segunda-feira, 17 de abril de 2017

DALTON ROSADO DISSECA O ABOMINÁVEL TERRORISMO DE ESTADO

"No manicômio global, entre um senhor que julga ser Maomé e outro que acredita ser Buffalo Bill; entre
o terrorismo dos atentados e o terrorismo da 
guerra, a violência está nos arruinando."
(Eduardo Galeano, escritor uruguaio)
Há o terrorismo de estado; de grupos; e de tresloucados lobos solitários. Todos eles apenas representam a bestialidade do estágio inferior da sociabilidade humana e são igualmente abomináveis.  

Entretanto, quando praticado pelo Estado, e em nome de uma suposta razão justificadora incensada pela propaganda oficial, pode parecer aos olhos desavisados como menos grave. Mas não é. O terrorismo é sempre repugnante, não devendo ser confundido com ação que represente a legítima defesa da vida. Covarde e cruel, o terrorismo vitima inocentes.    
"Veem? Este é o pauzinho de amassar ideologias"

As ações revolucionárias verdadeiramente emancipacionistas não podem, portanto, apoiar o terrorismo e a barbárie social (que é uma de suas formas), caso contrário se igualaria aos déspotas do capital de todos os tempos, que sempre a praticaram.

A força das manifestações populares, quando canalizadas para o repúdio à opressão sistêmica, não deve ser contaminada por depredações e saques como as que ocorrem em períodos e momentos de anomia social, pois tais atos as enfraquecem moralmente.  

Devemos ser o oposto da violência sob a égide do capital. Deixemos a truculência despropositada para a força militar sistêmica que sempre agride os manifestantes em nome de uma ordem opressora. Nos casos em que sofrem violências, os manifestantes terão legitimidade para o revide até o limite de suas legítimas defesas, que não deve ser confundido com ação terrorista. 

Ressalte-se que o revide revolucionário das massas contra o terrorismo de estado não é ação bárbara, mas, pelo contrário, uma legítima defesa contra a barbárie terrorista institucionalizada. 
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APOCALYPSE NOW
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Os estados nacionais são instituições recentes em termos históricos, tendo sido criados pelo desenvolvimento das relações pré-capitalistas, as quais necessitavam de espaços e formas político-institucionais que dessem vasão ao seu desenvolvimento e abrissem caminhos para o que viria a ser o capitalismo desenvolvido. 

O capitalismo, por sua vez, necessitava do estado nacional que fizesse o controle monetário; mantivesse uma força militar permanente e bem equipada; e promovesse o desenvolvimento econômico com a inserção cada vez maior do escravismo indireto do trabalho abstrato em substituição ao escravismo direto feudal, predominantemente rural. 

O capital passou a ser o senhor e o sujeito do poder; uma lógica funcional abstrata que dita ordens de terror aos seus súditos. 

Para a imposição da nova ordem econômica-politico-institucional e sua expansão mundo afora, fez-se então, mais do que nunca, necessário o uso das armas de fogo com contingente militar permanente remunerado em dinheiro. Tudo visava à imposição das guerras, que se tornaram mais frequentes e com maior capacidade letal dada a variedade de armamentos. Isto custava dinheiro que somente poderia ser assegurado pela nova ordem. O capital passou a alimentar a guerra e por ela ser alimentado.  

A nova ordem burguesa, na qual toda riqueza material passou a ser dimensionada abstratamente (pela forma-valor), eclipsou o estado feudal monárquico, fundou o estado nacional (o nacionalismo é capitalista) e colocou-o a seu serviço de modo impessoal.  

A guerra de conquista para a implantação da nova ordem planetária, na qual se estabelecessem relações mercantis sob a hegemonia bélica dos conquistadores, transformou-se na pedra de toque. A produção do dinheiro como modo de relação social hegemônico nasce, assim, sob o pálio da violência das armas de fogo, com o terrorismo de estado passando a ser a sua tônica usual.  

Não há capitalismo desenvolvido ou subdesenvolvido sem terrorismo de estado; é da sua natureza constitutiva. 

Mas foi infundido na consciência coletiva o falso conceito de que o capitalismo é a forma social da liberdade, da igualdade e da fraternidade, em contraponto à tirania das sociedades do escravismo direto. Assim, as sociedades mercantis não querem se reconhecer como terroristas, somente aplicando tal rótulo àquele que é praticado pelos outros. 

O exemplo mais eloquente disto foi o repúdio ao ataque praticado por fanáticos suicidas vindo das trevas da irracionalidade do fundamentalismo religioso contra as torres gêmeas no WTC em Nova York, que legitimou o bombardeio a Bagdá (no qual milhares de crianças foram mortas enquanto dormiam, sem que o Iraque e seu cruel ditador Saddam Hussein tivessem qualquer relação com o ataque de 11 de setembro). 
Um terrorismo não justifica outro e a desproporção deste segundo genocídio com o primeiro foi gritante, sem que tenha havido qualquer autocrítica oficial. 

[Muito menos filme de Hollywood lamentando o extermínio das crianças iraquianas, enquanto as vítimas do WTC já foram choradas em várias dezenas deles...]

No ataque ao Iraque de 2003, mais desproporção: os dados dos EUA contabilizam 172 marines que foram mortos no curso da invasão terrorista de estado, contra cerca de 30 mil militares e 7.269 civis iraquianos atingidos por balas e bombas. 

E na semana passada fomos informados de que os militares estadunidenses lançaram, na fronteira do Afeganistão, a chamada mãe de todas as bombas, não nuclear, de 10 toneladas e com efeito de destruição devastador, na fronteira do Afeganistão. A decisão do tresloucado presidente Donald Trump atesta que está se iniciando uma nova escalada do terror de estado.   

O sangrento governo sírio de Bashar Al-Assad não fica atrás, como se pode inferir do morticínio de civis causado pelo bombardeio com armas químicas que matou adultos e crianças com crueldade repugnante.
The Wall, do Pink Floyd: crítica contundente à fascistização sob o capitalismo agônico.
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Há um liame entre a escalada do terrorismo de estado (e, por incrível que pareça, também existe um nexo causal com a corrosiva corrupção política brasileira) e a decadência do capitalismo mundial, que quer se manter vivo pela força, a despeito de ser exatamente o bom senso ocidental-democrático que patrocina tal mega-terror...

A cada ação terrorista do inimigo a mídia oficial legitima o contra-terror dos mocinhos ofendidos, sem que se culpe o substrato econômico-jurídico-institucional-miliar que está na base de todos os terrorismos em curso.          
Um salvador da pátria desastroso

Depois de a indústria cultural ter martelado suficientemente nas mentes dos seus mesmerizados públicos a falsa dicotomia entre o capitalismo liberal e o capitalismo de estado do chamado socialismo real, o tal bom senso ocidental-capitalista-democrático alardeou a vitória definitiva do capital. 

Mas, paradoxalmente, aquilo não passava do esgotamento de uma etapa evolutiva do capitalismo, representando, na verdade, o início do seu fim. 

Assim, com a aparentemente definitiva derrota da razão crítica, sobreveio o ódio assassino como forma de sustentação da irracionalidade de um sistema fadado à auto-extinção por suas contradições endógenas e exógenas. A resultante disso é o terrorismo de estado, legitimado pelo apoio político das massas desesperadas aos outsiders que se candidatam ao papel de salvadores da pátria

O terror de estado passa a ser legitimado como forma de combate ao abominável terrorismo fundamentalista religioso, equivocadamente eleito (juntamente com a corrupção e os desvios burocráticos) como o grande vilão causador de todos os infortúnios sociais da atualidade. O mega-terror de estado assume, então, uma nova e tenebrosa dimensão. 

Os Osama Bin Laden e Saddam Hussein da vida, criados pelo terror de estado para combater inimigos estratégicos do Ocidente como os aiatolás no Irã, saíram do controle, passaram a disputar poder, e foram eliminados. 

O caldo de cultura que os originou, contudo, permaneceu o mesmo; e agora ressurgiu revigorado sob a forma do abominável terrorismo fundamentalista autodenominado Al-Qaeda, Estado Islâmico, Boko Haram e tantas outras seitas que florescem sobre os escombros da miséria capitalista.
(por Dalton Rosado)
O mega-terror de estado agora deixa perplexa a humanidade, horrorizada com a possibilidade de utilização do arsenal nuclear por parte da Coréia do Norte e dos Estados Unidos, que têm dois aloprados a comandarem os botões que acionam tais armas.

Mas, a utopia emancipatória da paz não morreu: vive sob a forma da crítica categorial ao capitalismo, que é especialmente avessa a todo tipo de terrorismo, seja ele estatal ou sob qualquer outra forma. 

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