sábado, 30 de maio de 2015

"SE O OBJETIVO FOR DESMORALIZAR A ESQUERDA, O PLANO LEVY FAZ SENTIDO"

Nunca prestei maior atenção ao que escreve o senador paranaense Roberto Requião (PMDB), pois dois momentos de sua carreira política o haviam tornado muito antipático para mim: uma fraude eleitoral impune e uma batalha jurídica para receber pensão de marajá. Abordei ambos os assuntos neste artigo.  

Mas, não conheço um personagem sequer da política oficial brasileira cuja conduta tenha sido sempre irrepreensível. Então, ultimamente venho acolhendo neste blogue alguns textos alheios que, a meu ver, tenham pegado no breu, independentemente de seus autores não serem cidadãos acima de qualquer suspeita. 

É o caso do último artigo de Requião, A autofagia da esquerda e o ajuste fiscal (que reproduzo abaixo, excluindo alguns trechos desnecessários), uma das melhores análises até agora escritas sobre a opção neoliberal de Dilma.2. 

Merece ser amplamente conhecido e discutido, neste momento crucial para muitos dos que se autoproclamam progressistas no Brasil: eles estão sendo obrigados a mostrar o que realmente são, se reais defensores dos ideais de esquerda ou meros governistas que dizem amém a qualquer aberração proveniente do Palácio do Planalto, ainda que seja a capitulação incondicional ao programa econômico da direita.

Torço para que o desabafo inspirado de Requião ajude a convencê-los de que estão entrando no caminho sem volta do abandono dos explorados e da cumplicidade com as injustiças sociais.

Nas últimas semanas, conversei diariamente, e por mais de uma vez ao dia, com economistas brasileiros. E deles, indistintamente, colhi previsões funestas, caso o ajuste-Levy seja aprovado também pelo Senado. O ajuste, por ser intrinsecamente recessivo, vai agravar ainda mais uma economia já estagnada.

Os economistas estimam que o ajuste-Levy vai nos empurrar para uma contração de, no mínimo, 2%, em função dos cortes nos gastos públicos e no crédito ao setor privado, sem que se mencionem os aumentos de impostos sobre a produção.

Somadas a isso, teremos as consequências danosas da Operação Lava Jato, que devem provocar uma contração adicional de 3%, já que a economia do petróleo representa de 13% a 17% do PIB brasileiro. Assim, estamos sob o risco de uma contração de 5%, um índice sem precedentes em nossa história. O governo e o congresso estão mesmo dispostos e preparados para aceitar essa responsabilidade? A responsabilidade por um crescimento negativo de 5%? Pela elevação do desemprego a taxas de 15%?

Pelos cortes em saúde e educação que vão diminuir a qualidade desses serviços já sofríveis? Pelo cancelamento de direitos trabalhistas conquistados a duras e ferrenhas lutas?

Ninguém discorda que já estamos mergulhados na crise, em recessão. Esse último Dia das Mães, p. ex., foi o pior Dia das Mães desde 2003. Pois bem, em uma situação econômica de tal gravidade, o único ponto de equilíbrio que nos oferecem é o da contração da produção e do emprego. O ponto de equilíbrio da depressão.

O que nós precisamos é de um Programa de Crescimento, de um Projeto de Brasil Nação, e não de um programa da estabilização da crise. E por que essa obsessão com o tal ajuste? Para, supostamente, impedir que as agências de risco desclassifiquem o Brasil. Precisamos dessa classificação?

Um pequeno arranjo com a China, muito inferior ao que poderia ter sido se fôssemos mais sábios, garantiu-nos US$ 53 bilhões de crédito só numa tacada. Sem pedir licença a agência de risco alguma.

Podemos certamente aceitar a necessidade, como toda economia tem em todos os tempos, de aumentar temporariamente a dívida pública, para depois diminuí-la, quando a economia se recuperar. Aumentar a dívida pública?

Os monetaristas, os discípulos de Friedman, os neoliberais como Joaquim Levy fogem dessa variável como o diabo da cruz. Mesmo que países como os Estados Unidos usem e até abusem do expediente. Melhorar marginalmente um indicador contábil de endividamento, que já é bom, vale o sofrimento de milhões de famílias?

Pior: a recessão e o aumento de juros não vão melhorar esse indicador. A experiência histórica de países como a Grécia, e a mera lógica, nos mostra que recessão e aumento de juros não melhoram a relação dívida sobre PIB.

Agora, se o objetivo desse plano for o de desmoralizar a esquerda, para que nunca mais volte a governar este país, o Plano Levy faz sentido.

Nesses dias, o país debate intensamente a precarização do trabalho, com a aprovação na Câmara do projeto de terceirização. No entanto, está em curso uma precarização muito mais perigosa, letal: a precarização da democracia.

Aprovando este ajuste, tanto o Legislativo quanto o Executivo renunciam sua prerrogativas, transferem ao mercado as suas funções e realizam o ideal neoliberal do Estado mínimo. Transferimos ao mercado a gestão da economia, dos gastos públicos, das relações políticas e econômicas internacionais, da política de infraestrutura, do planejamento. Sobrará a tarefa da segurança pública. E olhe lá.... A nossa já precária democracia tornar-se-á mais débil, vacilante e errática do que é hoje.

Mirem na Europa. Vejam o que o mercado fez com as democracias, não apenas de Portugal, Espanha, Itália e Grécia, mas sim também as da França, Alemanha e Inglaterra. A precarização da democracia, provocada pela supremacia do mercado levará a civilização a sua maior crise de toda a história.

O povo brasileiro e o Congresso devem dizer não ao ajuste-Levy, não à recessão e ao desemprego, não prevalência dos interesses do mercado sobre a ventura de vida dos brasileiros, não à precarização do trabalho, não à precarização da democracia. 

...De minha parte, reafirmo a absoluta incredulidade nos tais ajustes "levianos". Aposto que vai dar errado e não temo (...) ver a minha língua queimada. Eu não entendo. Não me é compreensível que esses ajustes, preparados com ingredientes altamente tóxicos, só porque patrocinados por um governo hipoteticamente de esquerda, possam perder o potencial maligno, peçonhento, destruidor.

Quando, em que circunstâncias, cortes em saúde e educação, arrocho salarial, alta de juros, desemprego, corte de crédito, aumento de impostos, agiotagem, cancelamento de direitos trabalhistas, quando essa fieira de insanidades produziu efeitos positivos para o país e para o seu povo?

Estarreço-me ver companheiros de uma vida toda de militância antiliberal exporem-se na defesa de tudo aquilo que abominamos e combatemos. De outra banda, em um jogo de sinais trocados, de simulação e mascaramento temos a oposição a agitar a bandeira da defesa dos trabalhadores.

Pobres trabalhadores, duplamente desamparados, duplamente abandonados. (Roberto Requião)

sexta-feira, 29 de maio de 2015

DISSE O PENSADOR SAMUEL JOHNSON: "O PATRIOTISMO É O ÚLTIMO REFÚGIO DOS CANALHAS". NEM SEMPRE...

As empresas de dedetização, ao tentarem vender serviços aos moradores de um edifício, alegam que o inseticida espalhado pelo prédio afugentará os insetos para seus apês, caso estes não estejam protegidos. 

Parece que o Brasil recusou a proposta: o Ricardo Teixeira e o Marco Polo Del Nero escafederam-se para cá...

NUMA CBF DE MÃOS LIMPAS NÃO HAVERÁ LUGAR PARA DUNGA

Com Mohamadou Fofana, chefão da gang dos ingressos.
Um lembrete para a CPI do Futebol que enfim está sendo constituída: há dez meses é ignorada a grave denúncia que a ESPN fez na reportagem Documentos provam ação como agente que Dunga nega (acesse a íntegra aqui). 

O historiador e jornalista Lúcio de Castro, comentarista do Bate-Bola - 1ª edição, foi fundo na apuração de uma atividade que o técnico desenvolvia na surdina, tudo fazendo para a ocultar do distinto público:
"Dunga manteve por muitos anos um segredo bem guardado: a intermediação de transações em direitos econômicos de jogador de futebol. Quando foi questionado por esta reportagem sobre sua participação na venda do meia Ederson, em 2004, do RS Futebol Clube para o grupo Image Promotion Company (IPC), foi incisivo na negativa. Através da assessoria de imprensa da CBF, afirmou 'não ter participação alguma na venda dos direitos sobre o vínculo do referido jogador'.
Três documentos públicos, porém, mostram o contrário: uma nota fiscal da 'Dunga Empreendimentos, Promoções e Marketing ltda', com a comissão no valor de R$ 407.384,08; o recibo assinado pelo próprio Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga; e o comprovante bancário de transferência do clube para a empresa do treinador, no valor discriminado na nota. Não é o único conflito de interesse com o cargo de comandante da seleção brasileira nessa história: as ligações com os agentes do IPC vão muito além do que um único negócio"".
Será ótimo para nosso futebol se os três caírem juntos
Está tudo na reportagem, preto no branco, inclusive as evidências de que Dunga mentiu à justiça gaúcha, ao negar que estivesse associado ao grupo IPC.

Nestes parágrafos da citada reportagem se percebe o quanto ele se envolveu com essa gente:
"Por trás do endereço do IPC, em Mônaco, estão mais revelações sobre as teias de relacionamento de Dunga. O investidor, para quem o treinador da seleção intermediou o atleta do RS Futebol Clube, encontra-se no mesmo endereço da World Champions Club (WCC), na Avenue Princesse Alice. A WCC é uma conhecida empresa de agenciamento no futebol. E entre os gestores está Antônio Caliendo, que representou o IPC na compra dos 75% de Ederson, onde Dunga ganhou comissão por intermediação... 
...[No] site da WCC, [Dunga] é uma das estrelas e identificado como 'um dos nossos últimos clientes', ao lado de Ederson e Maicon, convocado por Dunga para a Copa do Mundo de 2010. Não apenas isso: onde consta a relação e fotos dos futebolistas pelos quais respondem pela gestão, Dunga aparece em foto recente e não de quando era jogador. 
O inglês Queens Park Rangers também estrela o site. A WCC assumiu a gestão do QPR em 2004. Mesmo sem [alegadamente] 'ter vínculo com a empresa em questão', Dunga assumiu cargo no conselho de gestão do clube, formado por cinco membros. Por ser agente Fifa, Antonio Caliendo não podia figurar oficialmente entre tais conselheiros, e o técnico da seleção era seu rosto".
Como agora se pretende levar o saneamento da CBF às últimas consequências, não pode ser poupado da faxina o técnico que manteve inaceitáveis relações perigosas com a máfia da bola e talvez tenha convocado jogadores para os valorizar no mercado, além de haver mentido à Justiça e à imprensa quando indagado a este respeito.

Para a entidade voltar a merecer a confiança dos brasileiros --objetivo que se impõe depois de mais um vexame de repercussão mundial--, terá de ser depurada, entre outros, de profissionais cujo histórico na intermediação de atletas coloca sob suspeita as escolhas que fazem no escrete.

O técnico Dunga e o coordenador Gilmar Rinaldi, ambos filhotes de José Maria Marin, são outros fantasmas de um passado sinistro que o futebol brasileiro precisa exorcizar.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

SE GRITAR "PEGA, LADRÃO!", NÃO FICA UM, MEU IRMÃO...

Desta vez ele não quer ver modelos que poderiam ser suas netas. Quer NÃO ver policiais.
O presidente da Casa Bandida do Futebol, Marco Polo Del Nero, deveria permanecer na Suíça nesta 6ª feira (29), para ajudar a escolher o novo godfather da Federação Internacional de Falcatruas e Armações. Ao que tudo indica, Vito Corleone... ou melhor, Joseph Blatter, será reeleito, se o FBI deixar.

Mas, ao perceber que as investigações do FBI estavam chegando perigosamente perto dele, Del Nero abandonou tudo e voltou depressinha para  o Brasil, antes que o levassem para fazer companhia ao Marin.

Talvez tenha escapado da frigideira para cair no fogo: fontes de Brasília antecipam que ele será o principal alvo da CPI da ladroagem futebolística. 

Afora o fato de a Polícia Federal estar ansiosa por mostrar serviço, depois de sua congênere estadunidense ter-lhe atirado na cara que há 20 anos não cumpre com seu dever.

HONRA ENTRE LADRÕES...

...é um dos títulos alternativos que recebeu, no mercado de vídeo, o excelente policial francês Adeus, amigo (que vocês podem assistir na íntegra clicando aqui).

Tem tudo a ver, aliás, pois remete ao momento mais marcante do filme. Dois homens que mal se conhecem são comparsas numa contravenção e, ao separarem-se, um deles (Alain Delon) diz para o outro jamais admitir que tinham agido juntos, caso contrário ambos pegariam penas bem maiores. Pede-lhe que dê sua palavra de honra.

O outro (Charles Bronson) objeta: "Mas, eu não tenho honra".

O primeiro insiste: "Quero sua palavra mesmo assim".

E o juramento acabará sendo integralmente cumprido.

Esta lembrança me ocorreu ao ler que o atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, abandonou às feras seu velho parceiro e amigo José Maria Marin, tentando escapar sozinho do escândalo de corrupção no futebol.

Assim, a CBF não está dando assistência jurídica nenhuma a Marin na Suíça, desbatizou o edifício-sede (que tinha o nome dele) e destituiu-o da vice-presidência que ocupava. Coloca-o no isolamento, como leproso, na esperança de evitar o contágio.

Em vão: segundo vejo no site da Folha de S. PauloEUA indicam que Marin dividiu propina com Del Nero e Teixeira.

ROMÁRIO EXIGE FAXINA COMPLETA: "O SAFADO, LADRÃO E ORDINÁRIO DEL NERO TAMBÉM TEM QUE SER PRESO!"

"Policiais deram uma batida em um ninho de ratos e prenderam vários dirigentes.

Todos acusados de participar de um esquema de corrupção que já dura 20 anos.

Vergonhosamente, entre os detidos está o vice da CBF, José Maria Marin, um dos ratos que venho denunciando há muito tempo. 

Infelizmente não foi a nossa polícia que prendeu. Então, parabéns ao FBI e à polícia suíça. 

O safado, ladrão e ordinário Del Nero [que sucedeu Marin na presidência da CBF] também tem que ser preso!" (Romário de Souza Faria, que, como futebolista, carregou a Seleção Brasileira nas costas no Mundial Fifa de 1994, sendo hoje senador pelo RJ)

Não sei por que, mas desde ontem 
esta música não me sai da cabeça...

quarta-feira, 27 de maio de 2015

RECORDAR É VIVER: "QUEM COM CÃES SE DEITA, COM PULGAS SE LEVANTA".

Face ao mal estar causado pela foto do estranho casal, assessores de Dilma Rousseff estão alegando que não houve efusividade entre ela e José Maria Marin, mas sim uma esperteza do fotógrafo da CBF, que ficou de prontidão à espera de uma oportunidade para clicá-la sorridente. O sinal de positivo seria para alguém que não aparece na foto. OK, o registro está feito. No entanto:
  1. é meio pueril uma presidenta da República dividir camarote com um desafeto e permanecer emburrada, melhor seria não ter ido lá ou estar em companhia menos constrangedora;
  2. quando adolescentes admitem terem sido ingênuos, tudo bem, mas pessoas vividas têm mais é de nunca baixarem a guarda, até porque, conforme reza a sabedoria popular, quem com cães se deita, com pulgas se levanta.
O 'estranho casal' sob vaias na Copa das Confederações
Finalmente, permito-me considerar que não houve empenho real do governo federal em evitar a situação extremamente vexatória de que teremos na tribuna de honra de uma Copa do Mundo disputada no Brasil, como presidente da CBF, um antigo capacho  da ditadura militar:  o patético Zé das Medalhas.

...havia como se chegar a solução melhor [uma articulação para evitar que o dirigente máximo do futebol brasileiro fosse alguém que nos humilhasse tanto, quando os olhares do mundo inteiro estariam voltados para nós], desde que o governo se dispusesse a pagar o preço, pois lidava com indivíduos que colocam SEMPRE os interesses acima das convicções. Mas, preferiu preservar suas moedas de troca para outras barganhas...

(o texto acima foi postado neste blogue 
um ano antes do Mundial 2014 da Fifa)


Não sei por que, mas esta música não me sai da cabeça...

MARIN NO XILINDRÓ: É UMA VERGONHA A JUSTIÇA DOS EUA ESTAR FAZENDO O QUE A NOSSA HÁ MUITO DEVERIA TER FEITO!

"Fazer política é meter a mão no sangue e na m..." (Sartre)
Deu na BBC Brasil (a íntegra está aqui): 
"O vice-presidente da CBF, José Maria Marin, e outros seis dirigentes da Fifa foram presos na manhã desta quarta-feira em um hotel em Zurique, na Suíça, sob acusações de corrupção.
A polícia suíça efetuou as prisões a pedido da Justiça americana, onde corre um processo sobre corrupção na organização.
Marin foi visto deixando o hotel entre os detidos, acompanhado de policiais que carregavam sua mala e seus pertences em uma sacola plástica.
...Eles podem ser extraditados para os Estados Unidos.
...O grupo é acusado de armar um esquema de corrupção com propinas de pelo menos US$ 150 milhões de dólares (mais de R$ 470 milhões), que existe há pelo menos vinte e quatro anos.
Fizeram com ele o que ele fez com o Vladimir Herzog?
Entre as acusações que os suspeitos enfrentam estão lavagem de dinheiro, crime organizado e fraude eletrônica.
'O indiciamento sugere que a corrupção é desenfreada, sistêmica e tem raízes profundas tanto no exterior como aqui nos Estados Unidos', disse a procuradora-geral Loretta Lynch.
'Essa corrupção começou há pelo menos duas gerações de executivos do futebol que, supostamente, abusaram de suas posições de confiança para obter milhões de dólares em subornos e propina'."
Meu sentimento, como brasileiro, é de enorme vergonha, por estar a Justiça estadunidense fazendo o que nossa Justiça deveria ter feito há décadas. 

Mas, não de culpa, porque sempre tratei tal cidadão como medíocre, incompetente, corrupto e cleptomaníaco, elemento nefasto para o esporte brasileiro, tudo tendo feito para que ele não conduzisse a Seleção Brasileira para a derrota anunciada em 2014.
Feitos um para o outro: Marin e Maluf. 

Mesmo assim, considero um exagero a possibilidade levantada pelo Depto. de Justiça dos EUA, de que Marin venha a ser condenado a 20 anos de detenção. Para um octogenário, isto equivaleria à prisão perpétua. Ele fez totalmente por merecer a desonra e o opróbrio, mas morrer na prisão seria demasiado. 

Aproveito para reproduzir dois posts antigos meus que ajudam a montar o dossiê Marin:

DEIXAREMOS UM FILHOTE DA DITADURA 
NOS REPRESENTAR NO MUNDIAL 2014?!

FOLHA CORRIDA DO ATUAL PRESIDENTE DA CBF:
  • COMO DEPUTADO DURANTE A DITADURA MILITAR, EXIGIU QUE FOSSE INVESTIGADA A INFILTRAÇÃO COMUNISTA NA TV CULTURA (PONTO DE PARTIDA DO ASSASSINATO DE VLADIMIR HERZOG) E FOI À TRIBUNA FAZER OS MAIS RASGADOS ELOGIOS AO DELEGADO SÉRGIO FLEURY (O TOCAIEIRO DO MARIGHELLA). LEIA OS DOIS DISCURSOS DO LAMBE-COTURNOS aqui
  • COMO ESPORTISTA, ROUBOU ATÉ MEDALHA DE CAMPEÃO DA COPA SÃO PAULO (vide aqui).
  • COMO CIDADÃO, FEZ "GATO" PARA SURRUPIAR ENERGIA ELÉTRICA DO VIZINHO (vide aqui). 
DEIXAREMOS UM MARIN DESSES REPRESENTAR O FUTEBOL BRASILEIRO NUMA COPA DO MUNDO?!


O PRESIDENTE DA CBF TAMBÉM SURRUPIOU OBRAS DE ARTE?

É o que o Juca Kfouri insinua (vide aqui). Dizendo não conhecer o apartamento de José Maria Marin, o jornalista afirma haver escutado "dos que já tiveram a honra de lá estar que seus quadros são dignos de decorar as paredes de palácios".

E, com fina ironia, arremata:
"Como, por exemplo, o dos Bandeirantes".
Ou seja, Kfouri sugere que Marin também teria levado souvenirs  de sua passagem pela sede do Executivo paulista, entre maio/1982 e março/1983, quando substituiu o licenciado governador biônico Paulo Maluf, do qual era vice. 

Se non è vero, è ben trovato. Afinal, continua vivo na nossa memória aquele patético episódio de 2012, quando, disfarçadamente, Marin embolsou a medalha que deveria entregar a um jogador do Corinthians, durante a cerimônia de premiação dos campeões da Copa São Paulo de Futebol Júnior. 

Não foi, contudo, tão sorrateiro a ponto de passar despercebido para um atento câmera da TV Bandeirantes, que flagrou o furto. 


Daquela vez, a cleptomania marinesca acabou sendo exibida em rede nacional de TV. 

E agora, estaria escancarada nas paredes do seu luxuoso apê --aquele cujo elevado consumo de energia elétrica foi, segundo outra denúncia de Kfouri, pago durante muito tempo pelo vizinho, pois o distraído Marin teria esquecido de desmembrar as contas, ao alugar-lhe o apartamento ao lado.

Não sei por que, mas esta música não me sai da cabeça...

terça-feira, 26 de maio de 2015

A OPÇÃO PREFERENCIAL DE DILMA & LEVY É PELOS RICAÇOS

Está na edição de hoje (3ª feira, 26) da Folha de S. Paulo:

"Se fosse aplicado um Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF) aos 200 mil contribuintes mais ricos do país, como tem defendido a bancada do PT no Congresso, o governo poderia arrecadar até R$ 6 bilhões por ano, segundo estudo feito no Senado a pedido da senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

O valor é semelhante à economia que o governo pretende obter, por exemplo, com a revisão das normas para a concessão do seguro-desemprego, uma das principais medidas do pacote fiscal.

Segundo a Folha apurou, o IGF, previsto na Constituição de 1988 mas nunca instituído, estava entre as medidas preparadas pela equipe do ex-ministro Guido Mantega (Fazenda) para depois das eleições de 2014. Levy, no entanto, é contra o IGF, por considerá-lo ineficiente.

Diante da forte repercussão negativa da revisão dos direitos trabalhistas e previdenciários, os congressistas do PT passaram a exigir da Fazenda um projeto para taxar o 'andar de cima'.

...De acordo com o trabalho da consultoria do Senado, o tributo tem eficácia controversa. Na Europa ocidental, só Bélgica, Portugal e Reino Unido nunca o adotaram. O Reino Unido, contudo, assim como os EUA, tem uma carga de até 40% sobre heranças.

Na América do Sul, Uruguai, Argentina e Colômbia também contam com o IGF.

...Para chegar ao valor de até R$ 6 bilhões, os consultores do Senado se basearam em declarações de IR das pessoas físicas de 2013 e num relatório do banco Credit Suisse sobre a riqueza mundial.

Segundo o Credit Suisse, o 0,2% mais rico da população brasileira, cerca de 221 mil contribuintes, detinham em 2013 mais de US$ 1 milhão, o que corresponderia hoje a pouco mais de R$ 3 milhões.

Se fosse aplicada sobre essa base mínima uma alíquota de 1,5%, chegaria-se a algo próximo a R$ 10 bilhões.

Os técnicos do Senado ressaltaram, porém, que fatores como transferência de recursos para outros países e imóveis declarados abaixo do mercado poderiam diminuir drasticamente esse número.

A pedido da Folha, dois economistas avaliaram os cálculos do Senado e concluíram que o valor de R$ 6 bilhões é factível, apesar da precariedade dos dados disponíveis no Brasil..."

Ou seja, fica comprovado pela enésima vez que as grandes decisões econômicas são tomadas em base política. Ministros neoliberais como o Joaquim Levy preferem tosquiar os 52 milhões de trabalhadores do mercado formal e os 33 milhões de aposentados e pensionistas do que arrancar um tiquinho de grana dos 221 mil privilegiados que a têm em demasia. 

Isto diz tudo sobre a política econômica de Dilma.2: a opção preferencial pelos abastados, mandando às urtigas os 85 milhões de brasileiros que não possuem US$ 1 milhão declarados.

E que, carentes de advogados hábeis e outras facilidades propiciadas pela boa fortuna, são incapazes de manter longe das garras do Fisco cerca de 40% de seus bens, como os ricaços conseguem com um pé nas costas. 

Já pensaram se, além de impor-lhes uma alíquota de 1,5%, a Receita aplicasse pesadas multas a quem há muito tempo sonega muita grana declarando imóveis abaixo do valor de mercado? Aí, seguramente, se chegaria a um valor maior ainda do que o governo obterá garfando os pobres e os remediados

E a presidenta Dilma não precisaria estar desonrando suas solenes promessas de campanha. Lembram daquela frase lapidar dela, "lei de férias, 13º, fundo de garantia, hora-extra, isso não mudo nem que a vaca tussa"? Pois é, a coitada da ruminante está se arrebentando de tossir...

Salta aos olhos que a presidenta Dilma prefere agradar aos 0,2% de apaniguados que controlam a grande imprensa e a maioria dos políticos, pois sabe que deles, em última análise, depende sua permanência ou não no Palácio do Planalto até o final do mandato.

E Levy continua defendendo os interesses que sempre defendeu --em posições subalternas, ressalte-se, seja no Fundo Monetário Internacional, seja no Bradesco. 

Está longe de ser um Milton Friedman (o principal conselheiro econômico do ex-presidente estadunidense Ronald Reagan), tem mais o perfil de subcarimbador interino da equipe do Friedman. O rótulo de 'Chicago boy' lhe cai às mil maravilhas...

sábado, 23 de maio de 2015

A PRAÇA É DO POVO, COMO O CÉU É DO CONDOR. OS PALÁCIOS SÃO DA ELITE, COMO O ESGOTO É DOS RATOS.

Uma entrevista da deputada estadual Manuela D'Avila (PCdoB-RS), à qual o site Brasil247 deu destaque pra lá de exagerado, exemplifica bem o mundo de fantasias em que vivem muitos militantes de esquerda.

Disse ela que "a proposta de emenda de [Eduardo] Cunha que permite o financiamento privado [das campanhas eleitorais] vai na contramão do que o povo quer, porque vai aprofundar o sistema político falho que temos hoje e não aperfeiçoar a democracia".

Se a Manuela saísse às ruas e ouvisse a voz real do povo, saberia que o financiamento das campanhas é a última das preocupações do homem comum. Agora que, por obra e graça de Dilma Rousseff e do seu superministro neoliberal, ficou tão difícil financiar o pão nosso de cada dia, quem vai se preocupar com os mecanismos das eleições?!

Ainda mais sendo eleições abastardadas como as nossas, nas quais candidatos se elegem com determinados posicionamentos políticos e, depois de empossados, jogam-nos no lixo e fazem exatamente o oposto, adotando as políticas que juravam repudiar e diziam serem intenções sinistras dos adversários...

Por isto tudo, é bem capaz de o povo estar chegando à conclusão de que pouco importa quais políticos eleja, pois mudanças de verdade só conquistará nas ruas. Torço para que a ficha lhe caia o quanto antes. A praça é do povo, como o céu é do condor. Os palácios são da elite, como o esgoto é dos ratos.

Este segundo mandato de Dilma está sendo a pá de cal na ilusão de que o mandato presidencial nos pudesse servir de alguma coisa. Não serve de absolutamente nada se não for utilizado para confrontar o poder econômico, o que nunca foi propósito do PT e da base aliada.

Ou se vai à luta como o Allende, com a coragem do Allende, ou se capitula como a Dilma, com a pusilanimidade da Dilma, que considera mais importante conservar-se no governo do que conservar seus ideais. 

Não há meio termo entre estas duas posturas e a opção coerente e digna, infelizmente, é descartada pela grande maioria dos esquerdistas que atuam na política oficial. São pouquíssimos os que encaram mandatos como trincheiras da revolução. Os que se contentam em gerenciar o capitalismo para os capitalistas, fingindo mandar enquanto só obedecem, são quase todos.

Já deveríamos ter aprendido a lição com Jango. Alunos relapsos, a estamos recebendo de novo.

Com a agravante de que a tragédia se repete como farsa: para obterem o que queriam, desta vez os verdadeiramente poderosos nem sequer precisaram recorrer ao golpismo. A ameaça velada bastou. 

sexta-feira, 22 de maio de 2015

A ADEG INFORMA: SUBSTITUIÇÃO NO PT. SAI MARX, ENTRA FRIEDMAN.


DILMA GARANTE QUE IRÁ DE MÃOS DADAS COM O LEVY ATÉ O FUNDO DO POÇO

"Dentro de todos os partidos você vê pessoas pensando diferente. Eu não tenho a mesma posição do senador Lindberg Farias em relação ao Joaquim Levy. 

O Levy é da minha confiança, fica no governo." (presidenta Dilma Rouseff, reafirmando sua opção pelo neoliberalismo)

quarta-feira, 20 de maio de 2015

ESQUERDISTAS QUE NÃO VENDERAM SUAS ALMAS DIZEM "NÃO!" AO ARROCHO FISCAL DE DILMA & LEVY

Políticos, intelectuais, lideranças de movimentos sociais e ex-ministros dos governos petistas estão entre os signatários de um contundente manifesto de repúdio ao arrocho fiscal que o ministro da Fazenda Joaquim Levy está implementando, dentro da mais rígida ortodoxia neoliberal e contando com a anuência (melhor seria dizer cumplicidade) da presidenta Dilma Rousseff. 

Alguns desses esquerdistas que não venderam suas almas são Gilberto Maringoni, João Pedro Stedile, Ladislau Dowbor, Tarso Genro e Valter Pomar, além da CUT, do MST, do MTST, do Levante Popular da Juventude e da Mídia Ninja.
Alinhado com a iniciativa, o blogue destaca os trechos principais do manifesto:
O governo diz para a sociedade que a MP 665 ataca uma distorção no gasto das políticas de proteção ao trabalhador formal e que a MP 664 corrige abusos e fraudes. No entanto, admite publicamente, especialmente quando se dirige ao mercado financeiro, que essas medidas fazem parte de um ajuste fiscal.

Dados do Dieese estimam que, com a proposta original do governo na MP 665, mais de 4,8 milhões de trabalhadores não poderiam acessar o seguro-desemprego (38,5% do total de demitidos sem justa causa em 2013) e 9,94 milhões de trabalhadores perderiam o abono salarial. Com as alterações nas MPs na Câmara dos Deputados, que diminuíram o impacto fiscal, o governo anuncia que aumentará o corte no orçamento dos ministérios e elevará impostos.

O quadro de desequilíbrio fiscal das contas do governo não é responsabilidade dos mais pobres, trabalhadores, aposentados e pensionistas. As causas desse desequilíbrio foram a desoneração fiscal de mais 100 bilhões concedida pelo governo às grandes empresas, as elevadas taxas de juros Selic, que transferem recursos para o sistema financeiro, e a queda da arrecadação devido ao baixo crescimento no ano passado.

Não é justo, agora, colocar essa conta para ser paga pelos mais pobres que precisam de políticas públicas, trabalhadores, aposentados e pensionistas. Enquanto o andar de baixo perde direitos, não está em curso nenhuma medida do governo para tornar o nosso sistema tributário mais progressivo. Dados do especialista em finanças Amir Khair apontam que a taxação sobre as grandes fortunas pode render até R$ 100 bilhões por ano. Onde está a parcela de contribuição dos bancos e dos mais ricos?

Para agravar a situação do país, associado ao arrocho fiscal, vem um aperto monetário, que enfraquece a economia e anula o seu próprio esforço fiscal. O governo já aumentou em 2% da taxa de juros Selic neste ano, beneficiando apenas os especuladores do mercado financeiro. A cada aumento de 0,5% da taxa Selic durante o ano, o gasto público cresce de R$ 7,5 bi a R$ 12 bi. No ano passado, os gastos públicos com juros foram superiores a R$ 300 bilhões.

Enquanto os recursos públicos pagos pelos impostos descem pelo ralo do mercado financeiro, o governo vai cortar direitos dos trabalhadores para economizar R$ 10 bi com essas MPs. Além disso, ameaça vetar a mudança do fator previdenciário, que beneficia os aposentados e é defendida pelas centrais sindicais, como se as contas públicas fossem quebrar…

Mudar o rumo da política econômica é colocar o crescimento como um aspecto central, porque os números sinalizam uma desaceleração muito forte da economia. Os investimentos do governo federal estão parando. O desemprego cresce mês após mês. A renda do trabalhador também está em trajetória de queda. A arrecadação do governo federal está caindo.

Só com o crescimento econômico poderemos recuperar o equilíbrio das contas públicas. O resultado fiscal é sempre o reflexo da saúde de uma economia. Uma economia estagnada gera um orçamento desequilibrado...

...É hora de radicalizar o projeto de desenvolvimento, com o fortalecimento da produção, investimentos na indústria nacional e na agricultura, desenvolvimento de pesquisa, ciência e tecnologia e dinamização do mercado interno. Enquanto o país se submeter aos interesses do capital financeiro e estiver dependente da dinâmica imposta pelos países avançados, especialmente em relação a ciência e tecnologia, nossa economia estará fragilizada.

O salto que precisamos dar na economia implica uma nova estratégia política para enfrentar a avalanche regressiva, que avança tanto na área do trabalho, com o projeto de terceirização, como na esfera dos valores da sociedade, dando espaço a uma onda conservadora que prega a redução da maioridade penal, a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, a aprovação do Estatuto da Família, a PEC 215 e a eliminação da rotulagem dos alimentos transgênicos. No campo político, avança a legalização do financiamento empresarial de campanhas eleitorais, dentro de uma contrarreforma política que agravará os problemas no nosso regime democrático.

A fragilidade do governo no Congresso Nacional demonstra que é necessário, mais do que nunca, construir uma nova governabilidade, com as forças progressistas, como as centrais sindicais, movimentos populares, organizações de juventude, cultura e mídia alternativa, para enfrentar a ofensiva neoliberal, que avança ao lado de uma onda conservadora.

O ajuste fiscal, nos termos em que está sendo proposto, coloca o governo contra as forças progressistas, enfraquecendo a capacidade de um salto político. É necessário reagir e colocar em andamento uma nova agenda política, ombro a ombro com as forças democráticas e populares, os movimentos sociais organizados e os partidos políticos – comprometidos com o desenvolvimento inclusivo do país, a soberania nacional e a retomada do crescimento, com a garantia do emprego...

...quem quer dizer SIM ao desenvolvimento com justiça social tem que dizer NÃO ao arrocho fiscal, nos termos propostos pelo governo.

O BRASIL EM COMPASSO DE ESPERA

Antes que alguém  me indagasse se desistira do blogue, aqui vim, mesmo não tendo algo de novo para dizer.

O noticiário é que me inspira --ou não. Assim, em fases de estagnação como a atual, sinto-me qual  peixe fora d'água.

Que importância, tem, p. ex., a confirmação de mais um ministro do STF suspeito de inadequação para o posto? Conseguirá Fachin ser pior do que o fanático religioso Cezar Peluso, o tendenciosíssimo Gilmar Mendes e o tudo-que-há-de-ruim-concentrado-numa-pessoa-só Dias Toffoli? Duvido.

Dilma Rousseff, tendo vendido a alma ao capital para se manter presidenta, colhe os frutos da barganha: percebe-se claramente que de nossas viciadas e viciosas instituições não partirá a iniciativa de desalojá-la do Palácio do Planalto, já que a capitulação aos realmente poderosos teve menor custo e garante os mesmos benefícios. Vai continuar envergando a faixa presidencial --melhor seria uma coroa igual à da rainha da Inglaterra-- enquanto Joaquim Levy governa a economia, em benefício dos exploradores e arrancando o couro dos explorados.

Assim, mudança só haverá se as ruas determinarem. E isto vai depender do agravamento da recessão que ora amargamos. Em agosto, na volta das férias escolares, saberemos se o povo brasileiro vai se conformar com o ajuste fiscal iníquo ou, desta vez, não pagará a conta de um banquete do qual viu apenas as migalhas. 

Se há alguma esperança nos expoentes de esquerda que trafegam pelas vias da política oficial, está em Lula, Tarso Genro, Guilherme Boulos e que tais. Quanto aos que agora passaram a rezar pela cartilha do Milton Friedman, temo que estejam perdidos para sempre. Atravessaram o Rubicão.

A opção pelo neoliberalismo não destrói a esquerda somente no presente, vai deixá-la sem credibilidade por muitos e muitos anos. O impeachment seria melhor. 

Qualquer coisa, menos uma nova ditadura, seria melhor, do ponto de vista de quem quer acumular forças para a revolução, não apenas conciliar pelo máximo de tempo possível os, no longo prazo, inconciliáveis interesses de capital e trabalho.

Quanto mais vejo o Brasil de hoje, mais me convenço de que tudo o que havia para se dizer sobre este gigante eternamente apequenado, o Glauber Rocha já disse em Terra em Transe (clique p/ ver o filme completo). 

Até quando continuaremos negando fogo nos momentos decisivos? Até quando deixaremos que nos soquem pacotes recessivos goela adentro?

Quisera estar confiante de que, desta vez, no pasarán. Não estou. 

Sei apenas que no próximo semestre o povo brasileiro decidirá se vai manter-se abúlico como abúlico quase sempre foi, ou se finalmente tomará o destino em suas mãos.

sábado, 16 de maio de 2015

GOL DE LETRA DO RAÍ!!!

"No Brasil sempre estive mais à esquerda. Obviamente estamos vendo que a própria esquerda está traindo seus ideais, e ninguém é a favor. Vejo com tristeza. 

Minha esperança é que de todo esse caos político surjam soluções para um sistema em que você não precise abrir mãos dos seus ideais ou se corromper para continuar no poder." (Raí, que foi grande futebolista e é um grande cidadão, em entrevista concedida quando comemora seu 50º aniversário)

sexta-feira, 15 de maio de 2015

PASMEM: REINALDO AZEVEDO CHAMOU LULA DE "VELHO REACIONÁRIO"!

O velho revolucionário que vos escreve considera extremamente grosseiro o tratamento dado por Reinaldo Azevedo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao referir-se a ele, em seu artigo semanal para a Folha de S. Paulo, como "velho reacionário". A inversão de valores me fez lembrar os golpistas de 1964 tentando colar naquela quartelada infame o rótulo de "revolução"...

Ao mesmo tempo em que rasgava seda para FHC, afirmando que ele "fala a um país nascente", "com discrição e sem pretensões de exercer alguma forma de liderança", a versão genérica do corvo Carlos Lacerda pintou Lula como um "chefão petista [que] vaga por aí como alma penada, sem se dar conta de que a sua militância já é coisa do passado"

Quem acompanha meu trabalho sabe muito bem que não me alinho automaticamente com as posições do Lula. Mas, quando RA o ataca por conclamar as bases do PT e a CUT a reagirem ao festival de neoliberalismo que assola o Palácio do Planalto, a coerência me coloca (como sempre, aliás) em posição diametralmente oposta à dele: para mim, ao rechaçar firmemente a capitulação total do Partido dos Trabalhadores à ortodoxia econômica do patronato, Lula vive o seu melhor momento desde que deixou o poder. 

E, ao tentar salvar da mais completa descaracterização a agremiação que ele (e não a ex-pedetista Dilma Rousseff) criou, Lula está também evitando que o cidadão comum passe a encarar a esquerda como farinha do mesmo saco do amoralismo, oportunismo e fisiologismo que sempre caracterizaram a política brasileira. 

RA está hor-ro-ri-za-do com o ressurgimento do Lula combativo de outrora:
"Agora ele anuncia uma cruzada para mobilizar as esquerdas e os movimentos sociais em defesa do PT. A agitação sindical que promove, e não alguma suposta conspiração de Eduardo Cunha, derrotou o governo na votação sobre o fator previdenciário".
Mas, o PT tem mesmo de ser defendido do desespero da presidenta Dilma, que tenta escapar do impeachment tornando-o desnecessário, ao fazer tudo que a direita faria se chegasse ao poder, e ainda mais. 

A derrota do governo na votação sobre o fator previdenciário foi, isto sim, uma luz no fim do túnel, abrindo a perspectiva de que as medidas anti-sociais do pacote recessivo não sejam, no frigir dos ovos, aprovadas. 

Pois, se aprovadas, farão a atual recessão evoluir para depressão, infligindo sofrimentos inimagináveis aos explorados. Não estamos na Europa, aqui os coitadezas morrem de fome!

E poderão deflagrar uma tempestade que leve de roldão nosso precário e imperfeito estado de Direito --que está longe de ser o ideal, mas será sempre preferível ao arbítrio e à tirania.

B. B. KING (1925-2015): SEUS BLUES VIVERÃO PARA SEMPRE.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

"FALCÃO FISCAL TREINADO NA UNIVERSIDADE DE CHICAGO" É O SUPERMINISTRO DA DILMA

Os Chicago boys do Pinochet...
O segundo governo de Dilma Rousseff está sendo um pesadelo para a esquerda. Perdemos a supremacia nas ruas, a credibilidade, a superioridade moral, o respeito do povo. Perdemos tudo. Teremos de recomeçar do zero.

Qualquer cidadão com um pingo de discernimento político estará chegando à conclusão de que partidos de esquerda jogam suas mais sagradas bandeiras no lixo e assumem o ideário do inimigo como tábua de salvação, quando ameaçados de perderem o poder. 

Se depois de 1964 nos imolamos para provar aos brasileiros que (ao contrário daqueles que haviam se deixado enxotar do governo com um piparote) éramos capazes de sangrar por nossos ideais, o que precisaremos fazer nos próximos anos para provar aos brasileiros que (ao contrário da corrente do PT que apoia o Dilma.2) não fazemos ajustes recessivos à custa dos explorados?
...e o da Dilma (ou será o contrário?).

Do Chile deveríamos copiar a coerência e a coragem de Salvador Allende, não as diretrizes dos Chicago boys

A referência é aos aproximadamente 25 jovens economistas chilenos, a maioria pós-graduados da Universidade de Chicago, que formularam a política econômica do carrasco Augusto Pinochet, recebendo elogios entusiásticos de Milton Friedman, o pai do neoliberalismo. 

Friedman chegou a falar em milagre do Chile. Mas, se era para recorrer a um milagreiro dessa laia, por que Dilma foi buscar um de segunda categoria? O Delfim Netto, que joga na divisão principal e prestou o mesmíssimo serviço aos ditadores brasileiros, não teria sido uma escolha melhor? Certamente, mas era preciso salvar as aparências... 

Quando igualo Joaquim Levy aos serviçais chilenos de Pinochet, não estou exagerando. Leiam alguns trechos do interessante artigo desta 5ª feira, 14, de Fernando Canzian (detentor de dois prêmios Esso de jornalismo) e me digam se Levy, cria da mesmíssima universidade estadunidense e do FMI, não pertence à mesmíssima corrente:
"A série de ajustes conduzida neste momento por Joaquim Levy é pura prescrição do FMI, instituição na qual o ministro da Fazenda trabalhou por sete anos.
Ele é o 007 do FMI, com licença para matar-nos... 
 Na terça (12), o Fundo fez elogios às ações de Levy. No mesmo dia, o [jornal] britânico Financial Times o chamou de 'falcão fiscal treinado na Universidade de Chicago'.
O receituário do FMI é sempre previsível e clássico, destinado a países que chegam ao fundo do poço, como o Brasil sob Dilma.
Corte de despesas e aumento de receitas quando há crises fiscais, mais a implosão de programas insustentáveis do ponto de vista atuarial. Os cortes no seguro desemprego e pensões por mortes são parte dessas medidas.
De saída, o FMI também impõe a seus endividados forte elevação dos juros para conter a inflação e tentar amenizar os efeitos de outro instrumento do receituário: um 'tarifaço' a fim de corrigir preços defasados e equilibrar o caixa de empresas fornecedoras de energia, combustíveis etc. para que possam perpetuar investimentos.
...O objetivo é aproximar ao máximo o país da economia de mercado.
 ...Se olharmos para todos os países que precisaram de dinheiro do Fundo para se manter à tona, veremos que a base do receituário é sempre a mesma... 
O Brasil segue mais uma vez o mesmo caminho..."
Não há absolutamente nada em comum entre homens de esquerda e os falcões fiscais treinados na Universidade de Chicago, com estágio no FMI, para ministrarem os remédios amargos da ortodoxia capitalista. Quando são companheiros de viagem, é porque alguém está traindo suas convicções. 

Temo que não seja o Levy. 

quarta-feira, 13 de maio de 2015

COMANDANTE CARLOS LAMARCA (1937-1971): VENCER OU MORRER!

Já lá se vão 43 anos e oito meses desde que o comandante Carlos Lamarca, debilitado e indefeso, foi covardemente executado pela repressão ditatorial no sertão baiano, em setembro de 1971, numa típica  vendetta  de gangstêres.

O que há, ainda, para se dizer sobre Lamarca, o personagem brasileiro mais próximo de Che Guevara, por história de vida e pela forma como encontrou a morte?

Foi, acima de tudo, um homem que não se conformou com as injustiças do seu tempo e considerou ter o dever pessoal de lutar contra elas, arriscando tudo e pagando um preço altíssimo pela opção que fez.

Teve enormes acertos e também cometeu graves erros, praticamente inevitáveis numa luta travada com tamanha desigualdade de forças e em circunstâncias tão dramáticas.

Mas, nunca impôs a ninguém sacrifícios que ele mesmo não fizesse. Chegava a ser comovente seu zelo com os companheiros --via-se como responsável pelo destino de cada um dos quadros da Organização e, quando ocorria uma baixa, deixava transparecer pesar comparável ao de quem acaba de perder um ente querido.

Dos seus melhores momentos, dois me sensibilizaram particularmente.

Logo depois do Congresso de Mongaguá (abril/1969), quando a VPR saía de uma temporada de luta interna e de  quedas  em cascata, o caixa estava a zero e a rede de militantes, clandestinos em sua maioria, carecia desesperadamente de dinheiro para manter as respectivas  fachadas.

Qualquer anomalia, mesmo um atraso no pagamento de aluguel, poderia atrair atenções indesejáveis.

Mas, o chamado  grupo tático  fora o setor mais duramente golpeado pelas investidas repressivas.

Então, quando se planejou a expropriação simultânea de dois bancos vizinhos, na zona Leste paulistana, o pessoal experiente que sobrara não bastava para levá-la a cabo.

Eu e os sete companheiros secundaristas que acabáramos de ingressar na Organização fomos todos escalados --na enésima hora, entretanto, chegou a decisão do Comando,  designando-me para criar e coordenar um setor de Inteligência, então fiquei de fora.

Lamarca, procuradíssimo pelos órgãos repressivos, fez questão de estar lá para proteger os recrutas no seu batismo de fogo. Os outros quatro comandantes tudo fizeram para demovê-lo, em nome da sua importância para a revolução. Em vão. A lealdade para com a  tropa  nele falava mais alto.

Depois de muita discussão, chegou-se a uma solução de compromisso: ele não entraria nas agências, mas ficaria observando à distância, pronto para intervir caso houvesse necessidade.

Houve: um guarda de trânsito, alertado por transeunte, postou-se na porta de um dos bancos, arma na mão, pronto para atingir o primeiro que saísse.

Lamarca, que tomava café num bar a 40 metros de distância, só teve tempo de apanhar seu .38 cano longo de competição, mirar e desferir um tiro dificílimo --tão prodigioso que, no mesmo dia, a ditadura já percebeu quem fora o autor. Só um atirador de elite seria capaz de acertar.

Como resultado, a repressão teve pretexto para fazer de Lamarca o  inimigo público nº 1 -- e, claro, o fez. A imagem dele foi difundida à exaustão, obrigando-o a redobrar cuidados e até a submeter-se a uma cirurgia plástica.

Também teve de brigar muito com os demais dirigentes e militantes, para salvar a vida do embaixador suíço Giovanni Butcher, quando a ditadura se recusou a libertar alguns dos prisioneiros pedidos em troca dele e ainda anunciou que o Eduardo Leite (Bacuri) morrera ao tentar fugir.

Dá para qualquer um imaginar a indignação resultante --afinal, as dantescas circunstâncias reais da morte do  Bacuri (vide aqui) ficaram conhecidas na Organização.

Mesmo assim Lamarca não arredou pé, usando até o limite sua autoridade para evitar que a VPR desse aos inimigos o monumental trunfo que as Brigadas Vermelhas mais tarde dariam, ao executarem Aldo Moro. Sua posição prevaleceu, mas o episódio foi tão traumático que acabou tendo grande peso na sua decisão de deixar a VPR.

E, no MR-8, novamente divergiu da maioria dos companheiros --quanto à sua salvação.

Pressionaram-no muito para que saísse do Brasil, preservando-se para etapas posteriores da luta, pois em 1971 nada mais havia a se fazer. Aquilo virara um matadouro.

Conhecendo-o como conheci, tenho a certeza absoluta de que não perseverou por acreditar numa reviravolta milagrosa. Em termos militares, suas análises eram as mais realistas e acuradas. Nunca iludia a si próprio.

O motivo certamente foi a incapacidade de conciliar a ideia de  fuga  com todos os horrores já ocorridos, a morte e os terríveis sofrimentos infligidos a tantos seres humanos idealistas e valorosos. Fez questão de compartilhar até o fim o destino dos companheiros, honrando a promessa, tantas vezes repetida, de vencer ou morrer.

Doeu --e como!-- vermos os militares exibindo seu cadáver como troféu, da forma mais selvagem e repulsiva.

Mas, ele havia conquistado plenamente o direito de desconsiderar fatores políticos e decidir apenas como homem se preferia viver ou morrer.

Merece, como poucos, nosso respeito e admiração.

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