sábado, 29 de julho de 2017

LULA E SUA DIATRIBE CONTRA O PSOL: LUNGARETTI IRONIZA E MAGNOLI ANALISA.

Lula qualificou de frescura a relutância do PSOL em mergulhar de cabeça na podridão da politicalha brasileira, como fez o PT: "Não dá pra gente nadar teoricamente. Entra na água e vai nadar, porra".

Ato contínuo, ele foi lá e exemplificou. (CL)
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Por Demétrio Magnoli
EX-PRESIDENTE LULA CULTIVA O PRAGMATISMO EM GRAU MÁXIMO
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"Eles vão perceber que não dá para nadar teoricamente. Entra na água e vai nadar, porra". Isso aí, o trecho da entrevista consagrado às "frescuras do PSOL", é puro Lula. O ex-presidente cultiva o pragmatismo em grau máximo, devotando solene desprezo tanto à ideologia quanto a valores e princípios. Foi assim que ele nadou –e, no percurso, afogou a esquerda brasileira.

Lula, o Pragmático, opera segundo as circunstâncias. No primeiro mandato, diante das desconfianças do mercado, conservou-se fiel à política econômica ortodoxa herdada de FHC, completando-a com a política social de agressivas transferências de renda, que se destinava a enraizar o lulopetismo no eleitorado pobre. 

A fórmula bifronte seguia as receitas do Banco Mundial. Não era "de esquerda" e nem mesmo social-democrata. Mas a esquerda brasileira, um organismo lulodependente, celebrou-a como uma revolução de emancipação popular. "Quando Lula fala, o mundo se ilumina", disse Marilena Chaui.
Com o bom companheiro Collor...
O sucesso do primeiro movimento, associado à evolução do ciclo internacional de commodities e ao trauma político da crise do mensalão, provocou a substituição da fórmula econômica. O nado peito, lento e constante, deu lugar ao esforço extremo do nado borboleta. 

No segundo mandato, Lula convocou Guido Mantega et caterva para soldar uma santa aliança entre o Estado e o alto empresariado. Configurou-se, ali, o capitalismo de Estado lulopetista, uma versão modernizada do programa econômico moldado por Vargas e, mais tarde, aprofundado por Geisel.

"Quando Lula fala...". A esquerda interpretou a mudança como a revolução verdadeira: uma aurora de ruptura. Dilma, a sucessora indicada pelo dedazo, tingiu a escolha pragmática com as tintas de suas obsessões ideológicas. Do teclado irresponsável de seus assessores econômicos nasceu a expressão Nova Matriz Macroeconômica. Eike Batista definiu o BNDES como o "melhor banco de investimento do mundo", uma opinião certamente compartilhada por Marcelo Odebrecht e Joesley Batista.
...o bom companheiro Maluf...

A história da ascensão e declínio do capitalismo de Estado lulopetista é contada em dois registros diferentes, mas complementares. A narrativa econômica de uma depressão mais funda que a dos anos 30 evidencia o curto horizonte do nado borboleta. A narrativa policial e judicial da Lava Jato ilumina uma falência ética calamitosa.

Lula, o pragmático oportunista, foge das implicações de ambas, escondendo-se atrás da pobre Dilma, no caso da primeira, e desviando os holofotes para o PT, um de seus sacos de pancada prediletos, no caso da segunda. O gato de sete vidas continua à tona, apoiando-se nos cadáveres que boiam ao seu redor para não afundar.

Luiza Erundina reclamou das críticas lulistas ao PSOL, instando o ex-presidente a atacar os "parceiros de direita que o traíram". Mas ninguém traiu Lula. O PMDB, tão pragmático como ele, foi fiel a si mesmo, agarrando-se ao mastro do poder. Marcelo Odebrecht resistiu o quanto pôde, até o chão afundar. 
...e o bom companheiro Sarney.
Já Joesley Batista mantém a antiga parceria, selecionando politicamente os alvos prioritários de sua delação. O que Erundina recusa-se a enxergar são os frutos podres de uma política econômica que forma o denominador comum da esquerda brasileira.

A pátria de Lula é Lula, e nenhuma outra. Ele calcula o que fala –e fala exclusivamente aquilo que interessa à sua carreira política. Mas, num ponto específico, tem razão: "não dá para nadar teoricamente". 

O PSOL, alternativa esquerdista a um PT dizimado pelo lulismo, repete incansavelmente as orações ideológicas de uma bíblia encanecida e ajoelha-se diante das lápides de seus estimados tiranos, que se chamam Castro, Che ou Chávez. 

O legado de Lula é uma esquerda prostrada, de olhos fixos no passado. Do ponto de vista da nossa democracia, eis um desastre ainda maior que os outros. 

3 comentários:

Eduardo Lima disse...

Poxa Lungarettti, sei que não foi o ponto central do texto, mas você considera Chávez, Fidel e Che como "tiranos"? O Magnoli é ultra reacionário e já chegou a dizer num debate sobre cotas no canal livre da BAND que "A escravidão no Brasil foi democrática"! Só porque havia alguns negros que tinham escravos. Não acho que você deveria repostar texto dele aqui. Mesmo que seja uma análise contra um ataque do Lula ao PSOL. Aliás, ele só está se aproveitando da situação para colocar lenha na fogueira. É só uma crítica, pois acho que uma análise sua seja melhor do que replicar esse Magnoli. Um abraço.

celsolungaretti disse...

Companheiro,

o Magnoli fez uma análise praticamente perfeita e irrefutável, com exceção do penúltimo parágrafo. Seria uma perda desprezá-la por conta de não concordarmos com ele em outros assuntos. E seria hipócrita suprimir unicamente o trecho em questão, com o qual eu sabia que os leitores do blogue, em sua grande maioria, não concordariam.

Tiranos foram Stalin, Pol Pot e Saddam Hussein; é aquele aloprado da Coréia do Norte obcecado com mísseis, que vai acabar provocando o extermínio do seu povo; e está a caminho de tornar-se o Maduro.

Considero um disparate tratar o Che como tal e forçada a colocação do Fidel e do Chávez nesse balaio, embora ambos sejam personagens históricos com virtudes e defeitos a serem analisados, e não guias geniais do povo a serem idolatrados.

O Magnoli gosta de fazer afirmações impactantes que vão provocar discussões e colocar o seu nome em evidência. Tenho fortes ressalvas, p. ex., ao que ele andou afirmando sobre a resistência à ditadura. E a alusão à escravidão deve ter sido um excesso que cometeu no meio da polêmica sobre cotas raciais.

Apesar de tais discordâncias pontuais, ele tem o mérito de enxergar claramente o papel devastador que o PT exerceu sobre a esquerda brasileira, tangendo-a ao populismo, ao reformismo e à conciliação de classes, além de cometer desvios éticos inconcebíveis e inaceitáveis (desmoralizando-nos de tal forma que o povo hoje nos iguala à ralé fisiológica dos outros partidos). É, neste século, o principal obstáculo à gestação de uma esquerda revolucionária no Brasil.

Mais do que qualquer outra coisa, é isto que tem de ser dito na atual conjuntura. Mais do que derrubar o presidente atual ou vencer a próxima eleição presidencial, temos é de forjar uma esquerda de verdade, caso contrário tudo será inútil e continuaremos patinando sem sair do lugar, como vimos fazendo desde a redemocratização.

Um abração!

Anônimo disse...

Sempre serei Lula

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