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quarta-feira, 3 de setembro de 2025

NOTÍCIAS DE NOSSO AMIGO CELSO LUNGARETTI, QUE ANDA UM POUCO SUMIDO.


 Nosso amigo Celso Lungaretti, fundador e editor do Náufrago anda ausente dos trabalhos devido a um problema de saúde. Devido a uma arritmia cardíaca, ele está desde a semana passada internado em um hospital de São Paulo recebendo o tratamento necessário. 

Não é necessária preocupação, pois ele se encontra bem e já está se recuperando satisfatoriamente, sendo que eu mantenho contato frequente com ele. 

Caso alguém queira visitá-lo, ele está no Hospital do Coração localizado na rua desembargador Eliseu Guilherme, 123, no Paraíso. (por David Coelho)

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

HÁ 2 FILMES BASEADOS EM HISTÓRIAS REAIS QUE TÊM PONTOS EM COMUM COM "AINDA ESTOU AQUI". VEJA-OS E COMPARE.

J
á que as novas gerações começam a interessar-se pelo festival de horrores das ditaduras sul-americanas nos anos de chumbo, é um bom momento para indicar-lhes dois filmes que, em muitos aspectos, vão além de Ainda estou aqui na exposição dos crimes hediondos cometidos pela extrema-direita de então (que continua inspirando a de hoje!).

Desaparecido: um grande mistério (1982), p. ex., mostra centenas de cadáveres espalhados em grandes ambientes, saldo da bestial repressão desencadeada pelos golpistas de Augusto Pinochet assim que derrubaram o presidente chileno Salvador Allende, em 1973. 

Além disto, escancara o envolvimento da CIA naquela quartelada, algo que ocorreu também no Brasil mas não consta de Ainda estou aqui, sabe-se lá o porquê. A cúpula estadunidense estava ciente de todas as execuções e sumiços de restos mortais perpetrados pelos militares brasileiros, o que vem sendo comprovado desde que começaram a ser abertos, do lado de lá, os arquivos secretos daquele período (e ainda faltam muitos...)

Os fascistas chilenos foram responsáveis por mais de 3 mil mortes e desaparecimentos políticos, pela tortura de milhares de prisioneiros e pelo exílio de pelo menos 200 mil pessoas.

O filmaço do diretor grego Costa Gravas mostra um cientista cristão estadunidense (Jack Lemmon) desembarcando no Chile em busca do filho jornalista que sumira durante os primeiros dias do golpe. Ele chega convicto de que as pesadas denúncias contra o regime seriam exageros da propaganda esquerdista. 

Contará, na sua empreitada, com a ajuda da nora (Sissy Spacek), a quem até então desprezava por ser uma moça de costumes modernos. E terá portas abertas para suas investigações pessoais porque uma notícia desfavorável que circulasse no poderoso movimento religioso ao qual pertence poderia causar enorme dano aos carrascos chilenos e a seus cúmplices estadunidenses, daí preferirem apaziguá-lo.

Aos poucos vai dolorosamente se inteirando de que a verdade era muito pior do que imaginava. A ponto de, tão logo volta para os EUA, processar seu governo por cumplicidade na morte do filho. Disponível no streaming da Globo Play.
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"SÓ QUERIA EMBALAR MEU FILHO
 QUE MORA NA ESCURIDÃO DO MAR"
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Já o episódio evocado por
Zuzu Angel (filme de 2006, dirigido por Sérgio Rezende) ocorreu nos anos Médici, o pior momento da ditadura brasileira. 

Em 1971, o filho da conhecida estilista Zuzu Angel, o militante do MR-8 Stuart Angel,  já muito debilitado por torturas, foi amarrado à traseira de um jipe da Aeronáutica e arrastado com a boca colada ao cano de descarga do veículo. Em seguida, atiraram o corpo no mar.

Zuzu denunciou incansavelmente o assassinato e a ocultação do cadáver de Stuart. Chegou a invadir uma auditoria militar e lá gritar corajosamente a sua revolta de mãe. Foi vítima fatal de um acidente automobilístico pra lá de suspeito, em 1976.

Chico Buarque, amigo a quem ela escrevera carta levantando a possibilidade de ser igualmente assassinada pelos militares, homenageou-a com a canção “Angélica”, lançada em 1981, quando o Brasil começava a desmontar a engrenagem repressiva de exceção.

Tanto quanto Desaparecido..., também Zuzu Angel bate mais pesado do que Ainda estou aqui nos vilãos que produziram essas páginas infames da nossa história. 

Como contemporâneo e vítima dessa sanha repressiva, dou meu testemunho de que o David Coelho (vide aqui) tem toda razão ao avaliar o filme do Walter Salles como bonzinho demais com verdadeiras bestas-feras. (por Celso Lungaretti)
 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2025

O LULA.3 MORREU. RESTA SABER SE VAI LOGO ESFACELAR-SE OU AGUENTARÁ 2 ANOS COMO MORTO-VIVO

Foi uma caçapa cantada no ano eleitoral de 2022, tanto por mim quanto pelo companheiro David Coelho: mesmo que Lula vencesse a eleição presidencial surfando na imensa rejeição à barbárie bolsonarista, não se estabilizaria no poder. 

Ou seja, passada a tradicional lua de mel com qualquer novo governo, começaria a decair de forma irremediável, inclusive sofrendo derrotas acachapantes nas eleições de 2024 e 2026

Ao mover céus e terras (além de fazer jogo sujo) para evitar que algum candidato da esquerda combativa se afirmasse como o adversário principal do Bozo, o PT não só garantiu para si um, ao que tudo indica, último mandato presidencial, como também pavimentou o caminho para a direita voltar ao poder em 2026, com grande chance de nele manter-se ao longo da próxima década.  Tratou-se da chamada mágica besta.

O PT decidindo mudanças no PIX
O fato é que a promiscuidade reformista do PT com a direita convencional é uma fórmula que se esgotou definitivamente na década retrasada, à medida que o agravamento das contradições capitalistas impedia que a burguesia continuasse se apropriando de exageradíssima parte dos frutos do trabalho do nosso povo e ainda sobrassem algumas migalhas para distribuir à brava gente brasileira... 

Incapazes de perceber tal obviedade, os petistas foram abandonando cada vez mais as lutas contra o capitalismo nas escolas, nas ruas, campos, construções e se tornando um partido que disputa eleições num semestre e depois passa os três semestres seguintes hibernando, enquanto os inimigos e  os mercadores da fé vão acumulando forças na sociedade.

O pior de tudo é que, enfraquecido no Congresso Nacional, o PT foi sendo obrigado, cada vez mais, a fazer concessões aos fisiológicos para garantir a governabilidade. Emparedado pelas bancadas do me dá uma verbinha aí, passa a ser visto pelo povo como parte da podridão dos Poderes, enquanto a extrema-direita finge ser alternativa a tudo que está aí

O único jeito de o PT desarmar a armadilha que armou para si mesmo seria reassumir-se como força anticapitalista e desfazer a aliança tácita mas tóxica com o Centrão e similares. 

Pois tem pela frente uma temporada inevitável de derrotas, mas, ao menos, lançaria sementes para o futuro se fosse derrotado pelos motivos certos e não por ter-se descaracterizado e deixado domesticar pelo inimigo. 

(por Celso Lungaretti)

segunda-feira, 1 de julho de 2024

A MÚSICA DO DIA É PARA O COMPANHEIRO DAVID, QUE SOFREU DURA DERROTA PARA O PASSADO MAS TEM O FUTURO A SEU LADO

"
Lula derrotou a greve [da Educação Federal], mas junto condenou seu próprio governo ao fiasco. Depois de suas ações, nunca mais poderá dizer que defende a educação ou os trabalhadores. 

Ao pisar na garganta de um setor historicamente aliado, enquanto valorizou os bolsonaristas, o presidente mostrou seu desprezo pelos aliados e seu delírio de onipotência. 

A conta já chegará nas eleições de outubro deste ano." (David Coelho,  editor deste blog e um dos líderes da greve, neste post)
 

quinta-feira, 30 de maio de 2024

REFLEXÕES NUM DIA VAZIO DE CORPUS TRISTI

Aos 73 anos, não mudo uma palavra no velho aforismo italiano La vecchiaia è na brutta bestia (a velhice é uma fera medonha). 

Isto mesmo reconhecendo que a minha poderia ser muito pior do que está sendo. Problema potencialmente mais grave, só tive um tumor, descoberto logo no início e que, no momento considerado ideal pela oncologista, foi zerado por sessões de radiologia.

Mas, incomodam-me muito as pequenas limitações que vão surgindo, como estar levando umas quatro horas para redigir e editar um artigo que finalizava em três, ou os joelhos que se ressentem das longas caminhadas que sempre gostei de dar e agora estão pedindo próteses. 

Conviveria melhor com minhas limitações se me conformasse com elas, mas tendo a excedê-las amiúde. Aos 17 anos decidi tornar-me um homem de ação e não de contemplação; tal opção moldou meu temperamento na vida adulta. 

Doença nenhuma me impedia de comparecer às manifestações #ForaBolsonaro, mesmo conscientes de que só conseguiria nelas permanecer por cerca de uma hora. E não ia por superestimar a minha importância, mas sim porque me sentiria acabado se nem mesmo desse as caras.

São tantos os médicos me alertando que por enquanto o senhor não tem nada, mas daqui a alguns anos terá de operar catarata, glaucoma... ou raio que os parta, que fico me sentindo como um condenado à espera de uma inevitável sentença vindoura.  

Sem nenhuma ilusão quanto ao fato de que minha existência não vai melhorar, mas sim piorar, com o passar dos anos, ainda assim tentarei prolongá-la o suficiente:
— para ajudar minhas duas filhas a estabilizarem-se na vida (suponho que uns dez anos mais bastarão); e,
— se calhar, ainda desempenhar o papel para o qual venho me preparando desde 1967, qual seja o de ajudar na ressurreição de uma esquerda realmente combativa, em substituição da que resolveu na década de 1980 tornar-se mera coadjuvante do capitalismo e não sua coveira.

Para tanto, vou até obrigar-me a levar a sério os cuidados preventivos dos quais fugi a vida inteira. Já estou morrendo de saudade da feijoada fumegante e gordurosa aos sábados e das horas que passava bebericando e jogando conversa fora com amigos, sem dar a mínima para a ressaca do dia seguinte.
E, como fiz na vida quase tudo que me propus a fazer (mesmo ciente de que as consequências poderiam ser muito duras, como algumas foram), aceito tranquilamente que as pessoas queridas tenham o mesmo ou até mais êxito do que eu na busca dos seus objetivos. Torço por elas e adoro acompanhar suas novas descobertas, realizações, processos de afirmação.

Só de ver minha filha mais velha apaixonada de verdade pela primeira vez, fico extasiado, lembrando de quando passei por idêntica situação e dediquei à minha musa uma poesia que um pau no computador depois destruiu, mas terminava assim: "Faço versos como preces,/ apostando no triunfo da beleza e do amor". 

Mesmo não sendo devoto de nenhuma religião, a prece até que foi atendida, minha primogênita está aí para provar.

Assim como me emociona observar o David Coelho trilhando o caminho que sempre soube que trilharia, desde que, em 2018, me entusiasmei com seus textos nas discussões virtuais e o convidei para colaborar com este blog.

Se a esquerda brasileira estiver destinada a renascer das cinzas, como fez depois da derrota sem luta de 1964, aposto todas as minhas fichas em que ele será uma das novas caras que emergirão no processo. 

Ao participar do comando da greve da Educação Federal, inclusive indo a Brasília para as tratativas, o David me fez lembrar tanto a batalha que lá travei por minha anistia, quanto as idas para acompanhar as várias sessões de julgamento do escritor Cesare Battisti no período 2008/2011.
 
Embora não me agradasse nem um pouco o jeitão da capital federal, que me parecia uma distopia futurista (Mundos fechados, de Robert Silverberg, 1936), acaba sendo gratificante lembrarmos de vitórias arrancadas com enorme sacrifício.

E me tocou também o David ter-me contado que está enfrentando uma sintomática aliança de pais conservadores/reacionários bolsonaristas com lulistas, contingentes amiúde flagrados em perfeita comunhão contra a esquerda combativa. O que faz todo sentido, pois, embora posem de inimigos ideológicos, têm nos interesses mesquinhos seu ponto de convergência, caçadores de rachadinhas e boquinhas que são.

É outra situação do meu passado evocada, a de quando liderei com três colegas uma inusitada paralisação do então Colégio Estadual MMDC, em junho de 1968. Foi numa sexta-feira à noite e teve fortes emoções:
— todos os alunos no pátio, atendendo à nossa convocação;
— alguém (nunca soubemos quem) sabotando a luz e deixando a escola às escuras; 
— a chegada de policiais do Dops numa viatura do Juizado de Menores, como camuflagem;
— o professor de química Mário Hato discursando em nosso favor, trepado numa cadeira, quando um investigador chegou chutando a dita cuja para longe e atirando-o ao chão;   
— o professor dedo-duro  de português acompanhado por dois agentes, procurando-nos por todo o pátio, munidos de faroletes, sem perceberem que, ao avistarmos os fachos de luz, distanciávamo-nos calmamente por entre as rodinhas formadas;
— a abertura dos portões que eles haviam trancado e a saída em massa de nós todos, que demos de cara com um colega preso porque havia sido surpreendido esvaziando os pneus da viatura fake;
— a covardia de um agente que, apavorado com os gritos de Solta!Solta!, se pôs a dar tiros para o alto, provocando o estouro da boiada (um colega tropeçou no momento de um disparo e ficamos acreditando que tinha sido baleado); e
— a ida imediata de nós quatro, os líderes, à redação da Folha da Tarde, para relatarmos tudo que ocorrera, daí resultando uma pequena notícia publicada no dia seguinte com o ótimo título de Dops invade escola atirando
Na segunda-feira, os estudantes do noturno não ousavam entrar no MMDC por temerem prisões. Eu e o Eremias Delizoicov fomos negociar e eles só ingressaram no prédio depois de voltarmos para informá-los do compromisso assumido pela diretora no sentido de não haver prisões nem retaliações. 

Participamos em seguida de uma reunião extraordinária da Associação de Pais e Mestres. Como a companheira Maria das Graças estava acamada com hepatite, coube-nos defender a paralisação. 

Pais barrigudos e furibundos ensaiavam até agredir-nos, mas outros os seguravam. O Eremias os ironizava o tempo todo e eu fazia a defesa política, o que também os tirava do sério porque não conseguiam prevalecer contra um jovem de 17 anos na batalha dos argumentos.

Triste pensar que em outubro de 1969 o Eremias, um ano mais novo do que eu, morreria baleado 35 vezes por uma equipe da PE da Vila Militar (RJ). Estudáramos juntos, embora nem sempre na mesma classe, desde o primário. 

Preso, conheci os quatro que o haviam executado quando poderiam facilmente tê-lo subjugado vivo; além de tudo incompetentes, agiram com tamanha bestialidade por confundirem-no com um ex-sargento que também integrava a Vanguarda Popular Revolucionária e era bem mais velho. 

Tomara que a trajetória do David seja menos sofrida. Mas, quando tantos se omitem das lutas absolutamente necessárias, os que as assumem estão sempre sujeitos a carregaren uma carga mais pesada. É por isto que Brecht os chamava de imprescindíveis. (por Celso Lungaretti)
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