segunda-feira, 31 de julho de 2017

A SOLIDARIEDADE É UM DOS REQUISITOS PARA A EMANCIPAÇÃO

"A solidariedade é o sentimento que melhor expressa
o respeito pela dignidade humana" (Franz kafka)
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Costumo dizer aos que me questionam pelo fato de criticar o dinheiro, mas, ao mesmo tempo, batalhar diariamente para obtê-lo com o exercício da advocacia (como se isto fosse um paradoxo entre o que eu digo e o que faço) que o Instituto Butantan de São Paulo precisa do veneno da cobra para produzir o soro antiofídico que neutraliza tal veneno e salva vidas.

Destarte, não há nenhuma contradição entre obtermos o dinheiro necessário aos nossos intentos e sobrevivência, e, ao mesmo tempo, criticá-lo. É que a sociedade do capital, confirmando o caráter onívoro da mediação social pelo dinheiro que tudo atrai para si e a tudo e a todos submete, nos obriga ditatorialmente a buscar dinheiro para vivermos.

Para levarmos adiante a luta contra este modo de mediação social em decomposição orgânica (que ocorre por seus próprios fundamentos contraditórios e irracionais), necessitamos de recursos em dinheiro para combatê-lo de modo eficaz;  e também precisamos saber como fazê-lo, o que não é tão simples assim.

O blogue Náufrago da utopia, para manter a sua independência diante do mercado, não veicula propagandas comerciais, pois isto significaria uma capitis deminutio na liberdade de dizer e conscientizar a partir de seus pressupostos revolucionários; e muito menos aceita qualquer subvenção de governos e de entes a eles vinculados, que significaria uma dependência em relação ao Estado que tanto criticamos (o segmento político institucional é sempre correia de transmissão e legitimação da opressão estatal).

Denunciamos a nossa tragédia social ao mesmo tempo em que buscamos a análise de suas causas e modo de superação.

Temos hoje, no Brasil, cerca de 13,5 milhões de desempregados. Considerando que se trata da chamada mão-de-obra economicamente ativa, e que quase todos os trabalhadores desempregados têm uma família deles dependente, isto significa que quase ¼ da população brasileira (quase 50 milhões de pessoas) não tem como obter recursos para o custeio das suas necessidades. Esse é o caldeirão no qual se processam as mais aviltantes maquinações do diabo.

O aumento vertiginoso da violência urbana deriva da miséria social decorrente das estatísticas de desemprego, alarmantes mesmo segundo os nem sempre confiáveis dados oficiais. Estamos todos ameaçados, pois a vida já vale menos que um celular.

A falência econômica do Estado decorre da depressão econômica (local e mundial) e implica o abandono, pelo Estado, do atendimento das demandas sociais básicas (educação e saúde). Dito Estado agora se fixa apenas no provimento e custeio daquilo que lhe é essencial, ou seja, do financiamento das instituições (parlamento, judiciário e força militar). Assim, vamos vivendo de perdas em perdas e tentando sobreviver a elas. 
Denunciamos tudo isso porque não aceitamos passivamente tal estado de coisas como se fosse a resultante de determinismo histórico imutável. 

Teimamos em mudar o curso da história de sangue e dor de humanidade e isto implica uma concepção teórica e prática somente possível de ser encontrada a partir de uma discussão dialética e aberta, desde que circunscrita ao campo da análise dos nossos infortúnios sociais e não da sua justificativa de acomodação.  

Quem denuncia tal estado de coisas e se propõe criticamente à formulação de alternativas de vida social sem apelar para o mercado ou às tetas do estado paga um preço muito alto. Estamos dispostos a pagar tal preço como contribuição revolucionária.  

Buscamos uma saída e haveremos de encontrá-la.
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UM APELO SOLIDÁRIO
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A elaboração de um blogue com artigos reflexivos e ilustrações explicativas que ajudam na correta interpretação e suavização a leitura, requer um esforço intelectual de elaboração E pesquisa, além de físico, que demanda muito tempo. E como quem escreve artigos contra o capital quase sempre não detém capital ou renda dele derivada, consome o seu tempo sem ter uma receita que promova o seu sustento. Como sabemos, no capitalismo sob o qual vivemos tempo é dinheiro.

Neste sentido (como em todos os outros), é de suma importância a prática da solidariedade entre aqueles que compreendem a importância do esforço emancipatório e podem promover e contribuir para emancipação social com gestos e ações que, por mais simples que sejam, somam com todas as outras na direção da construção de um novo tempo de vida fraterna, na qual não sejamos todos adversários de todos. 

Isto é solidariedade.

O blogue Náufrago da utopia tem atingido índices de acesso contributivos para a conscientização daquilo que está na base dos nossos infortúnios sociais de modo aberto e dialético. Já ultrapassamos a casa dos 2 milhões de acessos e certamente temos contribuído para um arejamento do pensar, incomodando os recalcitrantes defensores do status quo da conservação ou reforma que nada muda, ou muda pouco para não transformar nada.     

Precisamos manter, ampliar e acrescentar outros elementos à nossa luta, de modo a criarmos uma vertente de conscientização teórica e prática que nos conduza à saída do labirinto que nos prende à segregação social histórica; e, para tanto, solicitamos a ajuda dos leitores que se dispuserem (e puderem) contribuir financeiramente.

Tomei a iniciativa, com a anuência do Celso, fundador e editor do blogue, de elaborar o apelo ora publicado em razão das dificuldades financeiras inerentes à condição de combatente do seu fundador.

Aquele(a) que se dispuser a contribuir financeiramente deverá depositar qualquer valor disponível e ao seu critério, de uma única vez, na conta corrente nº 001-00020035-2, agência 2139, da Caixa Econômica Federal (banco 104), em nome de Celso Lungaretti (CPF 755.982.728-49). Posteriormente o blogue exporá o quantitativo de valores arrecadados e correspondente prestação de contas da destinação. 

Desde já, recebam um abraço agradecido do blogue Náufrago da utopia

Até a vitória!
(por Dalton Rosado)

domingo, 30 de julho de 2017

O BRASIL É COMO UM PIÃO: RODA, RODA, RODA E NÃO SAI DO LUGAR.

Recado do editor
Bati os olhos num texto que escrevi em julho de 2009 e avaliei que sua repostagem (abaixo) seria oportuna, pois serve perfeitamente para os dias atuais. Não por eu ser algum ás da literatura de antecipação, mas, simplesmente, porque o Brasil não avança, apenas patina sem sair do lugar. É o país do eterno retorno.

Então, há oito anos nossos vilões eram Fernando Collor, Renan Calheiros e alguns outros que bem poderiam ser colocados todos juntos no saco de mais do mesmo; hoje, nossos vilões são Fernando Collor, Renan Calheiros e alguns outros que também não passam de mais do mesmo.

De realmente novo, só o Rodrigo Janot, pois há oito anos não havia nenhum procurador-geral da República envolvido nas tramoias golpistas das Organizações Globo.

O Brasil consome nossas energias e nossos sonhos, o tempo nos escorre dentre os dedos e a revolução, cada vez mais necessária, distancia-se até seus contornos ficarem indistintos como os de uma miragem.

Resta a esperança de que a transformação represada irrompa de repente, tal qual em 1968, que começou timidamente, sem roteiro prévio nem lenta acumulação de forças, com um acontecimento levando a outro em dinâmica acelerada até acabar se constituindo no ano mais importante da história recente da humanidade, o ensaio-geral de uma revolução de novo tipo.
Junho/2013: esquerda velha na contramão da revolta jovem.

Algo assim poderia até estar se iniciando nas manifestações de protesto de junho de 2013, mas as forças repressivas da sociedade atualmente estão bem mais atentas contra tal possibilidade e conseguiram impedir que os ventos de mudança se avolumassem. 

E, se em 1968 o Partido Comunista Francês, cerrando fileiras com De Gaulle, desempenhou papel fundamental na derrota dos jovens revoltosos de lá, em 2013/2014 o Partido dos Trabalhadores brasileiro deu sinal verde até para lei antiterrorismo, no afã de intimidar os jovens revoltosos de cá e assegurar a realização do Mundial da Fifa, no qual merecidamente sofremos a maior humilhação futebolística da nossa história!

Enfim, pelo menos num ponto estamos bem melhores do que em 2009: agora não existe mais dúvida nenhuma de que, sob a democracia burguesa, os explorados jamais serão algo além de explorados. Só falta a ficha cair para a esquerda, daí o PT estar fugindo da autocrítica em desabalada carreira, como se o diabo estivesse mordendo seus calcanhares...
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NÃO SERÁ EM BRASÍLIA QUE VAI
CHEGAR O NOSSO CARNAVAL


Veja o clip...
Quando o Carnaval Chegar é a canção mais emblemática do período que vai da derrota da luta armada até a redemocratização do Brasil.

Depois que a imensa superioridade de forças do inimigo condenou ao fracasso a heroica tentativa de sairmos da ditadura pela porta da frente, só nos restou mesmo a longa espera de que ela ruísse em decorrência de suas próprias contradições.

Houve, claro, momentos fulgurantes como o do repúdio ao bárbaro assassinato de Vladimir Herzog em 1975, mas todos sabíamos que uma missa não expeliria os militares do poder que exerciam como usurpadores e déspotas.

E existia a resistência cotidiana aos abusos e atrocidades, cujo símbolo mais marcante foram D. Paulo Evaristo Arns e sua abnegada equipe, o embrião do Tortura Nunca Mais.
A missa em memória de Herzog na Catedral da Sé

Mas, não estava em nossas mãos darmos um fim à ditadura. Sentíamos-nos exatamente como Chico Buarque descreveu: Quem me vê sempre parado, distante, garante que eu não sei sambar/ Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Lá por meados da década de 1970, quando terminou o último dos quatro julgamentos a que fui submetido em auditorias do Exército e Marinha, eu tive de fazer minha opção: permanecer ou não no Brasil?

Ao sair das prisões militares, ainda sob o impacto da via crucis que percorrera nos porões, decidi embarcar tão-logo pudesse fazê-lo legalmente, já que não tinha como montar um esquema de fuga minimamente confiável.

Mas, aos poucos, foram-me voltando os sonhos, as elucubrações sobre o que faríamos quando, findo o pesadelo, pudéssemos finalmente reconstruir este país. Eu vejo a barra do dia surgindo, pedindo pra gente cantar / Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.

Muito mais do que quando militava na VPR, tinha a noção exata do que precisava ser feito para o Brasil voltar a ser, pelo menos, uma nação civilizada. Nos bares, nosso refúgio, eu e os amigos discutíamos ponto por ponto as medidas a serem tomadas no glorioso day after.

Era nosso lenitivo para continuarmos engolindo os sapos de cada dia. E quem me ofende, humilhando, pisando, pensando que eu vou aturar / Tô me guardando pra quando o carnaval chegar.
Lula e Brizola na linha de frente das diretas-já

Mas, a classe política frustrou nossas esperanças e destruiu nossos sonhos. Com a ditadura já agonizante, manobrou para que fosse rejeitada a Emenda Dante de Oliveira, que restituiria o poder a quem de direito, os cidadãos eleitores deste país.

E o maquiavélico Tancredo Neves pôde, triunfalmente, anunciar que chegara "a hora dos profissionais". O candidato da ditadura, Paulo Maluf, não seria detonado pelo povo nas urnas, mas sim por umas poucas centenas de parlamentares no Colégio Eleitoral que se constituía num símbolo gritante da exclusão do povo na tomada das grandes decisões nacionais.

Pior: Maluf seria derrotado graças aos votos de congressistas que, como ratos, abandonaram o navio da ditadura que já fazia água, para assegurarem a manutenção dos seus privilégios na Nova República.

A indústria cultural, com a Rede Globo à frente, conseguiu vender a ilusão de que tanto dava a diretas-já quanto a vitória no espúrio Colégio Eleitoral. A longa agonia pública de Tancredo Neves era a peça que faltava no quebra-cabeças. A pieguice obnubilou as consciências. Os maus venceram, como quase sempre.

E tocada, entre outros, pelos que haviam sido sustentáculos da ditadura, a redemocratização ficou pela metade, como convinha à burguesia, que antes exercia o poder por meio dos fardados, depois passou a exercê-lo por meio de civis safados.
Ontem, hoje e sempre a serviço das más causas
Nem sequer foram punidos os assassinos seriais da ditadura. Nem sequer foram devolvidos os corpos de companheiros martirizados. Eu tenho tanta alegria, adiada, abafada, quem dera gritar. E não adiantou esperar o carnaval, pois ele não chegou.

Gato escaldado, nunca mais acreditei que a redenção dos males brasileiros pudesse provir das tempestades em copo d'água da política oficial. Sabia/sei que a chegada do carnaval não depende da desgraça momentânea do Collor, dos anões do orçamento, dos mensaleiros, do Severino, do Renan, do Daniel Dantas ou do Sarney.

Esses senhores nunca determinaram os acontecimentos, apenas cumprem/cumpriram determinadas funções dentro do sistema de exercício e sustentação do poder burguês. Então, enquanto as funções em si não forem extintas, suas agruras só servirão para jogar poeira colorida nos olhos do povo.

Trata-se apenas de um sacrifício ritual para servir como catarse aos de fora. Cada vez que um desses espantalhos tomba, a indústria cultural cria a ilusão de que a justiça foi feita e as instituições funcionam. Mas, saem uns, entram imediatamente outros e a podridão continua a mesma.

Há quem me cobre engajamento na caça à bruxa da vez. Negativo. Prefiro gastar minhas energias preparando o carnaval, que só chegará quando os cidadãos assumirem a iniciativa de, eles próprios, colocá-lo nas ruas, sem se deixarem iludir pelo jogo-de-cena brasiliense.
...e assista ao filme.

sábado, 29 de julho de 2017

LULA E SUA DIATRIBE CONTRA O PSOL: LUNGARETTI IRONIZA E MAGNOLI ANALISA.

Lula qualificou de frescura a relutância do PSOL em mergulhar de cabeça na podridão da politicalha brasileira, como fez o PT: "Não dá pra gente nadar teoricamente. Entra na água e vai nadar, porra".

Ato contínuo, ele foi lá e exemplificou. (CL)
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Por Demétrio Magnoli
EX-PRESIDENTE LULA CULTIVA O PRAGMATISMO EM GRAU MÁXIMO
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"Eles vão perceber que não dá para nadar teoricamente. Entra na água e vai nadar, porra". Isso aí, o trecho da entrevista consagrado às "frescuras do PSOL", é puro Lula. O ex-presidente cultiva o pragmatismo em grau máximo, devotando solene desprezo tanto à ideologia quanto a valores e princípios. Foi assim que ele nadou –e, no percurso, afogou a esquerda brasileira.

Lula, o Pragmático, opera segundo as circunstâncias. No primeiro mandato, diante das desconfianças do mercado, conservou-se fiel à política econômica ortodoxa herdada de FHC, completando-a com a política social de agressivas transferências de renda, que se destinava a enraizar o lulopetismo no eleitorado pobre. 

A fórmula bifronte seguia as receitas do Banco Mundial. Não era "de esquerda" e nem mesmo social-democrata. Mas a esquerda brasileira, um organismo lulodependente, celebrou-a como uma revolução de emancipação popular. "Quando Lula fala, o mundo se ilumina", disse Marilena Chaui.
Com o bom companheiro Collor...
O sucesso do primeiro movimento, associado à evolução do ciclo internacional de commodities e ao trauma político da crise do mensalão, provocou a substituição da fórmula econômica. O nado peito, lento e constante, deu lugar ao esforço extremo do nado borboleta. 

No segundo mandato, Lula convocou Guido Mantega et caterva para soldar uma santa aliança entre o Estado e o alto empresariado. Configurou-se, ali, o capitalismo de Estado lulopetista, uma versão modernizada do programa econômico moldado por Vargas e, mais tarde, aprofundado por Geisel.

"Quando Lula fala...". A esquerda interpretou a mudança como a revolução verdadeira: uma aurora de ruptura. Dilma, a sucessora indicada pelo dedazo, tingiu a escolha pragmática com as tintas de suas obsessões ideológicas. Do teclado irresponsável de seus assessores econômicos nasceu a expressão Nova Matriz Macroeconômica. Eike Batista definiu o BNDES como o "melhor banco de investimento do mundo", uma opinião certamente compartilhada por Marcelo Odebrecht e Joesley Batista.
...o bom companheiro Maluf...

A história da ascensão e declínio do capitalismo de Estado lulopetista é contada em dois registros diferentes, mas complementares. A narrativa econômica de uma depressão mais funda que a dos anos 30 evidencia o curto horizonte do nado borboleta. A narrativa policial e judicial da Lava Jato ilumina uma falência ética calamitosa.

Lula, o pragmático oportunista, foge das implicações de ambas, escondendo-se atrás da pobre Dilma, no caso da primeira, e desviando os holofotes para o PT, um de seus sacos de pancada prediletos, no caso da segunda. O gato de sete vidas continua à tona, apoiando-se nos cadáveres que boiam ao seu redor para não afundar.

Luiza Erundina reclamou das críticas lulistas ao PSOL, instando o ex-presidente a atacar os "parceiros de direita que o traíram". Mas ninguém traiu Lula. O PMDB, tão pragmático como ele, foi fiel a si mesmo, agarrando-se ao mastro do poder. Marcelo Odebrecht resistiu o quanto pôde, até o chão afundar. 
...e o bom companheiro Sarney.
Já Joesley Batista mantém a antiga parceria, selecionando politicamente os alvos prioritários de sua delação. O que Erundina recusa-se a enxergar são os frutos podres de uma política econômica que forma o denominador comum da esquerda brasileira.

A pátria de Lula é Lula, e nenhuma outra. Ele calcula o que fala –e fala exclusivamente aquilo que interessa à sua carreira política. Mas, num ponto específico, tem razão: "não dá para nadar teoricamente". 

O PSOL, alternativa esquerdista a um PT dizimado pelo lulismo, repete incansavelmente as orações ideológicas de uma bíblia encanecida e ajoelha-se diante das lápides de seus estimados tiranos, que se chamam Castro, Che ou Chávez. 

O legado de Lula é uma esquerda prostrada, de olhos fixos no passado. Do ponto de vista da nossa democracia, eis um desastre ainda maior que os outros. 

sexta-feira, 28 de julho de 2017

VEM PRA LAMA VOCÊ TAMBÉM!

Lula qualificou de frescura a relutância do Psol em mergulhar na podridão da política brasileira, seguindo o exemplo do PT: "Não dá pra gente
nadar teoricamente. Entra na água e vai nadar, porra"

Ato contínuo, mostrou como se faz.

CONHEÇA AS RAZÕES DOS DEPUTADOS PARA REJEITAREM IMPEACHMENT DE TEMER

Recado do editor
A coluna que reproduzo abaixo, do jornalista Bernardo Mello Franco, dá uma boa ideia de como e por que a Câmara Federal jogará no lixo a primeira denúncia da parceria Janot-Globo contra Michel Temer. 

Não por causa do rosário de arbitrariedades e/ou impropriedades cometidas por Rodrigo Janot, nem porque o afastamento extemporâneo de Temer alongaria por, pelo menos, outro semestre a grave crise política que o Brasil enfrenta, adiando a saída do País da fase mais aguda da recessão econômica. Afinal, que importa aos deputados o sofrimento do povo? Sempre foi a última das preocupações em Brasília...

Não por ser muito barulho por nada, já que nem se escolheria pela via direta um substituto para cumprir o curto mandato-tampão, nem se anteciparia o pleito presidencial marcado para outubro de 2018.

Não pelo fato de nenhum dos possíveis candidatos ao posto haver empolgado os brasileiros, ficando a escolha limitada a manter Temer ou trocá-lo por um projeto piorado de Temer que leva o nome de Rodrigo Maia.

Mas pelos piores motivos, conforme Melo Franco expõe.

Suponho que isto não vá ser surpresa nenhuma para os leitores deste blogue. Para mim não foi. (CL)
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Por Bernardo Mello Franco
VOZES DA EXPERIÊNCIA
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Daqui a cinco dias, a Câmara decidirá se autoriza ou não a abertura de processo contra Michel Temer. O presidente é rejeitado pela maioria dos brasileiros, mas deverá ter votos suficientes para se salvar. É o que preveem os deputados com mais mandatos na Casa.

Para o decano Miro Teixeira, o espírito de corpo dos congressistas tende a beneficiar Temer. "O plenário atuará como um júri, e muitos jurados também respondem a inquéritos por crime comum. Ninguém quer se condenar. É a solidariedade dos culpados", ironiza o deputado da Rede.

No 11º mandato, Miro apoiou o impeachment de Dilma Rousseff e votará pelo afastamento de Temer. No entanto, ele diz que a batalha será inglória. "Os dois cometeram crime de responsabilidade, mas agora as ruas estão vazias. A realidade é que não conseguiremos os 342 votos", prevê.

O deputado Bonifácio de Andrada, do PSDB, diz que o presidente vai se safar com folga. "Não tenho dúvida. O Temer ganha com mais de 200 votos", projeta.
Pergunta que não quer calar: que lucro a Globo esperava obter? 

No décimo mandato, ele reforça o discurso dos parlamentares contra a Lava Jato. "A Câmara é a representação do povo. Os deputados não são santos porque o povo também não é santo", teoriza.

O tucano diz que o recesso de julho não piorou a situação do presidente, ao contrário do que previa a oposição. "O povo não gosta do Temer, mas também não aporrinha os deputados para votarem contra ele."

Nesta quinta, uma nova pesquisa CNI-Ibope mostrou que a aprovação de Temer caiu a míseros 5%. É o pior desempenho de um presidente desde o fim da ditadura. Para o petebista Paes Landim, que exerce o oitavo mandato, os números não terão qualquer influência no plenário.

"Para nós, políticos, o Temer é bom porque dialoga com o Congresso", elogia. Ele defende o arquivamento da denúncia e não teme perder votos em 2018. "Se a economia melhorar, o pessoal esquece isso", aposta. "O eleitor tem memória muito fraca. Daqui a um ano, já esqueceu."

quinta-feira, 27 de julho de 2017

A AUTOCRÍTICA É REVOLUCIONÁRIA

“Que classe de mundo é este que pode mandar máquinas
a Marte e não faz nada para deter o assassinato
do ser humano?” (José Saramago)
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Sempre considerei que o maior compromisso de um revolucionário emancipacionista é a busca reiterada da emancipação social diante de qualquer tropeço. 

Neste sentido, podemos nos enganar no curso de tal busca, mas, uma vez percebido o engano, jamais podemos podemos aceitá-lo em razão de acomodação vaidosa ou interesses menos nobres. 

Quando nos esquivamos de fazer autocrítica, não enfrentando os nossos erros, deixamos de ser revolucionários, igualando-nos aos conservadores que priorizam os próprios interesses em detrimento do bem comum.

Não podemos obrigar o pensamento conservador (insensível à debacle ora se agrava, já que infenso à dor e à miséria humanas) a compreender as causas do infortúnio social e a fazer autocrítica; mas podemos e devemos demonstrar quão prejudicial a todos é a irracionalidade do nosso modo atual de viver social, inclusive para os próprios conservadores: eles pagam um preço alto pela obtenção e manutenção dos seus privilégios mesquinhos, sob a forma de decomposição moral e vida temerária.
"Jamais podemos aceitar o engano, uma vez conhecido" 

Sempre se disse que um exemplo é mais forte do que mil palavras; as ações de um revolucionário emancipacionista têm de ser os maiores testemunhos do conteúdo do seu pensamento, devendo estar sempre consentâneas com o melhor ideal de realização de justiça. 

A corroboração de uma injustiça em nome da pretensa realização de uma justiça maior representa o fim justificando os meios e este é o caminho mais curto para a desmoralização e desvirtuamento de qualquer postura que se reivindique revolucionária.  

Marx fez uma autocrítica implícita e explícita do seu pensamento original. Implícita em razão do conteúdo a partir da sua crítica da economia política; e explícita quando disse que não era marxista, referindo-se a seus postulados iniciais.  

Ora, se o pai da matéria assim procedeu, por que desconhecermos a teoria marxiana da crítica do valor enquanto revolucionários diante do modo decadente de produção capitalista (e, ainda, por que continuarmos considerando os postulados do movimento operário enquanto tal como pretensamente marxista)? Está claro que a esquerda tem de conhecer o Marx esotérico da crítica do valor, sob pena de se tornar falsária em relação ao próprio teórico do qual diz ser seguidora.    

A crítica à forma-valor implica, necessariamente, a negação de todos os construtos em seu derredor. Isto significa que não podemos e nem devemos tentar destruí-lo por dentro, ou seja, competindo no interior da sua institucionalidade para negá-la, sem abrir mão dos recursos institucionais e financeiros que tal postura proporciona.  
O espetáculo mais aguardado da presente década
Tal ambivalência acaba somente ratificando o status quo dominante contra o qual se se pretende insurgir. Em nenhuma época histórica, seja no país que for, a participação institucional possibilitou transformações transcendentais. 

Os primeiros cristãos – aqueles que, perseguidos, se reuniam nas catacumbas e usavam códigos de comunicação de identificação com os seus pares (como o desenho de um peixe) fugindo da perseguição institucionalizada para a defesa e propagação de suas posturas revolucionárias diante do escravismo e poder militar romano  conseguiram ampliar o movimento e obter a força revolucionária necessária até serem cooptados pelo poder institucional romano (século III da era cristã). Aí tudo se acomodou e foi esvaziada a força do seu pensamento revolucionário.

A institucionalidade burguesa é forte como linha auxiliar do caráter onívoro da forma de relação social capitalista; então, as forças de esquerda que julgam poder solapá-la por dentro apenas se tornam legitimadoras da opressão contida na sua democracia.

Vivemos uma era de sangue e barbárie. E o mais absurdo é estarmos a ela nos adaptando, como se fosse uma fase inevitável, com a qual pudéssemos, de alguma maneira, conviver. 

No Brasil a vida humana está valendo pouco. A guerra urbana toma ares de selvageria, na qual os ingredientes do tráfico de drogas e ações do crime organizado são cada vez mais presentes, dando ordens de comportamentos sociais em muitas localidades: ditam para as comunidades o que fazer; como fazer; e a que horas fazer.
O poder real em muitas comunidades carentes é o tráfico

Com o Estado se mostrando cada vez mais impotente para conter a onda de crimes, o capitalismo e sua institucionalidade decadente ocupam o noticiário com informes que evidenciam sua verdadeira face obscura e sua falência.  

E o que a oposição pretensamente anticapitalista propõe para o combate a tal estado de coisas? Empunha velhas bandeiras esfarrapadas que, em última análise, apenas reivindicam a humanização do capitalismo sob a cantilena de mais empregos e manutenção de direitos trabalhistas (mais capitalismo, em suma). 

Quer consertar o mal com o próprio mal, evidenciando o completo desconhecimento do significado da manutenção do sistema produtor de mercadorias e respectiva entourage decadente, aí incluída uma visão estatizante ultrapassada.        

O pensamento conservador (pretensamente oposicionista) de esquerda quer o Estado, mas nega a cobrança de impostos abusivos, com se existisse imposto bonzinho;
— quer mais emprego, ou seja, mais trabalho abstrato, mas sua retórica nega a acumulação capitalista, como se esta não fosse uma consequência da existência do trabalho abstrato e dos empregos;
— diz não à reforma trabalhista como forma de manutenção do status quo desses direitos, ao invés de negar tal reforma e o próprio direito do trabalho como tal, pois, afinal, o trabalho é uma categoria capitalista;
— combate práticas usurárias do mercado mas não postula a sua superação existencial, razão pela qual, nos exemplos históricos marxista-leninistas de economias estatizantes, o mercado sempre esteve presente;
— afirma a democracia como sacrossanto postulado universal, omitindo que a própria democracia é um instrumento de enganação coletiva, condição que se perpetua desde o seu surgimento na Grécia antiga, quando somente os demos (uma casta social não escrava) podiam participar da decisão dos destinos sociais;
— quer a conservação dos direitos previdenciários que somente podem existir a partir da produção do valor abstrato que os sustenta, mas discursa contra a usura capitalista da qual se extrai a contribuição previdenciária pelos trabalhadores;
— quer serviços públicos eficientes e mais presença do Estado, sem admitir que tal reivindicação significa a manutenção da esfera de regulação e manutenção da opressão institucional capitalista (o Estado); 
— defende uma maior participação de segmentos de trabalhadores e mulheres no parlamento e nos órgãos do poder Executivo, sem compreender que tal participação representa a afirmação daquilo que dá sustentação e legitimação a todo o direito e administração da ordem legal e administrativa opressora do Estado, a serviço do capital. 

Basta!
Façamos a autocrítica corajosa das nossas ações e equívocos históricos, decorrentes da ignorância científica dos mecanismos sociais vigentes, tomando então o rumo da emancipação social, que clama por ações conscientes e eficazes. 

A autocrítica é revolucionária. (por Dalton Rosado)

quarta-feira, 26 de julho de 2017

IMPRENSA ALEMÃ REVELA: FOI BEM MAIOR DO QUE SE PENSAVA A COLABORAÇÃO DA VOLKS COM A DITADURA BRASILEIRA.

(reportagem que a Deutsche Welle Brasil publicou no último dia 24 e estamos reproduzindo na íntegra)
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Uma força-tarefa investigativa formada pelo jornal Süddeutsche Zeitung e as emissoras estatais NDR e SWR obteve acesso exclusivo à investigação externa, ordenada pela própria Volkswagen, sobre o papel de sua filial brasileira na ditadura militar (1964-1985).

Segundo reportagens publicadas no domingo (23/07), a filial brasileira da montadora colaborou de forma mais ativa do que antes se imaginava com os militares na perseguição de opositores do regime.

Análise extensa de documentações mostrou quão participativo foi o papel da Volkswagen do Brasil e sugere que a sede em Wolfsburg tomou conhecimento disso - o mais tardar em 1979.

Os repórteres alemães analisaram documentos corporativos localizados na filial brasileira e na sede alemã, papéis classificados como secretos pelo Departamento de Ordem Política e Social e relatórios confidenciais do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha.
Criada em 1937 pelos nazistas, a empresa foi por eles operada.

"Operários eram presos na planta da fábrica e, em seguida, torturados: a colaboração da Volkswagen com a ditadura militar brasileira foi, aparentemente, mais ativa do que antes presumido", escreveu o Süddeutsche Zeitung.

Os repórteres alemães também tiveram acesso às atas de investigação do Ministério Público de São Paulo. Além disso, eles realizaram entrevistas com alguns ex-funcionários da Volkswagen do Brasil – muitos confirmaram que foram detidos na fábrica em 1972. Eles faziam parte de um grupo oposicionista e distribuíram folhetos do Partido Comunista e organizavam reuniões sindicais.

Os veículos de comunicação alemães corroboraram que a filial brasileira espionou seus trabalhadores e suas ideias políticas, e os dados acabaram em listas negras em mãos do Dops. As vítimas lembraram como foram torturadas durante meses, após terem se unido a grupos opositores.

"A Volks roubou dois anos da minha vida", disse Lúcio Bellentani, ex-operário da montadora e agora com 72 anos, que afirmou ter sofrido oito meses de tortura e ter passado outros 16 meses na prisão. "Indiretamente a Volkswagen foi responsável por numerosos casos de tortura e perseguição. A Volkswagen deve ter a dignidade de reconhecer sua responsabilidade por esses atos."
Volks facilitava prisões e permitia uso de seu galpão em torturas 
Espionagem e colaboração com o Dops 
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Em 2016, a montadora alemã nomeou para uma investigação sobre seu passado o historiador Christopher Kopper, que confirmou a existência de "uma colaboração regular" entre o departamento de segurança da filial brasileira e o órgão policial do regime militar.

"O departamento de segurança atuou como um braço da polícia política dentro da fábrica da Volkswagen", antecipou Kooper, pesquisador da Universidade de Bielefeld, à imprensa alemã. Segundo ele, a montadora "permitiu as detenções" e pode ser que, ao compartilhar informações com a polícia, "contribuísse para elas". Ele sugeriu que a montadora alemã peça desculpas aos ex-funcionários afetados pela conduta.

De acordo com protocolos internos da Volkswagen, as chefias da montadora na Alemanha e em São Paulo trocaram memorandos referentes às detenções de funcionários. O conselho da multinacional tomou conhecimento da conduta em São Bernardo do Campo, mais tardar em 1979, quando funcionários brasileiros viajaram à Alemanha para confrontar o então presidente da companhia, Toni Schmücker. 
Empresa doou uns 200 veículos para a repressão
A sede da montadora se negou a comentar o conteúdo das alegações e reiterou ter encarregado o historiador Kooper de investigar e apresentar um parecer sobre a questão. Kooper apresentará suas conclusões até o final do ano.
Galpões cedidos
 aos militares  
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Há quase dois anos foi aberta em São Paulo uma investigação sobre a Volkswagen do Brasil para determinar a responsabilidade da empresa na violação dos direitos humanos durante a ditadura de 1964 a 1985.

Conforme estabeleceu a Comissão Nacional da Verdade, que examinou as violações dos direitos humanos cometidas pela ditadura militar, muitas empresas privadas, nacionais e estrangeiras, deram apoio tanto financeiro como operacional ao regime militar.

No caso da Volkswagen, a comissão constatou que alguns galpões que a empresa tinha numa fábrica de São Bernardo do Campo foram cedidos aos militares, que os usaram como centros de detenção e tortura. Além disso, a comissão sustentou que encontrou provas que a multinacional alemã doou ao regime militar cerca de 200 veículos, depois usados pelos serviços de repressão.
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