terça-feira, 1 de outubro de 2024

MARÇAL DISPUTA A ELEIÇÃO MUNICIPAL DE 2024 DE OLHO NA PRESIDENCIAL DE 2026

"Vim aqui só pra dizer
Ninguém há de me calar
Se alguém tem de morrer
Que seja pra melhorar

Tanta vida pra viver
Tanta vida a se acabar
Com tanto pra se fazer
Com tanto pra se salvar
Você que não me entendeu
Não perde por esperar"
(Geraldo Vandré)

Antes tarde do que nunca, vou deixar o comedimento de lado e revelar algo que é realmente original e diferenciado na minha atuação de 55 anos como articulista.

Tudo começa em 1967, quando, com 16 anos de idade, ingressei no movimento secundarista, fazendo trabalho de conscientização política na minha escola (o Colégio Estadual MMDC, no bairro paulistano da Mooca).

Em 1968 meu foco passou a ser toda a Zona Leste de São Paulo, por meio da Frente Estudantil Secundarista, que gravitava em torno da Dissidência Universitária encabeçada pelo Zé Dirceu. 

E, às vésperas do AI-5, eu e os sete outros dirigentes da FES/Zona Leste iniciamos contatos com organizações da esquerda armada,  pois percebíamos que a ditadura militar logo se radicalizaria a ponto de tornar suicida o trabalho de massas convencional.  

Decidimos ingressar na Vanguarda Popular Revolucionária e fui escolhido pelos meus companheiros secundaristas para representar nosso grupo no congresso de abril/1969 da VPR, ainda como convidado, pois caberia ao comando que então fosse eleito aprovar a filiação de nós oito. Éramos doze os participantes, inclusive o ex-capitão do Exército Carlos Lamarca.
Lamarca, o capitão da guerrilha.

E, para minha surpresa, voltando para a capital já como militante da VPR, poucos dias depois me comunicaram que eu tinha sido escolhido pelo Comando Nacional para participar do Comando Estadual, como o responsável pelo setor de Inteligência que me caberia criar.

Nada no meu passado me qualificava para tanto. Só conhecia a atividade de Inteligência pelos filmes do 007 e livros do Graham Greene e John le Carré. Mas tratei de qualificar-me para a tarefa da melhor forma possível.

Acabei percebendo que tinha boa intuição quanto a cenários que prevaleceriam no futuro. tanto que, mal chegado na Organização, fui o primeiro a identificar nas chamadas Teses do Jamil as respostas para os desafios da luta armada naquele instante. 

Endossei enfaticamente, num documento de circulação interna, aquela proposta pela qual os companheiros passavam batidos, dando o pontapé inicial para o racha da VAR-Palmares e  reconstituição da VPR. 

Desde então, já lá se vão 55 anos em que venho apontando para a esquerda quais os cenários futuros que predominarão, dando-lhe tempo para correções de rumo que ela, contudo, quase nunca faz, continuando a encaminhar-se para desastres anunciados.

Ciente de que não tenho força política para aproveitar devidamente essas visões antecipatórias, tento alertar os vários partidos e organizações de esquerda para o que tende a acontecer, dando-lhes tempo para extrair o melhor proveito das mudanças à vista. Quase sempre sou ignorado e o que havia de ruim para ocorrer, acaba ocorrendo; já as chances que tínhamos de adquirir vantagens no jogo político são desperdiçadas.

Dou um exemplo. Em meados de 2014 já percebi que a anacrônica  política econômica neodesenvolvimentista de Dilma Rousseff no seu primeiro mandato  presidencial incubara uma aguda recessão com a qual ela, reeleita, não saberia lidar. Embora eu tivesse sérias  
restrições ao Lula, várias vezes escrevi em apoio à ala do PT que tentava convencê-lo a ser ele o candidato, em lugar da trapalhona Dilma.
Dilma, a gerentona trapalhona.

Por vaidade, arrogância ou absoluta falta de autocrítica ela insistiu em ser candidata mas, tão logo eleita, traindo promessa de campanha. ofereceu o Ministério da Fazenda a um neoliberal de segunda categoria, Joaquim Levy, na esperança de que ele corrigisse as lambanças cujas consequências deixara como herança maldita para si mesma.    

Imediatamente cantei a bola: como sucedera no governo de João Goulart, o estranho no ninho seria imobilizado em em seguida, abatido pelo fogo amigo (CUT, MST, MTST, etc.). 

Com isto, a recessão não pararia de agravar-se, até tragar a presidente, como tragara o Jango. Dito e feito.

Depois, no mesmo domingo (17 de abril de 2016) em que a Câmara Federal aprovou a abertura do processo de impedimento de Dilma Rousseff eu já escrevi que, ultrapassada a barreira mais difícil (dois terços dos deputados teriam de votar pró impeachment), todas as restantes seriam igualmente transpostas.

Alertei que o prolongamento da agonia da Dilma s
ó serviria para o inimigo acumular forças enquanto nós estaríamos enfraquecendo cada vez mais. Portanto, melhor seria a Dilma renunciar imediatamente e a esquerda aproveitar a elevada rejeição ao vice Michel Temer para lançar uma nova campanha tipo diretas-já, exigindo a convocação de uma nova eleição para a escolha de quem cumpriria o restante do mandato da impichada. 

Mas, claro, a Dilma preferiu seguir prejudicando a esquerda até o mais amargo fim, colhendo derrota após derrota na longa marcha para o pé na bunda definitivo. E Michel Temer, assumindo o poder, implicitamente preparou o terreno para a vitória eleitoral de Jair Bolsonaro, o pior presidente brasileiro de todos os tempos. 
Marçal, o bad boy provocador.

Mas, por que estou lembrando tudo isto agora? Porque novamente a companheirada viaja na maionese, não entendendo o que está em jogo na sucessão municipal paulista. Supõe que vá exorcizar o demônio Pablo Marçal apenas impedindo-o de ocupar a cadeira de prefeito. Quanta ingenuidade!

Como eu venho advertindo desde o 08.01.2022, Jair Bolsonaro só continuaria sendo o principal líder da extrema-direita brasileira enquanto não surgisse um substituto que expresse melhor a visão de mundo desses brucutus desmiolados. 

Isto porque o Bozo já desiludira seus seguidores mais radicais ao:
-- convocá-los para um golpe de Estado e refugar ridiculamente em dois Dias da Pátria seguidos (os de 2021 e 2022);
-- ao reprogramá-lo para 08.01.2023, mas tomando o cuidado de colocar-se longe da encrenca enquanto sua boiada ia para o matadouro (prisões); e
-- ao deixar bem evidenciado que sua prioridade, desde então, está sendo a de recuperar a elegibilidade, a ponto de deixar o Lula em paz e apontar toda a sua artilharia na direção do Xandão.

Então, era extremamente promissor o cenário para algum outro celerado confrontá-lo e assumir a liderança ultradireitista. Só precisava existir alguém apto para tanto. 

E o papel caiu como uma luva para o Marçal, que tem credibilidade radical ainda intacta e é bem melhor do que o Bozo em tudo, pelo menos segundo o figurino fascista. 

Assim, no final de agosto já afirmei que, vencendo ou não o pleito, e mesmo que não chegue sequer ao segundo turno, Marçal sairá da eleição municipal como o favorito a disputar a eleição presidencial na condição de novo "mito" dos ultradireitistas  tupiniquins. 
Bolsonaro de ressaca
Está certa a Eliane Cantanhêde ao avaliar que Marçal já conseguiu plenamente  o que buscava:
"Do início ao fim, Marçal centralizou os debates, jogou as discussões para o campo das agressões e fake news, desorientou as campanhas dos adversários, deixou os institutos de pesquisa inseguros e virou o foco de toda a mídia, inclusive com a cadeirada que levou de Datena e do soco de seu assessor na cara do marqueteiro de Nunes".
E o desafio que Marçal nos lança vai muito além de simplesmente evitarmos que ele ocupe a cadeira de prefeito. 

A verdadeira missão da esquerda não é caçar votos, mas sim fazer-se presente nas ruas confrontando incansavelmente o projeto fascista de sociedade. 

Urge cumpri-la, pois, por enquanto, estamos permitindo que os inimigos nadem de braçadas. (por Celso Lungaretti)

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