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quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

O PT PARECE TER PERDIDO O INSTINTO DE SOBREVIVÊNCIA: TUDO INDICA QUE AFUNDARÁ JUNTO COM LULA

josias de souza
DNA DOS PROBLEMAS DO PT É 100% FEITO DE LULA
O Partido dos Trabalhadores discute os seus problemas desde 2005, quando Roberto Jefferson jogou o mensalão no ventilador. 

Decorridos 15 anos, dois mega-escândalos, várias passagens pela cadeia, um impeachment e uma colossal lipoaspiração partidária, o PT continua discutindo os seus problemas em vez de resolvê-los. 

Um partido não apodrece por cair na lama. Ele apodrece por permanecer lá. O PT parece ter desenvolvido uma certa afeição pelo lodo. 

No momento, o petismo se encaminha para transformar Gleisi Hoffmann, presidente do PT, em boi de piranha —uma personagem que é jogada no rio para ser devorada, enquanto alguém escapa. 

Gleisi é uma dirigente precária. Mas os petistas, como de hábito, escolhem seus bodes expiatórios esquecendo-se de mencionar o grande bode exutório da legenda, uma figura que escapa sempre: Lula. Gleisi é mera preposta do grande chefe no comando do partido. Faz o que ele manda ou consente. 

O DNA da crise que produz o definhamento do PT é faz é 100% feito de Lula:
— é
 dele a autoria do mito da gerentona, que levou a inépcia de Dilma à Presidência. Deu em ruína econômica e impeachment. 
— foi nos governos dele que o PT se converteu na máquina coletora de fundos que desaguou no mensalão e no petrolão. Deu em cadeia. 
— foi por causa dele que o partido misturou o Lula Livre à pauta eleitoral de 2018. Deu em Jair Bolsonaro. 

No momento, o PT se divide entre a contemplação de suas feridas e o esforço para anular no Supremo Tribunal Federal a sentença que levou Lula à prisão. Simultaneamente, o partido mantém debaixo do tapete todo o lixo acumulado na sua passagem pelo poder federal. 

Essa estratégia tem dois problemas. O primeiro é que a desfaçatez vaza pelas bordas do tapete. O segundo é a presunção do PT de que o Brasil é uma nação de bobos.

A cada nova eleição o brasileiro informa ao PT que não é imbecil. Mas o partido demora a compreender o recado. (por Josias de Souza)
Este filme de 1973 tem algo a ver com o post? Até que tem: foi o
último da série clássica da Hammer, tendo o Christopher
Lee no papel do conde Drácula. 

Mostra o vampirão cansado de sua existência de séculos e disposto a
dar-lhe fim; mas, nada modesto, ele quer levar consigo toda
humanidade,  espalhando um vírus mortal.

Já o Lula quase destruiu o Brasil com sua incrível sucessão de
erros crassos na década que termina. Mas, ele  também 
fracassou e deverá ser acompanhado só pelo
PT em sua descida ao fundo do poço

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

UMA VITÓRIA DE BOULOS DESLANCHARIA O PROCESSO DE ACUMULAÇÃO DE FORÇAS DA NOVA ESQUERDA, QUEIMANDO ETAPAS.

Hoje haverá finalmente um debate eleitoral com real importância. Fazia tempo.

Debates eleitorais pela TV costumam ser extremamente tediosos, um mero entrechocar de imagens forjadas pelos marqueteiros cujos cordéis movimentam os fantoches em cena.

São exceções irrisórias as situações pitorescas que às vezes destoam da pasmaceira habitual. Eis algumas:
— quando Richard Nixon, ainda sem aquilatar a importância da imagem, foi ao confronto decisivo contra John Kennedy com a aparência desleixada de sempre (ruim a ponto de os democratas terem feito um cartaz de campanha com a frase você compraria um carro usado deste homem?). Mais do que os argumentos, o eleitorado dos EUA comparou o garboso Kennedy ao mal-encarado Nixon, com os resultados conhecidos;
— quando o obeso deputado Gastone Righi queria entregar alguns papéis a Jânio Quadros no ar e foi se arrastando grotescamente por baixo do ângulo captado pelas câmeras... sem imaginar que, maldosamente, elas se voltariam na sua direção, expondo a todos os telespectadores seu puxa-saquismo explícito;
— quando Franco Montoro esperou sua tréplica a Jânio Quadros, no encerramento do debate, para acusá-lo de torpeza (havia sido vítima da ditadura e estava mancomunado com os antigos perseguidores), de forma que suas tentativas raivosas de dar resposta teriam de ser (e foram) rechaçadas pelo mediador, fazendo-o parecer destrambelhado e patético;
— 
quando Boris Casoy perguntou a Fernando Henrique Cardoso se ele acreditava em Deus e FHC se queixou de que haviam combinado não tocar nesse assunto, dando ao adversário Jânio Quadros um trunfo talvez decisivo para vencer uma eleição parelha;
— quando Brizola e Maluf perderam as estribeiras e ficaram se xingando no ar. Filhote da ditadura!, repetiu várias vezes o gaúcho, enquanto o outro respondia: Desequilibrado! Desequilibrado! Passou 15 anos no estrangeiro e não aprendeu nada!;
— quando Lula teve um apagão no debate decisivo com Collor e reagiu com apatia aos ataques do inimigo, não contestando sequer a afirmação de que seu aparelho de som era mais caro que o do ricaço das Alagoas;
— quando o mesmo Collor, tentando voltar à tona depois de escorraçado do poder pelos caras-pintadas, foi escalado para formular uma questão ao folclórico Enéas Carneiro e, depois de pensar um pouco, desistiu: Fala qualquer coisa aí. Enéas gastou seu tempo criticando o próprio Collor, que esnobou de novo o adversário ao ter a chance da réplica: Continua falando.

Lembrei-me de sete momentos interessantes num sem-número de debates a que assisti ou dos quais tomei conhecimento. Posso ter esquecido um ou outro mais. O certo é que a mesmice e a chatice predominam de forma avassaladora, de forma que neles só me interessavam as situações bizarras e a análise das estratégias por eles adotadas (e da capacidade que tinham para cumpri-las direitinho como os marqueteiros as haviam formulado). 

O que diziam e prometiam, desde muito jovem eu percebi que não passavam de palavras ao vento. Como aquele compromisso solene da Dilma, de ser a salvação para os eleitores que temiam as reformas austericidas; se votassem nela, prometia, não seriam vítimas dos rigores neoliberais. 

Tão logo iniciou o 2º mandato, empossou o neoliberal Joaquim Levy como o mandachuva da economia. Só faltou ela dizer, parafraseando as crianças de antigamente, enganei uns bobos na casca dos ovos...   

O debate desta 6º feira (27) será o primeiro que verei desde os dois da campanha presidencial de 2018 ocorridos antes de o Bolsonaro amarelar (foi levado às cordas pelo Guilherme Boulos no primeiro e mandado à lona pela Marina Silva no segundo). 

Aí, depois daqueles dos quais fugiu graças ao atentado mais fajuto de que tomei conhecimento desde o assassinato do John Kennedy (oficialmente atribuído a um único atirador embora houvesse dúzias de evidências de que ele fora alvo de um fogo cruzado), não perdi mais tempo. Afinal, a chance de deter o palhaço sinistro praticamente deixara de existir.

E o de hoje me interessa pelo poderoso impulso que uma vitória de Boulos dará à afirmação de uma nova esquerda, mais combativa e, espero, determinada a ir à raiz de nossos problemas: a agonia do capitalismo, que, enquanto sobreviver, vai se tornar cada vez mais nocivo à humanidade, a ponto de levá-la à destruição se continuarmos assistindo, abúlicos, à marcha da insensatez.
Afinal, seja quem for o prefeito, governador ou presidente, não terá como solucionar o insolúvel, embora um governante sem condições intelectuais, morais e mentais para o exercício do cargo possa causar enorme estrago.

Mas, ter alguém do nosso campo como prefeito da principal cidade do país em termos de expressão política e econômica sempre cumprirá um papel destacado no processo de acumulação de forças que temos pela frente, inclusive porque estamos premidos pela necessidade imperativa de contarmos o quanto antes com um presidente minimamente à altura dos desafios colocados pela pandemia e pela depressão econômica iminente. (por Celso Lungaretti) 

quinta-feira, 26 de novembro de 2020

E AGORA, DORIA? VAI CONTINUAR FINGINDO QUE É DIFERENTE DO BOLSONARO OU AGIRÁ COMO UM APRENDIZ DE GENOCIDA?

leonardo sakamoto
O DILEMA DE DORIA EM SP: AGRAVAR A
 PANDEMIA OU PERDER VOTOS NO 2º TURNO
Enquanto cresce o número de internações em UTIs por covid-19 e aumenta a velocidade de transmissão do coronavírus no estado de São Paulo, o governador João Doria se vê diante de um dilema: 
— ou endurece o isolamento social e assume o risco eleitoral de uma medida impopular às vésperas da eleição, 
— ou mantém a situação como está até depois do 2º turno e agrava a pandemia. 

Ressalte-se que os municípios também poderiam adotar medidas de restrição, mesmo que o governo permita uma abertura maior. Mas, ao que tudo indica, o discurso segue alinhado. "Não há necessidade de retroceder", repetiu o prefeito Bruno Covas, em sabatinas do UOL e da Folha de S. Paulo, nesta 5ª feira (26). 

O aumento do número de casos graves da doença estava previsto para o final do ano, mas aconteceu em meio ao 2º turno da eleição –que já havia sido postergada pelo Tribunal Superior Eleitoral por conta da pandemia. 

O PSDB, partido de Doria, está no 2º turno não apenas na capital, com Bruno Covas, mas também em Mogi das Cruzes, Piracicaba, Praia Grande, Ribeirão Preto, São Vicente e Taboão da Serra. Desses municípios, apenas Ribeirão Preto não se encontra na fase verde do Plano São Paulo –que prevê reabertura controlada de praticamente todas as atividades. 

Mas há um descompasso com a realidade da doença. Como aponta reportagem da Folha de S. Paulo, o centro de contingência para o coronavírus vai propor a Doria o endurecimento da quarentena. 

Além do ranger de dentes causado por um retorno a um cotidiano mais restritivo, o que pode levar à perda de votos em uma população esgotada, há também o risco de a medida ajudar a afastar das urnas a parcela mais idosa do eleitorado –como ocorreu no 1º turno com Bruno Covas. 

O prefeito sofreu os efeitos de uma abstenção de mais de 29% na capital, tendo significativamente menos votos do que o previsto pelas pesquisas. Ele lidera por 62% a 28% entre quem tem mais de 55 anos. Já Boulos está na frente em quem tem até 24 anos: 50% a 39%, segundo o Ibope

A pergunta posta à mesa é: se não houvesse eleição neste momento, o governo de São Paulo, que se vendeu como um contraponto responsável ao terraplanismo biológico do presidente da República, já não teria retrocedido na flexibilização da quarentena? 

Não será uma surpresa se, na próxima 2ª feira, uma dia após o segundo turno, houver um endurecimento das medidas na revisão do Plano São Paulo. 

E, independentemente da decisão que o governador e os prefeitos tomem a partir de agora, ela poderá vir tarde demais para muita gente. (por Leonardo Sakamoto)
TOQUE DO EDITOR 
João Doria é aquele publicitário paulista que, aproveitando os danos causados ao prestígio do Lula pelo escândalo do mensalão, vislumbrou uma oportunidade golpista em agosto de 2007, quando foi o principal organizador do movimento Cansei!

Apesar da maciça propaganda na TV, a pretendida (mas não assumida explicitamente como tal) reedição da Marcha da Família, com Deus pela Liberdade só reuniu, no máximo, 5 mil testemunhas, principalmente dondocas, diante da Catedral da Sé.

O fracasso acachapante o manteve durante cerca de uma década no ostracismo, desaparecido da política enquanto tocava adiante suas atividades empresariais.

O impeachment de Dilma Rousseff lhe deu novo fôlego. Aproveitou a guinada à direita para eleger-se prefeito da capital em 2016 e governador do Estado (com apoio do Bolsonaro) em 2018.

Ladino, percebeu que o Bozo estava tropeçando nas próprias pernas com seu negacionismo da pandemia, então adotou posição e atuação civilizadas, em contraponto à sabotagem genocida. 

Já estava, obviamente, preparando-se para enfrentar Bolsonaro na eleição presidencial de 2022 como o governador que teve coragem de peitar o ogro.

E eis que o destino traiçoeiro o colocou numa sinuca de bico: ou implanta desde já medidas mais rigorosas de combate à 2ª onda da covid-19, arriscando-se a retirar a escada do seu aliado Bruno Covas e deixá-lo pendurado na brocha, ou enrola por mais uns dias e joga no ralo o trunfo que pretendia usar contra o Bozo.

Bem feito! A esperteza, quando é demais, engole o dono... (por Celso Lungaretti)   

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

SE O PT QUISER ASSEGURAR UM LUGAR NO FUTURO, PRECISARÁ SUPERAR LULA

hélio schwartsman
O FUTURO DA ESQUERDA
Como epidemias em países continentais, resultados eleitorais precisam ser analisados com cautela. São várias coisas diferentes acontecendo ao mesmo tempo, o que tende a produzir miragens.

Se olharmos para o número absoluto de prefeituras, o bloco dos partidos considerados de esquerda, PT, PDT, PSB, PCdoB, Rede e PSOL, perdeu posições em relação ao ciclo anterior. Em 2016 eles haviam conquistado 1.088 paços municipais. Neste ano, foram, até aqui, 795.

O problema de olhar apenas para os números absolutos é que homogeneizamos coisas muito diferentes. Nessa métrica, Serra da Saudade, com 781 habitantes, vale tanto quanto São Paulo, com mais de 12 milhões. 

Grotões tendem a responder com muita lentidão às mudanças políticas. Se quisermos ter uma ideia mais precisa de para onde os ventos sopram, devemos dirigir o olhar para os maiores centros urbanos. E neles a esquerda parece retomar protagonismo.

Das 95 cidades com mais de 200 mil eleitores, em que o 2º turno é possível, 57 voltarão às urnas. A esquerda está em 28 dessas corridas. 

No ciclo anterior, foram 26, mas o PT, que chegara a apenas sete segundos escrutínios (e perdeu todos), agora participa de 15 —é a legenda que disputa mais returnos.

É impossível, porém, deixar de observar que o PT perdeu espaço para siglas de esquerda menores em duas das cidades mais importantes do país. Em São Paulo e Porto Alegre, Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela d'Ávila (PCdoB), empurrados principalmente pelo voto de jovens, roubaram um espaço no qual o PT tinha cadeira quase que cativa.

E isso nos leva para o dilema de Lula. O ex-presidente ainda tem popularidade demais para deixar de ser o centro de gravidade da legenda, mas tem má fama o bastante para alienar do partido segmentos relevantes do eleitorado. 

Os casos de São Paulo e Porto Alegre mostram que, se o PT quiser assegurar um lugar no futuro, precisará superar Lula. (por Hélio Schwartsman)

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

TERREMOTO NAS ELEIÇÕES: CANDIDATOS DE BOLSONARO E LULA AFUNDAM E SURGE UMA NOVA ESQUERDA, JOVEM E MODERNA

O resultado do 1º turno das eleições municipais no Brasil provocou um terremoto que mudou todas as cartas políticas. 

Foi uma das eleições mais atípicas desde os tempos da ditadura, porque houve uma confluência de astros sobre elas que lhes deu valor agregado e das quais tanto os candidatos do presidente Bolsonaro como os do mítico líder Lula saíram surrados e derrotados.

Era a primeira vez que se realizava uma eleição em meio a uma pandemia como esta e, até por causa do desprezo com que o presidente Bolsonaro a tratou desde o primeiro momento, chamando de maricas e covardes aqueles que a temiam, havia o perigo de que as pessoas ficassem em casa, deixando de votar.

É verdade que houve uma abstenção maior do que na eleição municipal de 2016, cerca de 30% maior, mas foi emocionante ver como milhões de pessoas foram às ruas para votar portando máscaras e álcool em gel. Quem disse que o brasileiro não se interessa por política?

Além do fato da pandemia, estas eleições foram importantes por terem sido as primeiras depois das presidenciais de 2018, que deram ao capitão de extrema-direita Bolsonaro 75 milhões de votos, na esperança de que iria mudar a velha política e acabar com a corrupção partidária. Estas eleições foram um teste de até que ponto sua força eleitoral se mantinha.

Ao mesmo tempo, foram as primeiras realizadas com Lula fora da prisão e com total liberdade para fazer propaganda dos candidatos de seu partido, o PT, que há muito detinha a hegemonia da esquerda no país, sendo o partido com mais deputados no Congresso e que sempre teve força de atração na América Latina. Tratava-se de ver se o PT, após a prisão de Lula, começava a se recuperar de seus dias sombrios de corrupção de muitos de seus quadros, que sangrou a credibilidade do partido.

A tudo isto teria de somar-se o teste de um pequeno partido de esquerda, o Psol, que nasceu da expulsão do PT de um punhado de militantes que já começavam a se desiludir com o aburguesamento do partido. 

Sempre foi um partido minoritário, mas que se destacou pela defesa dos excluídos e das classes mais esquecidas, como os trabalhadores sem-teto, as vítimas de perseguição por sua condição de gênero e por todas as questões do feminismo moderno, etc. 

O Psol é um partido que conta com uma mártir, a jovem negra e lésbica saída da favela, Marielle Franco, que conseguiu ser vereadora do Rio, de onde travou uma batalha contra as milícias que começavam a enxertar-se nos gânglios do Estado. Foi assassinada, tornou-se um símbolo que atravessou fronteiras e ainda hoje não conseguiram ―ou não quiseram―descobrir os mandantes do crime.

Marielle era uma das esperanças do Psol e um fermento do futuro. Como já havia escrito, a jovem negra está se revelando mais perigosa morta do que viva. Do túmulo, continua tirando o sono de muitos políticos e da própria família de Bolsonaro, amiga dos milicianos quem a assassinaram.

Nestas eleições, pela primeira vez mulheres trans foram eleitas para várias Câmaras municipais, e até mesmo ficaram entre os candidatos mais votados, como Erika Hilton, a vereadora mulher com mais votos na grande São Paulo, ou Duda Salabert em Belo Horizonte.

Em São Paulo, Erika fez um discurso forte e comovente, lembrando que no Brasil, país em que mais pessoas trans são mortas por homofobia e uma mulher é assassinada a cada duas horas, as trans estão entrando na política com força para defender sua causa. Disse com firmeza: 
"Isto começa aqui, mas não acabará!".
Chamei de terremoto estas atípicas eleições municipais de São Paulo porque revelaram, entre muitas outras coisas, que todos os candidatos apoiados por Bolsonaro ou Lula sofreram um desastre, o que já pode ser um prenúncio das eleições presidenciais de 2022. 

Mito do extremismo golpista da ultradireita, Bolsonaro começa a desmoronar como um castelo de cartas. Os candidatos mais apoiados por ele acabaram derrotados. 

Se alguém tem dúvidas, basta lembrar o que disse, indignado, sobre o resultado das eleições, o famoso guru e ideólogo radicado nos Estados Unidos, Olavo de Carvalho, que desde o início tem sido o mestre do bolsonarismo, conselheiro do presidente e de seus filhos. Ao saber do resultado, ele escreveu, de acordo com o site O Antagonista
"O péssimo desempenho dos bolsonaristas na eleição não tem mistério nenhum... O presidente confiou demais no sucesso inevitável da sua liderança pessoal, sem perceber que ela não passava, precisamente, disso: uma liderança pessoal sem respaldo militante e incapaz, por isso, de transmitir seu prestígio a qualquer aliado".
E se as eleições revelaram que o castelo Bolsonarista começa a rachar e já dá sinais de cansaço e esgotamento, também revelaram a derrota de Lula e do PT, que não foram capazes de conquistar nenhuma cidade importante, nem mesmo na região do Nordeste pobre, de onde ele vem e que sempre lhe garantiu milhões de votos.

A quase saída da cena do bolsonarismo e do lulismo da política brasileira e o voto maciço que os brasileiros deram à 
velha política, aos fortes partidos de centro e de centro-direita, começam a revelar que não acreditam mais no mito de que Bolsonaro chegou para acabar com a política tradicional, ao buscar apoio novamente nos partidos clássicos, da vida toda, que estão ressurgindo com força. A tal ponto que já se fala em uma união deles para conseguir derrotar Bolsonaro nas eleições presidenciais.

A esquerda do PT não só perdeu nestas eleições, mas saiu acabada. Em São Paulo, a cidade mais rica e a maior da América Latina, onde sempre teve um de seus feudos mais fortes, seu candidato ficou bem atrás na fila, enquanto emergia em segundo lugar, competindo com o atual prefeito da cidade, o jovem presidente do Psol, Guilherme Boulos, 38. Este conseguiu, como um pequeno Davi contra o gigante Golias, chegar aonde nem sonhava, com a possibilidade de vencer no 2º turno, o que significaria uma revolução para a política brasileira. 

Lula não quis apoiar a candidatura de Boulos e seu candidato acabou humilhado. Só agora terão de apoiar o jovem líder do Psol, que se inspirou nos novos partidos de esquerda que surgiram nos últimos anos na Europa, incluindo o Podemos, da Espanha.

Os resultados destas eleições com suas surpresas inesperadas indicam:
— que a política brasileira continua viva;
— que sua democracia está resistindo aos ataques de uma extrema-direita selvagem, autoritária e golpista; e
— que busca nas gerações jovens, que são as que votaram no domingo, novos políticos. 

Políticos abertos aos desafios que a humanidade apresenta e com vontade de revitalizar uma política que saia dos palácios para tocar com as mãos os graves problemas da fome, do racismo e do massacre de negros e mulheres, para os quais a velha política aburguesada fechava os olhos, pensando apenas em seus benefícios e nos de suas famílias.

É apenas o início, mas não é pouco. (por Juan Arias, na edição brasileira do jornal global El Pais)

terça-feira, 17 de novembro de 2020

APÓS BOLSONARO TER DESPEDAÇADO SUAS PROMESSAS DE 2018, OS ELEITORES FIZERAM AGORA PICADINHO DO QUE HAVIA SOBRADO

eliane cantanhêde
O GRANDE DERROTADO
Tal qual o verdadeiro Trump nos Estados Unidos, o Trump tupiniquim, Jair Bolsonaro, também nega a realidade, não reconhece a derrota e, como não dá para acusar a mídia desta vez, ataca a urna eletrônica e já ensaia o discurso da fraude! 

Nenhuma pirotecnia, porém, é capaz de anular ou esconder Suas Excelências, os fatos. E os fatos são claríssimos: Bolsonaro é o grande derrotado das eleições municipais de 2020.

Não apenas seus candidatos perderam feio e os votos do seu filho Carlos encolheram 34% na base eleitoral da família, o Rio, como tudo o que Bolsonaro representa afundou:
  1. a antipolítica cedeu lugar à política, à experiência, aos partidos;
  2. o PSL, que inflou e se transformou em segunda força na Câmara, murchou;
  3. tanto bolsonaristas renitentes quanto arrependidos, que brilharam em 2018, apagaram em 2020.
As eleições confirmaram que o Brasil é de centro e que a chegada ao poder da extrema-direita bruta, virulenta, delirante e sem programa, foi um ponto fora da curva, que vai ficando rapidamente no passado. 

O novo normal é normal mesmo. DEM, PSDB, MDB, PSD e Cidadania, que formam um sólido bloco de centro que não se confunde com o Centrão, vão recuperando o espaço perdido para Bolsonaro.

Assim, 2020 projeta a volta do centro e uma polarização atualizada: a direita não é exclusivamente bolsonarista e a esquerda não é mais apenas petista. 

A direita experiente e confiável amplia seu leque e se articula inclusive com setores da esquerda moderada. 

A esquerda ganha nova cara e frescor. Basta ver o desempenho no primeiro turno e as perspectivas no segundo de PSOL, PDT, PCdoB e PSB.

Mais do que a derrota de tudo o que Bolsonaro significa e de tudo que ele trouxe à cena nacional em 2018, a guinada político-eleitoral deve ter efeitos práticos e imediatos. Onde? No governo. 

Não dá mais para fingir que as falas e atos de Bolsonaro são normais e que os militares continuam indiferentes ou coniventes. Muita coisa está mudando e até parte dos militares já admitiu o óbvio: o rei está nu.

O resultado das eleições reforça a posição e os argumentos dos generais, almirantes, brigadeiros e assessores que mantêm os pés no chão e tentam chamar o presidente à realidade, alertá-lo para o que está ocorrendo. Com nomes, siglas, números e porcentuais, talvez alguém possa convencê-lo de que ele faz mal à saúde – dele, do governo e do País. Precisa parar e refletir.

A eleição coincide com a explicitação do racha do governo entre duas alas

De um lado, os meninos da ala ideológica, capazes de ameaçar o Supremo, ironizar o Congresso e chamar um general de quatro estrelas de Maria Fofoca
De outro, a
ala militar, que mais e mais aplaude em silêncio o vice-presidente, general de Exército Hamilton Mourão.

Os meninos pululam em torno dos filhos de Bolsonaro, brincando de ideologia, reverenciando gurus, fazendo apologia de armas, guerreando a favor das más e contra as boas causas. 

Já a ala militar tenta dar ordem à bagunça e se descolar do linguajar do presidente: pólvora (contra os EUA), maricas, boiolas, gripezinha, conversinha fiada... Como reagiu o general Santos Cruz pelas redes, é uma vergonha. Quem há de discordar?

Assim, a derrota de Bolsonaro vem bem a calhar, para dar um choque de realidade e tentar acordar o presidente para o que de fato importa: a pandemia, a economia, a crise social. 

Assim como Trump perdeu nos EUA, a extrema-direita, os seguidores e o blábláblá que levaram Bolsonaro à presidência também perderam no Brasil. Bolsonaro despedaçou suas promessas e princípios de 2018 e os eleitores fizeram picadinho do que havia sobrado. 

Os militares estão vendo tudo isso. O Centrão também. (por Eliane Cantanhêde)

O PT DEMOROU TANTO PARA PRODUZIR SUA AUTOCRÍTICA QUE ELA INCORPOROU NO PSOL DE BOULOS, COM JEITÃO DE AUTÓPSIA!

josias de souza
EM 2 ANOS, O ELEITOR DESISTIU DE CHUTAR
O BALDE
Depois de uma eleição, é comum tentar extrair explicações das urnas. Esse exercício é mais útil quando quem analisa toma cuidado elementar de não cair na tentação de utilizar eleições já apuradas para prever o resultado da eleição seguinte. 

Observada tal precaução, o esforço para decodificar os sinais emitidos pelo eleitorado é um saudável e pedagógico exercício. 

As urnas municipais de 2020 trouxeram à tona um eleitor bem diferente daquele que votou na disputa presidencial de 2018, eis a primeira constatação. Há dois anos, o brasileiro estava indignado com o petismo no varejo e irritado com a política no atacado. Queria chutar o balde. Buscava um antipetista capaz de virar o sistema do avesso. Deu em Jair Bolsonaro. 

A eleição da pandemia trouxe à tona um brasileiro inseguro. Em vez de mudar tudo isso que está aí, esse eleitor revelou-se propenso a manter o que imagina estar funcionando.   

O grosso do eleitorado evoluiu da vontade de mudar para o desejo de conservar. Valorizou resultados em detrimento do discurso ideológico.

No geral, prefeitos que aproveitaram a visibilidade proporcionada pela crise sanitária para valorizar o ser humano foram premiados.

Houve uma espécie de despolarização compulsória do ambiente político. As urnas sinalizaram à extrema-direita de timbre bolsonarista que é preciso retirar o ódio do pudim, adicionando resultados à receita. 

O recado enviado à esquerda de viés petista foi o de que pode estar em curso uma renovação. O PT demorou tanto para produzir uma autocrítica que surgiu na face de Guilherme Boulos um PSOL com aparência de autópsia. 

O pano de fundo dessa conjuntura é um avanço das legendas do centrão e suas adjacências. Por ora, quem mais elegeu prefeitos foram MDB, PP, PSD, PSDB e DEM. 

Quer dizer: após a ilusão do novo, a política brasileira continua girando como parafuso espanado ao redor das mesmas oligarquias. (por Josias de Souza)

domingo, 15 de novembro de 2020

NÃO ADIANTA REZAR A DEUS NO INFERNO – 2

(continuação deste post)
A
s revoluções armadas sempre tiveram a contradição de sua vitória e sustentação obtidas por um poder armado como forma de defender o desarmamento justamente porque necessitavam manter a guerra de posição como defesa ante a contrarrevolução; revolução é, sobretudo, consciência social coletiva e sedimentada sobre um querer determinado contra o que está posto e envelhecido.

Governar com mecanismos constitucionais e institucionais de sustentação de uma ordem econômica que atinge o seu limite de expansão e vive momento de implosão da própria forma, que é a causa da crise econômica sistêmica e mundial, somente deve interessar aos beneficiários dessa ordem e não ao povo (esse povo martirizado, como estão a denunciar as estatísticas dos próprios governos legitimados sob tais critérios). 

A nós cabem outras proposições, ainda que elas demorem a se consolidar na consciência popular como proposições válidas, de vez que cada indivíduo social ainda age dentro do seu interesse mais imediato, seja para conseguir um calçamento para a sua rua, um posto de saúde no bairro; para salvar o seu emprego público ou privado mais imediato; para escolher entre o péssimo e o tolerável; e até para escolher ver a árvore ao invés de olhar para a floresta.

Torci pela derrota do presidente destrumpelhado, assim como estou feliz por ver a desilusão de tantos eleitores do Boçalnaro, o ignaro à medida que o dito cujo vai deixando pelo caminho as bandeiras de combate à corrupção, superação da velha política, retomada do desenvolvimento econômico,  melhora da renda per capita, equilíbrio das contas públicas, etc., etc., etc.

Estão também desmascaradas as proposições dele de práticas políticas antiglobalistas num mundo marcado pela competitividade capitalista autofágica internacional: ainda que elas sejam mesmo depressivas, representando uma desesperada fuga para a frente, os pretendidos retrocessos ao status quo ante apenas agravariam as mazelas atuais, antecipando o colapso que se anuncia.

A saída seria um transnacionalismo sob critérios de ajuda intercontinental e de uma produção voltada para o atendimento ecologicamente sustentável de necessidades de consumo mundiais.

Ora, é evidente que tal proposição não pode se circunscrever a processos eleitorais nos quais repetidamente se escolhe entre projetos políticos ruins ou péssimos. 

Governar com olhos voltados para a solução de problemas sociais que se avolumam (na economia e na ecologia) é como querer que o Estado opere milagres, ou seja, faça o bolo sem ingredientes necessários; ou querer que o diabo seja bonzinho. 

Os Estados estão cada vez mais falidos, portanto governar significa administrar a escassez. Tal gestão somente deve interessar:
— aos que se beneficiam das atividades econômicas; 
— aos que têm a ingenuidade de acreditar que a institucionalidade possa conspirar contra o capital que a formatou; e
— aos partidos de esquerda que agradecem as migalhas concedidas pelo poder burguês ao segmento político legitimador da ordem política que dá sustentação à ordem econômica, o verdadeiro poder.

A nós cabe negar o Estado enquanto instituição vertical que jamais poderá ser pró-povo, e quem participa do processo político-eleitoral jamais pode negar aquilo a que pertence, até porque começa jurando fidelidade à constituição burguesa. 

Respeito a opinião bem intencionada dos que fazem o apoio crítico aos candidatos que estão no campo das lutas populares, principalmente quando esclarecem sobre o day after de tal apoio. 

Combato o sectarismo maniqueísta que iguala conservadores e progressistas como se fossem inimigos comuns; mas entendo que o caminho da contestação consequente, ainda que de difícil sedimentação, é o único eficaz, pois terminará por prevalecer diante de uma conjuntura que se transforma numa velocidade nunca antes ocorrida. 

Daí a minha negação ao voto, que se foi importante numa conjuntura social da fase de ascensão capitalista contra governantes autocráticos e na busca de participação social de segmentos segregados (como p. ex., o voto das mulheres na primeira metade do século passado, e contra a ditadura militar de 1964/1985), já não o é no momento atual, quando vivemos a era da ingovernabilidade. 

O povo está sofrendo e é nosso dever emancipá-lo, ao invés de lhe darmos remédios paliativos que não atenuam a dor e somente desgastam os que assim lhe acodem.

Se os alicerces estão erodidos, porque seremos nós a fortalecê-los? (por Dalton Rosado)

sábado, 14 de novembro de 2020

PORTA-VOZES DA PÁTRIA NÃO PASSAM DE ESPERTALHÕES ENROLADOS EM BANDEIRAS. E HÁ OUTROS CANDIDATOS A EVITARMOS!

demétrio magnoli
GUIA PRÁTICO DO VOTO
Não vote em candidatos que:
1
. invocam o espectro do inimigo do povo
A crítica dura do adversário faz parte do jogo. Mas exibi-lo, explícita ou implicitamente, como inimigo do povo, revela uma alma antidemocrática.
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Os regimes tirânicos apoiam-se no conceito de que as sociedades estão divididas entre cidadãos leais e traidores, aos quais se reserva a prisão, o degredo ou a morte. A figura retórica do inimigo do povo é a transposição dessa ideia às condições postas pelo sistema democrático.
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Candidatos que operam por essa lógica estão cometendo uma fraude. O jogo democrático parte do pressuposto de que todos as candidaturas são expressões legítimas da pluralidade ideológica da sociedade. Tratar o rival eleitoral como inimigo do povo é violar as regras que asseguram o direito de candidatura do próprio acusador.
2
. apresentam-se como porta-vozes da pátria
Tais candidatos não passam de espertalhões enrolados em bandeiras.
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Samuel Johnson classificou o patriotismo como último refúgio do canalha, num contexto em que distinguia os autodefinidos patriotas do patriotismo genuíno. 

O segundo é o patriotismo cívico, isto é, o chamado a um esforço nacional comum pelo bem-geral. Já o primeiro é o nacionalismo vulgar, destinado a extrair proveito pessoal do sentimento de coesão nacional.
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A pátria é de todos os cidadãos —e, portanto, nenhum partido singular pode querer representá-la. A pretensão abusiva descortina espíritos autoritários: embriões de ditadores.
3. falam em nome de Deus.
Tais candidatos colidem tanto com os princípios terrenos que governam a disputa eleitoral quanto com os valores da fé que alegam praticar. São falsários, duplamente.
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Deus não tem partido. Fazer campanha usando o nome de Deus é tão patético quanto agradecer a Deus por um gol marcado. Não há fé nenhuma nas duas atitudes, mas mera ignorância ou, mais provavelmente, baixa esperteza. O Estado é laico, única garantia de liberdade para todas as religiões. O programa oculto do candidato que porta a cruz é exterminar a liberdade religiosa.
4alegam representar corporações.
São aqueles que exibem-se como representantes de policiais, professores, médicos, advogados, juízes ou procuradores. Os candidatos que adicionam um qualificativo profissional a seus nomes (professor X ou Y, doutor isso ou aquilo) pertencem a essa coleção de pescadores das lagoas do corporativismo..
O Brasil moderno nasceu sob o signo do corporativismo varguista, que continua a nos assombrar. As corporações são atores legítimos do jogo das sociedades abertas, por meio de associações e sindicatos que vocalizam suas reivindicações, exercendo pressão sobre governos e órgãos legislativos. Mas as eleições não devem se subordinar às suas agendas.
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A Câmara Federal, as Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais existem para espelhar a pluralidade política da sociedade, ou seja, dos cidadãos. Transformá-las em fóruns corporativos é calar a voz dos indivíduos não organizados em associações ou sindicatos e, ainda, falsear a representação das próprias corporações, que têm regras próprias para eleger seus representantes.
5
promovem a violência policial.
Tais candidatos são bandidos fantasiados nas roupagens de cidadãos do bem. De fato, o que querem é fragmentar as polícias em milícias privadas, em esquadrões da morte. Não passam de bandos de vigilantes com passaporte para assassinar. 
(por Demétrio Magnoli)
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