosto, mas esperou até novembro e dezembro para constatar algo "grave, grave mesmo".

Agora, a presidente diz que, "talvez", a inflexão da política econômica devesse ter começado antes.

Deveria, claro, mas havia no horizonte um obstáculo intransponível, a eleição de outubro.

Você conhece algum governante, fora Winston Churchill, que se anime a pedir "sangue, suor e lágrimas" (*)?

Se, ocultando a verdade, Dilma venceu por pouco, imagine o que aconteceria se não a ocultasse. Ela ganhou o governo, mas arruinou a governabilidade. 

* Segundo o Paulo Francis, a frase célebre do Churchill incluía trabalho: "sangue, suor, trabalho e lágrimas".

domingo, 30 de agosto de 2015

CPMF: REQUIESCAT IN INFERNUM.

Por que a popularidade da presidenta Dilma Rousseff despencou a ponto de torná-la ainda mais malquista do que os calamitosos Sarney e Collor?

Creio que a já fracassada (o governo acaba de desistir) tentativa de recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira ajuda a equacionar a questão.

Até agora, eram vistos como vilões maiores a recessão econômica e o mar de lama que as investigações do mensalão e do petrolão escancararam. O estelionato eleitoral de 2014 parecia ter ficado para trás.

No entanto, a extrema repulsa com que foi unanimemente recebida a ideia de ressuscitar a CPMF dá o que pensarmos.

Em 1993, ela foi vendida como uma solução para o custeio da Saúde Pública, com o respeitável doutor Adib Jatene emprestando ingenuamente sua imagem ilibada para uma pilantragem a mais dos políticos, sempre à cata de novos pretextos para tosquiarem os cidadãos.

O povo engoliu de boa fé a patranha e ficou espumando de raiva quando lhe caiu a ficha de que o objetivo real da patifaria jamais fora o de melhorar a Previdência Social, mas sim o de rechear os cofres do governo.

Ainda assim, o mesmo peixe podre foi vendido novamente no período 1997/2007, só que ninguém mais o comprou por livre e espontânea vontade. Foi enfiado goela dos governados adentro.

Extinta para alívio geral, esta herança maldita do FHC continuou atraente para os governos petistas, que a quiseram exumar em 2008, 2011 e, agora, em 2015. Negativo. O povo não é bobo, acreditou uma vez e nunca mais! Detesta os que tentam engambelá-lo de novo.

Seria interessante uma pesquisa que avaliasse o quanto pesa, na rejeição de Dilma, o fato de ela haver vencido a eleição de 2014 fazendo alarmismo a respeito da política econômica dos seus dois principais rivais, tendo depois adotado exatamente o mesmo receituário neoliberal.

Quem votou contra o arrocho fiscal ao votar em Dilma, agora percebe que foi feito de bobo e jogou seu voto no lixo. Fustigado pela inflação, pelo aumento das tarifas, pelo desemprego, pela perda de poder aquisitivo, em quem há de colocar a culpa?

Na Dilma, claro, pois foi ela quem prometeu mantê-lo a salvo de todos esses fantasmas.

Cujo arrastar de correntes é cada vez mais insuportável.

sábado, 29 de agosto de 2015

A RECESSÃO SE APROFUNDA. O LEVY AFUNDA.

Não sou, nem jamais quis ser, economista. Mas, desde que fui incumbido, aos 18 anos, de criar um setor de Inteligência numa organização guerrilheira (absoluta novidade na esquerda brasileira!), venho me aprimorando cada vez mais na garimpagem e interpretação de informações, extraindo do noticiário o que é realmente útil e permite vislumbrar os cenários futuros. Era o que interessava à VPR e é o que interessa a jornalistas. Então, o que começou como missão acabou se revelando uma vocação.

Jamais tendo sido um schoolar, não me aprimorei em comprovação, apenas desenvolvi minha intuição. Isto faz com que pessoas de mentalidade acadêmica geralmente não levem muito a sério minhas previsões, acostumadas que estão à montagem de arcabouços pretensiosos para sustentarem aquilo no que o autor crê desde o início. No entanto, quase sempre acerto. Algum dia aprenderão a respeitar mais a sensibilidade de quem é diferente deles.

Enfim, neste sábado, 29, um editorial da Folha de S. Paulo, fazendo o balanço da situação econômica a partir de dados que acabam de sair do forno, comprova o que afirmo há mais de um ano: estamos mesmo passando por aguda recessão, que pode até evoluir para uma depressão. 

Quando eu projetava este quadro para 2015, não cometia exagero nenhum. Apenas, operava com outros vetores, como o esgotamento do petismo e a falta de uma proposta alternativa à recessão purgativa que o grande capital certamente acabaria impondo e eu sabia estar destinada ao fracasso.
Dúvida cruel: demitir-se logo ou aguardar mais um pouco?

Também devo ter sido o primeiro a, quando Joaquim Levy foi escolhido pelo Bradesco e confirmado por Dilma Rousseff como ministro da Fazenda, escrever que ele não só defendia uma ortodoxia econômica nefasta e nefanda, como não tinha sequer qualificação e credibilidade para segurar a onda num momento dramático como o atual. Dito e feito. Até os grandes empresários aos quais serve estão visivelmente decepcionados com sua performance. 

E como não estariam, se a dura realidade é esta: (*).
"A recessão brasileira é maior do que se calculava até sexta-feira (28), quando foram divulgados os números do PIB relativos ao segundo trimestre. A atividade econômica recuou 1,9%, desempenho próximo das piores estimativas; os dados do final de 2014 e do início de 2015 foram revisados para baixo. 
As previsões para o ano tendem a se tornar mais sombrias. Projetava-se regressão de 2% a 2,5% do PIB. Os novos prognósticos já ultrapassam o teto dessa banda de pessimismo, confirmando que a economia brasileira deve sofrer a maior contração desde a queda de 4,3% em 1990, no governo Fernando Collor (então no PRN).
Não há, por ora, como contradizer as avaliações mais negativas. 
O consumo das famílias declinou pelo segundo trimestre consecutivo, o que não ocorria desde 2003, na crise que marcou o final dos anos Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). 
O investimento em novas instalações produtivas e em construção encolhe agora por oito trimestres consecutivos. O nível de confiança do consumidor e dos empresários está nas mínimas históricas, há estoques em demasia nas empresas e a deterioração do mercado de trabalho deve continuar pelo menos até meados de 2016".
* e não me venham com a velha cantilena de que o jornal da ditabranda é inconfiável. Nele há de tudo, desde a mais absoluta tendenciosidade até avaliações eminentemente técnicas, como esta. O que temos é de separar o joio do tribo.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

'ME ENGANA QUE EU GOSTO' TAMBÉM NO FUTEBOL

Yo soy un hombre sincero. E tendo a pensar sempre o melhor dos outros, o que já me acarretou imensas decepções.

Quando tentava me firmar como crítico cinematográfico, atuando em pequenos veículos, fui em 1979 convidado para uma exibição antecipada de Alien, o oitavo passageiro, na cabine do circuito Sul Paulista. Compareceram todos os medalhões da crítica.

À saída, travaram verdadeira competição de quem lembrava mais filmes antigos dos quais Ridley Scott teria chupado alguma coisa. Quem os ouvisse, necessariamente concluiria que Alien não passava de uma colcha de retalhos, reaproveitando muito do que se fizera na ficção-científica dos anos 50.

Quando fui ler as críticas por eles escritas, constatei que todos haviam saído pela tangente, procurando fórmulas que nem fossem um elogio rasgado ao filme, nem afugentassem o público e atraíssem contra eles a ira da empresa cinematográfica. Nem sim, nem não, muito pelo contrário.

Evidentemente, carreira adentro, várias vezes me depararia de novo com a mesmíssima atitude: a opção de ficarem em cima do mudo para não matarem a galinha dos ovos de ouro.

Então, não foi nenhuma novidade para mim a conivência de quase todos os cronistas esportivos com a malandragem de Corinthians e Atlético Mineiro, que deram um jeitinho de serem eliminados da Copa do Brasil porque lhes convinha preservar seus times para o Campeonato Brasileiro.

Ambos estão na frente e têm grandes chances de conquistarem o título do Brasileirão ou, pelo menos, a vaga para a Taça Libertadores da América (que os três primeiros colocados garantem e o quarto pode obter na repescagem).

Face a isto, passou a ser para eles um estorvo a participação na Copa do Brasil,  competição simultânea e de importância inferior, que dá direito a uma única vaga na Libertadores (o campeão se dá bem e todos os demais saem de mãos abanando...). 

Se Corinthians e Atlético Mineiro fossem adiante, disputariam mais duas, quatro ou seis partidas, com elencos já desgastados e correndo sério risco de perderem seus melhores jogadores por contusão.

Então, o técnico corinthiano Tite, desde o início, pretendeu dar um merecido descanso a alguns titulares. Houve uma reunião com o presidente Roberto de Andrade e aparentemente ficou decidido o contrário. Na verdade, bolaram um estratagema para dourar a pílula.

O Corinthians entrou com sua força máxima na Vila Belmiro... mas logo saltou aos olhos a falta de empenho. Nós fingimos que fomos dominados e vocês fingem que ganharam de verdade...

No jogo de volta, nesta 4ª feira (26), Tite foi mais longe ainda, poupando de cara os meiocampistas Jadson e Elias, além do lateral Fagner. No intervalo, trocou também o meiocampista Bruno Henrique. Com isto, claro, entregou numa bandeja a vaga para o Santos, que já esteve ameaçado de rebaixamento e atualmente, em fase de reação, é o 11º colocado no Brasileirão. 

Pior ainda fez o Atlético Mineiro: deu um jeito de ser desclassificado pelo coitadeza Figueirense, que está em 14º no Brasileirão, apenas dois pontos acima da zona de rebaixamento. Quem engolir isso como normal compra até terreno em Marte, pagando à vista...

Incrivelmente, nenhum cronista esportivo escreveu, taxativamente, que torcedores  e telespectadores foram logrados. O que chegou mais perto disto foi o Juca Kfouri, com ironias e indiretas.

Ao não serem sinceros, deixam de levantar a questão de que é simplesmente desumana a maratona de jogos imposta aos atletas, tipo do boi só se perde o berro.

Mesmo com seu pulo do gato, os alvinegros de São Paulo e de Minas completarão seis semanas consecutivas jogando duas partidas por semana; já os que avançaram na Copa do Brasil, oito.

Destes últimos, os que ultrapassarem a barreira das quartas de final terão finalmente, na nona semana. 6 ou 7 dias de intervalo entre uma partida e outra, voltando em seguida ao regime massacrante.

Como o futebol atual é de alta intensidade, Corinthians e Atlético Mineiro deverão levar uma significativa vantagem sobre seus perseguidores Grêmio, Fluminense, Palmeiras e São Paulo na reta final do Brasileirão. Talvez até já tenham assegurado para si o campeonato e o vice, só restando definir quem será qual.

É lamentável que técnicos conscienciosos como Tite e Levir Culpi, para fazerem o certo (descartarem um torneio menor, que poderia detonar seus times) tenham de recorrer a tais subterfúgios.

E é também lamentável que todos continuemos fechando os olhos à forma peculiar de exploração do trabalhador futebolista --mesmo os que ganham uma fábula (e estão muito longe de serem maioria), não deveriam ser obrigados a esforços muito além do salutar e do aceitável. Entre outros motivos, por causa de uma leizinha assinada em 13 de maio de 1888.

O capitalismo tem o toque de Sadim: transforma em excremento tudo que toca.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

GASPARI APONTA "ESPÍRITO DE BUNKER" NO GOVERNO DILMA. VEJA "A QUEDA!" E COMPARE...

Foto recentemente descoberta do bunker de Hitler
Há muitas explicações possíveis para o fracasso retumbante do segundo governo de Dilma Rousseff e muita gente tentando encontrar algo novo para dizer, depois do tanto que já foi dito. 

Nesta 4ª feira, 26, o jornalista/historiador Elio Gaspari conseguiu introduzir uma abordagem diferente. Palmas para ele! E até que a coisa faz muito sentido:
"A falta de experiência parlamentar (o caso de Dilma) ou a incapacidade de preservar alianças (o caso do PT) influi no metabolismo dos palácios, transformando-os em bunkers: 'Nós estamos certos e todos os outros estão errados'. Em seguida, dentro do bunker, estabelece-se uma competição de egos. 'Eu estou certo e meu rival dentro do governo é a causa de todos os males'. 
Desgraçadamente, uma vez criada a mentalidade do bunker, o mundo em volta deixa de ter importância. Briga-se pela briga. O exemplo extremo dessa patologia pode ser encontrado no bunker mais famoso de todos os tempos, o da Chancelaria do 3º Reich, em 1945. 
Aquilo é que era bunker, a oito metros de profundidade. Hitler e seu 'núcleo duro' enfurnaram-se nele em janeiro e de lá o Führer comandava sua guerra, tendo Martin Bormann como seu braço direito. Velho rival do espalhafatoso marechal Herman Goering, Bormann teve o seu momento de esplendor no dia 25 de abril e conseguiu demiti-lo de todos os cargos, expulsando-o do partido.

Os russos estavam a poucos quarteirões de distância. No dia 30 de abril, o Führer matou-se e, uma semana depois, o poderoso Bormann deixou o bunker. Enfim, vencera e fora designado testamenteiro de Hitler e chefe do partido nazista. Morreu na rua, a pouca distância do bunker".
O que se vê na cúpula do Executivo é exatamente o distanciamento patológico do mundão lá fora, a total falta de sensibilidade política, a ponto de, em julho de 2013, nenhum grão petista ter atentado verdadeiramente para o fato de que as ruas começavam a ter voz própria, ou, um ano atrás, para o fato de que havia uma gravíssima crise econômica incubada, prontinha para eclodir no início do governo seguinte.

Não, a obsessão com a politicalha miúda e sórdida de Brasília a todos cegava. A ponto de uma antiga revolucionária como a Dilma, que deveria conhecer muito bem os antecedentes do golpe de 1964, ter repetido o desatino do João Goulart, de tentar impor políticas econômicas conservadoras (até o banqueiro Walter Moreira Salles chegou a ser ministro da Fazenda do Jango!), contra a qual a esquerda necessariamente se rebelaria, acabando por inviabilizá-las. 

O fogo amigo do Brizola foi devastador para seu cunhado, assim como Lula, o criador, em muito contribuiu para desmoralizar e avacalhar Dilma, a criatura. [Como uma grande revista revelou, ele chegava, nos papos informais com políticos e grandes empresários, a compará-la com as aborrescentes teimosas, "a gente dá conselho, dá conselho, dá conselho, mas não adianta, acaba sempre tendo de buscá-la na delegacia"...]

Não demorará muito para Joaquim Levy cair de vez (já é um fantasma arrastando correntes pelos palácios do poder, igualzinho ao Guido Mantega depois da fritura) e para Dilma entrar na fase dos ziguezagues, ora guinando à esquerda, ora voltando à direita, pois quem não aprende com as lições da História, acaba por as repetir.

Aproveitando o ensejo, retomo a disponibilização de filmes para ver no blogue com uma interessantíssima visão de como foram os momentos derradeiros de Adolf Hitler e seus cúmplices naquele que Gaspari qualificou de "bunker mais famoso de todos os tempos": A queda! (2004, d. Oliver Hirschbiegel, c/ Bruno Ganz). 

Não se trata de documentário, mas sim de uma dramatização dos acontecimentos, feita com muito rigor histórico (ou seja, bem distante das falsificações hollywoodescas, que colocam a espetacularização acima de tudo).

De quebra, poderemos divertir-nos estabelecendo paralelos entre os dois bunkers. P. ex., quem virá a ser o nosso Martin Bormann, aquele que apagará as luzes depois da queda? O Mercadante? 

terça-feira, 25 de agosto de 2015

"A CULPA É DA CHINA!". ME ENGANA QUE EU GOSTO...

Está na Folha de S. Paulo desta 3ª feira, 25:
"Em mais um dia de fortes turbulências na China, o Palácio do Planalto considerou preocupantes os efeitos da piora do cenário externo sobre o Brasil porque vão dificultar ainda mais a recuperação da economia brasileira neste ano e no próximo. 
O receio da equipe presidencial é que uma desaceleração chinesa acentue a retração da economia brasileira em 2015 e gere risco real de o país continuar em recessão em 2016, algo que o governo vinha descartando".
Uma gracinha, não? Eis que cai do céu uma desculpa para a recessão que inevitavelmente ocorreria também em 2016. A culpa é da China!, dirá a Dilma. Como, aliás, já está dizendo:
"Até eu voltar [da reunião] dos Brics [em julho], estava achando que [a crise econômica no exterior] era superável. Só não contava com essa queda sistemática. Estava achando que era superável por tudo que eu sabia. Ia ter dificuldade, mas não ia ter uma situação muito difícil. A partir de hoje, não sei. Ninguém sabe".
Ou seja, desse "tudo" que ela, como presidenta, "estava achando" em julho, ficou de fora a avaliação do FMI na sua reunião de abril, sobre a qual eu escrevi no dia 23/04: 
"O Fundo Monetário Internacional, no seu encontro da semana passada, colocou os pingos nos ii: o PIB brasileiro deverá ter evolução negativa em 2015 (-1%) e baixo crescimento no restante da década: 0,9% em 2016, 2,2% em 2017, 2,3% em 2018, 2,4% em 2019 e 2,5% em 2020. 
Segundo as previsões do FMI, que costumam dar certo ou chegarem perto disto, a tendência é de que não atinjamos, na atual década, nem sequer metade do crescimento alcançado na década passada, que foi de 3,6% ao ano. 
A recessão será brava em 2015 e 2016, com os quatro anos seguintes trazendo algum alívio, mas ainda nos deixando bem longe dos cenários comparativamente auspiciosos da década anterior".
Conclusão óbvia: se em julho a Dilma não levava em conta um quadro negativo que o FMI havia escancarado três meses antes, é melhor colocarmos as barbas de molho. Pode ser que tenhamos uma Edward John Smith (o comandante do Titanic) na Presidência. E o iceberg está cada vez mais próximo...

Mais: na 2ª feira da semana passada, sete dias antes do crack da bolsa chinesa, O Estado de S. Paulo informava que analistas agora projetam dois anos de recessão na economia. Eis os parágrafos iniciais:
"Pela primeira vez no Relatório de Mercado Focus, analistas do setor privado estimam queda da atividade também em 2016. Além disso, os analistas mais pessimistas também renovaram suas apostas para baixo no caso da inflação e dólar. A estimativa mais negativa agora mostra uma inflação na casa de dois dígitos em 2015 e o dólar em R$ 4, também pela primeira vez no relatório. 
De acordo com o documento divulgado pelo Banco Central, a mediana das previsões para o Produto Interno Bruto (PIB) do ano que vem passou de 0% da semana passada para um recuo de 0,15%. Há quatro semanas, a taxa vista era de alta de 0,33% para esse indicador. 
Para este ano, a deterioração das previsões do mercado financeiro para a atividade no País também está cada vez mais forte. De acordo com o boletim Focus, as projeções para o PIB de 2015 foram revisadas de uma queda de 1,97% para uma baixa de 2,01% agora. Há um mês, a previsão estava negativa em 1,70%".
Ou seja, as perspectivas já eram bem ruins em abril e pioraram ainda mais nos meses seguintes, de forma que, com ou sem crack na China, Deus e o mundo já sabiam que a continuidade da recessão era uma certeza para 2016. Menos a Dilma, que agora tem um ótimo pretexto para jogar a culpa dos seus fracassos nos cenários externos, como sempre faz.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

ALVÍSSARAS! GOVERNO PRETENDE EXTINGUIR MINISTÉRIOS.

Governo anuncia a extinção, até setembro, de 10 dos atuais 39 ministérios, que nos colocam no terceiro lugar mundial, entre as nações com mais Pastas.

Apoio, aplaudo e aguardo ansioso o anúncio do fim de outros 10. E de mais 10, para dar sorte.

Pois, descartada a utilização espúria como cabides de empregos, moedas de troca política, gazua para arrombar os cofres públicos e centro de planejamento e execução de maracutaias, até as pedras sabem que as Pastas realmente necessárias são estas:

Cultura
Defesa
Economia
Educação
Interior
Justiça
Relações Exteriores
Saúde
Trabalho

As demais poderiam ser por elas absorvidas ou, simplesmente, ser deletadas, sem deixarem nenhuma saudade.

O marechal Deodoro da Fonseca governou com apenas oito ministérios, mas seus sucessores os fizeram brotar como cogumelos (e tão venenosos como os piores deles!).

Para nos atermos ao passado recente, Tancredo Neves pretendia contar com 23 ministros, Sarney elevou o número para 31, Collor operou com 30 nomes no primeiro escalão (17 ministérios e 13 secretarias ligadas à Presidência), FHC aumentou para 34 e Lula para 38.

Um ótimo exemplo nos é dado pelos hermanos da Argentina: só 10 ministros e três secretários com status ministerial. 

Já os EUA, que os brasileiros adoramos macaquear, têm 15 ministros. Por que não imitá-los também quanto a isto? 

Se Dilma se limitar a reduzir o número para 29, ficaremos com quase o dobro dos EUA, o que será um despropósito, levando-se em conta o quanto diferem, em termos de complexidade de atuação, os respectivos governos.

Enfim, será um primeiro passo na direção correta, e isto deve ser reconhecido. 

Mas, muito aquém do necessário, se ficar só nisso.

GETÚLIO VARGAS: RECEITA CASEIRA PARA UMA DOCE DITADURA

Por Apollo Natali
Que Hitler, que Mussolini, que Franco, que Salazar, que 64, que nada!

Amargos os ingredientes dessas ditaduras.

Doce a ditadura tupiniquim de Getúlio Vargas, genial mestre cuca, ideólogo de um saborosa receita ditatorial caseira a provocar salivação ainda hoje, mais de meio século depois.

Ainda há apaixonados por Getúlio. O seu grande segredo foi a utilização de condimentos tipicamente nacionais. Fez-se populista com o tempero das raízes brasileiras. Trabalhou o Brasil de acordo com as suas características, colocando a ferver as ervas de nossa herança escravagista, de interação senhor-escravo, de relações de domínio sobre a pessoa.

Sabia que tinha todas as condições de se credenciar como um grande pai para o povo. A interessante Escola de Frankfurt, estudiosa sistemática do comportamento humano, dava-lhe resposta à crucial indagação do porquê as pessoas não querem ser livres. Os espertinhos investidos de um governo absoluto conhecem bem o medo à liberdade inerente ao ser humano. Muitos de nós apegamo-nos à cômoda taboa de salvação: qualquer querido ditador.

Com seu ar bonachão, o querido do nosso caso impregnou a atmosfera com perfume paternalista. Magnetizava o povo nomeando-o, em seus discursos, de “trabalhadores do Brasil”. E também de “brasileiros e brasileiras”. 

As louças e talheres de sua propaganda ideológica como elemento de manipulação do comportamento social eram o cinema, o rádio, a imprensa escrita, farto material didático a invadir cabeças infantis, a moeda de menor valor da época circulando com sua esfinge nas mãos de milhões de súditos, a Rádio Nacional do Rio de Janeiro devidamente estatizada. Prestigiou artistas populares, que cantavam aberrações ditatoriais em suas marchinhas de aparência inocente. O brasileiro é um povo musical.

E a grande cozinha caseira se valia do fatídico DIP, Departamento de Imprensa e Propaganda, vassalo fiel do indivíduo investido de uma autoridade absoluta. DIP, uma inescrutável polícia política de investigações, perseguições, torturas, mortes. O fundo de toda panela ditatorial, por mais apetitosas comidas que apregoe, abriga sempre resíduos deletérios.

Para não dizer que não falamos do poder e autoridade absoluta de Getúlio Vargas, ele tinha no chefe de polícia Filinto Muller o seu anjo da morte. Uma amostra da receita de tortura contada por Fernando Moraes (Olga), entre outras, era o torturador enfiar na uretra do preso político um fio de ferro em brasa.

E ainda há saudosos de Getúlio. Deu-nos grandes obras, Petrobrás, Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional, Leis do Trabalho, e em troca desses melados, tomou-nos a liberdade. Assim como há saudosos de 1964. Deram-nos grandes obras, Transamazônica, Itaipu, Ponte Rio Niterói, e em troca desses açucarados, confiscaram-nos a liberdade.

DITADORES NÃO MERECEM LÁGRIMAS

No dia 24 de agosto de 1954, aos 72 anos de idade, o presidente Getúlio Dornelles Vargas se matou com um tiro no coração, após uma tensa reunião com seu ministério, quando teve de assumir o compromisso de licenciar-se do cargo.

Suficientemente perspicaz para saber que era apenas uma fórmula para dourar a pílula de seu definitivo afastamento, preferiu uma saída digna. Como os hermanos diriam, ao menos cojones ele tinha...

Sendo os mandatários bananas uma expressiva maioria nestes tristes trópicos, não há como deixarmos de admirar a coragem de Vargas e Allende, embora o segundo tivesse muitos outros méritos e o camaleão gaúcho, quase que apenas o de ter sacrificado a vida para assestar um último golpe nos seus inimigos, a famosa carta-testamento que acabou abortando os planos da UDN para assenhorar-se do poder sem eleição nenhuma.

Na maré autoritária subsequente à 1ª guerra mundial e à aguda crise econômica que varreu o mundo na década de 1920, Vargas topou encabeçar um golpe de estado e tornar-se ditador do Brasil a partir de 1930. Exímio equilibrista, manteve-se no poder durante 15 anos, apoiando-se na esquerda contra a direita e vice-versa, ao sabor das circunstâncias.    

Como um Napoleão Bonaparte em miniatura, ficava no centro e manobrava com as extremas, não hesitando em afundá-las para manter-se à tona. Foi o que fez com os integralistas de Plínio Salgado, apesar das evidentes afinidades ideológicas que tinha com eles.

Suas mais sinceras simpatias, assim como as dos principais militares golpistas de 1930, iam para o fascismo de Mussolini, do qual Vargas copiou descaradamente a legislação trabalhista. E, na repressão aos comunistas depois da fracassada Intentona, deu carta branca ao carrasco Filinto faltou-alguém-em-Nuremberg Muller para desencadear um verdadeiro festival de horrores, trailer do que os militares nos imporiam nos anos de chumbo.

Também como equilibrista, ele optou por fazer o contrário do que gostaria, alinhando o Brasil com os Estados Unidos na 2ª guerra mundial; curvou-se à evidência do fato de que o nosso país era um quintal dos EUA. E usou o limão para fazer limonada, arrancando algumas concessões do grande irmão do Norte e obtendo algumas vantagens econômicas.

Mesmo assim, terminado o conflito, os estadunidenses moveram os fios nos bastidores para que sua ditadura fosse deposta por um espécime raro em nossa fauna: um golpe militar redemocratizador.

Continuou influente, fazendo eleger o poste Eurico Gaspar Dutra para tomar conta da cadeira presidencial e retornando depois ao Palácio do Catete pelo voto popular.

A mágoa com os EUA foi determinante na posição nacionalista-estatista que assumiu desde a campanha presidencial, contando com o apoio aberrante do PCB (algo assim como nossa esquerda apoiar o Médici, caso ele tivesse sido apeado do poder e depois pedisse votos colocando uma pele verde-amarela sobre os pelos escuros de lobo...).

Acabou sendo levado à beira do abismo como consequência de uma lambança do aloprado Gregório Fortunato e do famoso mar de lama no qual seu governo, segundo os opositores, teria se transformado.

O verso do poeta-compositor Peter Sinfield cai como uma luva para ele: "confusão será meu epitáfio".

Teve muitas vezes como aliados aqueles que o destruiriam.

Não passou de um conservador e direitista, cujo fim, paradoxalmente, foi precipitado pelas tramoias dos seus iguais.

Pilotou uma ditadura durante 15 anos e acabou recebendo o golpe fatal das mãos de aspirantes a ditadores.

Massacrou a esquerda e foi velado pela esquerda. 

domingo, 23 de agosto de 2015

TEMOS O PRAZER DE ANUNCIAR O GRANDE VENCEDOR DO TROFÉU BRANCALEONE 2015: EVO MORALES!!!

“Não vamos permitir golpes de Estado no Brasil e nem na América Latina. Vamos defender as democracias e, se precisar, vamos atacar com nossas forças armadas”, ameaçou o presidente da Bolívia, Evo Morales.

Seria um grande trunfo propagandístico para os direitistas, caso alguém no mundo levasse as bravatas do Evo a sério .

Enfim, se os italianos resolverem fazer um remake de O incrível exército de Brancaleone, já têm um bom substituto para o Vittorio Gassman. 

A afinidade com o personagem compensará a canastrice do ator.

DILMA, A PRESIDENTA PREFERIDA POR 11 ENTRE 10 GRANDES BANQUEIROS...

"Todos os participantes desse processo –políticos, Executivo, autoridades– têm de pensar grande. Precisamos ter a grandeza de buscar a convergência... As pessoas precisam ter a grandeza de separar o ego pessoal do que é o melhor para o país." (Luís Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, em 08/08/2015, evitando pronunciar-se sobre a impopularidade da presidenta Dilma Rousseff mas lhe dando apoio implícito, além de entrar para os anais da psicanálise como o pai do ego impessoal)
"Seria um artificialismo querer tirar a presidente neste momento. Criaria uma instabilidade ruim para nossa democracia... Não se pode tirar um presidente do cargo porque ele momentaneamente está impopular." (Roberto Setúbal, presidente do Itaú Unibanco, em 23/08/2015, rechaçando explicitamente o impeachment de Dilma)

As perguntas que não querem calar:
  • afinal, não era a Marina Silva a queridinha dos banqueiros? 
  • não foi este o motivo que a campanha de Dilma utilizou para convencer o eleitorado de que a reeleição seria o mal menor?
  • o risco de o governo ser colocado a serviço dos grandes bancos não era representado por Marina?
  • como se explica que o presidente do Bradesco tenha sido convidado para assumir o Ministério da Fazenda e, ao recusar o convite, haja conseguido colocar no posto um dos seus funcionários subalternos?
  • como se explica o empenho evidente de Trabuco e Setúbal em salvarem o pescoço de Dilma?
  • o que, afinal, Joaquim Levy prometeu aos dez me(r)dalhões do setor financeiro, no conchavão de 12/08/2015, a partir do qual todos se tornaram governistas desde criancinhas?
  • em quanto os correntistas serão garfados adiante, como contrapartida da força que os tubarões da agiotagem estão dando a Dilma?

sábado, 22 de agosto de 2015

O GRANDE CAPITAL ATIRA UMA BOIA PARA DILMA. ELA MERECE SER SALVA?

Mal acostumado pelas facilidades das grandes redações, eu evidentemente me ressinto da atual falta de acesso às fontes que colocam a imprensa a par do que rola nos bastidores do poder. Tento suprir tal lacuna trazendo para cá as notícias e avaliações interessantes dos colegas que continuam na ativa.

Um deles é o André Singer, colunista da Folha de S. Paulo aos sábados. Antigo porta-voz e secretário de Imprensa da Presidência no governo Lula, ele é jornalista, cientista político e professor da USP. 

Foi o Singer que, no segundo semestre de 2014, chamou a minha atenção para as fortes pressões dos grandes empresários no sentido de que, fosse quem fosse o presidente eleito, enfiasse goela dos brasileiros adentro um arrocho fiscal de corte neoliberal. Dei uma olhada nos pronunciamentos dos donos do Brasil e era isto mesmo: pintavam um quadro extremamente sombrio e, em uníssono, exigiam a imposição de rigores e mais rigores . 

Como não sentia em Dilma Rousseff nenhuma firmeza para resistir ao rolo compressor do poder econômico, passei a alertar os grãos petistas de que seria simplesmente catastrófico o partido mais identificado pelo povo como representante da esquerda brasileira responsabilizar-se pela execução de uma política econômica tão perversa, inútil e antipovo. Melhor seria deixarem tal iniquidade para a Marina ou o Aécio.

Ninguém me escutou, claro, e o resultado está aí: o PT em frangalhos.

Agora, o Singer faz outra avaliação do mesmo tipo (vide íntegra aqui ) e, pelo acerto da precedente, merece nossa atenção:
"Pelo que se depreende das parcas informações publicadas, tanto empresários quanto o governo percebem o estrago feito pelo ajuste fiscal. Só que ninguém assume a parcela de culpa que lhe cabe. 
...há quase três anos, bato na tecla de que os ideólogos de inspiração neoliberal, com forte apoio no empresariado, pressionavam por ajuste recessivo que produzisse desemprego. Em 2013, escrevi: 'Precisará o governo cortar o gasto até o osso, avalizar leis que reduzam o custo da mão de obra e demitir o titular da Fazenda para conquistar os capitalistas? Estará disposto a ir tão longe?' 
Estava. As consequências encontram-se à vista e, finalmente, o empresariado entrou em campo para salvar o mandato da presidente que fez o que pediam. Há ainda exigências na pauta, talvez referentes à terceirização, porém o essencial foi feito. O Brasil passa por recessão significativa, milhares de empregos foram perdidos, os salários caem. 
...Se há convergência em torno da necessidade de encerrar o ciclo recessivo e programar a retomada, ótimo. Cada dia a mais desta política desastrosa representa perdas sociais e individuais que demoram a ser recuperadas. Algumas nunca o serão".
Se o Singer novamente estiver certo na sua avaliação --eu aposto que sim!--, eis algumas ilações:
  • os efeitos da retomada dos investimentos ainda demorarão um bom tempo para se fazerem sentir, daí o chamado mercado continuar projetando 2016 como mais um ano de recessão. Ou seja, mesmo a reação se iniciando no segundo semestre, não será suficiente para contrabalançar o mau desempenho no primeiro. Só começaremos a sentir verdadeiro alívio em 2017;
  • ficará comprovado que todo o alegado para justificar o arrocho fiscal era papo furado. Nem de longe se efetuaram cortes suficientes para reequilibrar as contas públicas, portanto este não terá sido o verdadeiro motivo da tramoia, mas sim a criação de um cenário favorável às demissões, à redução de salários e ao ataque aos direitos trabalhistas;
  • Dilma Rousseff ficará marcada como uma presidenta que, embora eleita por um partido dos trabalhadores, terá imposto os piores sacrifícios aos trabalhadores para bem servir ao patronato;
  • talvez finalmente ela se permita exonerar Joaquim Levy, pois o serviço sujo já terá sido feito e tirar o bode da sala apaziguará a esquerda do partido.
A dinâmica da política, contudo, não reflete mecanicamente às decisões do grande capital. A desmoralização de Dilma talvez já tenha avançado demais para que ainda possa ser revertida. Mesmo que se decida dar uma meia-volta, volver! na recessão artificialmente fabricada pelo patronato, ainda teremos cerca de um ano de rigores e penúria pela frente. A partida continua indefinida e imprevisível.

A segunda questão: tendo agido como agiu, Dilma merece ser salva? Os do lado de lá, que saíram no lucro, parecem já haver concluído que sim. Nós, que estamos no prejuízo, temos algum motivo para concordarmos com eles?

Eu sempre preferi as coisas claras, pois assim fica mais fácil para o povão as compreender. Exploradores se comportando como exploradores, explorados cumprindo a sina de explorados. Então, considero muito nocivos os lobos e lobas em pele de coelho...

Os Trabucos da vida podem até salvar a Dilma, como se faz com serviçais fiéis mas burrinhos. Só que, no fundo, estarão morrendo de rir da excelentíssima presidenta, pois graças a ela terão dado um autêntico golpe de mestre, destruindo o PT e desmoralizando a esquerda como há décadas vinham sonhando sem conseguirem.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

GOLEADA NAS RUAS, SÓ RESTA UMA ATITUDE DIGNA PARA DILMA: RENUNCIAR.

Demonstração de fraqueza: os 37 mil de 5ª feira na av. Paulista pouco impressionaram...
As manifestações desta 5ª feira (20), contrárias tanto ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff quanto à política econômica da dita cuja, acabaram reunindo aproximadamente um décimo dos cidadãos que no último domingo (16) foram às ruas pedir o afastamento de Dilma do poder.

Ou seja, não houve nenhuma virada, mas sim a confirmação de que, nas ruas, o escore de Dilma é quase o mesmo das pesquisas de opinião em que se afere sua aprovação x rejeição: perde por goleada mais acachapante ainda do que os 7x1 de nossa maior humilhação futebolística em todos os tempos. 

Já que uma vez ela equiparou o desempenho do seu governo ao da Seleção Brasileira sob a direção do técnico Luiz Felipe Scolari, bem que poderia levar tal palpite infeliz às últimas consequências, deixando o cargo como o Felipão, mas sem esperar ser chutada como o Felipão. Está na hora da renúncia.

Bem que a esquerda do PT tentou melhorar um pouco o quadro, ao conceber um protesto, no mínimo, peculiar: fica Dilma! + fora Levy!. Ou seja, ofereceu um álibi aos quadros mais coerentes do partido, que estavam envergonhados de se mostrarem um público defendendo um governo neoliberal. 
...em contraste com os 135 mil do domingo.

Noves fora, isto não fez aumentar o número de participantes dos atos, mas permitiu constatar-se a enorme ojeriza ao ministro da Fazenda nas hostes petistas: ele foi tão execrado pelos manifestantes quanto o presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, que as redes virtuais obedientes à orientação palaciana há muito erigem em vilão máximo. 

Dilma jogou no ralo mais uma oportunidade de, pelo menos, tentar virar o jogo: se houvesse exonerado Levy antes da jornada de 5ª feira, sinalizando a desistência de impor aos brasileiros uma política econômica conflitante ao extremo com os valores e tradições do PT, reunificaria seu partido e ofereceria um mínimo de esperança aos que amargam a recessão.

Agora, só lhe resta fazer coro com a mentira deslavada de Levy, que finge acreditar numa melhora da economia ainda neste ano, embora ele, o FMI, os economistas reputados e os principais analistas do chamado mercado estejam carecas de saber que 2015 e 2016 já estão condenados. Pior: nada, por enquanto, indica que a retomada começará mesmo em 2017. Depende do que será feito em seguida, depois de o ajuste fiscal, na primeira investida, fracassar miseravelmente.

Para ele ser executado conforme manda o figurino, precisará ser criado um consenso entre as principais forças políticas, incluindo a definição dos sacrifícios a serem suportados por todas as classes e segmentos da população, pois jogar a conta toda nas costas dos coitadezas é impossível: eles já estão tão empobrecidos que não têm mais como apertarem os cintos. Morrerá gente.

Como não temos, nem de longe, harmonia entre os poderes da nação neste momento --em Brasília impera o caos--, conseguir um consenso para respaldar o arrocho fiscal é missão praticamente impossível. Não rolará. Nasceu morto e impõe um inútil penar aos que já penam demais, conforme constatou o comentarista econômico Vinícius Torres Freire num texto cujo título, Esfolar o povo à toa, já disse tudo:
"A recessão está solta nas ruas, parte do povo é esfolada, como de hábito e inevitável, sofrimento ainda mais gratuito e talvez prolongado porque não se percebe princípio algum de ordem, direção e sentido no que se faz em Brasília.
...Não há coordenação de partidos, nem de bancadas, lideranças capazes ou interessadas em recolocar alguma ordem no Parlamento. Pelas atitudes recentes, não se nota que a presidente tenha reconhecido o tamanho da encrenca econômica ou política, realimentando ela mesmo crises palacianas, p. ex.
Em suma, o sacrifício do ajuste em parte é crueldade pura, pois é consumido pela crise política contínua".
Afora o fato de que seguir direitinho as receitas amargas da ortodoxia econômica não tem levado os países à bonança, mas sim à desgraça. Como escreveu o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, os "imensos sacrifícios" que foram impostos à Grécia a partir de 2010 "supostamente deveriam produzir recuperação", mas, "em lugar disso, a destruição do poder aquisitivo aprofundou a crise, criando sofrimento em escala semelhante ao da Grande Depressão e severos problemas humanitários".

DILMA É A PESSOA ERRADA, NO LUGAR ERRADO E NA HORA ERRADA.

Como o que foi feito até hoje determina a continuidade da recessão pelo menos até 2017 e nada está sendo feito que vá melhorar o quadro, a perspectiva é de que a penúria e o desemprego nos fustiguem por muito tempo ainda. 

Pelo que mostrou até agora, terá Dilma competência e credibilidade para conduzir o País num período tão difícil? Como Roosevelt, encontrará formas para, pelo menos, atenuar o sofrimento dos brasileiros? Como Churchill, conseguirá pedir-lhes "sangue, suor, trabalho e lágrimas" sem que eles caiam na gargalhada? Pensem nisto.

Sim, o governo de Dilma é legal e se beneficia, conforme o veterano jornalista Clovis Rossi destacou, da existência de "uma profunda desconexão entre a rua e o disfuncional sistema político brasileiro e entre as urnas e a superestrutura política". Daí não haver como derrubá-lo com um voto de desconfiança.

Mas, a ilegitimidade cobra seu preço. Os governistas acusam Aécio Neves de não saber perder, mas omitem que Dilma não soube ganhar. Superou Marina Silva e o próprio Aécio recorrendo a uma demagogia delirante e avassaladora, na linha de "ou eu, ou o dilúvio". Nada teve de positivo para oferecer ao eleitorado, sua campanha foi totalmente negativa, de satanização dos dois principais adversários. 

Era óbvio que deixaria feridas sangrando muito mais do que o habitual no front inimigo e era também óbvio que os eleitores iludidos não se conformariam com a chegada do dilúvio pelas mãos da própria Dilma. O estelionato eleitoral está na raiz de sua descomunal impopularidade atual.

Mas, estelionato eleitoral também não é razão suficiente para o impeachment, em termos formais. Cabe aos dirigentes petistas refletirem sobre se vale a pena continuarem aferrados de forma tão obsessiva ao poder apesar de amplamente rejeitados pelos brasileiros, humilhados na batalha das ruas e incapazes de acenarem com qualquer perspectiva fundada de melhora. 

Até quando conduzirão o Titanic na direção do iceberg? Estarão cientes de que vão passar à História como os insensatos que imolaram os trabalhadores no altar de suas ambições e de sua falta de grandeza histórica?

É melhor uma renúncia digna do que a manutenção do poder por meios indignos, como os vergonhosos toma-lá-dá-cá que presenciamos na semana passada, quando sujeitinhos imundos foram cooptados e se firmaram pactos faustianos com as forças demoníacas que o PT prometera exorcizar.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O PARTIDO DOS TRABALHADORES PRECISA MUDAR O NOME: PODE SER ACUSADO DE PROPAGANDA ENGANOSA...

"A Caixa Federal que, presidida pela petista Miriam Belchior, aumentou juros e outras dificuldades para os pequenos empréstimos imobiliários, vai cobrar juros de 1,4% e 0,83% em empréstimos à indústria automobilística. O dinheiro será extraído do Fundo de Amparo ao Trabalhador e do FGTS.

Significa que o governo, por meio da Caixa, está doando a empresas (estrangeiras) a diferença em dinheiro entre os juros mínimos e a inflação alta. Dinheiro do trabalhador. Com as remessas de lucros, o que é tirado ao trabalhador brasileiro soma-se ao que preserva ou aumenta o bem-estar do trabalhador europeu e japonês.

De quebra, o governo Dilma diz que o FGTS está em dificuldades financeiras para suas obrigações com trabalhadores e aposentados.".

(Jânio de Freitas, um dos decanos da imprensa 
brasileira, com 83 anos de idade e 62 de profissão)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

DIZE-ME COM QUEM ANDAS...

Mais simbólico, impossível! No mesmo dia em que a esquerda protestará em várias cidades contra a direitização do Governo Dilma, cada vez mais longe do socialismo e mais perto do neoliberalismo, a presidenta estará recepcionando em Brasília a chanceler linha dura da Alemanha, Angela Merkel.

Como todos sabem, trata-se de uma megera pior ainda do que Margaret Thatcher na defesa intransigente da ortodoxia capitalista.

O Joaquim Levy tem orgasmos múltiplos só de vê-la na TV. Precisa tomar cuidado para que a emoção de respirar o mesmo ar que sua musa não lhe cause um piripaque...

Quanto à nossa Dilma, tão desnorteada ultimamente, faz-me lembrar aquela frase célebre de Porfírio Diaz: "Pobre México! Tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos".

PINGOS NOS II

"Não podemos ter uma visão simplista de que dia 16 foi fora Dilma! e de que dia 20 é viva Dilma!, porque não é.

o ato é contra o golpismo que pretende a derrubada da presidente Dilma Rousseff para substituí-la por alternativas à direita, mas não está defendendo um governo que é indefensável do ponto de vista da política econômica e do ajuste fiscal que vem conduzindo."
(Guilherme Boulos, líder dos sem-teto, desmentindo a propaganda governista)

terça-feira, 18 de agosto de 2015

5ª FEIRA A ESQUERDA DARÁ UM SONORO "NÃO" Á OPÇÃO NEOLIBERAL DO GOVERNO DILMA!!!

Para ele, é uma graça. Para nós, uma desgraça.
Não tenho prevenção nenhuma contra os movimentos e os atores políticos do campo da esquerda, ao contrário do que dizem algumas pessoas de má fé. Adoraria que eles estivessem sempre com as posições corretas, poupando-me de trabalho e estresse.

Mas, como faço todas as avaliações caso a caso, sem alinhamento automático com ninguém, a minha independência choca os adeptos do "com razão ou sem razão, meu time tem de ser campeão!". 

Eu ficarei na minha. Cada vez que alguém prega a condescendência com aberrações políticas "para não ajudarmos a direita", eu me lembro dos comunistas que apoiaram Stalin até mesmo quando o tirano bigodudo fez um pacto abjeto com Hitler, dando-lhe o sinal verde de que necessitava para conquistar metade da Europa.

Então, quando o presidente da CUT, destrambelhadamente, levantou a bola para a propaganda inimiga e colocou numa saia justa a própria presidenta da República (os Reinaldos Azevedos da vida censuram-na por ter escutado impassível uma pregação de luta armada), ficou merecendo um puxão de orelha e eu o dei, no último sábado. 

 O xis da questão: arrocho fiscal é bandeira da direita.
Isto não me impede de apoiar entusiasticamente o manifesto da CUT, MST, MTST, UNE e outros agrupamentos de esquerda, referente às manifestações de protesto marcadas para esta 5ª feira, 20, pois veio ao encontro de posições que eu defendo há tempos (em especial, o enérgico repúdio à opção neoliberal do Governo Dilma) e de outras com as quais concordo mas vejo como secundárias no momento extremamente grave pelo qual passamos (as iniciativas de Eduardo Cunha, realmente nocivas, mas que poderão ser revertidas adiante).

E, claro, mantenho minha postura de inimigo irreconciliável do capitalismo, inclusive do capitalismo de estado, daí fazer a ressalva de que eu não defendo uma Petrobrás 100% estatal, mas sim uma Petrobrás 100% sob controle de conselhos de funcionários. As grandes empresas, todas as grandes empresas, têm mais é de passarem para as mãos dos trabalhadores, não de burocracias corruptíveis e tendentes a aparelharem-nas, satelizando-as a partidos.

Eis o manifesto:  

Repudiando Levy, esquerda se fortalece na batalha das ruas.
Estaremos nas ruas de todo o país neste 20 de agosto em defesa dos direitos sociais, da liberdade e da democracia, contra a ofensiva da direita e por saídas populares para a crise.
  • Contra o ajuste fiscal! Que os ricos paguem pela crise!
A política econômica do governo joga a conta nas costas do povo. Ao invés de atacar direitos trabalhistas, cortar investimentos sociais e aumentar os juros, defendemos que o governo ajuste as contas em cima dos mais ricos, com taxação das grandes fortunas, dividendos e remessas de lucro, além de uma auditoria da dívida pública. Somos contra o aumento das tarifas de energia, água e outros serviços básicos, que inflacionam o custo de vida dos trabalhadores. Os direitos trabalhistas precisam ser assegurados: defendemos a redução da jornada de trabalho sem redução de salários e a valorização dos aposentados com uma previdência pública, universal e sem progressividade.
  • Fora Cunha: não às pautas conservadoras e ao ataque a direitos!
Papagaio de pirata à parte, Lula vê mesmo Levy como desastroso.
Eduardo Cunha representa o retrocesso e um ataque à democracia. Transformou a Câmara dos deputados numa casa da intolerância e da retirada de direitos. Somos contra a pauta conservadora e antipopular imposta pelo Congresso: terceirização, redução da maioridade penal, contrarreforma Política (com medidas como financiamento empresarial de campanha, restrição de participação em debates, etc.) e a entrega do pré-sal às empresas estrangeiras. Defendemos uma Petrobrás 100% estatal. Além disso, estaremos nas ruas em defesa das liberdades: contra o racismo, a intolerância religiosa, o machismo, a LGBTfobia e a criminalização das lutas sociais.
  • A saída é pela esquerda, com o povo na rua, por reformas populares!
É preciso enfrentar a estrutura de desigualdades da sociedade brasileira com uma plataforma popular. Diante dos ataques, a saída será pela mobilização nas ruas, defendendo o aprofundamento da democracia e as reformas necessárias para o Brasil: reforma tributária, urbana, agrária, educacional, democratização das comunicações e reforma democrática do sistema político para acabar com a corrupção e ampliar a participação popular.

A rua é do povo!
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