quinta-feira, 30 de julho de 2015

BOULOS: "O MÍNIMO A SE ESPERAR DE UM GOVERNO SOBERANO SERIA MANDAR A S&P À M...".

Entre pasmo e enojado, venho acompanhando o direita, volver! da ala governista do PT, cada vez mais prostrada à ortodoxia capitalista. 

A presidenta Dilma Rousseff, p. ex., é uma ex-pedetista que, com sua rendição incondicional aos exploradores, faz o Leonel Brizola revirar no túmulo. Ela se referiu ao acerto das contas com a banca internacional como uma grande realização do PT, aderiu ao neoliberalismo, é a responsável última pela implementação de uma política econômica infame e agora, pateticamente, está obcecada em evitar que a nota do Brasil seja rebaixada por uma agenciazinha de risco com credibilidade zero.

Como o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, Guilherme Boulos, acaba de dizer tudo que havia para se dizer a respeito da tal Standard & Poor's, vai me poupar dessa tarefa típica de laboratório de análises clínicas. A escatologia é necessária mas, se um já dá conta de lidar com os excrementos, não precisam ser dois os nauseados.    

CHANTAGEM FINANCEIRA

                            Guilherme Boulos

Nesta terça (28), a agência de risco S&P rebaixou a nota do Brasil e apontou a perspectiva de perda do grau de investimento para o país.

O governo Dilma reagiu docilmente, dizendo que o Congresso deveria entender o sinal da agência e agilizar a aprovação do ajuste fiscal. O medo do governo de um ataque especulativo tornou o país refém das piores chantagens financeiras.

Os bancos, fundos de investimento e outros agentes do mercado impõem uma política recessiva onde só eles ganham. Juros selvagens, cortes sem fim no orçamento e ataques a direitos sociais. O governo aplica como bom aluno, para dar sinal ao mercado de que o país cumprirá seus compromissos com o 1% de mandachuvas do planeta e, assim, manter o grau de investimento.

Nem isso adiantou. A voracidade do mercado não tem limites. E as agências de risco - a começar pela S&P - estão longe de uma análise técnica e imparcial das condições econômicas. São na verdade agentes políticos, com interesses próprios e sem credibilidade alguma, ao menos após 2008.

Antes dos jornais repercutirem em letras garrafais e acriticamente as previsões da S&P, não caberia lembrar que até a manhã de 15 de setembro de 2008, dia de sua falência, o banco Lehman Brothers contava com nota A (grau de investimento seguro) pela mesma agência?

Ou que, em 2012, a S&P foi condenada a pagar mais de US$ 16 milhões a prefeituras australianas que confiaram em sua análise de risco dos Fundos Rembrandt, que geraram prejuízos milionários a seus investidores?

Ou ainda que, em 2013, o governo dos Estados Unidos entrou com uma ação judicial contra a S&P pedindo indenização de US$ 1 bilhão por  sua responsabilidade no desencadeamento da crise de 2008?

Os créditos subprime, vetores da crise, receberam nota máxima da agência AAA, incentivando investimentos bilionários, que precipitaram o estouro da bolha. Segundo o Departamento de Justiça norte-americano, a agência atuou "conscientemente e com a intenção de fraudar, participou e executou um esquema para fraudar os investidores".

Paul Krugman, prêmio Nobel de economia, escreveu o seguinte após o rebaixamento da nota dos EUA pela S&P: "as agências de classificação de risco jamais nos proporcionaram qualquer motivo para que nós levássemos a sério as suas avaliações sobre solvência nacional. É verdade que nações que declararam moratória geralmente foram rebaixadas antes que isso acontecesse. Mas em tais casos as agências de classificação de risco estavam simplesmente seguindo os mercados, que já haviam repudiado esses devedores problemáticos".

Ou seja, suas previsões não merecem credibilidade. Vale aqui o ditado de que "quem paga a banda, escolhe a música". Essas agências são financiadas pelas próprias corporações que devem avaliar, tem seus patrões como clientes. Não há como falar em independência. Avaliam as empresas e os países obedecendo os interesses de quem as financia. E jogam com a ameaça de rebaixamento para favorecer esses mesmos interesses.

O nome disso é chantagem.

O governo Dilma, com sua política econômica covarde e recuos sem fim, está deixando o país refém de agiotas desmoralizados. Vale mais uma vez a advertência: buscando a governabilidade na banca - mesmo assim frustrada - está perdendo aceleradamente a governabilidade nas ruas. A cada dia diminui sua margem de manobra.

O mínimo a se esperar de um governo soberano, diante desta situação, seria mandar a Standard e Poor's à m... sem meias-palavras.

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