sexta-feira, 1 de novembro de 2019

NÃO ESTOU SOZINHO: TAMBÉM REINALDO AZEVEDO SUSPEITA DE QUE ESTEJAMOS DIANTE DE UMA 'OPERAÇÃO ABAFA'

reinaldo azevedo
SEM MORDOMO,
 PRENDAM O PORTEIRO!
Desde a 3ª feira (29) à noite, quando o Jornal Nacional levou ao ar a reportagem sobre o surgimento do nome do presidente Jair Bolsonaro na investigação do caso Marielle Franco, experimento um desconforto que poderia ser estético. 

Algumas sinapses que se fazem por conta própria na minha cachola disparam o alarme: 
"Como está, a narrativa não faz sentido".
Mas isso não é romance. Chamo a atenção para fios soltos, peças ausentes e comportamentos heterodoxos. E estou certo de que o Ministério Público do Rio é o detentor desses arcanos.

A Globo tem de se perguntar se não caiu numa armadilha, num entrapment jornalístico, que serviu para Bolsonaro posar de vítima e herói. Na lógica política, isso descarta Wilson Witzel como fonte da matéria —embora eu nunca especule a respeito.

Digamos que o porteiro tenha se enganado ou recorrido à má-fé em seus depoimentos. Como explicar, no entanto, o registro em livro da entrada do carro, com a placa e o destino: casa 58, justamente a de Bolsonaro?
Os depoimentos do porteiro foram tomados depois da tragédia, mas o registro no livro é contemporâneo ao ingresso no condomínio do Logan AGH 8202. O autor da anotação não tinha como saber que a linha que redigia, com zelo burocrático, viria a fazer história. A menos que adivinhasse: 
"Eles vão matar Marielle, e eu vou tentar ferrar Bolsonaro porque ele será presidente da República". 
Isso tudo no dia 14 de março de 2018! Eis um romance impublicável.

A imagem da anotação no livro foi obtida depois que se quebrou a senha do celular de Ronnie Lessa, um dos assassinos. Ela lhe fora enviada por sua mulher. Pergunto: com que propósito a zelosa senhora fotografara a página? Resposta possível: para proteger o marido.

A primeira reportagem do JN informou que o registro da presença de Bolsonaro em Brasília contradizia os depoimentos do porteiro. Em entrevista coletiva na 4ª (30), a promotora Simone Sibilio afirmou que perícia confirma ter sido Lessa a autorizar a entrada de Élcio Queiroz.

Tal perícia teria sido concluída na 4ª feira, no dia seguinte à reportagem. Sibilio estava ao lado da também promotora Carmen Eliza Bastos de Carvalho, bolsonarista de carteirinha —no caso, de camiseta.

Membros do MP do Rio tinham ido a Brasília conversar com Dias Toffoli, presidente do STF, para saber se poderiam continuar com a investigação, uma vez que o nome do presidente tinha aparecido no rolo. Sibilio e a bolsonarista estavam entre eles?

Tal encontro se deu sem o conhecimento do juiz responsável pelo caso, o que é de espantosa heterodoxia. Foram participar uma notícia de fato ao ministro. 

Sem o conhecimento do juízo original, virou consultoria gratuita feita por ministro do STF. E o encontro se deu antes da perícia —também realizada, a seu modo, na portaria, por Carlos Bolsonaro.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, classificou de factoide o episódio envolvendo o presidente e disse que a questão já havia sido arquivada pela PGR e pelo STF antes da reportagem. Seria o arquivamento formal de um procedimento informal?

Bolsonaro deixou claro que já tinha ciência havia dias de que seu nome passara a figurar no caso. A fluência atípica da indignação no seu vídeo, apesar da retórica peculiar, pareceu-me de cara bem mais do que improviso. Entrapment.

Sergio Moro manda, e Aras topa, o MPF abrir inquérito contra testemunha de investigação ainda em curso para apurar se o porteiro cometeu denunciação caluniosa, obstrução da Justiça e falso testemunho, condutas que, em existindo, são apuradas na esfera estadual. A AGU determinou que a Procuradoria-Geral da União investigue o vazamento. São aberrações inéditas. 

Bolsonaro está ensinando como Dilma Rousseff deveria ter se comportado durante o petrolão.

O que faltou à petista para se manter no cargo foi estuprar a institucionalidade. É bem verdade que ela não tinha um ministro da Justiça do nível de Moro. E não contava com um Aras na PGR.

Nesse romance sem pé, mas com cabeça, faltam mordomo e caseiro.

Então prendam o porteiro. (por Reinaldo Azevedo)
.
Toque do editor — Também eu havia chegado, antes inclusive do que o Reinaldo Azevedo, à conclusão de que a narrativa do visitante noturno não estava fazendo sentido. Mas, pela experiência acumulada noutros carnavais, conclui que disto também não conseguiríamos convencer a opinião pública, face à barragem providenciada pelas otoridade que servem caninamente ao poder presidencial.

Daí ter optado por outro caminho, o de colocar em questão a notória e nunca desmentida promiscuidade dos Bolsonaros com as milícias do Rio de Janeiro, sanguinárias organizações criminosas que são descendentes óbvias dos famigerados esquadrões da morte do período da ditadura militar (o capitão Guimarães é um elo de ligação entre uns e outras).

Mas, apesar do meu ceticismo quanto à possibilidade de as consistentes ponderações do Reinaldo Azevedo forçarem uma apuração imparcial de mais este escândalo escabroso, torço para desta vez eu estar errado. 

Seria uma boa oportunidade para agilizar-se a retirada do bode da sala, a meu ver inevitável em médio prazo; contudo, quanto mais tal desfecho tardar, mais aumentará a cota de sofrimentos imposta ao agoniado povo brasileiro. (por Celso Lungaretti)

Um comentário:

Cezar disse...

Camarada

Tudo é teatro..Guera Híbrida para enganar os trouxas

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