Foto recentemente descoberta do bunker de Hitler |
Há muitas explicações possíveis para o fracasso retumbante do segundo governo de Dilma Rousseff e muita gente tentando encontrar algo novo para dizer, depois do tanto que já foi dito.
Nesta 4ª feira, 26, o jornalista/historiador Elio Gaspari conseguiu introduzir uma abordagem diferente. Palmas para ele! E até que a coisa faz muito sentido:
"A falta de experiência parlamentar (o caso de Dilma) ou a incapacidade de preservar alianças (o caso do PT) influi no metabolismo dos palácios, transformando-os em bunkers: 'Nós estamos certos e todos os outros estão errados'. Em seguida, dentro do bunker, estabelece-se uma competição de egos. 'Eu estou certo e meu rival dentro do governo é a causa de todos os males'.
Desgraçadamente, uma vez criada a mentalidade do bunker, o mundo em volta deixa de ter importância. Briga-se pela briga. O exemplo extremo dessa patologia pode ser encontrado no bunker mais famoso de todos os tempos, o da Chancelaria do 3º Reich, em 1945.
Aquilo é que era bunker, a oito metros de profundidade. Hitler e seu 'núcleo duro' enfurnaram-se nele em janeiro e de lá o Führer comandava sua guerra, tendo Martin Bormann como seu braço direito. Velho rival do espalhafatoso marechal Herman Goering, Bormann teve o seu momento de esplendor no dia 25 de abril e conseguiu demiti-lo de todos os cargos, expulsando-o do partido.
Os russos estavam a poucos quarteirões de distância. No dia 30 de abril, o Führer matou-se e, uma semana depois, o poderoso Bormann deixou o bunker. Enfim, vencera e fora designado testamenteiro de Hitler e chefe do partido nazista. Morreu na rua, a pouca distância do bunker".
O que se vê na cúpula do Executivo é exatamente o distanciamento patológico do mundão lá fora, a total falta de sensibilidade política, a ponto de, em julho de 2013, nenhum grão petista ter atentado verdadeiramente para o fato de que as ruas começavam a ter voz própria, ou, um ano atrás, para o fato de que havia uma gravíssima crise econômica incubada, prontinha para eclodir no início do governo seguinte.
Não, a obsessão com a politicalha miúda e sórdida de Brasília a todos cegava. A ponto de uma antiga revolucionária como a Dilma, que deveria conhecer muito bem os antecedentes do golpe de 1964, ter repetido o desatino do João Goulart, de tentar impor políticas econômicas conservadoras (até o banqueiro Walter Moreira Salles chegou a ser ministro da Fazenda do Jango!), contra a qual a esquerda necessariamente se rebelaria, acabando por inviabilizá-las.
O fogo amigo do Brizola foi devastador para seu cunhado, assim como Lula, o criador, em muito contribuiu para desmoralizar e avacalhar Dilma, a criatura. [Como uma grande revista revelou, ele chegava, nos papos informais com políticos e grandes empresários, a compará-la com as aborrescentes teimosas, "a gente dá conselho, dá conselho, dá conselho, mas não adianta, acaba sempre tendo de buscá-la na delegacia"...]
Não demorará muito para Joaquim Levy cair de vez (já é um fantasma arrastando correntes pelos palácios do poder, igualzinho ao Guido Mantega depois da fritura) e para Dilma entrar na fase dos ziguezagues, ora guinando à esquerda, ora voltando à direita, pois quem não aprende com as lições da História, acaba por as repetir.
Aproveitando o ensejo, retomo a disponibilização de filmes para ver no blogue com uma interessantíssima visão de como foram os momentos derradeiros de Adolf Hitler e seus cúmplices naquele que Gaspari qualificou de "bunker mais famoso de todos os tempos": A queda! (2004, d. Oliver Hirschbiegel, c/ Bruno Ganz).
Não se trata de documentário, mas sim de uma dramatização dos acontecimentos, feita com muito rigor histórico (ou seja, bem distante das falsificações hollywoodescas, que colocam a espetacularização acima de tudo).
De quebra, poderemos divertir-nos estabelecendo paralelos entre os dois bunkers. P. ex., quem virá a ser o nosso Martin Bormann, aquele que apagará as luzes depois da queda? O Mercadante?
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