Mostrando postagens com marcador Copa do Mundo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Copa do Mundo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 16 de agosto de 2023

NEYMAR É MAIS UM JOGADOR A SERVIR A DITADURA SAUDITA EM SEU ESFORÇO DE LIMPEZA DE IMAGEM


 Neymar é o mais novo garoto propaganda da ditadura saudita após ter assinado contrato com a equipe do Al-Hilal, time estatal do regime sanguinário de  Mohammad bin Salman, governante conhecido por esquartejar jornalistas e impor a pena de morte por crucificação. Pelo contrato, o ex-jogador do Santos ganhará a bagatela de 1 bilhão de reais por ano ou 100 mil reais por hora, salário corriqueiro de todo trabalhador naquele país em que a maioria da população é analfabeta e mal possuí comida em casa. 

Irá se juntar a Cristiano Ronaldo e a outros jogadores no esforço recente da ditadura de Bin Salman em limpar a imagem de seu regime no exterior, movimento já feito há anos pelas ditaduras do Bahrein, do Catar e dos Emirados Árabes. Inclusive, a Arábia Saudita deverá ser sede de torneios esportivos em breve, também como parte do esforço de lavagem. 

Além de Neymar e Ronaldo, a ditadura saudita conta com os serviços de Messi que por pouco também não se junto à dupla, tendo preferido curtir os dólares estadunidenses enquanto seguia apenas na função de embaixador do país junto à Fifa e a outras organizações esportivas e políticas, ganhando vultuoso salário pelo serviço. 

Um dos esforços de Messi é levar a Copa do Mundo de 2030 para o país, o que provocou a ira de não poucos argentinos, pois a candidatura saudita concorre com a candidatura conjunta de Argentina, Uruguay, Paraguay e Chile. Mas o amor à pátria é uma comoditie rara nos dias que correm e por isso o campeão mundial deu de ombros diante das críticas e seguiu com seu lobby

Após ter realizado a Copa na ditadura do Catar, a Fifa não deve achar problema em levar outra edição do torneio para um país ainda mais reacionário e brutal. Direitos humanos e democracia é um problema que só deve ser considerado quando envolver a Rússia de Putin, pois aos aliados dos EUA está tudo permitido. 

Seja como for, as recentes movimentações provam que o futebol não apenas se descaracterizou devido à radical mercadorização, mas, em associação a isso, também se tornou forma de limpeza de imagem dos regimes mais nefastos e brutais do planeta. Nisso, Neymar deu mais um passo para matar o esporte, provando de novo sua pequenez moral. (por David Emanuel Coelho)

quarta-feira, 20 de julho de 2016

DALTON ROSADO: "A PAIXÃO PELO FUTEBOL E O FETICHE DA TAÇA".

Gerson e a Taça Guanabara de 1967
"A um passe de Didi, Garrincha avança; colado o 
couro aos pés, o olhar atento; dribla um, dribla 
dois, depois descansa como a medir o lance do 
momento. Vem-lhe o pressentimento; ele se 
lança mais rápido que o próprio pensamento."
(O Anjo das Pernas Tortas, Vinícius de Moraes)
Por que será que me constrange ver o Botafogo perder? Por que será que me invade a alma uma alegria de regozijo ao ver o botafogo ganhar após os minutos finais de tensão e sofrimento, temendo o gol adversário que nos tiraria a conquista, e transbordar de euforia por ser campeão? 

Será que é porque, como todos os deserdados da sorte, as suas conquistas são mais raras do que aquelas que já se tornaram corriqueiras para os que estão acostumados a ganhar? 

Por que será que às vezes tenho a vontade de escrever para o Túlio Maravilha para lhe agradecer por aquele gol em impedimento contra o time do Santos, que deu ao Botafogo o título de campeão brasileiro em 1995, agora, passados 21 anos e os momentos dos tapinhas nas costas do grande artilheiro? Por que será? 

De onde vem essa paixão que Vinicius de Morais, com sua fina ironia poética, a ela se referia, perguntando ao magnata do petróleo: “Será que ganhar dinheiro é mais belo e prazeroso do que um chorinho do Pixinguinha ou torcer pelo Botafogo” (seu time)? 

De onde vem essa incomensurável paixão que nos faz tomar como nossa, pessoalmente nossa, a vitória de um time de futebol, como uma conquista da qual nos sentimos parte indissociável? 
        
Falar da paixão pelo Botafogo como psicanálise de comportamento social é algo impossível, porque torcer pelo botafogo transcende a racionalidade obsessiva dos cientistas sociais que consideram o futebol como mais um dos muitos modos de ópio do povo
Garrincha, símbolo da fase mais vitoriosa do Botafogo.

Gostar do Botafogo é tão gostosamente irracional como o era a loucura de Heleno de Freitas ou a ingenuidade de Garrincha, o anjo de pernas tortas, que ajudou o Brasil a se livrar do complexo de vira-latas (Nelson Rodrigues) ao conquistar as Copas do Mundo de 1958 e 1962. 

É falar de Carvalho Leite, Patesko, Paulo Valentim, Didi, Zagalo, Nilton Santos, Rildo, Manga, Quarentinha, Amarildo, Jairzinho, Roberto Miranda, Zequinha, Rogério, Leônidas, Paulo César Caju, Gérson e tantos outros heróis do povo, que, com a sua arte de jogar futebol, amenizaram a dor diária de uma gente que secularmente sofre com a injustiça da gritante desigualdade social. 

Como, então, rejeitar o Botafogo e o futebol como alegria fugaz, mesmo sabendo que ele se tornou mercadoria e instrumento de anestesia contra a opressão?
A racionalidade fria costuma dizer que sofrer pela derrota do seu time é algo ingênuo. Mas, como evitar este sentimento e compreendê-lo na sua grandeza emocional e igualmente ingênua? 

É melhor não tentarmos nos imiscuir nas complexas buscas de entendimento psicanalítico e chorar de alegria como o gol feito aos 49 minutos, na prorrogação, e que deu o campeonato ao Botafogo. Não é preciso explicar o inexplicável da emoção; basta senti-la e viver o êxtase confortável do momento ritual simbólico da conquista: o levantamento da taça. 

Aliás, levantar a taça ao alto é um gesto inventado por nós, pois imortalizado por Bellini em 1958 após a conquista da nossa seleção, sem que ele ali dimensionasse o seu significado, e que passou a ser imitado mundialmente. A psicanálise deve explicar cientificamente a adoração à taça conquistada, como símbolo de supremacia, mas não nós, torcedores apaixonados (tenha dó...). 
A bola, a grama e um mar de lama.

Uma análise teórica e circunspecta diria que a homenagem prestada pelos jogadores da seleção de futebol germânica aos índios pataxós na Bahia, logo após a conquista do campeonato mundial de futebol de 2104, tem um relevante grau de simbolismo. E tem. 

A cena dos campeões dançando num rito tribal em torno da taça colocada no centro de uma roda representou a adoração ao objeto da conquista desportiva – a taça do mundo – numa simbiose entre o arcaico e o moderno. 

É que o simbolismo do brilho do ouro contido no troféu se mistura ao culto subjetivo afirmador da capacidade desportiva alemã (resultados políticos e financeiros que advêm de uma conquista como essa à parte). 

Pode-se fazer uma analogia daquela cena em torno do troféu com o culto fetichista normalmente feito ao móvel da sociedade moderna – a produção de mercadorias. Mas, a quem isto interessa? 

A quem interessa saber dos valores econômico-financeiros que envolvem o futebol (e a corrupção nele entranhada), atividade esportiva mais popular do mundo? Eles atingem bilhões de reais em ganhos diretos e em merchandising, tendo, certamente, um significado expressivo numa sociedade que necessita cada vez mais de criar artifícios que impulsionem o seu decadente mundo mercantil. Mas, ter consciência disto não reduz em nós a paixão pelo nosso time ou seleção, nem nos impede de tê-la. E daí? 

A quem interessa a analogia da paixão pelo futebol com a adoração ao totem da modernidade, o dinheiro, objeto teleológico da vida social, mas vazio de sentido virtuoso, e que se consubstancia num fetichismo pelo qual todos nós sofremos as consequências, mas do qual não conseguimos nos desapegar por dependência ao seu comando opressivo? 

A quem interessa saber que o futebol é, hoje, uma mercadoria, e instrumento de venda de outras mercadorias pelos garotos-propaganda campeões que tudo venderão por meio da grande mídia, movimentando bilhões em dinheiro? Trata-se, certamente, da atividade esportiva mais cultuada no mundo pela indústria cultural, com grande importância na economia e na política, daí a presença de chefes de estado nas arenas romanas do panis et circenses da modernidade.
Com os pataxós: a dança dos 7 passos para cá e 1 para lá.

A quem interessa saber que o rito de adoração alemã à conquista da taça, num gesto de boa-vontade para com os índios pataxós, simboliza, por analogia, a permanência do fetichismo das sociedades primitivas na pós-moderna sociedade produtora de mercadorias, sob uma forma midiática global? 

Mas, pedindo desculpas aos conscientes críticos do fanatismo aos totens da modernidade, deixemos que nós, os vitoriosos, curtamos a nossa vitória. Devemos nos dar esse direito em nome da fugaz alegria.  

Mais do que o interesse das análises psico-sociológicas da paixão pelo futebol (no meu caso, pelo Botafogo; no do Lungaretti, pelo Corinthians), o importante é dar um abraço emocionado na arquibancada no torcedor desconhecido que está ao nosso lado na hora do gol da conquista do campeonato, e da taça, com a intimidade de um velho conhecido. 

Que me desculpe Guy Debord e sua crítica metafórica a nossa paixão pelos fetiches mercadológicos que transformam a arte e o esporte em mercadorias aptas a anestesiar a consciência coletiva, mas o pecado da inconsciência apaixonada pelo futebol deve ser perdoado.    

Em tempo: além do gol e da taça, é bonita, também, a cena da criança portuguesa que, ao ver o francês chorando no final da Eurocopa, lhe deu um abraço fraterno de consolo e solidariedade, mostrando que nem tudo estava perdido. (por Dalton Rosado)
.
Fim de 1962: canto do cisne de Garrincha no Botafogo.

terça-feira, 28 de julho de 2015

NEM PÃO, NEM CIRCO.

O Brasil, de uns tempos pra cá, virou o fio. Passou a andar para trás. Embotou. Encruou. 

Atravessamos o pior momento econômico desde a hiperinflação do Sarney e a coisa só tende a piorar, pois já são favas contadas o fracasso do ajuste do Levy. Mas, como a teimosia da Dilma é mastodôntica, levará um bom tempo ainda para ela curvar-se à evidência dos fatos e tentar outra jogada, com outro ministro. Enquanto isto, continuaremos decaindo. 

Por falar em decadência, nem mesmo a fórmula do declínio do Império Romano conseguimos aplicar direito: o circo que nos é oferecido está longe de servir para disfarçar a falta de pão. Muito pelo contrário: temos sofrido humilhação após humilhação nas grandes competições internacionais.

Na Copa do Mundo, nosso futebol amargou a pior derrota de uma seleção brasileira em todos os tempos: 1x7 numa semifinal disputada em nossa casa.

Na Copa Libertadores, já são dois anos em que nossos clubes nem na final chegam.

Na Copa América, fomos eliminados pelo medíocre Paraguai que, logo em seguida, levou um passeio da Argentina, comprovando não ter sido ele que evoluiu. Nós é que estamos involuindo, a ponto de encararmos com justificados receios as eliminatórias para o próximo Mundial.

E, como desgraça pouca é bobagem, um titular do escrete do Dunga foi flagrado no antidoping. 

Finalmente, no Pan a notícia a nosso respeito que corre mundo é a do goleiro que andou pondo as mãos e outra parte do corpo onde não deveria.

Como todo o resto tem dado com os burros n'água, a Dilma e outros dirigentes poderiam seguir o conselho do Zeca Pagodinho:

"Ah! Meu filho, do jeito que suncê tá,
só o ôme é que pode ti ajudá.

Você compra a garrafa de marafo,
marafo que eu vou dizê o nome,
meia-noite tu vai na encruzilhada,
destampa a garrafa e chama o ôme.

O galo vai cantá, você escuta,
rêia tudo no chão, que tá na hora.
E se o guarda noturno vem chegando,
você olha pra ele, que ele sai andando...."

domingo, 4 de janeiro de 2015

GEORGE HILTON TEM DE SER DESTITUÍDO!!!

A faixa presidencial compensará todos os sapos que Dilma tem de engolir?
Como considero um desperdício de tempo acompanhar o noticiário policial, não conhecia os antecedentes do pastor George Hilton, o novo ministro dos Esportes. Então, o relato do jornalista Bernardo Mello Franco, na edição dominical da Folha de S. Paulo (vide íntegra aqui), veio bem a calhar:
"No primeiro mandato de Dilma, o ministério se notabilizou por repassar dinheiro público a ONGs ligadas ao PC do B. No segundo, pertencerá ao PRB, sigla controlada pela Igreja Universal. Antes de nomear sua nova equipe, a presidente disse que consultaria o Ministério Público para prevenir escândalos. Bastaria ter usado o Google para evitar a instalação de uma bomba-relógio no governo às vésperas da Rio-2016.
A Polícia Federal já flagrou Hilton em um aeroporto com 11 caixas de dinheiro vivo, somando R$ 600 mil. O episódio provocou sua expulsão do antigo PFL, que não se notabilizava pelo rigor ético com os filiados.
Como estas pessoas avaliariam o novo ministro?
Ao transmitir o cargo, o comunista Aldo Rebelo recebeu o pastor com uma citação bíblica. Entre todos os textos sagrados, escolheu uma parábola sobre a multiplicação das moedas. 'Creio que Vossa Excelência entregará 10 moedas a partir das 5 que está recebendo', disse.
...Para quem já conseguiu ser expulso do PFL e vaiado na posse da nova chefe, o céu é o limite".
O veterano Jânio de Freitas (vide íntegra aqui) completou o quadro, acrescentando um detalhe importantíssimo, o de que não se trata de uma iniciativa isolada, mas sim de uma escalada da Igreja Universal para fazer do esporte brasileiro seu novo feudo
"Se o pastor George Hilton não foi parar no Ministério dos Esportes por habilitação para o cargo, muito menos o foi por acaso ou descuido. Em Minas, o governador Fernando Pimentel entregou a Secretaria de Esportes a um pastor. Geraldo Alckmin nomeou um pastor para sua Secretaria de Esportes.
Os três são pastores da igreja Universal. São partes de uma nova extensão do plano político-religioso comandado pelo bispo Macedo, que reformula e amplia os seus objetivos no Brasil.
Só na aparência o Estado do Rio ficou fora dos domínios da Universal. A Secretaria de Esportes do governo Pezão foi dada a um jovem filho de Sérgio Cabral, o que significa entendimento com a igreja de Macedo".
O novo homem forte do esporte brasileiro. Cruz, credo!
MAIORES CULPADOS PELO MINEIRAZO
O GOVERNO E A REDE GLOBO!

É repulsiva a atitude dos governos que compram o apoio de bancadas fisiológicas distribuindo cargos e/ou propinas. E aberrante a incidência na mesma prática por parte do PT, partido que passou a vida inteira prometendo moralizar a política brasileira.

Então, não me omitirei quando o esporte brasileiro corre o risco de passar por outros vexames terríveis, em função de estar agora sendo entregue à sanha predatória dos mercadores da fé.

Afirmo que os principais culpados pela pior catástrofe do futebol brasileiro em todos os tempos foram o governo federal e a Rede Globo. Com forte possibilidade de repetirmos o papelão nas Olimpíadas de 2016 e nas eliminatórias do Mundial de 2018.

Por que? Simplesmente porque era só o que se poderia esperar de um José Maria Marin à frente da CBF. E, como os clubes brasileiros só não vão à falência graças à magnanimidade da viúva e à grana da TV, muitas maneiras havia para enxotá-lo antes que causasse tantos danos ou, pelo menos, impor-lhe a convocação dos melhores profissionais para a comissão técnica da Seleção Brasileira, ao invés das mais reluzentes relíquias do passado. O que não houve foi vontade política, ou interesse.

O sargentão que nos levou à derrota anunciada de 2014...
Além de medíocre até a medula e flagrantemente anacrônico, Marin tinha contra si um currículo horroroso, de lambe-coturnos dos ditadores: como deputado federal, discursou elogiando o tocaieiro de Marighella, o monstruoso delegado Sérgio Paranhos Fleury, além de haver pedido providências contra a infiltração comunista na TV Cultura (tais providências, como se sabe, redundariam no assassinato de Vladimir Herzog).

O omisso Aldo Rebelo, o estranho no ninho anterior, nem sequer preservou a presidenta Dilma Rousseff da saia justa de aparecer em solenidades e fotos ao lado de tão desmoralizada figura, o notório Zé da Medalha.

O que se poderia esperar de Marin, se não a entrega da Seleção a um técnico que, por não ter acompanhado a evolução tática do futebol mundial, vinha de uma década de retumbantes fracassos? A era dos sargentões ficara para trás, o novo perfil dos treinadores os aproximava mais dos enxadristas, conforme alertei já em dezembro de 2012 (vide aqui):
"Luiz Felipe Scolari, o mais conspícuo representante da velha e rústica escola cujo prazo de validade expirou com a revolução catalã, é unanimidade negativa entre os boleiros dos grandes clubes..."
E, em julho de 2013, quando a conquista da irrelevante Copa das Confederações iludia os torcedores brasileiros e intimidava comentaristas esportivos sem brios para marcharem contra a corrente --preferiram amenizar suas críticas e fazerem média com a galera, confortavelmente instalados em cima do muro--, eu cantei a bola (vide íntegra aqui):
...e o que nos conduzirá à próxima derrota anunciada.
"...Felipão, no Palmeiras, passava vexame após vexame quando enfrentava times treinados por técnicos mais atualizados... Na Copa do Mundo, a falta de um estrategista no banco tende a ser fatal".  
Depois, em outubro de 2013, cometi o erro de, mesmo prevendo a derrota anunciada, acreditar que nosso pobre escrete chegasse pelo menos à final (vide aqui):
"...o futebol atual depende --e muito!-- da inteligência com que o treinador dispõe as suas peças em campo, visando maximizar o aproveitamento da contribuição que os valores individuais tenham a oferecer para o desempenho coletivo. A estratégia hoje ganha jogos e ganha copas. Então, ficarmos entregues a quem é nulo como estrategista (Felipão) e a quem apenas sabe copiar as estratégias alheias (Carlos Alberto Parreira) nos encaminha diretamente para um novo maracanazo...".
O mineirazo da semifinal de 2014 acabaria sendo infinitamente pior que o maracanazo da final de 1950. E agora, com vendilhões comandando o templo e outro técnico jurássico no banco, o Brasil poderá inclusive deixar de ser o único país participante de todos os Mundiais da Fifa. 

Há tempo de sobra para evitar-se o pior, desde que Dilma Rousseff passe a respeitar a paixão dos brasileiros pelo esporte, ao invés de encarar o Ministério respectivo como moeda de troca de segunda categoria no balcão de negócios da Praça dos Três Poderes. 

Delenda est George Hilton!!! (*)

*  Utilizo a exortação célebre de Catão, o Antigo no sentido figurado, claro. Não pretendo que George Hilton seja destruído mas, tão somente, destituído. Ele, Kátia Abreu, Gilberto Kassab e Joaquim Levy acrescentariam muito ao ministério com suas ausências...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

PARREIRA SUGERE QUE OS BRASILEIROS SOMOS TODOS IMBECIS

Se tivesse um mínimo de simancol, estaria cabisbaixo até hoje.
Em 2014, a Seleção Brasileira de futebol amargou a maior goleada de sua história centenária. Em mais de mil partidas oficiais disputadas, jamais sofrera placar tão acachapante quanto os 7x1 que a Alemanha lhe aplicou.

Mais: a pior derrota em todos os tempos aconteceu justamente na semifinal de uma Copa do Mundo disputada nos nossos gramados. E, somada aos 0x3 na disputa do 3º lugar com a Holanda, fechamos nossa participação com um infame acumulado de 1x10 nos dois jogos finais.

Ou seja, nossa campanha foi desastrosa, humilhante, vergonhosa, patética, repulsiva. Únicos pentacampeães mundiais de seleções, ao invés de temor, passamos a despertar compaixão: os alemães, visivelmente, facilitaram a marcação do nosso chamado gol de honra (a expressão não cai bem para tamanha desonra...) no apagar das luzes e até a aplaudiram! A que ponto chegamos.
Este livro nem sebo aceita

Incrivelmente, Carlos Alberto Parreira --que, como coordenador técnico da Seleção, foi um dos principais responsáveis pelo retumbante fiasco-- tem a cara de pau de dizer que está tudo esquecido: 
"Eu achava que em um ano recuperava aquele clima terrível da Copa, daquele jogo da Alemanha e depois da Holanda. Mas bastaram seis meses e seis vitórias em seis jogos, algum deles com a equipe muito bem, e o país já superou".
Superou p... nenhuma!!! Só se aqui fosse um país de imbecis...

Na verdade, nem mesmo a conquista do hexacampeonato, se e quando ocorrer, será suficiente para apagar o papelão de 2014. 

Felipão e Parreira podem perder as esperanças: a última imagem que deixarão vai ser péssima a ponto de eclipsar seus feitos do passado. Brasileiro que sabe das coisas e não se deixa engambelar pelo auê midiático visando tornar de novo rentável o produto futebol, não os perdoará jamais! 

E não vão ser seis vitórias em amistosos caça-níqueis, contra adversários preocupados apenas em fazer testes para o futuro, que nos convencerão de que o escrete, sob o comando de outro técnico tão inadequado quanto o Felipão de 2014, marcha para algo além de novos vexames.

Quem viver, verá. 

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O GOL DE PLACA QUE PELÉ FICOU DEVENDO: NÃO INTERCEDEU POR 8 PRESOS POLÍTICOS.

Pelé critica o goleiro Aranha por não haver ignorado as agressões racistas
Talvez o Romário não estivesse tão certo assim, ao dizer que "o Pelé, calado, é um poeta".

Eu consideraria mais apropriada para o rei do futebol a frase do personagem Cheyenne (Jason Roberds) sobre o Harmonica (Charles Bronson), no clássico Era uma vez no Oeste, de Sergio Leone: "Ele fala quando deveria calar, e cala quando deveria falar".

Pelé deveria calar quando, uma vez na vida, os ridículos tribunais esportivos justificaram a sua existência, ao excluírem de uma competição um time de futebol  em razão do racismo explícito de sua torcida. Ao invés de aplaudir a decisão inédita, preferiu admoestar a vítima, o goleiro santista Aranha, por não ter ignorado as ofensas:
"Se eu fosse parar o jogo a cada vez que me chamassem de macaco ou crioulo, todo jogo teria que parar".
Mal não haveria, na verdade, em parar o jogo sempre que torcedores vilipendiassem covarde e repulsivamente um ser humano, dando um péssimo exemplo à sociedade, "criancinhas do Brasil" inclusas. O mais provável é que, depois de um certo tempo, tais turbas desistissem de prejudicar os clubes que alegam amar, causando-lhes prejuízos financeiros, perda de pontos e perda de mando de jogos. 

Mas, claro, para tomar uma atitude dessas nos anos 50, 60 ou 70, Pelé precisaria ter a estatura moral de um Muhammad Ali. Nunca teve.

Hoje tudo é mais fácil, pois o racismo passou a ser considerado crime e nem mesmo a justiça esportiva (as minúsculas são intencionais...) pode discrepar das leis maiores do País. 

Mas, duvido que Aranha tenha raciocinado tão longe, ao se revoltar com os xingamentos infames. O mais provável é que nem tenha se indagado sobre quais as consequências que lhe adviriam de tal atitude. 

Simplesmente, reagiu como um cidadão ultrajado deve reagir, com dignidade e coragem. Aceitar ser chamado de macaco ou crioulo nunca foi solução, trata-se apenas de uma forma de fugir do problema. 

FOI MESMO POR CAUSA DA DITADURA QUE 
ELE NÃO DISPUTOU O MUNDIAL DE 1974?

Outra ocasião em que Pelé deveria ter optado por permanecer poeticamente calado: quando inventou que não disputara a Copa do Mundo de 1974 por discordar da ditadura militar.

Para quem o conhece bem, a desculpa simplesmente não colou. Deu para todos percebermos que ele, com a visão majestática que tinha de si mesmo, preferiu não correr o risco de sua última participação em Mundiais da Fifa ser um fracasso; melhor sair por cima, com os louros de 1970.

Sua primeira alegação foi a de que já se despedira oficialmente da Seleção Brasileira, com direito a partida comemorativa e muitas homenagens, de forma que voltar atrás equivaleria a ter enganado o público. 

Mesmo com a cabeça quente por causa da derrota na semifinal contra a Holanda (será que, com Pelé presente, o Brasil não teria conseguido construir um placar favorável no 1º tempo, quando a partida foi equilibrada?), os torcedores e cronistas esportivos aceitaram a justificativa.

O caldo, contudo, entornou em 1975: com problemas financeiros, Pelé aceitou uma oferta intere$$ante do New York Cosmos e voltou ao futebol, não dando a mínima para os torcedores que haviam pagado ingresso nas suas partidas de despedida.

Alguns passaram a encará-lo como mercenário. Então, a posteriori, ele saiu pela tangente, dando como motivo secreto de sua decisão a indignação com a ditadura. Eis como ele conta a história atualmente:
"Pediram para eu voltar para seleção, eu não voltei. Eu já tinha me despedido do Santos, mas eu estava bem demais. Mas o [ditador de plantão] Geisel, a filha dele, veio falar comigo, para eu voltar e jogar a Copa de 74. Por um único motivo não aceitei: estava infeliz com a situação da ditadura no país. Estava preocupado com o momento. Em apoio ao país, eu recusei, pois estava muito bem (físico e técnico) e poderia jogar em alto nível".
Mas, por que a ditadura não lhe causara horror no auge do terrorismo de estado (1970) e o incomodava tanto quando as matanças e a tortura brava já tinham diminuído (1974)? Como esta contradição foi percebida por muitos críticos de suas declarações, ele agora tem uma explicação  na ponta da língua, só que ela não explica nada:
"A ditadura estava exigindo demais do povo. Em 1970 era diferente, a seleção era comandada pelo Zagallo, mas o [Carlos Alberto] Parreira e o [Cláudio] Coutinho eram do exército, e a situação era melhor".
Se alguém entendeu, me explique como a situação poderia ser melhor graças à presença de dois capitães do Exército como preparador físico e supervisor, afora o major-brigadeiro que comandou a delegação e o major do Exército que foi seu principal assistente...

GRANDE ESPORTISTA ELE FOI. 
GRANDE HOMEM, JAMAIS SERÁ!

O pior eu deixei para o fim. Trata-se da coluna O dia em que Pelé não ajudou presos políticos e se disse contra o comunismo (leia a íntegra aqui ), do competente Ricardo Perrone. Eis o principal:
"...oito presos políticos trancafiados em Santos assinaram um dramático apelo por sua liberdade escrito em 60 linhas. Foi caprichosamente feito para ser entregue a Edson Arantes do Nascimento. O grupo solicitava que o Rei do Futebol usasse seu prestígio para pedir que Médici concedesse a eles indulto presidencial a fim de que não precisassem cumprir o restante da pena. Eles tinham sido condenados em 1969.
Pelé não atendeu ao pedido, e a carta ainda foi parar nas mãos da polícia da ditadura. Está preservada no Arquivo Público do Estado de São Paulo, que guarda os documentos do Dops e do Deops...
O episódio rendeu uma conversa tête-à-tête entre policiais que serviam à ditadura e Pelé... [o qual], ao dissociar sua imagem dos presos, afirmou ser contra o comunismo e alheio à convulsão política vivida pelo país naquela época.
'Esclareceu ainda o esportista que, durante jogos que realizou no México, Colômbia e Bogotá foi assediado por comunistas para assinar manifestos contra o nosso governo, com o que não concordou por ser contrário ao comunismo', diz trecho do informe, datado de 21 de outubro de 1970..."
Da vez em que o Pelé deveria falar, apelando ao ditador Médici pela libertação daqueles oito pobres coitados (sindicalistas de Cubatão que nem de longe poderiam ser considerados perigosos subversivos...), ele calou, vergonhosamente. E a paúra transparece nas respostas dadas aos agentes da repressão, aparentemente ignorando que seu prestígio mundial o colocava a salvo de quaisquer maus tratos, intimidações e retaliações.

Certa vez, indagado sobre a omissão do Pelé em questões ligadas ao racismo, a lenda viva Muhammad Ali deu uma resposta sutil: alguém ser um grande esportista já é mais do que suficiente; se, além disto, trava as lutas do seu povo, é também um grande homem.

Pele foi somente um um grande esportista.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O TÉCNICO QUE MAIS AVACALHOU NOSSA SELEÇÃO EM TODOS OS TEMPOS AINDA SE ACHA NO DIREITO DE PROCESSAR ALGUÉM!

Luiz Felipe Scolari, o treinador responsável pela vexame supremo e pela pior goleada sofrida pela Seleção Brasileira de futebol em 100 anos de história e mais de mil partidas disputadas, considera-se no direito de processar alguém que o criticou. Vai levar à Justiça o agente de jogadores Wagner Ribeiro, por ter postado a seguinte mensagem no twitter, durante o Mundial 2014 da Fifa:
Seis quesitos para ser técnico da Seleção Brasileira. 1- Ir treinar a seleção de Portugal e não ganhar nada. 2 – Ir para o Chelsea e ser mandado embora. 3 – Ir treinar no Uzbequistão. 4 –Voltar ao Brasil, pegar um time grande e rebaixá-lo para a segunda divisão. 5 – Pedir demissão 56 dias antes do final do campeonato para 'escapar' do rebaixamento. 6 – Ser velho babaca, arrogante, asqueroso, prepotente e ridículo.
Só não me solidarizo inteiramente a ele, subscrevendo todos os quesitos, porque meus princípios me impedem de endossar insultos. Mas afirmo categoricamente que os cinco primeiros são a mais pura expressão da verdade. Desses eu assino embaixo.

E considero que quem reduziu a frangalhos o prestígio de um escrete pentacampeão mundial pode até deter o direito legal de acionar alguém, mas moral, NÃO!

Ele deveria humildemente reconhecer que os brasileiros, todos os brasileiros, tinham motivos de sobra para desabafar, depois de haverem sofrido decepção tão terrível. Se achou muito, deveria lembrar o inferno pelo qual o grande goleiro Barbosa passou em 1950.

Aliás, cá entre nós, a culpa do Barbosa foi muito menor que a do Felipão. O primeiro falhou em apenas um gol uruguaio, enquanto nossos atacantes desperdiçavam um rosário de oportunidades.

Já o Scolari, simplesmente, falhou em tudo: na convocação, na escalação, nas substituições, na estratégia de jogo e na prostração com que assistiu à Alemanha marcar gol após gol, abdicando de comandar quando o comandante mais se fazia necessário.

Naquele instante, merecia que alguém lhe dissesse: "Vada a bordo, cazzo!".

terça-feira, 15 de julho de 2014

'COPA DAS COPAS'? MENOS, BEM MENOS...

COPA DO AUTORITARISMO

"Não serei o primeiro a lembrar que, dentre os vários legados da Copa do Mundo, um dos mais duradouros será certamente a ampliação da zona de suspensão de direitos. O Brasil já era conhecido por seu histórico de violência policial, de desrespeito aos direitos civis e pela proximidade entre bandidos e a polícia. Nesta Copa do Mundo, a despeito da segurança contra manifestações políticas, tal processo chegou muito próximo da perfeição.

...Transformando praça pública em verdadeiras praças de guerra nas quais pessoas ficaram confinadas por horas à força, espancando jornalistas, moradores, advogados e ativistas de maneira indiscriminada (...) e prendendo por 'formação de quadrilha' pessoas cujo maior crime foi manifestarem-se politicamente, as 'forças da ordem' [o colunista alude à PM do Rio de Janeiro] conseguiram impor um padrão de excelência em matéria de indistinção entre democracia e passado ditatorial.

Já em São Paulo, (...) a polícia havia mostrado quão pouco realmente se deixa intimidar por certas 'ideias abstratas', como respeito ao direito popular de contestação e às garantias constitucionais....

...práticas de exceção, quando aparecem devido a situações, digamos, excepcionais (como Copas, Olimpíadas, uma invasão de argentinos, guerras ou catástrofes naturais) não desaparecem mais. Elas vão se tornando uma espécie de jurisprudência muda, que pode existir nas entrelinhas, sem precisarem ser claramente enunciadas para serem efetivamente seguidas." (Vladimir Safatle, em sua coluna desta 3ª feira, 15,  na Folha de S. Paulo, cuja íntegra pode ser acessada aqui)

COPA DAS MARACUTAIAS

"A Copa do Mundo deixa um legado de infraestrutura para o Brasil muito menor do que o prometido quatro anos atrás - e a um custo mais alto. Em 2010, o governo anunciou que o evento atrairia investimentos de R$ 23,5 bilhões em 83 projetos de mobilidade urbana, estádios, aeroportos e portos. Parte das obras ficou no caminho e só 71 projetos foram mantidos na lista.

Segundo levantamento feito pela rede de repórteres do Estado nas 12 cidades-sede, as obras entregues para a Copa e as inacabadas somam R$ 29,2 bilhões - mesmo tendo sido substituídos em várias cidades projetos mais ambiciosos, como trens e monotrilhos, por modestos corredores de ônibus. Ou seja, o País gastou mais para fazer menos e com menor qualidade." (reportagem de O Estado de S. Paulo, de autoria de Lourival Santanna e Marina Gazzoni, cuja íntegra pode ser acessada aqui)

COPA DO AFOGADILHO

"A mídia, porventura, errou ao chamar a atenção para o atraso nas obras, excesso de sedes, previsões orçamentárias desrespeitadas? Da imprensa não se espera outra atitude se não a de advertir para erros, apontar irregularidades e cobrar providências. O cronograma estava visivelmente comprometido, corria-se o risco de começar a Copa com andaimes nos estádios, tapumes nos aeroportos, nó monumental no trânsito, caos nas comunicações.

A imprensa pensava no público, tanto a nacional como a internacional. E graças à salutar verberação, as autoridades se apressaram, abusos foram evitados e providências extremas adotadas. Sem a fieira de feriados nos dias de jogos do Brasil ou nas cidades-sede o país ainda hoje estaria engarrafado. Mesmo nos dias úteis registrou-se um abrandamento geral nos horários e nos compromissos. Durante cinco semanas as viagens de negócio foram praticamente suspensas. Isso tem um custo, sobretudo em situações de depressão econômica como a atual." (artigo de Alberto Dines publicado no Observatório da Imprensa, cuja íntegra pode ser acessada aqui)

TRIBUTO À COERÊNCIA

"Morreu Plínio de Arruda Sampaio. Era um homem inequivocamente de esquerda sem nunca ter sido de fato marxista. Foi um democrata cristão no início de sua vida pública sem jamais ter sido um conservador. Sua personalidade complexa e aparentemente contraditória, que conheci bem, guardava uma notável coerência.

Concordasse eu com suas escolhas ou não –e é certo que, politicamente, estivemos mais próximos no passado do que em dias recentes–, tenho claro que Plínio rompeu barreiras políticas sempre por bons motivos, que nunca atenderam à sua conveniência pessoal. Há homens que admiramos não porque falam o que nós pensamos, mas porque falam o que eles pensam. Plínio se foi de bem com sua consciência, e aí está uma grandeza e uma paz merecidas." (José Serra, em artigo publicado nesta 3ª feira, 15, na Folha de S. Paulo, cuja íntegra pode ser acessada aqui)

Obs. Já que o oficialismo tenta de todas as formas impingir a balela propagandística de que o Mundial 2014 da Fifa (muito mais dela do que nosso...) teria sido a Copa das Copas, é sempre bom alguém mostrar o outro lado da moeda. Sou um dos que cumprem atualmente este papel, seja por meio de textos próprios, seja chamando a atenção dos meus leitores para aspectos importantes que outros abordaram, como faço agora. Com a autoridade de quem não tem o rabo preso com nenhuma candidatura presidencial. Apenas me indigna ver, em 2014, a repetição do mesmo ufanismo belicoso de 1970. Mudaram os slogans, mas a essência continua a mesma: manipulação e intolerância. Antes era "Brasil, ame-o ou deixe-o!", agora é "Vândalos, mofem no cárcere para não melarem a festa!". 

De quebra, destaco o belo necrológio de José Serra, que teve o privilégio de ser amigo do Plínio de Arruda Sampaio, dando, portanto, um depoimento que só quem o conhecia intimamente poderia dar. Não é o meu caso, embora nossos rápidos contatos tenham confirmado minha impressão de que ele era um dos últimos brasileiros cordiais, além de idealista exemplar e valoroso companheiro.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O CANIBAL-PROPAGANDA, A ÉTICA E OS NEGÓCIOS.

Na recém-finda Copa dos Capos (vide aqui), o grande atacante uruguaio Luis Suárez deu uma mordidinha num zagueiro italiano, na esperança de que este reagisse violentamente e fosse expulso. Chiellini pagou na mesma moeda, fazendo o maior escândalo para ver se cavava cartão vermelho para o Suárez. O árbitro, sabiamente, ignorou a palhaçada de ambos.

Leigos preconceituosos, provavelmente por ignorarem que a catimba é inseparável do futebol, fizeram a maior tempestade em copo d'água, dando motivo (ou pretexto) para a Fifa aplicar-lhe punição exageradíssima. 

Aí a Adidas, em nome da moral, dos bons costumes e de um pretendido ganho em termos de imagem (queria pavonear-se com as penas da ética, como diferencial em relação à concorrente Nike, que não coloca o bom-mocismo na vitrine), anunciou o cancelamento do contrato de patrocínio com Suárez.

O passe do uruguaio, contudo, acaba de ser adquirido pelo Barcelona, a principal marca futebolística do planeta. A Adidas percebeu que, tirando o time de campo, deixava o terreno livre para a Nike (que já patrocina o Barça) deitar e rolar, em termos publicitários.

Então, como ainda não havia rescindido formalmente a relação comercial, voltou atrás: acaba de anunciar que manterá Suárez como seu canibal-propaganda

Se fosse mais sincera, utilizaria a mesma justificativa do Jarbas Passarinho ao assinar o AI-5: "Às favas todos os escrúpulos!".

COPA DAS COPAS OU COPA DOS CAPOS?

"...[o Brasil] fez um bom anúncio de si mesmo, mesmo que não possam ser relevados os aspectos não considerados pelos que vieram de fora: elefantes brancos que ficarão como heranças pesadas, superfaturamentos, mortes de trabalhadores nos estádios ou embaixo de viadutos, feriados para minimizar congestionamentos, desocupações desumanas, falta de iluminação no jogo de abertura, invasão de torcedores no Maracanã, prisões arbitrárias para evitar manifestações, shows pífios de abertura e encerramento, enfim, o rebaixamento, como vingança, do tal padrão Fifa, por mais que, de fato, os estádios sejam belos e confortáveis.

Aspectos para nós, brasileiros, digerirmos daqui para a frente em relação aos megaeventos, que, no mínimo, devem passar por consultas populares, porque está claro que são muito bons para os que os promovem e não necessariamente para quem os recebe e paga por eles.

Porque não há maior exemplo de complexo de vira-lata do que se bastar com os elogios externos, mesmo que, muitas vezes, superficiais, quase folclóricos, influenciados pelo exotismo, por exemplo, das favelas." (JUCA KFOURI, comentarista esportivo)

Obs. o título deste post alude às lideranças mafiosas. Vale ressalvar, contudo, que os chefões da Fifa têm com elas algumas afinidades em termos de práticas negociais, mas não a coragem de um Lucky Luciano ou de um Vito Genovese. Seus colarinhos são brancos. E, antes que alguém me corrija, estou ciente de que, no idioma dos meus avôs, o plural de capo (chefe) é capi e não capos. Mas. para viabilizar a piada, usei minha licença humorística...

MUNDIAL 2014/32º DIA: VENCEU QUEM TINHA TODAS AS VANTAGENS, MAS OS HERMANOS LUTARAM COMO LEÕES!

Desta vez não havia meninos em campo: os argentinos deram exemplo de combatividade e superação.
Ganhou por 1x0 na prorrogação, depois de 0x0 no tempo normal, quem tinha todas as vantagens: condições financeiros para manter seus principais craques atuando no país, organização, trabalho de longo prazo, perfeita estruturação tática,  ótimo jogo coletivo, melhor banco de reservas e (o que acabou sendo o fator decisivo) mais fôlego.

A Alemanha só precisara jogar 30 minutos na 3ª feira (contra um Brasil que a partir daí virou geleia), limitando-se a treinar no restante da partida.

A Argentina, que disputou sua 3ª prorrogação, vinha de 120 estafantes minutos e pênaltis contra a Holanda na 4ª feira.
Foi a confirmação da hegemonia futebolística européia 

Ou seja, não havia igualdade de condições porque as conveniências da indústria do entretenimento prevaleceram sobre o fair play (a Fifa poderia ter programado as duas semifinais, se não para o mesmo horário, pelo menos para o mesmo dia).

Pior ainda foi haver perdido seu segundo maior talento, Dí Maria, lesionado. E não ter contado com Agüero na plenitude, pois voltava de contusão (tanto que só entrou aos 20' do 2º tempo). Sem substitutos à altura, não foi a mesma das eliminatórias.

Então, deve ser considerado simplesmente heroico o feito dos argentinos, de atuarem melhor enquanto as pernas aguentaram, praticamente anulando as jogadas fortes dos adversários e impondo o seu jogo. A rigor, os alemães, além do tento decisivo, só tiveram outra grande chance de gol, no finalzinho do 1º tempo, com Höwedes surgindo de surpresa numa cobrança de escanteio para cabecear na trave.

Já os hermanos perderam três excelentes oportunidades, com Higuaín desperdiçando a melhor delas após recuo equivocado para o goleiro, Messi chutando torto e Palácio optando pela tentativa mais complicada, a de encobrir Neuer. Ademais, foram prejudicados pela não marcação de um pênalti claríssimo de Neuer sobre Higuaín (*).
O gol só veio quando o fôlego dos hermanos acabou

A injustiça se consumou quando uma boa jogada pela ponta redundou em centro para Götze, desmarcado, matar no peito e finalizar como quis, aos 23' da prorrogação. Típico gol sofrido por quem se arrasta em campo, como o que eliminou o Paraguai em 1998, quando também fazia partida heroica (contra a França).

De qualquer forma, os argentinos lutaram como leões, provando que os filhos da Merkel não eram super-homens nietzschianos.

Faltou muito pouco para Davi vencer Golias. Se, como disse Paulo André, Brasil x Alemanha dava a sensação de serem meninos jogando contra adultos, desta vez estavam em campo a fibra, estoicismo, dignidade e vergonha na cara.

O mais patético de tudo foi ver os torcedores brasileiros, em sua maioria, conformados em disputarem com os argentinos a supremacia futebolística no subcontinente e se lixando para a confirmação da hegemonia européia em termos mundiais, aparentemente definitiva.
Pena ter entrado um cisco no olho do juiz neste momento...

Agora eles possuem 11 copas e nós, os coitadezas da América do Sul, nove. Os que já tinham praticamente tudo, passaram a deter também o domínio do futebol. É pra rir ou pra chorar?

Já não se deve mais falar em complexo de vira-latas, agora se trata de condição assumida. Fez-me lembrar os colegas de emprego que, ao invés de cerrarem fileira conosco na luta por melhorias salariais e condições dignas de trabalho, preferiam abanar o rabo pro patrão, fascinados pelos poderosos e desdenhosos para com seus iguais.

* A Alemanha foi beneficiada de novo pela conivência das arbitragens com os saltos acrobáticos de seus goleiros de telecatch. Na semifinal da Copa de 1982, o arqueiro Schumacher acertou em cheio a cabeça do francês Battiston, que teve de ser substituído. Se expulso, como merecia, a história da partida talvez mudasse. Idem agora, pois o pênalti ignorado fez imensa falta para os argentinos.

domingo, 13 de julho de 2014

PRISÃO TEMPORÁRIA DE ATIVISTAS NO RJ: A CONSTITUIÇÃO É RASGADA E O DIREITO DE MANIFESTAÇÃO, VIOLENTADO!

A imprensa noticia a prisão de 19 cidadãos brasileiros não em função de contravenções ou crimes cometidos, mas apenas porque, supostamente, estariam pretendendo melar o encerramento do megaevento da Fifa. A aberrante lista inclui até uma advogada que não participa de atos públicos, apenas defende manifestantes.

A Folha de S. Paulo apurou que "a série de prisões temporárias foi uma medida preventiva por causa de protestos marcados para a final da Copa, neste domingo, no Maracanã", conforme se depreende desta declaração do chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Fernando Veloso.
"Temos informações de que essas pessoas planejavam provocar torcedores argentinos para gerar confronto"
Ou seja, como em ditaduras ou nas democracias autoritárias do tempo do Onça, inventaram-se pretextos para encarcerar quem nada havia feito realmente de errado, numa evidente afronta ao artigo 5, inciso XVI, da Constituição Federal, que garante o direito de manifestação:
"Todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente".
Mais: as otoridade afirmam possuir "quadro probatório robusto", mas não o mostram aos advogados e à imprensa, alegando que o caso corre em segredo de Justiça. Por qual motivo? O que tornaria determinante o sigilo em algo tão ínfimo? Grande mesmo é o arbítrio, o abuso de poder, o sequestro de brasileiros por mero receio de que viessem a arrombar a festa dos poderosos.

Antonio Sanzi, pai da ativista conhecida como Sininho, desmonta a farsa:
"O mandado de prisão é temporário e por conta de um inquérito em uma delegacia de crimes de informática. (...) A prisão é absolutamente ilegal, ilegítima e desnecessária. Porque a justificativa da prisão é, em tese, para facilitar as investigações. Ora, ela nunca se recusou a prestar depoimento, portanto as prisões são somente para intimidar os que estão sendo presos.
...Os 19 presos aparecem, colocam armas, máscaras, fazem uma espécie de museu dos horrores e concomitantemente informam a prisão de supostos membros de traficantes de quadrilhas de São Paulo para dar a impressão de que tudo é a mesma coisa.
Interessa à mídia desse país, e não só à Globo, a criminalização de qualquer possibilidade de negação do estado de desigualdade e exceção em que nós vivemos... um estado judicial de exceção. As medidas que estão sendo adotadas em função da Copa são absolutamente criminosas".
Marcelo Chalreo, presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB, faz a mesma avaliação: as prisões temporárias "são um absurdo" e visam apenas à intimidação dos ativistas. 

A Anistia Internacional considerou o episódio "preocupante por parecer repetir um padrão de intimidação que já havia sido identificado pela organização antes do início do Mundial".

A ONG Justiça Global avalia que o propósito único é o de "neutralizar, reprimir e amedrontar aqueles e aquelas que têm feito da presença na rua uma das suas formas de expressão e luta por justiça social".

O Instituto de Defesa dos Direitos Humanos não deixa por menos: qualificou, em nota, a decisão do poder Judiciário do RJ de "antidemocrática e arbitrária", pois "nítida é a intenção política de inibir protestos no último dia do evento".

Teremos recuado quatro décadas, voltando à era Médici? Para adquirirmos o direito de sediar a Copa, assumimos algum compromisso de obedecer ao padrão Fifa de direitos humanos? Foi para isto que tantos companheiros valorosos morreram na resistência à ditadura militar e os sobreviventes dela saímos mais mortos do que vivos?

Estou profundamente decepcionado. Deixo registrado meu mais veemente protesto contra este ignóbil retrocesso.
Related Posts with Thumbnails