As pesquisas de intenção de voto para a eleição presidencial de 2026 estão apontando quatro candidatos com chances significativas de irem para o segundo turno: Lula, Michelle Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e Eduardo Bolsonaro.
A novidade é que Lula leva vantagem sobre Tarcísio (34,0% a 24,3%) e o bananinha (33,8% a 21,3%), mas perde para a aspirante a Isabelita brasileira (40,6% a 44,4%).
Refiro-me à terceira esposa do ex-presidente argentino Juan Domingo Perón; a recapitulação abaixo explica o porquê.
Antes, ele tinha sido casado com a professora Aurélia Tizon, que morreu em 1938. Depois, em 1945, esposou a atriz de novelas radiofônicas e cinema Eva Duarte, a famosa Evita, que teve importância fundamental para ele chegar à presidência em 1946 e, após ser deposto em 1951, conquistar nas urnas um segundo mandato, para o período 1952-1955.
Carismática, hábil comunicadora e com faro para a política populista, ela foi tão relevante quanto o próprio marido para a afirmação do peronismo.
A morte de Evita em julho de 1952, vítima de câncer no útero, deixou Perón à deriva, sob forte oposição da direita e dos militares, além de obrigado a adotar medidas polêmicas para conservar o apoio de sua base, os peronistas.
Escapou de uma tentativa de golpe em junho de 1955, quando a Casa Rosada, sede do governo, chegou a ser bombardeada, mas os fardados voltaram à carga três meses depois, quando um grupo nacionalista do Exército e da Marinha se revoltou em Córdoba e em três dias tomou o poder. Perón fugiu a bordo de uma canhoneira enviada pelo ditador do Paraguai, Alfredo Stroessner.
Ele passou então 18 anos exilado na Espanha, tendo em 1961 casado com a dançarina argentina María Estela Martínez de Perón, a Isabelita.
Como a instabilidade política perdurou na Argentina, com quarteladas a torto e a direito e dez presidentes se sucedendo entre 1955 e 1973 sem nenhum deles concluir um mandato completo, Perón acabou sendo novamente eleito quando o país se redemocratizou. Assumiu em outubro de 1973 e morreu em julho de 1974, aos 78 anos, de uma doença arterial (outro risco que corremos, seja com Lula, seja com Bolsonaro, se o Brasil avacalhar-se de vez passando uma borracha sobre seu rosário de crimes).
Isabelita era sua vice, mas nem de longe uma nova Evita. Presidente entre julho/1974 e março/1976, ficou emparedada entre a oposição da direita e dos militares, de um lado, e a exigência de medidas arrojadas por parte dos peronistas (que, vale dizer, não a estimavam), do outro. Segurou o rojão enquanto pôde e foi destituída por um golpe de estado desta vez unânime: as três Armas participaram.
Condenaram-na a cinco anos de prisão domiciliar, findo os quais ela fixou residência na Espanha.
Contudo, no início de 2007, quando estavam sendo reabertas causas judiciais referentes a cidadãos assassinados pelos governos militares, ela também entrou na dança, acusada de responsabilidade por um óbito ocorrido quando presidia o país. A Argentina pediu sua extradição mas a Espanha negou, por considerar o episódio já prescrito.
Assim como Isabelita herdou a presidência com a morte de Perón, a Michelle poderá ser a beneficiária da morte política de Jair Bolsonaro que, por mais que esperneie, tem um encontro marcado para breve com o cumprimento da longa pena de prisão que há muito faz por merecer.
Ela nem de longe tem o brilho de uma Evita, mas tampouco o têm os três filhos zero à esquerda do Bolsonaro. Então, quando cair para o golpista-mor a ficha de que presidiários não disputam eleições presidenciais, por mais que ele tente impor o bananinha como substituto, a direita o pressionará a apoiar Tarcísio ou Michelle. Desgraça pouco é bobagem. (por Celso Lungaretti)
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