domingo, 3 de novembro de 2019

NÃO É SÓ O PRESTÍGIO DO BOZO NO BRASIL QUE DERRETE: AS ALIANÇAS COM OS FEIOS, SUJOS E MALVADOS DO EXTERIOR, TAMBÉM!

daniel avelar
PARCEIROS INTERNACIONAIS DE JAIR BOLSONARO
ENFRENTAM DIFICULDADES CRESCENTES
Aliados do presidente Jair Bolsonaro enfrentam problemas para se manter no poder nos últimos meses. O presidente americano Donald Trump é alvo de processo de impeachment. O chileno Sebástian Piñera é alvo de protestos. O argentino Mauricio Macri perdeu a eleição e deixará o cargo.
Lembrou a comédia Seduzida e Abandonada

Veja abaixo mais detalhes sobre os problemas enfrentados pelos líderes estrangeiros: 

DONALD TRUMP (EUA)
Ídolo de Bolsonaro, o republicano enfrenta um processo de impeachment na Câmara dos Deputados, controlada pela oposição democrata, devido às suspeitas de que praticou toma lá dá cá com autoridades ucranianas. 

Ademais, o adiamento da entrada do Brasil na OCDE e a possível derrota de Trump para um candidato de esquerda nas eleições americanas de 2020 lançam dúvidas sobre os supostos benefícios da estratégia brasileira de alinhamento incondicional à Casa Branca.

SEBASTIÁN PIÑERA (Chile)
Bolsonaro apostava em uma aliança com o líder chileno para refundar a ordem regional na América do Sul sob o manto do conservadorismo. Também pesou na aproximação com o Chile o encantamento com a ditadura de Pinochet, vista pelo governo brasileiro como referência de gestão econômica e controle social. 
Brasil imita o que deu errado e causa revolta no Chile
Tudo parecia ir bem na relação, até as ruas pressionarem Piñera a mudar de rumo e formular respostas à tremenda desigualdade econômica herdada do período militar.

MAURICIO MACRI (Argentina)
Bolsonaro passou os últimos meses fazendo campanha aberta para o presidente argentino. Apesar do apoio do brasileiro, Macri disse adeus à reeleição após ser derrotado pelo candidato peronista Alberto Fernández no domingo passado (27). 

O resultado é expressão da raiva dos eleitores diante do aumento da inflação e dos índices de pobreza nos últimos anos. O azedamento da relação do governo Bolsonaro com a Argentina pós-Macri pode pôr em risco as parcerias comerciais do Mercosul.

Quem nasce para Evo Morales, nunca chega a Touro Sentado
EVO MORALES (Bolívia)
No início de seu mandato, Bolsonaro passou por uma inesperada lua de mel com o líder boliviano. Apesar de pertencerem a campos ideológicos opostos, ambos vinham demonstrando respeito mútuo e disposição ao diálogo.

A presença de Morales na cerimônia de posse do brasileiro e a cooperação da Bolívia na captura e extradição do fugitivo italiano Cesare Battisti ajudaram a aquecer a relação. A amizade esfriou após Bolsonaro enxergar irregularidades na votação que reelegeu Morales.

BINYAMIN NETANYAHU (Israel)
O namoro com Bibi, como é conhecido o líder israelense, tinha tudo para dar certo. Bolsonaro peregrinou por Jerusalém em abril em busca de parcerias na área de defesa e até tentou transferir a embaixada brasileira para a cidade sagrada, mas acabou recuando da promessa face às ameaças de retaliação comercial por parte de países árabes.
Netanyahu se complica em várias frentes
Alvo de inquéritos por corrupção, Netanyahu agora corre o risco de perder o cargo após fracassar em formar uma coalizão mesmo tendo convocado duas eleições em menos de seis meses.

MOHAMMED BIN SALMAN (Arábia Saudita)
Durante sua visita recente à Arábia Saudita, Bolsonaro declarou ter “certa afinidade” com o príncipe herdeiro do país, conhecido como MbS. O afago público é uma estratégia para atrair os investidores do Golfo, mas esconde o sinistro histórico de direitos humanos do monarca.

Desde que chegou ao poder, em 2017, MbS intensificou a perseguição contra dissidentes e comandou a carnificina contra civis no Iêmen. Ele também é apontado como mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi no consulado saudita em Istambul.

MATTEO SALVINI (Itália)
O líder da direita ultranacionalista é visto como uma referência na Europa para os correligionários de Bolsonaro.
Salvini tentou virar premiê, mas errou feio o pulo

Defensor da linha dura contra imigrantes, Salvini ganhou popularidade e transformou sua agremiação Liga em uma das maiores forças políticas do continente.

Ele chegou a integrar o governo da Itália ao lado os populistas do Movimento 5 Estrelas, mas foi expulso da coalizão em agosto após se lançar para o cargo de primeiro-ministro. Sua saída acabou deixando Bolsonaro sem interlocutores de peso em Roma. (por Daniel Avelar)

sábado, 2 de novembro de 2019

DAVID MIRANDA PEDIRÁ IMPEACHMENT DE BOLSONARO POR OBSTRUÇÃO DA JUSTIÇA

Eis a íntegra da nota que o deputado federal divulgou na tarde deste sábado, 2, anunciando que na próxima semana conversará com os líderes de todos os partidos para articularem o impeachment do presidente Jair Bolsonaro por obstrução à Justiça e crime de responsabilidade:
Hoje o presidente Jair Bolsonaro deu declarações gravíssimas à imprensa. Afirmou que interceptou os registros de acesso da portaria do condomínio onde morava, material de absoluto interesse das investigações sobre o assassinato de Marielle Franco.
Isso mesmo, o presidente interceptou provas de uma investigação de assassinato. É escandaloso. A ação de Jair configura obstrução de justiça e crime de responsabilidade.
O Brasil não pode se consolidar como o país dos absurdos, trata-se de um presidente da República violando provas de um assassinato. Essa semana em Brasília conversarei com líderes de todos os partidos e vamos iniciar uma ação contundente contra Bolsonaro.
Ele também comunicou sua decisão num vídeo que pode ser acessado teclando aqui.
A INVESTIGAÇÃO DA MORTE DE MARIELLE FOI "CORROMPIDA", "CORROÍDA", "ENVENENADA"  Também o jornalista Reinaldo Azevedo considerou extremamente grave a declaração de Bolsonaro, pois, segundo ele, revela que "a investigação da morte de Marielle foi (...) corrompida, corroída (...), envenenada por procedimentos heterodoxos. 

Eis os trechos finais do seu post Juristas dizem que confissão de Bolsonaro é reconhecimento de um crime:.
...Durante visita a uma concessionária, aonde foi comprar uma moto, para espanto geral, o presidente confessou:
"Nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de ano, a voz não é minha. Não é o seu Jair. Agora, que eu desconfio, que o porteiro leu sem assinar [sic] ou induziram ele a assinar aquilo? Induziram entre aspas, né? Induziram a assinar aquilo".
Tudo é vazado em bolsonarês, como veem. Ele quis dizer assinou sem ler... 

O presidente da República está confessando um ato que, em qualquer investigação, seria considerado obstrução da justiça? 

Estamos falando de uma prova do processo. Segundo Augusto Aras, procurador-geral da República, essas gravações já tinham sido entregues ao presidente do STF, Dias Toffoli, e, por seu turno, à PGR na forma de uma notícia de fato, a saber: o porteiro havia afirmado ter entrado em contato duas vezes com a casa 58 do condomínio Vivendas da Barra para informar a presença de Elcio Queiroz no local. E, segundo os dois depoimentos, falou com alguém com a voz de seu Jair

Mas não há apenas isso. Há também a foto do livro que registra a entrada de veículos no condomínio — feita pela mulher de Ronnie Lessa, acusado de dar os tiros que matou Marielle e o motorista Anderson Gomes — atestando que Queiroz pediu para visitar a casa 58. Esse registro é contemporâneo ao ingresso do comparsa de Lessa no condomínio. Aras diz que a notícia de fato foi arquivada. Houve alguma apuração? Não que se saiba. 
E qual a justificativa de Aras? As gravações contradiriam a afirmação do porteiro. Muito bem! Tais gravações tinham sido submetidas a algum exame técnico? Resposta: não! 

Tanto não tinham que doutora Sibilio deu um jeito de arrumar uma perícia a toque de caixa antes de dar a entrevista coletiva. Essa perícia é tão boa, mas tão boa!, que não apura a possibilidade de arquivos terem sido excluídos ou renomeados. Não é uma perícia, mas um deboche. 

Na rota da humilhação e da desmoralização do Ministério Público do Estado do Rio, vem agora a confissão de Bolsonaro: "Nós pegamos antes que fosse adulterado, pegamos lá toda a memória da secretária eletrônica, que é guardada há mais de anos, a voz não é minha"

"Nós", quem? Pegaram quando? Desde quando o presidente estava, então, preparando uma resposta? 

Isso se deu antes ou depois de membros do MP Rio — suponho que tenham sido as duas procuradoras — terem ido falar com Toffoli, em Brasília, sem o conhecimento do juiz estadual responsável pelo caso, o que é absolutamente heterodoxo? 

Imaginem se procedimentos dessa natureza tivessem se dado com Lula e o PT. Ou, então, pensem em Dilma presidente dando uma entrevista, afirmando que, por conta própria, solicitou elementos de prova de um crime relacionado ao petrolão para fazer a sua própria perícia. 

Agora se explica que, praticamente ao mesmo tempo em que a dupla de procuradoras dava entrevista — Sibilio e a moça que posou ao lado do cara que quebrou a placa em homenagem a Marielle —, o onipresente Carlos Bolsonaro aparecia na guarita, exibindo a tela do computador e o som em que o porteiro liga para a casa de Lessa para informar a presença de Queiroz... 

O caroço no angu cresce de tamanho. 

Toda a equipe que investiga a morte de Marielle no Ministério Público do Estado do Rio tem de ser imediatamente afastada. 

É preciso formar uma força-tarefa que preste contas à sociedade do que está em curso. 
A investigação da morte de Marielle foi invariavelmente corrompida, corroída. Foi envenenada por procedimentos heterodoxos. 

Os demais promotores têm de vir a público manifestar seu inconformismo. 

Ou entrarão para a história como coniventes com uma pantomima sinistra..
(por Reinaldo Azevedo)

O BREXIT VEICULA A UTOPIA REACIONÁRIA DE REBAIXAR OS PADRÕES SOCIAIS E AMBIENTAIS BRITÂNICOS

demétrio magnoli
ESSES LIBERAIS QUE ADORAM O BREXIT
Um Reino Unido atordoado vai às urnas em dezembro. Boris Johnson, o primeiro-ministro conservador, definiu sua campanha como um levante do povo, pelo brexit, contra a elite que impede uma ruptura radical com a União Europeia .

Os liberais britânicos —isto é, a maioria do Partido Conservador e o Partido do Brexit, de Nigel Farage— transformaram-se numa seita anti-Europa. É mais um sintoma da degradação do pensamento liberal.

Os liberais britânicos giraram 180 graus. Entre 1985 e 1994, quando o francês Jacques Delors conduziu as negociações que concluíram a arquitetura do Mercado Único Europeu, eles ocuparam a linha de frente na batalha contra as resistências protecionistas nacionais. Hoje, renegam o que fizeram, entrincheirando-se num nacionalismo de nítida coloração populista.

No Foro da Liberdade, meses atrás, escutei as razões de um fanático do brexit, o economista Andy Duncan. Ele acusava a então primeira-ministra, Theresa May, e o líder opositor Jeremy Corbyn de subserviência à elite europeia. E, desafiando o que sugere o registro histórico, assegurava que Margaret Thatcher teria completado sem demora o serviço do brexit.
"Posso sugerir um paraquedas?" "Grato, mas basta a bandeira"

Tive, então, que recordar à plateia brasileira o primeiro plebiscito sobre o brexit, realizado em 1975, quando a conservadora Thatcher defendeu a adesão à Comunidade Europeia e o trabalhista Corbyn adotou posição contrária.

O economista ultraliberal reproduziu os discursos de campanha de Farage, que classificou como seu herói

Os Estados grandes representariam, invariavelmente, ameaças às liberdades dos cidadãos. A Europa ficaria melhor se fragmentada em microestados como Andorra, Liechtenstein ou Monaco. A UE seria um superestado opressor, uma burocracia globalista determinada a suprimir as liberdades britânicas. 

Duncan situa-se numa franja extrema do espectro partidário, mas seus argumentos esclarecem a gramática política que impulsiona o brexit. A liberdade dos modelares microestados de Duncan é a liberdade de circundar impostos: os três são paraísos fiscais.

O brexit veicula a utopia reacionária de rebaixar os padrões sociais e ambientais britânicos, pela ruptura com as regras comuns europeias. Na sua nova encarnação, os liberais sonham com uma Inglaterra bucaneira: um Chipre com armas nucleares.

Os grandes Estados europeus são diversos e relativamente abertos à imigração. A campanha do brexit concentrou-se na ideia de retomar o controle das fronteiras, abolindo o livre trânsito de cidadãos europeus e erguendo uma muralha frente aos fluxos imigratórios. 
Nigel Farage não deveria ter aberto a boca

A liberdade de Farage e Johnson é a liberdade de definir a nação à base do sangue. O brexit veicula, também, a utopia nativista de um retorno aos tempos dourados de uma Pequena Inglaterra exclusivamente branca e anglicana.

A proteção das liberdades públicas e políticas foi a mola que, lá atrás, quando assentava a poeira da guerra mundial, impulsionou o projeto europeu. Na origem da UE encontram-se os imperativos de evitar o ressurgimento do nacionalismo alemão e de traçar uma fronteira geopolítica diante do bloco soviético.

A Europa fragmentária idealizada pelos maníacos do brexit é o cenário estratégico perfeito para a Rússia, o maior dos Estados europeus. Em 2014, Farage nomeou Vladimir Putin como “o líder mundial que mais admiro”. Há um claro motivo político para o voto pró-europeu de Thatcher em 1975.

O Reino Unido navega rumo às águas turbulentas do brexit, um ato voluntário de autoagressão poucas vezes visto na história das nações. 

Os liberais convertidos ao nacionalismo xenófobo pilotam o navio, mas partilham a responsabilidade com os trabalhistas, que se recusaram a tentar mudar o curso. É que Corbyn, o líder esquerdista do partido, votou pelo brexit em 1975 por enxergar o projeto europeu como uma monstruosidade inventada pelos liberais... (por Demétrio Magnoli)
É tão bizarra a fascinação dos britânicos pelo abismo que me lembrei deste 
filme da Hammer britânica, o último da série clássica do Drácula, que
vale sobretudo pela presença dos atores emblemáticos da
franquia, Christopher Lee e  Peter Cushing. 

Mostra o vampirão-mor cansado de sua existência e inconscientemente
desejando a morte, só que, megalomaníaco ao extremo, quer levar 
a humanidade inteira consigo, espalhando um vírus mortal. 

Os malucos do brexit sucumbem ao fascínio da miséria e ainda tentam
arrastar o Reino Unido inteiro junto com eles para a penúria...  

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

QUEM PRECISA DE AI-5 QUANDO EXISTE UMA LEI ANTITERRORISMO EM PLENO VIGOR?

A fala do filhote número três de Jair Bolsonaro só pode ocorrer Num país onde não apenas os facínoras da ditadura sobreviveram ao regime, mas a própria estrutura política e econômica deste perseverou na chamada democracia

Não podemos esquecer o discurso de Bolsonaro-pai no impeachment de Dilma Rousseff, saudando o torturador Brilhante Ustra e o chamando de terror da Dilma, numa atitude atroz e desumana. Houve alguma punição ao até ali deputado? O STF agiu? Bom, sabemos o resto. 

A vocação ditatorial dos Bolsonaros nunca foi escondida por eles. Trabalham com uma franja da sociedade corretamente apelidada de viúvas da ditadura, gente saudosa do regime de exceção e que acredita piamente ter sido a vida melhor naquela época. 

Falar em AI-5 é delírio saudosista de ignorante. Não é possível restituir um ato ditatorial desses pelo mesmo motivo de ser impossível restituir a Inquisição: são acontecimentos de outras épocas históricas, com contextos diferentes e irreprodutíveis. 

A pergunta, na realidade teria de ser outra: quais os meios ditatoriais a serem usados hoje, no Brasil do século 21?

Evidentemente, o regime socioeconômico em criação pela plutocracia nacional gerará fatalmente uma grande instabilidade política. Não é possível, sem consequências, condenar milhões de pessoas à miséria e ao desalento sem provocar fortes turbulências. 

Não à toa, todo regime de financeirização social sempre se assenta num sistema político de exceção. Hitler pregava contra os banqueiros judeus, mas quem mandava eram os bancos, alemães. 

O delírio liberal de Paulo Guedes depende carnalmente das perseguições policialescas de Sergio Moro. O excludente de ilicitude é a garantia para o fim da aposentadoria. 

Tal excludente, inclusive, é uma questão curiosa, pois viria para legalizar a prática já recorrente de inocentar ou não investigar as mortes cometidas diariamente pela Polícia Militar, instituição herdada da ditadura, lembremos. 

Quem conhece minimamente nosso sistema prisional sabe o quanto a ilegalidade e o abuso é a norma. De acordo com dados do próprio sistema judicial, cerca de 40% dos presos brasileiros não possuem sequer uma acusação formal. Estão presos, portanto, sem crime. 

No AI-5 pelo menos havia uma regra determinando a falta de regras. Na nossa democracia, a regra é burlada e todos acham normalíssimo. 

Mas, pensemos politicamente. O que seriam instrumentos de exceção? Não seriam aqueles capazes de dar instrumentos jurídicos ao Estado para perseguir, legalmente, desafetos ou potenciais subversivos? 

Ora, o que é a lei antiterrorismo, aprovada por Dilma logo após as jornadas de junho de 2013? 

Pela lei antiterrorismo, simples atos como quebrar vidraças ou até mesmo curtir um comentário um pouco mais incisivo no facebook, pode levar a pessoa a ser acusada de promover o terrorismo, dependendo da elasticidade do juiz. 

Some-se a esta lei a Garantia da Lei e da Ordem, também herança dilmista, cuja função é quase instituir um estado de sítio numa determinada localidade, garantindo a livre atuação de forças policiais e militares, com toda a sorte de absurdos já conhecidos. 

E, por fim, acrescente-se a lei que garante o julgamento de militares criminosos pela complacente Justiça Militar, a qual também é responsável por julgar quem comete crimes contra militares, sobretudo quando envolvidos em operações da GLO. 

Ora, isto não remete aos tempos sombrios da ditadura? Não era nas auditorias militares que se criminalizava a atividade política como terrorista, com civis sendo julgados por oficiais das Forças Armadas e milicos não pagando por seus crimes?

E veja, leitor, estou aqui falando de leis herdadas da presidente Dilma, a suposta campeã da democracia. 

Daqui para frente, tudo pode ser pior. Medidas de exceção podem ser aprovadas, democraticamente, pelo Congresso Nacional. Mesmo ações supostamente econômicas podem ser utilizadas para fins de perseguições políticas.  
Exemplo é a proposta de acabar com a estabilidade dos servidores públicos, o que abrirá margem óbvia à perseguição política dentro do aparelho estatal. 

Mesmo a proposta das avaliações de carreira poderão ser bem manejadas pelos agrupamentos políticos para melhor controlar ideologicamente a máquina pública.

Não podemos esquecer também da obscurantista escola sem partido, excrescência que ainda não morreu por inteiro. 

Mesmo as leis já existentes podem ser usadas, bastando para isso uma interpretação criativa do STF e dos demais aparelhos jurídicos. A novela da prisão em segunda instância mostra bem isso: quando era útil – para manter Lula preso – ela valia, mas agora, passado o momento crítico, deverá cair. 

Fato é que um regime de exceção pode muito bem ser criado no Brasil sem, necessariamente, ocorrer a instalação de uma ditadura aberta e clássica. Pode haver exceção com eleições, liberdade de imprensa e até de manifestação.

Erdogan mostra bem isto na Turquia, com uma ditadura maquiada de democracia. No Egito, a mesma coisa. Isto acontece simplesmente porque o sistema político está completamente dominado pelo poder econômico – à direita e à esquerda – a ponto de não haver motivo para simplesmente fechá-lo.  

Só é preciso controlar os insatisfeitos fora dele. É justamente este o motivo de, mais e mais as insurreições ao redor do mundo agora parecerem revoltas contra o sistema político como um todo.

Enfim, diante de tudo isso, o grande ponto que resta esclarecer é como a plutocracia vai finalmente se livrar da família Bolsonaro. 

Irônico será a ruína de Bolso Kid advir justamente do seu crime contra a Lei de Segurança Nacional, uma lei criada pela... ditadura. (por David Emanuel de Souza Coelho)

O EDUARDO BOLSONARO QUER AS PORTAS DO INFERNO ESCANCARADAS DE NOVO

"E você tendo ido,
não pode voltar,
quando sai do azul
e entra nas trevas"
(Neil Young,
Hey Hey My My)
Já lá se vai mais de meio século desde que o Brasil saiu não do azul, mas de um cinza já bem escuro, para entrar nas trevas absolutas do Ato Institucional nº 5.

O 13 de dezembro de 1968 caiu apropriadamente numa 6ª feira –a mais funesta da História brasileira. Foi quando 17 sinistros personagens, com uma simples canetada, deram sinal verde para torturas, assassinatos, estupros, ocultação de cadáveres e todo o festival de horrores dos anos subsequentes.

Eram eles o ditador Costa e Silva e 16 de seus ministros: Albuquerque Lima (Interior); Augusto Rademaker (Marinha); Carlos Simas (Comunicações); Costa Cavalcanti (Minas e Energia); Delfim Netto (Fazenda); Gama e Silva (Justiça); Hélio Beltrão (Planejamento); Ivo Arzua (Agricultura); Jarbas Passarinho (Trabalho); Leonel Miranda (Saúde); Lyra Tavares (Exército); Macedo Soares (Indústria e Comércio); Magalhães Pinto (Relações Exteriores); Mário Andreazza (Transportes); Souza e Mello (Aeronáutica); e Tarso Dutra (Educação).  

Só um permanece vivo até hoje, Delfim Netto, que está com 91 anos e não se arrepende da autoria de uma assinatura da qual tanto sangue jorrou: continua afirmando que, apresentando-se as mesmas circunstâncias, voltaria a proceder da mesmíssima maneira.
Eles desembestaram o terrorismo de Estado

O 16º a falecer foi (em junho de 2016) o igualmente empedernido Jarbas Passarinho, de origem militar, que  ao proferir seu voto, disse a frase mais emblemática daquela infame reunião ministerial:
.
"Às favas, sr. presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência"
.
Ele continuou, pelas décadas adentro, enturmado com as aves de mau agouro, sempre defendendo o regime de exceção ao qual serviu nas equipes ministeriais de Costa e Silva, Médici e Figueiredo.

Um mês depois chegou a vez de Rondon Pacheco, cuja assinatura não consta do documento, embora chefiasse o Gabinete Civil. Talvez a lacuna se deva a haver sido um personagem reticente naquele momento, tendo inclusive tentado fixar um prazo para a vigência do AI-5: um ano apenas. 

Também se atribui a ele e ao ministro da Justiça Gama e Silva o mérito de, numa reunião prévia, terem excluído do documento alguns pontos mais duros, como o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.  
"o arbítrio ditatorial foi levado ao paroxismo"
Outra voz dissonante foi a do vice-presidente Pedro Aleixo, que inclusive empenhou-se adiante em restabelecer a legalidade. Chegou a convencer Costa e Silva, mas este morreu antes de concretizar o intento (coincidência?).

O  golpe dentro do golpe, que levou ao paroxismo o fechamento ditatorial do País, foi o lance decisivo da disputa interna entre a linha dura militar (que queria radicalizar o arbítrio) e os conspiradores originais (oficiais veteranos da participação brasileira na 2ª Guerra Mundial).

Os últimos, encabeçados por Castello Branco, pretendiam usurpar o poder por pouco tempo. Falavam numa intervenção cirúrgica, durante a qual imporiam medidas que modernizassem o Estado e enfraquecessem a esquerda (prisões, perseguições, cassações, extinção de entidades legais, etc.). 

Aprenderam, contudo, que implantar uma ditadura é bem mais fácil que dar-lhe fim.

As duas posições competiram acirradamente pela hegemonia na caserna ao longo de 1968, mas o crescimento dos movimentos contestatórios fez a balança pender para  o lado dos ferrabrases. 

Estes iam ao encontro da cultura de intolerância que grassava nos quartéis, pois se propunham a dotar o regime de meios para reagir com maior contundência às manifestações de rua e ao desafio das organizações armadas, passando por cima dos direitos humanos e das garantias constitucionais.
Pelo menos 434 opositores foram mortos da ditadura 

Pesaram também os interesses mesquinhos dos oficiais das três Armas, seduzidos pelas perspectivas que o prolongamento do regime de exceção e a ampliação dos poderes ditatoriais abriam para seu enriquecimento pessoal:
  • os da ativa, como gestores de um setor estatal que estava sendo cada vez mais inflado, ou como beneficiários de suas boquinhas; e
  • os da reserva como facilitadores dos favores oficiais (quase todos os grandes grupos privados contrataram militares reformados para integrarem seus conselhos de administração, como forma de terem seus interesses contemplados nos altos escalões governamentais).
O pretexto para a nova virada de mesa foi um discurso exaltado do deputado Márcio Moreira Alves numa sessão esvaziada (o chamado pequeno expediente) da Câmara Federal, no início de setembro de 1968.
Discurso errado, hora errada
Tratava-se de uma lengalenga sem verdadeira importância (incluía até uma sugestão às moças, de que não namorassem alunos das academias militares –vide aqui), proferida apenas para constar dos anais e poder ser exibida depois aos eleitores, quando ele lhes fosse pedir votos no pleito seguinte.

Mas, um jornalista favorável ao arbítrio vislumbrou a oportunidade de uma provocação e trombeteou-a; em seguida, os partidários do enrijecimento a divulgaram amplamente, mimeografada, entre os fardados, insuflando a indignação.

As Forças Armadas se declararam atingidas e o governo pediu ao Congresso Nacional a abertura de um processo visando à cassação de Moreira Alves. 

Os parlamentares, depois de em tantas ocasiões, tão vergonhosamente, se prostrarem aos ultimatos da caserna, daquela vez rechaçaram o pedido, temendo que outras cabeças fossem exigidas na sequência e a caça às bruxas acabasse extinguindo o mandato de muitos deles. 

Pateticamente, encerraram a sessão cantando o Hino Nacional, sem perceberem que tinham é escancarado as portas do inferno.
Revista tida como outro pivô do AI-5

A resposta da ditadura foi imediata e a mais tirânica possível: colocou os Legislativos federal e estaduais em recesso e impôs à Nação, na marra, novas e terríveis regras do jogo.

O presidente da República (escolhido por um Congresso Nacional expurgado e intimidado) passou a ter plenos poderes para cassar mandatos eletivos, suspender direitos políticos, demitir ou aposentar juízes e outros funcionários públicos, suspender o habeas-corpus em crimes contra a segurança nacional, legislar por decreto e julgar crimes políticos em tribunais militares, dentre outras medidas totalitárias.

Principal ferramenta do terrorismo de estado, o AI-5 só seria atirado na lixeira dez anos depois. Nesse meio tempo, centenas de resistentes foram executados, dezenas de milhares torturados, mais de uma centena de parlamentares cassados, um sem-número de funcionários públicos no olho da rua, a arte amordaçada (mais de 500 filmes, 450 peças teatrais, 200 livros e umas 500 canções sofreram os rigores da censura), etc.

Quando os gorilas saíram do armário, o Brasil entrou no período mais bestial e vergonhoso de sua História.
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UM DEPOIMENTO PESSOAL – Para jovens estudantes que, como eu, ingressaram na luta a partir do novo ascenso do movimento de massas,  aquele agourento 13 de dezembro de 1968 marcou o fim da aventura e o início da tragédia.

Passáramos o melhor ano de nossas vidas descobrindo a luta e descobrindo-nos na luta. Aí veio aquele pacote de medidas draconianas ao extremo, cujas implicações captamos de imediato: haviam declarado guerra contra nós e os riscos dali em diante seriam imensos. 

Mesmo assim, face à alternativa desistir x perseverar, fizemos a opção digna... que se revelaria das mais sofridas.

Então, o AI-5 foi o divisor de águas entre o 1968 exuberante e o 1969 soturno.
A passeata dos 100 mil foi o ápice dos protestos de 68

Entre o enfrentamento a céu aberto e o martírio nos porões.

Entre a luta travada ao lado das massas despertadas e a luta que travamos sozinhos em nome das massas amedrontadas.

Meu avô morreu quando meu pai tinha 11 anos. Como era o primogênito, minha avó fez com que começasse imediatamente a trabalhar  numa fábrica escura, barulhenta e empoeirada, burlando a legislação que exigia idade mínima de 14 anos.

Passou o resto da vida lamentando a responsabilidade que desabou cedo demais sobre seus ombros. Num dia, estava despreocupadamente jogando bola no campinho ao lado de sua casa. No outro, esfalfando-se oito horas seguidas para colocar o pão na mesa familiar.

O AI-5 teve o mesmo efeito sobre mim. Até então, a militância era puro deleite. De um momento para outro, tornou-se um pesadelo que me deixou em frangalhos, além de tragar alguns dos meus melhores amigos e tantos companheiros estimados.

Parafraseando a bela canção de Neil Young, foi a saída do azul e entrada nas trevas. (por Celso Lungaretti)

NÃO ESTOU SOZINHO: TAMBÉM REINALDO AZEVEDO SUSPEITA DE QUE ESTEJAMOS DIANTE DE UMA 'OPERAÇÃO ABAFA'

reinaldo azevedo
SEM MORDOMO,
 PRENDAM O PORTEIRO!
Desde a 3ª feira (29) à noite, quando o Jornal Nacional levou ao ar a reportagem sobre o surgimento do nome do presidente Jair Bolsonaro na investigação do caso Marielle Franco, experimento um desconforto que poderia ser estético. 

Algumas sinapses que se fazem por conta própria na minha cachola disparam o alarme: 
"Como está, a narrativa não faz sentido".
Mas isso não é romance. Chamo a atenção para fios soltos, peças ausentes e comportamentos heterodoxos. E estou certo de que o Ministério Público do Rio é o detentor desses arcanos.

A Globo tem de se perguntar se não caiu numa armadilha, num entrapment jornalístico, que serviu para Bolsonaro posar de vítima e herói. Na lógica política, isso descarta Wilson Witzel como fonte da matéria —embora eu nunca especule a respeito.

Digamos que o porteiro tenha se enganado ou recorrido à má-fé em seus depoimentos. Como explicar, no entanto, o registro em livro da entrada do carro, com a placa e o destino: casa 58, justamente a de Bolsonaro?
Os depoimentos do porteiro foram tomados depois da tragédia, mas o registro no livro é contemporâneo ao ingresso no condomínio do Logan AGH 8202. O autor da anotação não tinha como saber que a linha que redigia, com zelo burocrático, viria a fazer história. A menos que adivinhasse: 
"Eles vão matar Marielle, e eu vou tentar ferrar Bolsonaro porque ele será presidente da República". 
Isso tudo no dia 14 de março de 2018! Eis um romance impublicável.

A imagem da anotação no livro foi obtida depois que se quebrou a senha do celular de Ronnie Lessa, um dos assassinos. Ela lhe fora enviada por sua mulher. Pergunto: com que propósito a zelosa senhora fotografara a página? Resposta possível: para proteger o marido.

A primeira reportagem do JN informou que o registro da presença de Bolsonaro em Brasília contradizia os depoimentos do porteiro. Em entrevista coletiva na 4ª (30), a promotora Simone Sibilio afirmou que perícia confirma ter sido Lessa a autorizar a entrada de Élcio Queiroz.

Tal perícia teria sido concluída na 4ª feira, no dia seguinte à reportagem. Sibilio estava ao lado da também promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, bolsonarista de carteirinha —no caso, de camiseta.

Membros do MP do Rio tinham ido a Brasília conversar com Dias Toffoli, presidente do STF, para saber se poderiam continuar com a investigação, uma vez que o nome do presidente tinha aparecido no rolo. Sibilio e a bolsonarista estavam entre eles?

Tal encontro se deu sem o conhecimento do juiz responsável pelo caso, o que é de espantosa heterodoxia. Foram participar uma notícia de fato ao ministro. 

Sem o conhecimento do juízo original, virou consultoria gratuita feita por ministro do STF. E o encontro se deu antes da perícia —também realizada, a seu modo, na portaria, por Carlos Bolsonaro.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, classificou de factoide o episódio envolvendo o presidente e disse que a questão já havia sido arquivada pela PGR e pelo STF antes da reportagem. Seria o arquivamento formal de um procedimento informal?

Bolsonaro deixou claro que já tinha ciência havia dias de que seu nome passara a figurar no caso. A fluência atípica da indignação no seu vídeo, apesar da retórica peculiar, pareceu-me de cara bem mais do que improviso. Entrapment.

Sergio Moro manda, e Aras topa, o MPF abrir inquérito contra testemunha de investigação ainda em curso para apurar se o porteiro cometeu denunciação caluniosa, obstrução da Justiça e falso testemunho, condutas que, em existindo, são apuradas na esfera estadual. A AGU determinou que a Procuradoria-Geral da União investigue o vazamento. São aberrações inéditas. 

Bolsonaro está ensinando como Dilma Rousseff deveria ter se comportado durante o petrolão.

O que faltou à petista para se manter no cargo foi estuprar a institucionalidade. É bem verdade que ela não tinha um ministro da Justiça do nível de Moro. E não contava com um Aras na PGR.

Nesse romance sem pé, mas com cabeça, faltam mordomo e caseiro.

Então prendam o porteiro. (por Reinaldo Azevedo)
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Toque do editor — Também eu havia chegado, antes inclusive do que o Reinaldo Azevedo, à conclusão de que a narrativa do visitante noturno não estava fazendo sentido. Mas, pela experiência acumulada noutros carnavais, conclui que disto também não conseguiríamos convencer a opinião pública, face à barragem providenciada pelas otoridade que servem caninamente ao poder presidencial.

Daí ter optado por outro caminho, o de colocar em questão a notória e nunca desmentida promiscuidade dos Bolsonaros com as milícias do Rio de Janeiro, sanguinárias organizações criminosas que são descendentes óbvias dos famigerados esquadrões da morte do período da ditadura militar (o capitão Guimarães é um elo de ligação entre uns e outras).

Mas, apesar do meu ceticismo quanto à possibilidade de as consistentes ponderações do Reinaldo Azevedo forçarem uma apuração imparcial de mais este escândalo escabroso, torço para desta vez eu estar errado. 

Seria uma boa oportunidade para agilizar-se a retirada do bode da sala, a meu ver inevitável em médio prazo; contudo, quanto mais tal desfecho tardar, mais aumentará a cota de sofrimentos imposta ao agoniado povo brasileiro. (por Celso Lungaretti)
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