sexta-feira, 31 de julho de 2015

FESTIVAL DE LAMBANÇAS QUE ASSOLA O PALÁCIO DO PLANALTO

Calma, Dilma! Não é o impeachment chegando... ainda.
Bem que o Gilberto Gil e o Torquato neto haviam dito, na canção Domingou:
"O jornal da manhã chega cedo
Mas não traz o que eu quero saber
As notícias que leio conheço
Já sabia antes mesmo de ler
Foi exatamente a sensação que tive diante dos relatos sobre a reunião entre a presidenta Dilma Rousseff e governadores.

Reunir para nada decidir: a quintessência da chatice.
Eu não só conhecia a notícia, como havia antecipado o que aconteceria, no meu post do último domingo (26):
"Ela [Dilma] decidiu também que procurará cativar os governadores e líderes da oposição, no sentido de que abracem a causa da governabilidade e orientem suas bancadas a não abrirem mais rombos na canoa furada do ajuste do Levy. 
Haverá muita discurseira engana-trouxas e, noves fora, os parlamentares vão continuar defendendo apenas seus interesses, não os do povo ou do País. Dilma dá a impressão de que ainda crê em Papai Noel e coelhinho da Páscoa..."
O encontro só não foi totalmente inútil como eu disse que seria porque serviu... para agastar alguns governadores, distanciando-os ainda mais da comandante do Titanic.

É o que depreendo destas avaliações que me parecem mais próximas da verdade, seja por evidenciarem um espírito crítico que falta nas versões chapa branca, seja por se basearem em informações de bastidores que fazem mais sentido do que as ditas cujas. Como passei a vida inteira aprendendo que governos mentem (e conheci de perto a produção dos embustes oficiais, ao trabalhar na Coordenadoria de Imprensa do Palácio dos Bandeirantes), fico com eles:
Eis o que faltava... e continuou faltando.
"...a Presidência da República divulgou em seu blog uma ótima notícia para a inquilina do Palácio do Planalto: 
'Os governadores das cinco regiões do país (...) fizeram uma defesa clara da democracia, do Estado de Direito e da manutenção do mandato legítimo da presidenta Dilma e dos eleitos em 2014. Na ocasião, os representantes dos 27 Estados brasileiros deixaram clara sua posição de unidade em favor da estabilidade política do país'. 
Quem lê o texto fica com a impressão de que Dilma arrancara dos governadores que se reuniram com ela no Palácio da Alvorada, inclusive os de oposição, uma manifestação unânime contra o impeachment. O único problema é que essa notícia é falsa. A posição dos governadores sobre a higidez do mandato de Dilma não é unânime. E o tema não foi debatido no encontro dos executivos estaduais com a presidente". (Josias de Souza) Obs. amadorismo e primarismo elevados à enésima potência. Quem acompanha com um mínimo de atenção o noticiário político, sabe muito bem que os governadores jamais dariam apoio tão incondicional a um governo tão mal avaliado. No mínimo, adotariam uma retórica evasiva, cautelosa. Troféu Pinocchio para o escrevinhador da lorota.
Foi ele que redigiu a versão do governo sobre a reunião?
 "...a presidente afirmou que a economia voltará a crescer antes do que os pessimistas imaginam, que o crédito voltará a ser abundante, e que está preparando o país para um novo ciclo de expansão do consumo. 
Com um discurso tão irrealista como esse, o mais provável é que a encenação promovida por Dilma sirva apenas para reduzir ainda mais sua credibilidade como interlocutora, uma das razões que têm alimentado a crise que seu governo atravessa". (Ricardo Balthazar) Obs. o prognóstico presidencial só se confirmará se os pessimistas estiverem prevendo a volta do crescimento para o final de 2018. Caso o governo atual perdure até lá, tudo fará para que a melhora se dê um pouquinho antes, a tempo de aumentar as chances eleitorais da situação. 
"...já no finzinho, [Dilma] mandou o recado que os governadores não queriam ouvir: precisa da ajuda deles para barrar a pauta-bomba no Congresso. Pior: insistiu que a crise é uma 'travessia', sem assumir nenhuma responsabilidade pela instabilidade econômica, e repetiu várias vezes que ela atinge 'to-dos', assim mesmo escandido, os governos.
Dilma tem mais é de ouvir a voz das ruas
Equivaleu a dizer aos que se abalaram a Brasília: me ajudem a embalar Mateus porque não pari sozinha. 
Acontece que os governadores pensam o contrário: a crise é do governo federal, que a criou e a agravou. Se Dilma quer ajuda para o ajuste fiscal, algo que muitos estão dispostos a ofertar, deveria pedir especificamente para isso e assumir a responsabilidade que lhe tange, sem tergiversar". (Vera Magalhães) Obs. foi bem na linha do que eu também já dissera, "com sua teimosia em considerar correto e imutável tudo que fez até agora, ela não para de levantar bolas para o time adversário marcar pontos", "não adianta querer sair do buraco com mais do mesmo, pois o resultado será... mais da mesma rejeição estratosférica atual". 
E é também a conclusão da Vera Magalhães que me parece o melhor balanço do (des)encontro:
"...mais uma reunião longa, cansativa e inócua, como aquela de 2013 e tantas outras. Dilma sairá dela tão impopular e desgastada quanto entrou, os governadores voltarão para seus Estados sem recursos e perspectivas de investimentos e a pauta-bomba continuará à espreita".
Enquanto isto, a recessão do Levy se agrava e a contagem regressiva avança. Ao invés de tentar salvar o já definitivamente fracassado ajuste de inspiração neoliberal, Dilma tem mais é de curvar-se à evidência dos fatos e pensar no que fará em seguida. 

A política abomina o vácuo de poder. Quando o governante não consegue apontar um rumo para o país e oferecer esperanças ao povo, acaba sempre surgindo quem o faça. As escaladas de Hitler e Mussolini começaram assim.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

DUAS OU TRÊS COISAS QUE EU SEI DELA (A IMPRENSA)

Pitoresca revelação do jornalista Mário Magalhães, no seu blogue, sobre um dos atuais candidatos à presidência da Fifa:
"No dia 12 de agosto de 1995, o dirigente número um do futebol sul-coreano, Chung Mong-joon, recepcionou por volta de dez jornalistas brasileiros em um almoço num hotel cinco estrelas de Seul. Brasil e Coreia jogariam poucas horas mais tarde na vizinha cidade de Suwon.
Enquanto não serviam a comida, e garrafas de uísque de boa procedência eram enxugadas, Chung entusiasmou-se e anunciou em inglês: 'Se a Coreia vencer hoje, cada um de vocês vai ganhar de presente um Accent'.
Trata-se de um modelo da Hyundai, a gigante automobilística que tem em Chung um dos controladores e herdeiros. Houve constrangimento de uns poucos repórteres mais escrupulosos, que recusariam o jabá, e excitação da maioria.
Durante a refeição, acompanhada de honestos vinhos franceses, o anfitrião --também deputado, vice-presidente da Fifa, à época lobista-chefe na disputa contra o Japão para sediar a Copa-2002 e hoje cotado para concorrer à Presidência da República-- radicalizou: 'Darei o carro mesmo se houver empate'.
Se beber, não prometa carros.
Quando um petardo do Dunga selou a vantagem brasileira por 1 a 0, em raro gol do volante pela seleção, um radialista traiu a ira desferindo um soco na mesa da tribuna do estádio. Adeus, Accent".
Eu também tenho histórias para contar, mas não do tipo que pudesse dar nome aos bois sem ser processado. Evito sempre divulgar integralmente algo controverso quando não posso apresentar provas ou testemunhos, pois a única postura digna para um jornalista levado ao tribunal é arguir a exceção da verdade. Sendo isto impossível, prefiro ficar longe das cascas de banana.
  
Vou, portanto, contar, os milagres sem identificar os santos:
  • certa multinacional da área de entretenimento, na década de 1980, convidava radialistas para encerrarem a árdua semana de trabalho espairecendo ao redor de uma piscina existente na sua sede. Garotas de programa eram contratadas para animar a festa e havia farta distribuição de cocaína. Sendo jornalista da imprensa escrita, nunca me convidaram nem eu aceitaria, mas quem me relatou tudo isso era de absoluta confiança;
  • uma assessoria de imprensa cuja redação eu chefiava certa vez organizou uma viagem à Europa, para jornalistas de Economia conhecerem as instalações de uma multinacional. O roteiro incluía escala desnecessária mas muito agradável em Paris. Um medalhão da área de Variedades (!) forçou a barra para ser incluído na comitiva, dando um chapéu nos seus colegas de Economia. Em Paris, ele comprou tudo que viu pela frente e botou na conta do hotel, paga pela empresa anfitriã. Na volta, o fulano não conseguiu escrever uma linha sobre a tal companhia, pois não era sua praia. Resolveu o problema entregando para publicação praticamente a íntegra do press-release que eu redigira, e que deveria servir apenas como pauta, não como texto final;
  • eu e quase todos críticos de música recebíamos das gravadoras um mundo de lançamentos que não nos interessavam e vendíamos tais discos para sebos. Certa vez o dono de um desses sebos foi pilhado com tal material (cuja venda era proibida) e denunciou à Polícia alguns dos fornecedores. Quando passei por sua loja, na maior cara de pau, ele relatou-me o ocorrido e ainda acrescentou que, se soubesse o meu nome, teria me entregado também. Um funcionário daquele sebo me contou depois o resto da história: havia divulgadores que vendiam a ele caixas fechadas, com 50 discos, que deveriam entregar aos disc-jockeys e produtores de programas musicais. Ou seja, cometiam furto e faziam dele um receptador de artigos roubados. Tinha sido para ocultar este lado mais escabroso de suas atividades que ele dedurara os críticos;

  • o maior jabaculê que me ofereceram foi uma estada de vários dias num hotel cinco estrelas. Estava colhendo dados para uma reportagem sobre a inauguração, que ocorreria dentro em pouco, e o dono, um grosseirão, foi logo me fazendo essa proposta indecente. Não lhe dei uma resposta enviesada por saber que o jornalão no qual eu trabalhava queria bajulá-lo ao máximo, sonhando com anúncios de página inteira. Desconversei, fiz a matéria que faria de qualquer maneira e nunca fui desfrutar meu brinde...

UM DOS MUITOS EPISÓDIOS BIZARROS DA 'SENÇURA' DO REGIME MILITAR

O humor combatendo o horror
Fuçando nos blogues de cinema à cata de filmes para baixar, deparei-me com um cuja existência havia esquecido por completo: A rebelde (La califfa), de um diretor italiano pouco prolífico, Alberto Bevilacqua. É de 1970 e tem Romy Schneider e Ugo Tognazzi nos papéis principais.

Na época eu o vi, mas não me marcou nem foi sucesso de público ou crítica. Trouxe-me, contudo, à lembrança um dos incontáveis episódios bizarros da ditadura militar. Como bem sacou o genial Sérgio Porto, o dia 1º de abril de 1964 marca o início do  festival de besteiras que assolou o país...

Num sábado de 1972, logo de manhãzinha, encontrei no Jornal da Tarde a notícia de que dez filmes em cartaz na capital paulista seriam proibidos logo depois do fim de semana. 

Pateticamente, a censura decidira voltar atrás, recolhendo fitas que já havia liberado (após ordenar os costumeiros cortes); mas, para não prejudicar o faturamento das empresas cinematográficas, iria permitir que fossem exibidos até a última sessão de domingo.

De imediato, numa reação característica dos que éramos obrigados a suportar a obtusidade encastelada no poder, eu e a minha companheira programamos uma verdadeira maratona cinematográfica: a uns seis conseguimos assistir ou rever, pulando de cinema em cinema, na certeza de que ficaríamos deles privados por longo tempo.
Reportagem da revista Realidade (1967)

Lembro-me de que, mesmo pelos critérios ridículos da censura, A rebelde destoava do restante da lista: Sacco e VanzettiQueimada! e que tais. Todos filmes políticos bem contundentes. [É quase certo que O Caso MatteiA chinesaA classe operária vai para o paraísoInvestigação sobre um cidadão acima de qualquer suspeita e Z também fizessem parte do lote].

Na categoria  estranhos no ninho  enquadrava-se também  Sopro no coração, mostrando um caso de incesto em clave bem poética.

Não consegui encontrar a lista na busca virtual, mas desencavei um registro no Diário Oficial da União, dando conta de que as  otoridade  decidiram, baseadas no artigo 176, do Decreto n° 56.510, de 28 de junho de 1965, proibir a exibição do A rebelde, sem mais nem menos, não dando  qualquer explicação. Fazemos porque podemos, e fim de papo!

A publicação no DOU é do dia 21/02/1972, exatamente uma 2ª feira.

Imagine esta cena com a bolinha preta ali...
No final da década o pacote todo seria liberado de novo e alguns até reprisados nos cinemas, aproveitando o embalo; outros, como A rebelde, não foram considerados chamativos nem mesmo com a aura de malditos.

Por último, vale registrar que, como o ridículo dos censores não tinha limites, eles conseguiram produzir um episódio ainda mais grotesco.

Já que A laranja mecânica ficaria ininteligível se fossem  tesouradas  todas as cenas de nus, ordenaram que se aplicassem umas bolas pretas sobre a genitália dos atores e atrizes. Seios e nádegas podiam ser vistos; vaginas e pênis, não.

Aquelas bolinhas pinguepongueando pela tela se tornaram causa de humor involuntário: os espectadores caíam na gargalhada!

APOLLO NATALI: "ESTAÇÃO CENSURA".

Em pleno século 21, dentre 179 países pesquisados, apenas três deles (Finlândia, Holanda e Noruega), não enfrentam as dores da censura, informa a organização não-governamental Repórteres Sem Fronteira .

No dia-a-dia das canseiras dos mortais, bocas são emudecidas por variados matizes de tirania: a da política, da economia, a doméstica, aquela de indivíduo para indivíduo. Qual o limite para a liberdade de expressão? 

Vivemos nos limites da lei e da ordem, eis a resposta -- insuficiente -- do Estado democrático. Em meio a deslumbrados arroubos retóricos sobre como não consentir que nos calem a boca, encontramos o personagem considerado o campeão mundial da liberdade de expressão, um inglês. 

Garimpamos um primeiro diamante dele, precioso xarope a nos liberar a garganta. O que ele diz pode ser considerado hoje um elementar ovo de Colombo, mas é tido por renomados pensadores como o supra-sumo do ideal de liberdade: 
"Acima de todas as liberdades está a liberdade de saber, de proferir e discutir livremente de acordo  com a consciência".
Está em Areopagítica, do inglês John Milton, da Top Books, datada da metade do século 17 – quatro séculos antes de a Declaração de Windohek, em 1991, apontar a liberdade, a independência e o pluralismo da imprensa como princípios essenciais para a democracia e os direitos humanos. 

Pouco lembrada hoje em dia, tal obra seiscentista é, no entanto, considerada um dos mais importantes documentos da história da liberdade. O panfleto, conhecido como Discurso pela liberdade de imprensa ao Parlamento da Inglaterra, tencionava obter a anulação dos Ordenamentos de 1643, que impuseram a censura prévia na forma de obrigatoriedade de autorização e registro para publicação de qualquer material escrito.

O termo Areopagítica é emprestado do orador Isócrates,  355 a.C, que pedia a restauração do Conselho do Areópago na democracia ateniense. Entre suas bravatas naquele trevoso tempo em que se proibia até a Bíblia e o destino dos livros e seus autores eram a fogueira, John Milton, contemporâneo de Shakespeare (sobre quem, aliás, escreveu), visitava o gênio Galileu Galileu em sua prisão domiciliar, numa época em que a Inglaterra ”gemia sob a censura espanhola”.   

Atreveu-se a fazer um retrato grotesco dos censores e a demonstrar que a censura não passava de um monstruoso equívoco, sempre associado à tirania. Como se São Pedro tivesse dado aos censores as chaves da imprensa juntamente com as do Paraíso, zombava. Mais dia, menos dia, seria preso. Foi encarcerado em 1759.

O diplomata, crítico e poeta Felipe Fortuna, em sua nota explicativa sobre Areopagítica, indica que a obra é estruturada em quatro partes e seu principal objetivo é a defesa da total liberdade de imprensa, a fim de tornar possível o maior avanço do conhecimento da verdadeAs quatro partes:
A inquisição queimava livros na Idade Média...
  • demonstração histórica de que a censura é um produto da Inquisição católica e, como tal, contrária ao pensamento da Inglaterra protestante, o que tornava contraditória sua admissão pelo status quo inglês. O autor demonstra que a censura esteve sempre associada à tirania e, nos tempos modernos, ao reacionarismo católico do Concílio de Trento, na Contra-Reforma. 
  • sustentação de que o bem e o mal estão inextricavelmente ligados, não sendo possível coibir apenas um deles sem atingir profundamente o outro. Defesa do benefício da liberdade de imprensa, uma vez que o conhecimento e a verdade surgem do contato com o que existe de bom e de mau nos livros, cabendo ao leitor buscar o que neles mais lhe agradar. Mesmo autores ímpios, argumenta, tinham sido lidos com proveito por apóstolos e teólogos, ao longo do tempo. Cita a pérola anti-censura do apóstolo Paulo: Discerni tudo e ficai com o que é bom.
  • condenação da censura prévia de qualquer livro, em nome da razão e da liberdade, fundadoras da virtude. Ressalta o aspecto da inutilidade da censura, uma vez que os maus livros são verdadeiramente combatidos quando suas ideias ficam expostas e não quando permanecem ignoradas. A censura, diz, jamais conseguirá ser completa ou eficiente.
  • demonstra que é impossível tornar as pessoas virtuosas pela coerção externa, já que o combate à corrupção moral se faz com o poder da escolha racional. A censura impede que se exerça a faculdade do juízo e da escolha, desestimula todo tipo de estudo, humilha a nação, cria um ambiente de perene estupidez.
...a Juventude Hitlerista no século passado...
Advoga que antes “do mais anticristão Concílio”, o de Trento, da Contra-Reforma, e da Inquisição “a mais tirânica de quantas houve”, os livros foram sempre admitidos livremente no mundo como qualquer outro nascimento. Nunca se ouvira dizer que um livro, em pior situação do que uma alma pecadora, devesse ficar postado diante de um júri antes de vir ao mundo. Há limites do poder estatal em questões de conduta privada, reclamava. Confinar os livros, encarcerá-los e submetê-los à mais rigorosa justiça é como tê-los  como malfeitores.

Aplica a todos os meios de expressão esta sua universalmente conhecida defesa do livro
"...porque os livros não são coisas absolutamente mortas; contêm uma espécie de vida em potência, tão prolífica quanto a alma que os engendrou. E mais: eles preservam, como num frasco, o mais puro e eficaz extrato do intelecto que os produziu.
Estou convencido de que eles são tão vivos e tão vigorosamente fecundos quanto aqueles dentes de dragão da fábula citada por Camões, os dentes de Cádmio, que se reproduziam ao mesmo tempo em que uns aos outros se davam à morte dura.
...e alguns grupos radicais ainda hoje.
 Muitos homens não passam de um fardo sobre a Terra mas um bom livro é o precioso sangue de um espírito superior, conservado e guardado com vistas a uma vida para além da vida".
A censura é equiparada a um massacre: 
"Deveríamos refletir sobre o tipo de perseguição que desencadeamos contra as obras vivas dos homens públicos, para não causarmos a perda de uma vida humana, amadurecida, preservada e acumulada em livros; vemos logo que se pode cometer assim uma espécie de homicídio, às vezes até mesmo um martírio e se isso se estende a toda impressão, corresponde a um verdadeiro massacre, pois que a execução, no caso, não se esgota no aniquilamento de uma vida rudimentar, mas alcança aquela etérea quintessência, que é o sopro de vida da própria razão. E isso atenta contra a imortalidade e não simplesmente contra a vida".
Finalmente, John Milton apontou o mais temível desastre provocado pela censura:
"O passar do tempo raramente recupera a perda de uma verdade rejeitada, cuja falta faz nações inteiras esperarem pelo pior".  

BOULOS: "O MÍNIMO A SE ESPERAR DE UM GOVERNO SOBERANO SERIA MANDAR A S&P À M...".

Entre pasmo e enojado, venho acompanhando o direita, volver! da ala governista do PT, cada vez mais prostrada à ortodoxia capitalista. 

A presidenta Dilma Rousseff, p. ex., é uma ex-pedetista que, com sua rendição incondicional aos exploradores, faz o Leonel Brizola revirar no túmulo. Ela se referiu ao acerto das contas com a banca internacional como uma grande realização do PT, aderiu ao neoliberalismo, é a responsável última pela implementação de uma política econômica infame e agora, pateticamente, está obcecada em evitar que a nota do Brasil seja rebaixada por uma agenciazinha de risco com credibilidade zero.

Como o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, acaba de dizer tudo que havia para se dizer a respeito da tal Standard & Poor's, vai me poupar dessa tarefa típica de laboratório de análises clínicas. A escatologia é necessária mas, se um já dá conta de lidar com os excrementos, não precisam ser dois os nauseados.    

CHANTAGEM FINANCEIRA

                            Guilherme Boulos

Nesta terça (28), a agência de risco S&P rebaixou a nota do Brasil e apontou a perspectiva de perda do grau de investimento para o país.

O governo Dilma reagiu docilmente, dizendo que o Congresso deveria entender o sinal da agência e agilizar a aprovação do ajuste fiscal. O medo do governo de um ataque especulativo tornou o país refém das piores chantagens financeiras.

Os bancos, fundos de investimento e outros agentes do mercado impõem uma política recessiva onde só eles ganham. Juros selvagens, cortes sem fim no orçamento e ataques a direitos sociais. O governo aplica como bom aluno, para dar sinal ao mercado de que o país cumprirá seus compromissos com o 1% de mandachuvas do planeta e, assim, manter o grau de investimento.

Nem isso adiantou. A voracidade do mercado não tem limites. E as agências de risco - a começar pela S&P - estão longe de uma análise técnica e imparcial das condições econômicas. São na verdade agentes políticos, com interesses próprios e sem credibilidade alguma, ao menos após 2008.

Antes dos jornais repercutirem em letras garrafais e acriticamente as previsões da S&P, não caberia lembrar que até a manhã de 15 de setembro de 2008, dia de sua falência, o banco Lehman Brothers contava com nota A (grau de investimento seguro) pela mesma agência?

Ou que, em 2012, a S&P foi condenada a pagar mais de US$ 16 milhões a prefeituras australianas que confiaram em sua análise de risco dos Fundos Rembrandt, que geraram prejuízos milionários a seus investidores?

Ou ainda que, em 2013, o governo dos Estados Unidos entrou com uma ação judicial contra a S&P pedindo indenização de US$ 1 bilhão por  sua responsabilidade no desencadeamento da crise de 2008?

Os créditos subprime, vetores da crise, receberam nota máxima da agência AAA, incentivando investimentos bilionários, que precipitaram o estouro da bolha. Segundo o Departamento de Justiça norte-americano, a agência atuou "conscientemente e com a intenção de fraudar, participou e executou um esquema para fraudar os investidores".

Paul Krugman, prêmio Nobel de economia, escreveu o seguinte após o rebaixamento da nota dos EUA pela S&P: "as agências de classificação de risco jamais nos proporcionaram qualquer motivo para que nós levássemos a sério as suas avaliações sobre solvência nacional. É verdade que nações que declararam moratória geralmente foram rebaixadas antes que isso acontecesse. Mas em tais casos as agências de classificação de risco estavam simplesmente seguindo os mercados, que já haviam repudiado esses devedores problemáticos".

Ou seja, suas previsões não merecem credibilidade. Vale aqui o ditado de que "quem paga a banda, escolhe a música". Essas agências são financiadas pelas próprias corporações que devem avaliar, tem seus patrões como clientes. Não há como falar em independência. Avaliam as empresas e os países obedecendo os interesses de quem as financia. E jogam com a ameaça de rebaixamento para favorecer esses mesmos interesses.

O nome disso é chantagem.

O governo Dilma, com sua política econômica covarde e recuos sem fim, está deixando o país refém de agiotas desmoralizados. Vale mais uma vez a advertência: buscando a governabilidade na banca - mesmo assim frustrada - está perdendo aceleradamente a governabilidade nas ruas. A cada dia diminui sua margem de manobra.

O mínimo a se esperar de um governo soberano, diante desta situação, seria mandar a Standard e Poor's à m... sem meias-palavras.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

CUSTOU-NOS MUITA LUTA TERMOS LIBERDADE DE EXPRESSÃO. VAMOS PERMITIR QUE QUALQUER FACEBOOK A PISOTEIE?

Mensagem do Facebook lembra a tesoura da ditadura 
confesso que estava passando batido pelo problema da censura no Facebook até que ela me atingiu, no último domingo, 26. 

Como sempre faço, tentei comunicar que publicara no meu blogue um novo artigo. Mas, fui impedido: 
"essa mensagem possui conteúdo bloqueado: Sua mensagem não pode ser enviada pois ela tem conteúdo que outras pessoas no Facebook denunciaram como abusivo".
Como abominava a censura da ditadura militar --cheguei a responder a um processo estapafúrdio no Fórum João Mendes, que não deu em nada mas obrigou-me a comparecer umas quatro vezes, convocado para as 13h e tendo de ficar mofando naquele ambiente desagradável cerca de quatro horas até começar a audiência que me dizia respeito-- desde a redemocratização denuncio veementemente qualquer veto, boicote ou emasculação dos meus textos. 

Foi o que imediatamente fiz. Inclusive, tentei postar no próprio Facebook a minha catilinária contra a censura do Facebook... e consegui. Aí, repeti a tentativa de divulgar o artigo político e constatei que continuava embargado. Ou seja, tratava-se de algum tipo de gatilho automático, que dispara apenas quando existe tal ou qual palavra no texto. 

Pesquisando no Google, constatei que, durante a onda de manifestações de rua contra a Copa do Mundo, a meninada se queixava de que acontecia exatamente o mesmo quando suas mensagens citavam "Exército", "Forças Armadas", "Guarda Nacional".  


Já o amigo jornalista Rui Martins levantou a possibilidade de que a censura tivesse ocorrido a partir de um uso desvirtuado do ícone no qual os usuários do Facebook podem clicar para denunciarem conteúdo pornográfico.


Como a empresa não dá satisfações, somos obrigados a ficar no terreno das hipóteses.  E, claro, indagando-nos se uma companhia ponto.com dos Estados Unidos tem o direito de, atuando em nosso país, ignorar o que reza a Constituição da República Federativa do Brasil:

"Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (art. 5, § 2º)
"É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença" (art. 5, § 9º)
"A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição" (art. 220)
"É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística" (art. 220, § 2º)
E não age às escondidas. Já nos padrões de sua comunidade, deixou claro que faria exatamente o que está fazendo:
"As pessoas usam o Facebook para compartilhar suas experiências e conscientizar os outros sobre assuntos que consideram importantes. Isso significa que você pode encontrar opiniões diferentes das suas, o que acreditamos que possa gerar conversas importantes sobre temas complexos. No entanto, para equilibrar as necessidades, a segurança e os interesses de uma comunidade diversificada, temos que remover determinados tipos de conteúdos controversos ou limitar o público que os visualiza [o grifo é meu]".
Esta postura está coerente com o enfoque jurídico dos EUA. Lá, apenas os governos federal, estaduais e municipais são obrigados a respeitar escrupulosamente a liberdade de expressão. Organizações particulares podem, a bel prazer, impugnarem conteúdos  que a empresa não deseje veicular.

É isto que queremos para o Brasil? Caso contrário, por que permitimos que brasileiros estejam sendo submetidos a tais restrições?

terça-feira, 28 de julho de 2015

"O HOMEM DA TERRA" PROVA QUE AINDA HÁ VIDA INTELIGENTE NO CINEMA

Quem, como eu, curtiu intensamente o magnífico cinema das décadas de 1960 e 1970, tem a maior dificuldade para encontrar algo que o entusiasme neste mofino século 21. 

Então, foi uma agradabilíssima surpresa o filme O homem da Terra (2007), que resolvi baixar e assistir  apenas por ter um ponto de partida interessante: professor em vias de mudar de cidade e de emprego, é surpreendido pela visita  de colegas da universidade e resolve lhes contar que tem 14 mil anos de idade, sendo obrigado a fazer as malas a cada dez anos porque seu não-envelhecimento começa a dar na vista.

[Uma curiosidade: trata-se de mais um longa inspirado em episódio da extraordinária série de TV
Além da Imaginação, no caso A longa vida de Walter Jameson, 1960, 1ª temporada.]

Com diretor  que nada realizara de marcante em quase três décadas de atuação intermitente (Richard Schenkman), história deixada pronta por um roteirista que não estava entre os principais dos filmes e seriados de ficção-científica, falecido nove anos antes (Jerome Bixby), e atores que fizeram carreira como coadjuvantes –o mais conhecido é Tony Todd, o Candyman da franquia de horror homônima–, O homem da Terra só tinha a recomendá-lo uma nota bem alta no site especializado IMDB (8).

Mas, o clássico 12 homens e uma sentença  (d. Sidney Lumet, 1957) me levou a conceder sempre um crédito de confiança para filmes que transcorrem inteirinhos num mesmo ambiente, em tempo real ou quase,  e cujo atrativo é a interação/discussões entre os personagens. Desta vez fui recompensado.

É interessantíssimo o relato que John Oldman (David Lee Smith) faz de suas andanças através dos tempos e do papel que representou em alguns acontecimentos marcantes, para perplexidade dos outros professores universitários (um de cada especialidade, de forma que acompanhamos o confronto de várias óticas e abordagens), os quais julgam-no um fantasista mas ficam fascinados com a verossimilhança de tudo que ele diz. 

Colocados diante de uma possibilidade cuja aceitação detonaria boa parte de suas certezas, chegam a ficar transtornados. Trata-se de uma das críticas mais corrosivas que tenho visto da dificuldade que os scholars têm em lidar com qualquer coisa que subverta seus esquemas mentais.

Quanto à visão que o cro-magnon evoluído transmite da História, é outra culminância: desmistificadora, bate muito na tecla de como o que realmente aconteceu vai recebendo acréscimos e mais acréscimos, até atingir proporções desmesuradas na comparação com os eventos originais, além de quase sempre a lenda ser desvirtuadora.

Um filmaço, como vocês podem conferir abaixo, em versão legendada. (por Celso Lungaretti)

NEM PÃO, NEM CIRCO.

O Brasil, de uns tempos pra cá, virou o fio. Passou a andar para trás. Embotou. Encruou. 

Atravessamos o pior momento econômico desde a hiperinflação do Sarney e a coisa só tende a piorar, pois já são favas contadas o fracasso do ajuste do Levy. Mas, como a teimosia da Dilma é mastodôntica, levará um bom tempo ainda para ela curvar-se à evidência dos fatos e tentar outra jogada, com outro ministro. Enquanto isto, continuaremos decaindo. 

Por falar em decadência, nem mesmo a fórmula do declínio do Império Romano conseguimos aplicar direito: o circo que nos é oferecido está longe de servir para disfarçar a falta de pão. Muito pelo contrário: temos sofrido humilhação após humilhação nas grandes competições internacionais.

Na Copa do Mundo, nosso futebol amargou a pior derrota de uma seleção brasileira em todos os tempos: 1x7 numa semifinal disputada em nossa casa.

Na Copa Libertadores, já são dois anos em que nossos clubes nem na final chegam.

Na Copa América, fomos eliminados pelo medíocre Paraguai que, logo em seguida, levou um passeio da Argentina, comprovando não ter sido ele que evoluiu. Nós é que estamos involuindo, a ponto de encararmos com justificados receios as eliminatórias para o próximo Mundial.

E, como desgraça pouca é bobagem, um titular do escrete do Dunga foi flagrado no antidoping. 

Finalmente, no Pan a notícia a nosso respeito que corre mundo é a do goleiro que andou pondo as mãos e outra parte do corpo onde não deveria.

Como todo o resto tem dado com os burros n'água, a Dilma e outros dirigentes poderiam seguir o conselho do Zeca Pagodinho:

"Ah! Meu filho, do jeito que suncê tá,
só o ôme é que pode ti ajudá.

Você compra a garrafa de marafo,
marafo que eu vou dizê o nome,
meia-noite tu vai na encruzilhada,
destampa a garrafa e chama o ôme.

O galo vai cantá, você escuta,
rêia tudo no chão, que tá na hora.
E se o guarda noturno vem chegando,
você olha pra ele, que ele sai andando...."

segunda-feira, 27 de julho de 2015

E NÃO É QUE DESTA VEZ EU E O ZÉ DA MEDALHA CONCORDAMOS?!

"Se esse processo 
fosse no Brasil, eu 
não estaria preso."
(José Maria Marin, exaltando o jeitinho brasileiro, que garante impunidade eterna aos larápios ricos e poderosos. Concordo: aqui ele não estaria preso... lamentavelmente!) 

"UM ENCONTRO ENTRE LULA E FHC, NESTAS CONDIÇÕES, CHEIRA MAL"

"O PSDB tem um plano muito claro: como demonstram as votações no Congresso, o objetivo é sangrar o governo mesmo com contorcionismos inexplicáveis à luz de sua plataforma eleitoral. Pretende também limpar sua turma, perigosamente ameaçada por vazamentos imprevistos da chuva de delações premiadas.

Já o PT vive um grande embaraço. Em nome da governabilidade, o Planalto vem adotando a receita pregada pelo adversário. 

O custo desta guinada aparece no crescimento do desemprego, no corte de gastos sociais, nos juros absurdos, no sufocamento da indústria, na queda de arrecadação e, por consequência, na erosão galopante de popularidade. O absurdo é tão evidente que até Joaquim Levy decidiu recuar em metas incompatíveis com o cenário de recessão imposto por tal política.

É difícil imaginar que diálogo pode acontecer nestas condições. Lula vai pedir a FHC uma trégua para poder aplicar o programa do PSDB? FHC vai pedir a Lula concessões para aliviar medidas que seu partido sempre defendeu?

Um encontro entre Lula e FHC, nestas condições, cheira mal."  
(jornalista Ricardo Melo, escrevendo tudo que eu gostaria de haver dito sobre esta questão, mas posterguei porque tinha pautas mais urgentes...)

CONSTITUIÇÃO DO BRASIL x CENSURA NO FACEBOOK

"Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei." (Constituição da República Federativa do Brasil, art. 5, § 2º)

"É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença." (idem, art. 5, § 9º)

"A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo, não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição." (idem, art. 220)

"É vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística." (idem, art. 220, § 2º)

"As pessoas usam o Facebook para compartilhar suas experiências e conscientizar os outros sobre assuntos que consideram importantes. Isso significa que você pode encontrar opiniões diferentes das suas, o que acreditamos que possa gerar conversas importantes sobre temas complexos. No entanto, para equilibrar as necessidades, a segurança e os interesses de uma comunidade diversificada, temos que remover determinados tipos de conteúdos controversos ou limitar o público que os visualiza." (padrões da comunidade do Facebook)

"Quem são as outras pessoas que estão tentando criar censura política no Facebook? Proteste também, compartilhe e se solidarize com Celso Lungaretti, para tudo não ficar ainda pior do que já está pintando. 

O Direto da Redação vai publicar esse texto bloqueado e censurado e vamos ver se os mesmos censores e o Facebook também impedem e bloqueiam! Este é um momento importante para se impedir o restabelecimento do conselho de censores." (jornalista Rui Martins, editor do Direto da Redação, em mensagem que está publicando nos grupos do Facebook para, diz ele, "cutucar a onça com vara curta")

"...o Facebook aceitou as imposições feitas e boicotou os artigos do Celso Lungaretti, impedindo-os de serem divulgados. Isso é gravissimo e caracteriza UM CRIME, pois fere frontalmente a Lei de Imprensa e a Constituição Brasileira.

Assim, meu caro amigo, goste ou não dos artigos do Celso Lungaretti, faça como estou fazendo e levante você também um alto e bom som BRADO DE REVOLTA contra essa atitude do Facebook, exigindo das autoridades competentes PROVIDENCIAS URGENTES para impedir que essa arbitrariedade continue e para que nunca mais se repita! 

Envie uma mensagem de protesto ao Facebook; peça apoio dos parlamentares; clame pela intervenção da OAB, do Sindicato de Jornalistas e do Congresso Nacional; envie cartas e mensagens aos veículos de imprensa; e mostre toda a sua indignação para os seus amigos! (...) DITADURA, NUNCA MAIS!" (Hélio Rubens de Arruda e Miranda, editor do jornal eletrônico ROL - Região On Line)

"A censura voltou ao Brasil. E a herança maldita foi reintroduzida por uma empresa estadunidense pontocom, o Facebook. (...) 'Onde está fulano/a?', perguntamos ao notar o desaparecimento de uma pessoa de nossa lista de amigos. 'Ah, foi bloqueado/censurado/suspenso'.

...Pergunta-se como uma corporação estadunidense pode ter esse poder?" (jornalista Elizabeth Lorenzotti, na ótima reportagem Facebook reintroduz a censura no Brasil) 

"...por se tratar de uma organização particular, e não de um governo, o Facebook não tem nenhuma obrigação de publicar conteúdo que a empresa não deseje veicular. 

...Os censores do Facebook operam sob um manto de anonimato, sem nenhum vínculo de responsabilidade com os demais usuários. (...) Qualquer post pode levar a uma denúncia anônima feita por outro usuário. O julgamento chega com agilidade e (...) de maneira bastante caprichosa" (artigo do The Economist, que o Estadão traduziu e publicou sem identificar o autor) 

"...a ferramenta Facebook consiste, basicamente e a grosso modo, num programa-robô capaz de analisar e sincronizar similaridades, tão logo o usuário se cadastre na rede. 

A partir de então, o Facebook passa a monitorar todos os contatos do assinante. Conhecendo os contatos e assuntos que o usuário em questão mais busca ou com os quais se interrelaciona na Internet, (...) passa a fazer uso comercial de tais dados, ao mesmo tempo que comuta tais informações, unindo, p. ex., o fornecedor, numa ponta da rede, com o consumidor, na outra extremidade. 

(...) Quem quiser que o compre. Eu, não!" (Antuérpio Pettersen Filho, escritor, advogado e editor do periódico eletrônico Jornal Grito Cidadão, no artigo Americanos espionam o mundo. "I'm no Facebook"

domingo, 26 de julho de 2015

LÁ FORA COMPARAM CRISE BRASILEIRA A FILME DE HORROR. MAS OS ATORES SÃO DE TOSQUEIRA TRASH.

Considero o Alberto Dines (foto) um dos maiores nomes da nossa imprensa em todos os tempos, além de ter imenso respeito pelo papel que ele desempenhou na resistência jornalística à ditadura de 1964/85.

Então, quis logo conhecer um editorial da imprensa britânica que o Dines acaba de recomendar entusiasticamente, como vocês podem constatar nestes trechos:
"Recessão e suborno: a crescente podridão no Brasil foi o título do editorial desta quinta-feira (23) no secular Financial Times, o jornal cor-de-salmão que raramente pisa em falso quando dá opinião... 
'Incompetência, arrogância e corrupção tiraram do Brasil seu encanto mágico… Não é de admirar que o país hoje seja comparado a um infindável filme de horror', afirma o FT.
...Ao associar de forma direta, impiedosa, o fenômeno macroeconômico da recessão à esfera criminal onde se encaixa o suborno, o jornal escancara a natureza da nossa desgraça.
Não há luz no fim do túnel, só mais abominações...
Para não deixar dúvidas quanto a gravidade do que está sendo investigado, adiciona dois penosos ingredientes raramente utilizados nas avaliações sobre o que aconteceu na Petrobrás: incompetência e arrogância.
Para coroar, o diagnóstico, o arrasador substantivo – podridão – que nos remete a Shakespeare e ao inconformado Hamlet... 
...Verdadeira bomba arrasa-quarteirão espalha estilhaços, fere a todos que, mesmo de longe, percebem o enredo"
Acabei encontrando uma tradução da íntegra do dito editorial  no site do jornal Valor, cujas ferramentas impedem, contudo, que seja copiado. O jeito é vocês o acessarem teclando aqui.

Dou toda a razão ao Dines: o FT cutucou nossas feridas até sangrarem, dando uma visão impiedosa mas veraz da situação extremamente grave em que nos encontramos.

Só discordo de que pareça filme de horror. Com atores como aqueles que estão envolvidos na produção dos nossos infortúnios, a coisa está muito mais para uma tosqueira bem trash, na linha do terrir. Ainda que seja terrir para não chorar...

Recomendo aos adultos, que certamente aproveitarão bem a leitura. As crianças preferem ser tranquilizadas, então para elas caem melhor as fantasias com happy end dos blogueiros chapa-branca.

RUI MARTINS: "ESPERAMOS QUE A DIREÇÃO DO FACEBOOK NÃO INSTAURE A CENSURA POLÍTICA".

AVISO À DIREÇÃO DO FACEBOOK

Soubemos que os artigos de Celso Lungaretti estão sendo censurados neste Facebook por denúncia de algumas pessoas. Ora, Lungaretti é colunista do site Direto da Redação, jornalista e escritor.

Escrever criticando o governo é normal dentro de uma democracia e esperamos que a direção do Facebook não instaure aqui a censura política, pois teria de censurar o Direto da Redação e de me censurar também. Isso até poderia criar uma bola de neve, censurando a todos que compartilhassem nossos textos.

Quanto às pessoas que escreveram ao Facebook pedindo para bloquear os textos de Celso Lungaretti, que foi resistente à ditadura militar, peço encarecidamente que aceitem o debate democrático. 

Se forem pessoas que se consideram de esquerda, estão dando um péssimo exemplo, valendo-se da mesma tática dos militares que amordaçavam quem lhes criticava.

O texto vetado aqui no Facebook logo estará disponibilizado no Direto da Redação, por sinal um dos únicos lugares em que se pode criticar ou elogiar o governo, enquanto numerosos blogs e sites chapas-brancas denunciam a grande imprensa e estigmatizam, excluem e tentar censurar quem não come da mesma sopa, por sinal muito ruim. (Rui Martins)

OS TORQUEMADAS QUEREM MEUS ARTIGOS FORA DO FACEBOOK

Mensagem do Facebook lembra a tesoura da ditadura 
Não sou de ficar anunciando de 10 em 10 minutos os meus artigos no Facebook e no Twitter, como vejo muitos fazerem. Posto-os apenas uma vez, pois detesto esses artifícios típicos da propaganda, "quanto mais aparecerem, maior a chance de serem notados", etc.

Mesmo assim, há internautas com índole totalitária tentando fazer com que não apareçam sequer uma vez. Ao anunciar meu artigo deste domingo (26), fui impedido: 
"essa mensagem possui conteúdo bloqueado: Sua mensagem não pode ser enviada pois ela tem conteúdo que outras pessoas no Facebook denunciaram como abusivo".
Os mesmos que vira-e-mexe tiram o meu blogue do ar, fazendo-me perder uns 15 minutos para reativá-lo, agora empenham-se em excluí-lo do Facebook. Direitistas ou governistas dá no mesmo, têm alma de censores.

E do tipo fanáticos, como os do Santo Ofício, não meros tarefeiros na linha da dª Solange da ditadura militar.

Quanto ao Facebook, é moderninho por fora e medieval por dentro. Quer dizer que qualquer ação concertada de inimigos políticos é suficiente para tirar-se um articulista do ar, sem comunicação prévia nem chance nenhuma para apresentar defesa?!

Torquemada vive.

Obs. Por curiosidade, tentei divulgar esta denúncia há poucos minutos e o Facebook a aceitou. Tentei novamente anunciar o artigo político e constatei que continuava embargado. Ou seja, trata-se de um bloqueio automático, que é ativado quando existe tal ou qual palavra no texto. Qualquer semelhança com a burrice e prepotência da censura dos milicos nos anos de chumbo não é mera coincidência.
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