sábado, 31 de outubro de 2015

EIS A IMAGEM EXCLUSIVA DO INSTANTE...

...em que Sua Majestade o rei Lula, 1º e único, exigiu de sua vassala Dilma
que ela controle com mais firmeza a atuação da Polícia Federal,
evitando embaraços para a família real. Caso contrário,
bradou, ordenará que lhe cortem a cabeça!

MÁFIAS EMPRESARIAIS E PT SÃO AMIGOS DESDE CRIANCINHAS; O CAPITALISMO DE ESTADO, SOB VARA, SAIU DO ARMÁRIO!

Desta vez o Demétrio Magnoli se superou, escancarando magistralmente a sordidez dos conluios e comunhão de interesses dos governos do Partido dos Trabalhadores com as máfias empresariais, neste melancólico Brasil do século 21 em que tantas ilusões foram desfeitas, tantas esperanças pulverizadas e é tamanha a relutância da companheirada em enxergar o que salta aos olhos: os sinos dobram pelo PT! 

A maioria continua preferindo ficções reconfortantes de cunho maniqueísta cujo prazo de validade venceu há muito tempo, fugindo do confronto com a verdade indigesta de que a faina idealista e abnegada de todos nós para construirmos um partido dos explorados fracassou miseravelmente, do parto da montanha tendo resultado um rato mensaleiro, petroleiro e neoliberal.

O PT está morto, mas nele ainda restam, vivos, muitos militantes decentes que, quando a ficha afinal lhes cair, decerto vão cerrar fileiras conosco para a gestação de um partido e/ou frente realmente de esquerda revolucionária. Tomando o máximo cuidado para evitarmos que o fruto dos nossos esforços nos escape novamente dentre os dedos. 

Leiam e tentem não vomitar:

LIÇÃO DE ANATOMIA

Por Demétrio Magnoli
Você pode interpretá-las como um material indiciário: nexos e chaves para investigações policiais. Mas, nas declarações recentes de quatro personagens, descortina-se um rico material sociológico: os contornos da estrutura e organização de um sistema de poder.

Dilma Rousseff justificou as "pedaladas fiscais" pelo imperativo de preservar os programas sociais. A Folha evidenciou a inverdade: as "pedaladas" financiaram, principalmente, grandes grupos econômicos. A mentira oficial, um método de governo, não passa de notícia velha. O fato relevante encontra-se na segunda justificativa, oferecida por Jaques Wagner, ministro da Casa Civil: "Cada empresa dessa para a qual foi oferecida uma taxa de juros compatível gerou riqueza e emprego".

Lição de anatomia, parte 1: no capitalismo de Estado, o Orçamento nacional é uma peça de ficção, o nome de um tesouro distribuído seletivamente pelo governo à alta burguesia. A santa aliança entre os donos do poder e os donos do capital legitima-se por gerar "riqueza e emprego". Odebrecht, JBS e Eike Batista, filhos diletos do BNDES, são os instrumentos do desenvolvimento do país.

Do poderoso ministro a um especial ex-ministro, Gilberto Carvalho, o mais íntimo assessor de Lula. Depondo à Polícia Federal no âmbito da Operação Zelotes, que apura o "comércio" de medidas provisórias em benefício do setor automotivo, Carvalho reconheceu a proximidade entre Lula e Mauro Marcondes, preso sob acusação de "negociar" a MP 471, editada pelo ex-presidente. Depois, produziu uma tese singular sobre as relações entre governantes e lobistas: "A malandragem é deles [lobistas] que, na hora de vender para as empresas podem falar que precisaram pagar propinas. Quando você recebe as pessoas, não sabe o que elas vão fazer com aquilo".

Lição de anatomia, parte 2: o capitalismo de Estado é um capitalismo de máfias. A porta do palácio está sempre aberta aos lobistas, que são antigos conhecidos dos governantes e, em certos casos, como o de Marcondes, parceiros de negócios de um filho do ex-presidente. Mas, nessa interação, oculta-se uma desigualdade de natureza moral: as autoridades políticas miram o bem da nação, enquanto seus interlocutores, os lobistas, concentram-se no vil metal. Lula, o bom selvagem, é puro, casto e tolo. Marcondes, lobo em pele de cordeiro, é infame, astuto e safo.

Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves. O Instituto Lula negou que o ex-presidente tenha atuado como intermediário de empresas, "antes, durante ou depois de seu governo". O delator Fernando Baiano afirmou que pagou propina a José Carlos Bumlai pela intermediação de uma visita do presidente da Sete Brasil a Lula consagrada à inclusão da OSX num negócio com a Petrobras. 

Bumlai, "amigo de festa, de almoço, de aniversários" do ex-presidente, confirmou o encontro e, claro, desmentiu a propina. Calúnia: Baiano, que ele conhecia apenas superficialmente, "fiquei até surpreso", transferiu-lhe R$ 1,5 milhão, mas como empréstimo, contabilizado na pessoa física, usado para despesas da pessoa jurídica e jamais quitado.

Lição de anatomia, parte 3: o capitalismo de Estado é um capitalismo de favores e privilégios. No seu universo de amigos, acasos e almoços, os comensais são empresários ou lobistas, ou empresários-lobistas, inclusive os filhos do operário-presidente, que aprenderam as artes burguesas do empreendedorismo.

Rui Falcão, presidente do PT, qualificou a operação policial no escritório de Luis Cláudio, filho de Lula, como "perseguição" contra Lula conduzida em caviloso conluio do Ministério Público, do Judiciário, da Polícia Federal e de "setores da mídia". 

Lição de anatomia, conclusão: o capitalismo de Estado não convive bem com as instituições da democracia. Na hora da crise, precisa da couraça protetora de um regime autoritário.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

CLÁSSICO DA HAMMER É A ATRAÇÃO DO DIA DAS BRUXAS: "ASILO DO TERROR".

Os europeus sempre primaram por deitarem e rolarem em cima do cinema estadunidense em termos de qualidade, embora nunca tenham podido competir com ele no terreno dos investimentos e do marketing. 

Até mesmo o western, o filão made in USA por excelência, os italianos reinventaram. E os melhores policiais são os franceses; as melhores comédias, as italianas; e o melhor terror, disparado, o britânico das companhias Hammer e Amicus, no período que começa no final da década de 1950 e se estende pelos anos '60 e '70 adentro.

Sem as maldições dos efeitos especiais e da obrigatoriedade de mimar o público-alvo adolescente, que mataram boa parte da vida inteligente no gênero, o forte eram as histórias muito bem boladas, o clima tenso e a sempre correta interpretação de atores característicos como Christopher Lee e Peter Cushing, os melhores Drácula e Van Helsing de todos os tempos.

Asilo do terror (1972), o filme que escolhi para marcar o transcurso do dia das bruxas, é um dos melhores exemplares desse filão: 
  • pela direção sempre marcante de Roy Ward Baker, cineasta que mostrou sua excelência em Somente Deus por testemunha (1958) e tinha o mérito de não desdenhar os projetos menores que assumia para garantir o pão nosso de cada dia, imprimindo também neles sua marca pessoal (casos de Uma sepultura na eternidade, de 1967, e O conde Drácula, 1970, excelentes!); 
  • por se basear em histórias criadas pelo ótimo escritor e roteirista Robert Bloch (do clássico Psicose, de Alfred Hitchcock); 
  • graças ao carisma de Cushing --o cast inclui Britt Ekland, Charlotte Rampling, Herbert Lom e Patrick Magee; 

  • e em função da trilha musical fortíssima de Douglas Gamley, outra figurinha carimbada do terror britânico das décadas de 1960 e 1970.
Jovem médico é submetido a um teste que definirá se está ou não apto para se tornar o diretor de um hospício: precisa identificar o antigo diretor, que teria enlouquecido e se tornado outro dos pacientes.

Vai inquirindo um a um sobre seus casos (cada relato é um dos episódios que compõem o filme). No final, tem uma desagradável surpresa.

ALCKMIN, O EXTERMINADOR: EM 2012 ELE BARBARIZOU O PINHEIRINHO. EM 2015 ESTÁ BARBARIZANDO A EDUCAÇÃO.

Desocupação do Pinheirinho: bestialidade sem limite.
Detestei cada minuto dos quase quatro anos em que trabalhei no serviço de imprensa de um governador, na década retrasada. Ficara desempregado num momento de crise no mercado jornalístico e o meu antigo diretor de redação, que também estava na olho da rua, investiu na conquista de um cargo público, fazendo campanha de graça para o candidato.

Ganhou a aposta e recebeu a contrapartida: passou a coordenar a redação que trombeteava os feitos e justificava os malfeitos de Sua Excelência. 

Alguns meses depois me fez uma oferta irrecusável, para ser seu redator de confiança na equipe que herdara. 

Aluguei minha competência profissional, mas não as minhas convicções. Não me filiei ao partido do governador nem procurei aproximar-me do seu esquema político, o que teria sido muito fácil nas circunstâncias. Encarava aquilo tão somente como ganha-pão.

O que não me impediu de simpatizar com uma política daquele governo: a colocação do ensino como prioridade primeira.

Logo no início, foram convidados cem luminares para fazerem um diagnóstico em profundidade da educação, formulando um programa para sanar as grandes deficiências existentes.

O resultado foi o projeto das escolas-padrão, que procurava fazer com que algumas escolas estaduais se tornassem ilhas de excelência, com equipamento adequado, autonomia para gerir seus gastos e incentivos aos professores.

As primeiras a serem transformadas serviriam como cartões de visita e teste na prática. Todas as outras, com o passar do tempo, as seguiriam.

Deu tudo errado.

Os professores não mostraram o mínimo interesse em participar da gestão dos recursos no que seriam, digamos, associações de pais e mestres com poderes ampliados e recursos para investir. Isto foi encarado por eles, apenas, como mais trabalho.

Também recusaram, indignados, a proposta de terem aumentos salariais desde que fizessem cursos de aprimoramento didático. Queriam receber aumentos salariais sem se obrigarem a nada.

E fizeram uma interminável greve que, no desempenho das minhas funções, acabei acompanhando passo a passo.
Reestruturação do ensino: iniquidade sem limite.

Nossa redação tinha uns 20 jornalistas, distribuídos entre a manhã/tarde e a tarde/noite. Quase todos simpatizávamos com os professores e os assalariados em geral.

Mesmo assim, era impossível não notarmos que a greve, a partir de certo ponto, foi prolongada unicamente para criar constrangimentos políticos ao governo.

Chegou o momento em que foi colocada a proposta definitiva e última do governador. Mesmo assim, os líderes do magistério mantiveram a paralisação por mais duas ou três semanas, o que não fazia nenhum sentido em termos reivindicatórios. Os motivos eram outros.

Depois recuaram, aceitando integralmente a proposta que haviam rechaçado de pronto.

O governador amaldiçoou o dia em que pensou em fazer do ensino a vitrine do seu governo. Adotou outras prioridades e para elas canalizou os recursos adicionais que iria utilizar em educação.

Os professores perderam o poder de barganha e, portanto, a chance de obter melhor remuneração. Não se deram conta de que, jogando o jogo com mais sutileza, teriam alcançado patamares salariais bem mais condizentes com sua nobre função.

Os estudantes foram sensivelmente prejudicados, pela não concretização das melhoras e também pela perda de dias letivos.

Eu mesmo, acreditando nas belas promessas das escolas-padrão, transferi minha filha para uma delas. No final de um ano praticamente perdido, tive de levá-la de volta para o colégio de freiras, com o rabo entre as pernas.

Fiquei decepcionadíssimo por constatar que raríssimos professores levavam em conta seu papel na formação dos cidadãos, seu acesso privilegiado aos corações e mentes dos jovens brasileiros e, por extensão, de suas famílias.

Queriam mesmo é números diferentes nos holerites. Que acabaram não conseguindo.

Senti-me muito velho ao compará-los com meus veneráveis mestres de outrora, que se viam sobretudo como formadores das novas gerações, difusores do saber e responsáveis pelo aperfeiçoamento das instituições.

Meus pais e avós diziam a mesmíssima coisa, que os professores haviam piorado desde seus tempos de escola. Ou todos estávamos com a sensação errada, ou nosso ensino vem há muito descendo a ladeira.

Quem parece ter entendido bem tal lição é o governador atual, Geraldo Alckmin, que escolheu o ensino como alvo prioritário do corte de despesas nestes tempos bicudos de recessão. Decerto prefere poupar programas que lhe rendem mais dividendos eleitorais. E que se dane o futuro do Estado e do País, condenados a terem, adiante, cidadãos e profissionais de poucas luzes! 

Mas, como todos sabemos, o horizonte dos políticos vai apenas até o último mandato que poderão exercer antes de descerem ao inferno; se depois vier o dilúvio, que lhes importa?

Assim, Alckmin está fechando 25 escolas estaduais na capital paulista --nove nas regiões centrais onde as famílias geralmente podem bancar ensino pago e 16 nos bairros mais pobres, em que talvez isso fulmine a chance de jovens promissores virem a ser alguém na vida.

Em todo o Estado, serão 94 escolas assassinadas e 754 que passarão a ter apenas uma etapa de ensino (ou Fundamental 1, ou Fundamental 2, ou médio).

O governador alega que há espaços ociosos na rede. Eu diria que há espaços vazios nos cofres estaduais e que para preenchê-los vale tudo, até dificultar o acesso dos carentes, que não têm carro próprio nem podem pagar kombis escolares, sendo obrigados a juntar-se às outras sardinhas que se espremem nas latas do dantesco transporte coletivo de São Paulo. 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico divulgou há alguns meses um novo ranking mundial de qualidade da educação. Entre os 76 países avaliados, o Brasil ficou num melancólico 60º lugar.

Se depender dos Alckmins da vida, dias piores virão.

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

APOLLO NATALI: "PROPOSTAS SENSATAS E INSENSATAS PARA A EDUCAÇÃO".

Por Apollo Natali
"Se os Estados Unidos realmente se empenharem na criação de um novo sistema educacional para o século 21, a primeira medida a ser tomada é levar a profissão de professor a sério" (Barack Obama). "Viverás melhor quando fizeres os professores dos teus filhos serem mais bem pagos do que os políticos" (Wilhelm Reich). "Tratar com o mesmo rigor a responsabilidade fiscal e a responsabilidade educacional do País" (senador Cristovam Buarque).  

Sugestões sensatas essas, de cabeças privilegiadas, na defesa da educação. Igualmente sensatas propostas de Cristovam Buarque serão listadas no final destas linhas. Foram consideradas insensatas pela classe política. 

A reestruturação da educação no estado de São Paulo anunciada pelo governador Geraldo Alckmin, aparentemente nem sensata nem insensata, pode ser uma mexida na contabilidade para diminuir gastos com a educação dos pobres. Em 1998 a rede estadual de ensino tinha 6 milhões de alunos. Atualmente são 3,8 milhões.  Motivos alegados: municipalização do ensino básico, menor taxa de natalidade, transferência de alunos para a rede privada. 

O estado de São Paulo tem 645 municípios, 162 são alcançados pelas inovações. Sem alteração em 519 municípios. Ao todo, 311 mil alunos da rede serão transferidos de suas escolas em todo o Estado: 94 escolas serão fechadas, 66 delas funcionarão como creches; 28 que vão parar de funcionar não têm destinação.

O secretário da Educação, Herman Voorwald, justifica que a intenção é transformar as escolas em locais com apenas alunos de um ciclo –1 a 5 anos, 6 a 9 anos– e ensino médio. Ele defende que o objetivo é melhorar a qualidade do ensino. As transformações começam no início do ano letivo de 2016, para serem concluídas dentro de dois anos. Pais de alunos esperam o dia 14 de novembro, batizado de Dia E (de “ensino”) para saberem que escolas vão fechar.

Num lance de insensatez democrática, Geraldo Alckmin decidiu unilateralmente pelas modificações. Não consultou nem avisou pais e alunos. O sindicato dos professores da rede estadual de ensino, Apeoesp, que representa a categoria, nem sequer foi comunicado. 

O governador garante que professores, merendeiras e funcionários da limpeza não serão demitidos. Não se sabe com que mágica isso vai ser feito.  A presidente da Apeosp, Maria Izabel Azevedo Noronha, lembra que apenas professores concursados não podem ser demitidos. Outras categorias de professores vão ter a carga horária drasticamente reduzidas, podendo chegar ao cúmulo de 12 horas-aula por semana, com a correspondente redução do salário.

“O professor mal vai conseguir se sustentar. Com o tempo,  a secretaria da Educação vai anunciar a necessidade de fechamento de mais escolas. A educação vai piorar, com certeza. A rede já não está organizada. Vai virar uma bagunça geral”, diz Izabel, que como Bebel é conhecida.

O nível educacional do Brasil poderia estar hoje igual ao de países como Costa Rica, Argentina, Chile e Coreia do Sul, tivessem sido levadas a sério propostas de Cristovam Buarque, doutor em economia, senador pelo PT-DF, ex-reitor da UnB de 1985 a 1989, governador do Distrito Federal de 1995 a 1998 e ministro da Educação de 2003 a 2004. Quando governava o Distrito Federal criou o Bolsa Escola, atual Bolsa Família.

Cristovam, no último mês de janeiro, garantia que em 15 anos suas propostas colocariam o Brasil no mesmo estágio educacional daqueles países. Suas idéias foram consideradas insensatas pelo ministro da Educação da época.
    
Só um cego político ou um infeliz omisso quanto às necessidades educacionais do País vê insensatez nas idéias de Cristovam Buarque. Quem enxerga o Brasil com nitidez considera que suas propostas nada têm de insensatas. Vejam: 
  • estabelecimento de um piso salarial mínimo para todos os professores, vinculado a exigências mínimas de conhecimento;
  • tratar com o mesmo rigor a responsabilidade fiscal e a responsabilidade educacional do País;
  • aprovação de uma lei de responsabilidade educacional que obrigue a cada prefeito cumprir as metas traçadas para a educação das crianças que vivem em sua cidade;
  • o governo federal, que financia totalmente as universidades e as escolas técnicas federais –e financia também com isenções fiscais federais parte das universidades e escolas privadas– que assuma a responsabilidade pela educação básica dos filhos dos pobres;
  • redução das despesas do governo federal em apenas 1% em favor da educação não abala os pilares da política econômica;
  • definição de três principais destinações de recursos, ou seja, três pisos, obrigatórios, para todas as escolas brasileiras: um piso de salário e formação do professor, um piso de instalações e equipamentos pedagógicos e um piso de conteúdo para cada disciplina em cada série;
  • federalização da educação básica. Considerando a realidade da desigualdade nas rendas das cidades brasileiras e o desinteresse pela educação por parte de grande número de prefeitos, a igualdade de oportunidade educacional só será possível se a educação básica for uma preocupação federal, não apenas municipal ou estadual;
  • combinar a responsabilidade federal com a manutenção da descentralização gerencial das escolas a cargo dos municípios e até mesmo dos pais e da sociedade;
  • dar a cada criança brasileira uma escola com o mesmo padrão de qualidade, independentemente da cidade onde nasceu e vive. Que uma criança do município maranhense de Centro do Guilherme, p. ex., onde a renda per capita é de R$ 28 por mês, tenha o direito a uma escola com o mesmo padrão de uma criança de Águas de São Pedro, no estado de São Paulo, cuja renda média per capita é de R$ 955 mensais. Neste país desigual as crianças devem ser tratadas como brasileiras, com direitos iguais e não como municipais, com direitos diferenciados;
  • toda escola deve ter banheiro e luz elétrica, chão de cimento, paredes de tijolo, teto de telha e um mínimo de equipamentos modernos disponíveis no Brasil;
  • assegurar vaga na escola a partir dos quatro anos de idade. O berço da desigualdade na idade adulta está na desigualdade do berço da criança. A porta da igualdade é a educação que complementa o berço e não a fábrica que complementa a renda; e
  • que toda criança pobre tenha conhecimento básico da língua portuguesa equivalente aos filhos da elite.                                        

ESTOU SIMPLESMENTE ENOJADO COM A REPETIÇÃO DA FARSA COMO 'PASTELÃO'

Você compraria um carro usado do Teixeira?
Deu na Folha de S. Paulo:
"Empresário de marketing esportivo com contratos milionários, Luis Cláudio Lula da Silva mora, sem pagar aluguel, em um apartamento nos Jardins, em São Paulo, que pertence a amigos de seu pai, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
...Ele e a mulher, Fatima Cassaro, vivem há três anos em um apartamento de 158 m², na alameda Jaú, nos Jardins, que pertence à Mito Participações Ltda, empresa que tem como cotistas a esposa e as filhas do advogado Roberto Teixeira –amigo do ex-presidente e padrinho de batismo de Luis Cláudio".
Quem me lê sabe a ojeriza que tenho pelas guerras de tortas de lama travadas por petistas, tucanos, peemedebistas, etc., tentando convencer a opinião pública de que os mais sujos são os outros e produzindo o efeito contrário: o cidadão comum conclui que sujos são todos.

Chocante, contudo, é a reaparição no noticiário político-policial da figurinha carimbada Roberto Teixeira, personagem do primeiro grande escândalo de desvio de recursos públicos para os cofres do PT.
E do companheiro que chamávamos de PT Venceslau?

Esquemas corruptos brotaram desde as primeiras prefeituras importantes assumidas pelo partido e, no rumoroso caso Paulo de Tarso Venceslau x Roberto Teixeira, em 1998, o PT tomou (vide aqui) a deplorável decisão de expulsar um militante idealista que denunciava falcatruas só para livrar a cara do empresário calculista que operava tais esquemas, um laranja podre que teria sido, inclusive, torturador do delegado Sérgio Fleury. Foi a senha para o liberou geral substituir o tradicional desapego pessoal dos quadros comunistas formados na velha escola do partidão.

Segundo o ex-guerrilheiro, militante idôneo e economista zeloso Paulo de Tarso Venceslau, em duas prefeituras petistas das quais ele era secretário das Finanças teria aparecido o tal Roberto Teixeira fazendo cobranças indevidas, por serviços não prestados, com recomendação do Lula. E a imprensa apurou que Teixeira, ademais, cedia um apartamento de cobertura em São Bernardo do Campo para Lula e sua família morarem de graça.
Em 1998 o PT deixou de esmagar o ovo da serpente

Dezessete anos depois, a Folha revela que uma empresa nominalmente pertencente à esposa e filhas de Teixeira cede um apartamento para o filho do Lula morar de graça. Tudo como dantes no quartel de Abrantes. Não foi suficiente o primeiro vexame?!

Eu sempre vi o episódio de 1998 como um divisor de águas: obrigado a posicionar-se com relação à corrupção, o PT escancarou as portas para ela. Foi o ovo da serpente do qual decorreram todos os mensalões e petrolões. Eu o afirmei na época, em artigo que escrevi para o Jornal da Tarde solidarizando-me ao Venceslau (pouquíssimos o fizeram) e tudo que ocorreu desde então só reforçou minha convicção.

Então, estou simplesmente enojado com a repetição da farsa como pastelão.

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

NÃO TÊM PÃO? QUE COMAM BRIOCHES!

No meu post do último dia 20, eu antecipei que estávamos prestes a receber uma péssima notícia, outro salto do desemprego:
"Tenho ouvido rumores de que, depois de 970 mil trabalhadores terem perdido o emprego entre o segundo trimestre de 2014 e o mesmo período de 2015, a divulgação dos dados do terceiro trimestre trará números ainda mais acachapantes, com cerca de 1,4 milhão de pobres coitados atirados na rua da amargura".
Como fazia quando trabalhava em editorias de Economia da grande imprensa, baseei-me em meus papos com os sem-espaço-na-mídia: gerentes de banco, comerciantes, sindicalistas, amigos que têm informações de cocheira, etc. Sempre me foram mais úteis do que as fontes habituais dos coleguinhas, os governos e os economistas mais renomados.

Não deu outra. Embora um pouco menos acentuado, houve, sim, um aumento dos mais preocupantes no número de vítimas da recessão do Levy, conforme se constata no editorial desta 4ª feira (28) da Folha de S. Paulo:
"...generalizam-se a redução da atividade econômica e a perda de postos de trabalho em praticamente todos os setores. As demissões, antes concentradas na indústria e na construção civil, agora atingem áreas que empregam mais, como serviços e comércio. 
Dados do Caged mostram que o fechamento de 185 mil postos formais de trabalho em setembro (ajustado pela sazonalidade do mês) foi o maior até agora em 2015. Nos últimos 12 meses, a contagem negativa chega a 1,3 milhão, o pior resultado da série histórica. 
A indústria é a campeã de perdas, com 557 mil postos fechados. Mas serviços e comércio, que até junho apresentavam certa estabilidade, acumularam 330 mil demissões só nos últimos três meses. 
A deterioração nesses setores, normalmente menos sujeitos a mudanças bruscas, sinaliza persistência da recessão. O potencial de piora é maior que em outros casos, pois, em conjunto, abrangem 26,5 milhões de pessoas, cerca de 66% dos empregos formais do país –indústria e construção, por exemplo, empregam 8,5 milhões e 2,9 milhões, respectivamente. 
O impacto do arrocho no orçamento das famílias se faz sentir no varejo, que teve queda de 5,2% nas vendas em 12 meses. De carros a supermercados, quase todos os segmentos amargam redução. Em suma, tem-se quase o reverso do bom momento da década passada".
Ou seja, enquanto o Brasil oficial se ocupa de temas candentes como a batida policial na empresa do filho do Lula, o Brasil real se preocupa com ninharias como a degola de quase duas centenas de milhares de trabalhadores nas proximidades dos festejos natalinos. 

Houve até, na rede virtual chapa branca, quem derramasse rios de lágrimas pelo desgosto infligido ao ex-sindicalista às vésperas de completar 70 anos. Já o desespero dos desempregados e suas famílias, que terão um Natal de m..., parece incomodar bem menos os articulistas daquilo que um dia foi chamado de esquerda. 

É por isto que eu detesto tanto a ilusão de (e promiscuidade com o) poder que acomete os companheiros ao chegarem aos palácios de Brasília. Antes, estariam todos nas ruas protestando veementemente contra a desumanidade capitalista. Hoje, não choram pelos desempregados porque seria uma condenação implícita da política econômica neoliberal adotada pelo governo do PT. 

E a revolução está tão ou mais distante do que no primeiro dia de 2003, quando começou o ciclo petista. Depois de quase 13 anos, o Brasil em essência não mudou e mesmo os pequenos avanços obtidos estão sendo agora cancelados um a um. 

Estava certíssima a moçada das manifestações de protesto: só a luta muda a vida!

terça-feira, 27 de outubro de 2015

LEMBRE-SE, DILMA, DO QUE ACONTECE COM QUEM GRITA "LOBO!" À TOA...

Foi patética, despropositada e altamente inoportuna esta declaração da presidente Dilma Rousseff à CNN, em Nova York: 
"O grande problema com aqueles que querem o meu impeachment é a falta de motivação. Nós temos que ter muito cuidado sobre isso pelo seguinte motivo: a nossa democracia ainda está na adolescência".
Como falava em inglês, talvez a "falta de motivação" tenha sido uma colaboração de tradutor pernóstico para piorar o que já era péssimo. Pois motivados os defensores do impeachment estão até demais. O que Dilma lhes reprova é não terem alegado, no seu entender, motivos válidos para seu defenestramento. Só que sobre isto, evidentemente, não cabe a ela opinar, pois é parte interessada. Deveria ficar quietinha e deixar que o Congresso Nacional cumprisse seu papel sem pressões.

Ela também esqueceu o velho chavão de que roupa suja se lava em casa. O que os estadunidenses pensarão de uma presidente que vai alfinetar opositores na casa dos outros, como se fosse casa da sogra?! Será que ninguém do Itamaraty tem coragem de instrui-la sobre como um mandatário deve se comportar no exterior? Gafe.

Se continuar hostilizando os adversários em fez de buscar alguma forma de convivência com eles, os ânimos se acirrarão cada vez mais. Jogar álcool na fogueira é o que lhe convém, em meio à pior crise econômica desde 1990? Se pensa que ganhará algo apostando no enfrentamento, está viajando na maionese. Quando a popularidade de qualquer presidente despenca para um dígito, ele(a) tem mais é de tentar ser simpático, não deselegante. Tiro no pé.

Depois de haver feito a bobagem de, com sua costumeira incontinência verbal, colocar o impeachment nas manchetes quando a mídia ainda o tratava como assunto secundário, Dilma repete a dose com o golpe militar que a referência a "democracia adolescente" subentende. Então como agora, trata-se da última pessoa no Brasil inteiro que deveria bater nesta tecla. Quem grita lobo! à toa, acaba devorado(a). Tiro no pé.

E o pior é que o fez por puro desespero de causa. Já não consegue citar um único motivo positivo para os brasileiros a continuarem querendo no Palácio do Planalto, é incapaz de inspirar esperança. Então precisa recorrer ao alarmismo, "se me chutarem, poderá vir outra ditadura". Oportunismo.

Se fosse algo além de palavras ao vento para atemorizar ingênuos, teríamos de concluir que Dilma nada entendeu da História da qual participou. Pois o golpe militar de 1964 ocorreu em meio à exacerbação da guerra fria, depois que o assassinato de John Kennedy colocou na Casa Branca um caipira texano que a CIA fazia de gato e sapato, com respaldo no empresariado, da Igreja e da classe média.

O único ponto comum é a rejeição do governo por parte da classe média, estridente mas insuficiente para trazer os tanques às ruas. 

Obama e a Europa nem de longe estão apoiando quarteladas na América do Sul (caso contrário a Venezuela já teria puxado a fila), o grande empresariado continua bem distante da porta dos quartéis (por saber que o custo de um golpe --tornar o Brasil um pária aos olhos do mundo, afugentando investidores e atrapalhando exportações-- excede largamente eventuais benefícios), o papa Francisco não é conservador como Paulo VI. 

Quanto aos militares, são sempre os últimos a aderirem aos projetos golpistas, entrando para fazer o serviço sujo. E nunca tiveram autonomia de voo, são requisitados como jagunços pelo grande capital. Consequentemente, enquanto durar a lua de mel com o Luís Carlos Trabuco e a Dilminha for só paz & amor com os outros donos do Brasil, poderemos dormir tranquilos, pois nada vai haver no ar além dos aviões de carreira.

Existe, contudo, um porém: se hoje o golpe militar não passa de um espantalho erguido por Dilma no meio do seu milharal, adiante poderá, sim, entrar na ordem do dia, caso o descontrole da economia nos arraste a uma depressão econômica, gerando desespero e turbulência. Aí, se o governo for tão incapaz de manter a ordem como se mostra incapaz de deter a deterioração econômica, as baionetas poderão entrar em ação, ocupando o espaço deixado vago pela incúria dos civis.  

Mas tal possibilidade, por enquanto remota, não é favorável à Dilma, muito pelo contrário. Pois começamos 2015 com a certeza de que seria um ano perdido e, nestes dez meses, ela fracassou miseravelmente em salvar 2016. As perspectivas só fizeram piorar, mês após mês.

Entraremos em 2016 com a certeza de que vai ser um ano ainda mais nefasto do que 2015, e nada indica que Dilma esteja apta a nos tirar do atoleiro.

Então, se fosse sincero seu temor de um golpe militar e houvesse desapego pelo poder no seu caráter, ela reconheceria que não é nem nunca será a estadista de que tanto carecemos; e que os nós a imobilizarem o País só começarão a ser desatados após sua saída.

Ou seja, o único serviço que pode prestar ao Brasil e a nosso povo explorado e sofredor, neste instante, é a renúncia. Tudo o mais já fez... em vão. E, se insistir em continuar governando à base de tentativa e erro, acabará mesmo fazendo o País explodir.

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

SUPLICY E OS LILIPUTIANOS

Nos bons tempos, com Lula e o saudoso Plínio.
O companheiro Eduardo Suplicy foi hostilizado por intolerantes chiques numa livraria chique da avenida Paulista. Sou, claro, totalmente solidário a ele.

Quando perdeu a cadeira no Senado para o neo-ultradireitista José Serra, elogiei Suplicy por "haver exercido durante todo esse tempo o papel de principal defensor dos direitos humanos no Senado, participando de cruzadas importantíssimas como a travada contra a extradição de Cesare Battisti, em favor da apuração rigorosa dos crimes cometidos pela PM durante a bestial invasão do Pinheirinho, contra as perseguições fascistoides aos manifestantes de rua a partir de junho de 2013, etc.". 

Mas, fiz uma ressalva que, de certa forma, foi premonitória, antecipando a saia justa deste domingo:
"Tendo pisado feio na bola ao permanecer num partido cada vez mais distanciado das bandeiras que o haviam empolgado no passado e sendo, por natureza, um homem afável, não confrontou certas abominações com a contundência cabível. 
Seu grande momento nos últimos anos: a luta por Battisti.
Ainda assim, com sua fala mansa, teve a coragem de divergir da tacanha linha justa em episódios como o dos pugilistas cubanos (despachados pelo governo brasileiro da forma mais sumária e arbitrária) e da blogueira Yoani Sánchez (a quem as autoridades daquele país tentavam impedir de viajar para cá, onde tinha um prêmio a receber). 
Afora haver tido, em 2009, a vergonha na cara de exigir a renúncia por corrupção do então presidente do Senado José Sarney, a quem, deploravelmente, Lula acabaria atirando uma boia quando estava prestes a submergir".
Parece não ter sido suficiente. E os que o agrediram verbalmente, decerto ignoram que Suplicy também tem sérios motivos de indignação contra o atual núcleo dirigente, pelo qual foi ostensivamente abandonado na última campanha eleitoral. Dilma e seu grupo o atiraram às feras, porque, com sua inquestionável integridade, era o espelho que revelava o quanto eles haviam se tornado Calibãs.

Pena que as mágoas tenham levado Suplicy a municipalizar-se, deixando de desenvolver a atuação nacional  à qual um homem de sua envergadura política e moral não deveria furtar-se num momento tão crítico da vida brasileira.  

Se o fizesse, talvez não o confundissem com os liliputianos, como o fizeram ontem. Embora relutante em usar sua força, Suplicy ainda é um Gulliver, um dos últimos sobreviventes políticos e morais de uma geração inesquecível. Merece respeito! 

LEVY É UMA UNANIMIDADE NEGATIVA: NÓS DEPLORAMOS SUA IDEOLOGIA E OS GRANDES EMPRESÁRIOS, SUA INÉPCIA.

Fui, provavelmente, o primeiro articulista da internet a afirmar que, afora ser um representante da odiosa escola do neoliberalismo, Joaquim Levy não passa de um economista de segunda linha, que respondia por uma das diretorias menos influentes do Bradesco, jamais teve projeção acadêmica e nem sequer é respeitado, em termos técnicos, pelos grandes empresários. Dilma engoliu gato (o subalterno que o Luís Carlos Trabuco indicou) por lebre (o próprio Trabuco, que astutamente recusou o convite dela para ser ministro da Fazenda).

Também desta vez a confirmação não tardou. Na edição desta 2ª feira (26), a Folha de S. Paulo expressa, em editorial, o desencanto do empresariado com o ministro que tudo faz para bem servi-lo, mas tropeça nas próprias pernas devido à sua crassa incompetência. Só a Dilma não percebe que se desgasta inutilmente carregando uma mala sem alça:
"Apesar de progressos e boas intenções, a equipe econômica falhou [os grifos são todos meus] -mesmo que se descontem as sabotagens de que foi vítima no Congresso e no próprio Planalto.  
O governo federal está prestes a anunciar um deficit de R$ 50 bilhões -ou de até R$ 100 bilhões, caso deva pagar despesas de anos anteriores adiadas de modo controverso, se não ilegal. A amplitude das possibilidades dá uma boa ideia da desordem orçamentária e dos graves erros de estimativa. 
Em abril, o governo apresentou seu Orçamento de fato. Considerava um aumento real de receita de 5%; propunha-se um superavit primário de 1% do PIB. 
A receita, porém, cai quase 5%. O governo agora nem sabe de quanto será o deficit, talvez 0,6%, sem considerar pagamentos atrasados. Em suma, um erro da ordem de uma centena de bilhão de reais

Decerto houve frustração de receitas devido a uma recessão maior que a prevista (esperava-se queda de 1,2% do PIB em abril; agora, de 3%). O Congresso rejeitou parte do pacote de ajuste. Não se pode apostar em verbas extraordinárias, até porque a crise tornou inviável a venda de ativos e concessões. 
Ainda assim, o governo foi otimista demais com suas receitas. Também não foi capaz de apresentar plano de médio prazo para recuperar as contas, sem o que as expectativas econômicas continuaram a se deteriorar, derrubando o crescimento e a arrecadação".

OS PATROCINADORES DA CBF QUE NOS RESPONDAM: ASSOCIAR SUA IMAGEM À CORRUPÇÃO É BOM PARA UMA EMPRESA?

Já que o ministro do Esporte anda tão ocupado com demônios fictícios que não tem tempo para exorcizar os reais. 

Já que nossos Judiciário e Legislativo nos fazem passar vergonha diante do mundo civilizado. 

Já que o FBI não pode vir fazer uma faxina futebolística aqui no Brasil e o Marco Polo Del Nero não bota o pé fora do território nacional, tratando a Pátria como valhacouto. 

Então, são campanhas como esta acima, lançada nas redes sociais, que podem nos livrar do principal obstáculo que se antepõe, neste momento, à muito aguardada e sempre postergada moralização do futebol brasileiro.

Pois, se depender de nossos podres Poderes, a CBF continuará sendo, sabe-se lá até quando, a Casa Bandida do Futebol.

domingo, 25 de outubro de 2015

VEJA UM VÍDEO QUASE DESCONHECIDO SOBRE O EPISÓDIO QUE GEROU A GREVE DE FOME DOS "QUATRO DE SALVADOR"

Aos poucos vão aparecendo na internet as peças que permitem montar o quebra-cabeças de uma das raras greves de fome bem sucedidas no Brasil --e, exatamente por isto, muito menos lembrada do que as, por um motivo ou outro, terminadas em desistência, como as de Lula e outros sindicalistas do ABC, de D. Flávio Cappio, de Anthony Garotinho e de Cesare Battisti.

Tive a oportunidade de contribuir para tal vitória, quando militantes nordestinos iniciaram o protesto de supetão  e fiz esforços desesperados para conseguir repercussão na imprensa, vital para que atingissem seu objetivo. 

Por ser inconveniente para a direita derrotada e a esquerda omissa, a greve de fome dos quatro de Salvador (dentre cinco presos em flagrante: Antonio Prestes de Paula, Cícero Araújo, Jari José Evangelista, José Wellington Diógenes e Marcos Wilson Lemos. Não me lembro nem consegui agora determinar qual deles ficou de fora do protesto) foi convenientemente relegada ao esquecimento. É mais fácil encontrarmos registros cuja ótica é policialesca, limitada ao assalto e prisão, como este aqui.
O erro: tentarem reeditar a luta armada... em 1986!

Daquela vez muitos se furtaram ao dever da solidariedade: houve quem se distanciasse completamente e quem não fizesse tudo que podia/deveria.

Mesmo assim, os esforços bem-intencionados frutificaram -- ainda que de forma dramática, a duríssimas penas.

Para reconstituir o episódio, aproveitarei, primeiramente, trechos da tese de pós-graduação em História de Lucas Porto Marchesini Torres, na Universidade  Federal da Bahia, A questão financeira é uma questão política, cuja íntegra vocês podem acessar aqui:

"Em abril de 1986, cinco homens foram presos após tentativa frustrada de assalto à agência Canela do Banco do Brasil na capital da Bahia, Salvador. Depois de um rápido cerco policial, tiros disparados por ambas as partes e alguma negociação, aos cinco assaltantes restaram poucas opções. O automóvel Voyage que os aguardava de frente ao banco, roubado e com placa fria, tornara-se inatingível para a fuga. Cercados, renderam-se. Entregaram suas armas (dois revólveres calibre 32, dois 38 e uma pistola automática Lugger), mais outras que haviam tomados aos seguranças, uma sacola de dinheiro contendo aproximadamente 230 mil cruzados e alguns objetos pessoais dos clientes (relógios, pulseiras, etc.). 

Do primeiro contato direto que tiveram com os policiais surgiu a necessidade de revelarem aquilo que deveria ter sido mantido em segredo e era escamoteado pelos contornos que os cinco detidos pretendiam, até então, dar àquele assalto. Algemados e submetidos, por medo de serem confundidos (e tratados como) bandidos comuns ou membros da Falange Vermelha, apressaram-se em assumir: 'somos todos petistas!'.
Apolônio de Carvalho, dirigente do PCBR voltando do exílio. 

Ao buscarem diferenciar-se dos criminosos ditos comuns, esclareceram que com o assalto desejavam levantar fundos em ajuda à Nicarágua sandinista, para onde o dinheiro seria enviado ou financiaria a viagem deles para lá como trabalhadores voluntários. Tais alegações alçaram essa ocorrência incomum ao noticiário nacional, com grande destaque, e as páginas em que apareceu não eram as policiais.

Na década de 1990 um pequeno documentário foi realizado com os presos. Introduzido por "Soy louco por ti America", de Caetano Veloso e Capinam, (...) Marcos foi recolado à frente da agência onde foi preso para recontar sua versão, agora não mais para agentes policiais. (...) Primeiro registrou demonstrações de coragem e capacidade do grupo, conscientes de como deviam se comportar naquele momento de tensão, sem perder o controle da situação. À porta do banco, segundo Marcos, a imprensa era amiga, salvaguardando a vida dos assaltantes; em seguida, se tornou inimiga, deturpando declarações dos presos. 

Marcos, à sua maneira, apostou na caracterização do grupo como ingênuo e idealista. “Eu contava com apenas 22 anos”, disse demonstrando sua juventude presumidamente imatura. Reputou suas duas grandes influências na vida, àqueles que o estimularam a perseguir seu ideal revolucionário: “Rubens Lemos, meu pai, que foi preso político na década de 1970, e Ernesto Che Guevara”.

A sentença não foi igual para todos. José Wellington, Jari, Marcos e Cícero foram apenados com treze anos e dez meses de reclusão, mais o pagamento de uma multa no valor de 21 mil cruzeiros. Prestes de Paula e Telson, com sete anos e dez meses, mais 12 mil cruzeiros de multa.
O prestígio do sandinismo estava no auge entre nós  

Após a definição da sentença, havia pouco a fazer. Os militantes perderam o espaço que tinham na imprensa e suas aparições ali tornaram-se rarefeitas.

Individualmente, tentaram benefícios que certamente os ajudaram a resistir à vida na prisão. A partir de 1987, três deles conseguiram liberação da Justiça para estudar fora do presídio. Marcos ingressou no curso de Filosofia, José Wellington em Direito (para mais adiante especializar-se na área criminal) e Telson frequentou curso técnico de soldador oferecido pelo Senai. Os demais se dedicaram ao artesanato dentro da prisão".

OS LULUS INOFENSIVOS E O CACHORRO LOUCO

Para complementar, eis narrativa que fiz em Náufrago da Utopia (Geração Editorial, 2005), único livro que parece ter abordado a greve de fome. 

[Vale, ainda, acrescentar que os cinco acabaram sendo expulsos do PT, que não lhes deu chance de apresentar  defesa e só se preocupou com os danos à sua imagem pública, não movendo uma palha para evitar que sofressem arbitrariedades na prisão.]

Como escrevi boa parte do Náufrago na 3ª pessoa, refiro-me a mim mesmo pelo pseudônimo que então utilizava para driblar a censura do regime militar: André Mauro.

Sem mais delongas, vamos ao que interessa:
Rubens Lemos tivera seus dentes arrancados pelos torturadores
"André chega atrasado para a reunião da Cacimba, numa tarde de sábado. O grupo literário se distribui por cadeiras e pelo chão do quarto. A palavra está com um visitante ilustre: Rubens Lemos, jornalista, poeta e velho militante comunista. André cumprimenta a todos, pede desculpa pelo atraso e se acomoda. Rubens continua expondo o problema que o trouxe a São Paulo.

Seu filho e outros companheiros foram presos ao assaltarem um banco na capital baiana, alguns meses atrás. Dinheiro para a revolução, uma prática que já parecia extinta. Por serem todos petistas, a imprensa fez estardalhaço. E o partido, temendo que esse fato fosse explorado na campanha eleitoral, voltou as costas aos chamados quatro de Salvador.

O PT está obsessivamente empenhado em livrar-se da imagem de reduto dos antigos terroristas.

Na primeira eleição de que participou, em 1982, a lei eleitoral só permitia a exibição, no horário gratuito da TV, do currículo e foto de cada candidato. Os aspirantes petistas a deputados eram quase todos originários da resistência à ditadura — e orgulhavam-se disso, fazendo questão de destacar a condição de ex-presos políticos.

A direita, por sua vez, aproveitou ao máximo para insuflar preconceitos. Colocava em circulação piadas tipo “os candidatos do PT não estão mostrando currículos, mas sim folhas corridas e boletins de ocorrência”...

Então, na eleição de 1986, o que o partido mais queria era dar a volta por cima, projetando uma imagem de respeitabilidade. Quando a prisão dos quatro de Salvador ameaçou relacionar o PT com as expropriações outrora praticadas pela vanguarda armada, foi um deus-nos-acuda!
Lemos: "Foi um golpe brutal".

Além de negar qualquer apoio a esses militantes, a tendência majoritária começou a reprimir e expurgar as correntes radicais abrigadas em suas fileiras. Pertencer simultaneamente à Articulação e ao PT continuou in, mas ser da Convergência Socialista e do PT virou out. Porta da rua é serventia da casa.

Os párias ficaram numa situação extremamente vulnerável — e os policiais, contrários à redemocratização do País, não desperdiçaram a chance. Agentes da Polícia Federal começaram a levá-los a outros Estados, sem mandado judicial nem comunicação a seus advogados, para serem mostrados a testemunhas de todos os assaltos a bancos ocorridos em passado recente.

Nem mesmo a Ordem dos Advogados do Brasil obtinha permissão para dar assistência aos prisioneiros nessas praças e acompanhar os reconhecimentos. Havia uma intenção óbvia de inculpá-los de tantos delitos quanto fosse possível.

A gota d’água foi o telefonema recebido por Rubens Lemos na rádio de Natal em que comandava um programa esportivo, alertando-o de que os explosivos recentemente roubados de uma pedreira se destinariam à simulação de uma revolta no presídio de Salvador; no meio da confusão, os quatro seriam assassinados.

Lemos fez essa denúncia no ar, abortando — se havia — tal plano. Quatro decidiram entrar em greve de fome a partir de segunda-feira. Dois dias antes, não há nenhum esquema de imprensa estruturado para fazer com que seu protesto repercuta nas principais capitais do País.

O comitê de solidariedade paulista é imediatamente formado. E André aceita ficar com a missão mais difícil: colocar a greve de fome no noticiário...

Começa enviando um comunicado à imprensa para cientificá-la da greve. Ninguém publica.

Convence Lemos a escrever uma carta emocionada à população brasileira, afirmando que, em face de seus (reais) problemas cardíacos, delega ao povo a missão de assegurar a sobrevivência do filho Cícero, caso não possa fazê-lo pessoalmente. Ninguém publica.

Visita deputados, redações, agências noticiosas. Na do Governo Federal, a Empresa Brasileira de Notícias, quem o atende é um agente do Serviço Nacional de Informações travestido de jornalista. Fazendo-lhe uma ameaça velada:
José Wellington Diógenes hoje é advogado
— O tempo não está bom para os presos políticos e muito menos para quem já esteve preso. Se for pra jaula de novo, é bem provável que nunca mais saia. Ou ir direto pra baixo da terra...
Tem melhor sorte nos contatos com os correspondentes estrangeiros, que enviam algumas linhas a seus veículos. Mas é pouco para incomodar o governo brasileiro.

A cada dia, aumenta a apreensão no comitê de solidariedade. André atua em tempo integral, atirando em todas as direções.

Procura o procurador Hélio Bicudo, que já entrevistara para uma revista, e pede ajuda. Bicudo lhe dá uma apresentação para a Cúria Metropolitana de São Paulo. Acaba conseguindo uma carta anódina na Igreja, na linha de que por piores que hajam sido seus crimes, esses presos devem ter seus direitos respeitados. Ninguém publica.

Faz idêntica gestão na OAB, obtém uma carta igualmente cautelosa e também a distribui inutilmente aos jornalistas.

Manda um fax pessoal a todos os diretores-proprietários de veículos da grande imprensa, alertando-os de que, caso persista o boicote às notícias sobre a greve de fome, frustrando quaisquer chances de atendimento das reivindicações, caberá a eles a responsabilidade por qualquer tragédia que venha a ocorrer.

Quando já não sabe mais o que fazer ou a quem recorrer, o colunista que escreve sobre o Rio de Janeiro na página de Opinião da Folha de S.Paulo, Newton Rodrigues, dedica todo seu espaço daquele dia ao assunto. Diz que recebeu do jornalista Lungaretti uma denúncia consistente sobre violação dos direitos humanos dos quatro de Salvador, tendo repassado-a ao ministro da Justiça, Fernando Lyra.


André, que enviara o dossiê a Newton Rodrigues apenas por causa das posições libertárias que este assumia na coluna diária e do seu passado de resistência ao golpe de 1964, fica então sabendo que o veterano jornalista faz parte do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (...). Um golpe de sorte, no momento exato! Os quatro, segundo os médicos, começam a correr riscos mais graves!

No dia seguinte, Rodrigues relata a seqüência do caso: o ministro determinou ao governador da Bahia, Waldir Pires, que tome as providências cabíveis para que a greve de fome tenha um desfecho humanitário.

André e o comitê de solidariedade são informados de que o governador baiano oferece aos presos a garantia de não serem mais sequestrados pela Polícia Federal para reconhecimentos arbitrários, além de estar disposto a permitir que estudem ou trabalhem durante o dia, somente pernoitando na prisão.

Mas os quatro, empolgados com a mobilização de estudantes de Salvador em seu favor, pretendem prolongar a greve de fome por mais dois dias. Querem arriscar ainda mais a vida para desfrutar seu momento de glória, depois de terem sido vilipendiados pela própria esquerda!

André compreende seus sentimentos, mas considera o êxito político mais importante do que o desagravo pessoal. Então, na reunião do comitê, ele é incisivo:

— Estávamos sem perspectiva nenhuma e a vitória praticamente caiu do céu. Não podemos permitir, de jeito nenhum, que ela se transforme em derrota.
Decide-se mandar um ultimato a Salvador: ou os quatro saem imediatamente da greve, ou o comitê de apoio paulista vai mandar um comunicado a todos os jornais expressando sua discordância dessa postura.

É um blefe pois, a julgar pelos precedentes, ninguém publicaria. Mas, surte efeito. Depois de mais de uma semana sem alimentarem-se, os quatro são socorridos e se restabelecem plenamente.

Como recompensa por ter agido enquanto o PT se omitia, André recebe um insulto insólito do dirigente petista Rui Falcão:
— O Lungaretti e os quatro de Salvador são todos cachorros loucos!"
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