É possível cravar um vencedor na invasão levada a cabo pelo Hamas nesse fim de semana e não é o povo palestino, mas sim Benjamin Netanyahu. O premiê israelense, aspirante a ditador, vinha sofrendo sistemática oposição interna nos últimos meses por causa de sua proposta de controle do poder Judiciário e de imposição de leis que agradam aos fundamentalistas religiosos do judaísmo ortodoxo. Manifestações de rua, as maiores na história, foram mesmo registradas, colocando em risco o futuro de seu governo.
Agora tudo é diferente. Mais uma vez a guerra cumprirá sua função de abafar as contradições internas e servirá de justificativa para o avanço de um regime de exceção. Não é preciso ser expert militar para ter clareza sobre a vital impossibilidade do pequeno grupo Hamas vencer uma guerra contra Israel, um dos mais bem aparelhados exércitos do planeta, mas as ações cinematográficas e a violência desmesurada contra civis cumprirá bem a função de impactar a opinião pública israelense e colocar em ordem o apoio internacional ao lobby sionista, calando qualquer senão contra o criminoso Netanyahu.
Netanyahu jogará a cartada da "guerra ao terror" para fortalecer seu governo. |
Diante de tanto a ganhar e com tão pouca possibilidade de perder, é impossível acreditar que a inteligência de Israel não sabia há muito do planejamento do Hamas. Na realidade, é possível crer mesmo que a invasão foi facilitada pelas forças israelenses, justamente para permitir o espetáculo ir longe o bastante para deixar o impacto correto entre a população.
Não podemos concordar com os métodos do Hamas, de ataque indiscriminado a civis, e nem com sua ideologia de fundamentalismo religioso -inspirado no Irã -, mas não é possível fechar os olhos aos crimes sistemáticos cometidos pelo governo de Israel contra os palestinos. A rigor, os palestinos não estão invadindo Israel, mas retomando o território deles tomado desde 1947. Israel sistematicamente viola as leis internacionais e desrespeita resoluções da ONU e do Conselho de Segurança. A Faixa de Gaza é hoje praticamente uma prisão a céu aberto e milhares de palestinos, crianças inclusas, estão detidas pelo estado israelense de forma abusiva.
O próprio Hamas foi incentivado e municiado por Israel e pela CIA - lembrando o procedimento feito para criar e armar o Estado Islâmico - a fim de enfraquecer o poder do Fatah - Frente pela Libertação da Palestina - de Yasser Arafat, organização laica e líder histórica da luta palestina. O plano acabou dando certo até demais, já que hoje os palestinos estão divididos em dois governos: o Fatah controla a Cisjordânia, enquanto o Hamas controla a Faixa de Gaza.
Arafat chegou a acreditar em acordo de paz. Acabou cercado por tropas de Israel. |
Contudo, não é possível fazer coro à mídia sionista e simplesmente taxar de terroristas os palestinos sem considerar a justeza de sua causa. Como a Palestina não possui valor estratégico para a OTAN, ao contrário da Ucrânia, parece justo deixar o futuro de seu povo relegado ao despotismo israelense. Os mesmos que fecham os olhos a milícias neonazistas sendo armadas pelos EUA, se escandalizam com o extremismo de quem já está à beira do desespero por fome, doenças e sede, pois o governo de Tel Aviv impõe bloqueio desumano à Faixa de Gaza a ponto de, segundo a ONU, 85% de sua população estar na miséria absoluta.
O Hamas, assim, é fruto direto da política terrorista de Israel, política que só poderia gerar terrorismo pelo lado oposto. Contra isso, só podemos invocar a solidariedade e o internacionalismo, único caminho para o fim do belicismo fanático do sionismo. (por David Emanuel Coelho)
Um comentário:
Sem nenhuma dúvida!!!!
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