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sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

CARRO ELÉTRICO CHINÊS DÁ UM CHOQUE DE ALTA VOLTAGEM NA CONCORRÊNCIA

dalton rosado
A GUERRA CHINESA É MERCANTIL
"
Não importa em que grau a China se abre para o mundo exterior e admite capital estrangeiro, pois sua magnitude relativa será pequena e não pode afetar nosso sistema de propriedade pública socialista dos meios de produção" (Deng Xiaoping, que  foi o líder supremo da República Popular da China de 1978 a 1992 e morreu em 1997, aos 92 anos)
O capitalismo está a se desintegrar.

E não é pela força das armas operárias dirigidas por um partido político, mas sim pela própria autofagia das suas contradições, que estão a impulsionar a espécie humana no sentido da busca de uma relação social viável e fora da forma-valor. 

É claro que o capitalismo não vai cair de podre, pois, se for necessário, ele conduzirá toda a humanidade para o abismo sem fazer a autocrítica da própria forma. Mas, aí a luta darwiniana da preservação da espécie colocará as condições revolucionárias objetivas que, aliadas a uma práxis teórica e crítica corretas, vai poder  conduzir a humanidade à transformação necessária e ao novo patamar de sua existência!   

As teses que defendemos têm encontrado convergência com a realidade; e com bastante celeridade, ainda que os fatos históricos careçam de mais tempo do que o ciclo de vida de um ser humano para a sua completa configuração.  

Os conflitos bélicos continuam a acontecer, há dois em curso (Ucrânia e faixa de Gaza) e a ameaça de um terceiro na Guiana. Mas, existem outros componentes proporcionados pela guerra concorrencial de mercado que merecem atenção e que talvez nem derivem para confrontos bélicos, ainda que tal possibilidade esteja sempre na ordem do dia, de vez que é da natureza do capitalismo o domínio pela força, quando tal  não é possível pela troca de valores das mercadorias (compra e venda destas).  
A China deslancha na produção de carros elétricos

A China está solapando o capitalismo pelos seus próprios fundamentos, em razão do chamado
crescimento rabo de cavalo, para baixo!  A ela não interessa a ocupação política e anexação de territórios pela força das armas, mas pela ocupação econômica. 

Não que a China queira intencionalmente o fim do capitalismo selvagem que pratica, mas, ao contrário, foi o mecanismo pelo qual optou com a chegada de Deng Xiaoping ao poder político em 1978, e como leito natural de sua teoria de adaptação econômica à realidade chinesa de transição de um capitalismo de estado agrícola para um capitalismo liberal industrial de mercado, caminho que poderia e deveria ter sido trilhado de modo deferente, negando o próprio capital.  

A China buscou conquistar o mercado a partir da produção e venda de mercadorias com produção barata (trabalho abstrato de baixo custo e incentivos fiscais) e qualidade inicialmente inferior, mas que foi aprimorando-se com o passar do tempo. 

Tal mecanismo realmente deslocou grande parte da sua população do campo (onde vivia rudimentarmente) para as cidades, num processo de industrialização acelerado. Com isto criou um expressivo segmento de aristocracia operária e de serviços (a que se costuma chamar de classe média burguesa) e foi conquistando os mercados mundiais e se tornando compradora mundial de commodities manufaturadas e revendidas com valor agregado.  

Entretanto, o crescimento chinês se baseou num processo de endividamento que a tornou refém da necessidade de altas e permanentes taxas de crescimento (que se evidenciaram como impossíveis de ocorrer), obrigando-a a uma fuga desesperada para a frente.
Surgem postos de recarga para carros elétricos 

Ou seja, provocou a dessubstancialização da massa global de valor e, com isto, a paralisia da capacidade de reprodução aumentada da dita cuja, sem a qual toda a engrenagem capitalista emperra e escancara a sua inconsistência lógica e disfunção social.  

A chamada nova rota da seda chinesa, tentativa de uma pretensa salvação da sua economia, consiste num programa de expansão da produção de mercadorias no hemisfério sul, com a exploração das riquezas minerais dos empobrecidos países da região (Ásia, África, América Central e do Sul) e concessão de créditos a juros ainda mais altos do que os praticados pelo FMI. 

Trata-se de uma tentativa de formação de um novo bloco capitalista hegemônico, pretensamente capaz de evitar o colapso anunciado.  

A China, dita comunista, quer se salvar a partir de antigos pressupostos capitalistas, contra os quais fez a revolução maoísta em 1948; um paradoxo que somente confirma a força ditatorial da lógica funcional do capital quando não extirpada pela raiz.  

A INVASÃO DO CARRO ELÉTRICO CHINÊS – Esta é a nova arma que a China está apresentando ao mundo capitalista
  
As antigas empresas automobilistas ocidentais que se instalaram na China, fabricavam carros à combustão fóssil, buscando competitividade na guerra concorrencial de mercado a partir dos baixos salários ali praticados e dos incentivos fiscais a elas concedidas; lucraram bilhões,  mas agora veem a carruagem virar abóbora.  
Em maio de 2021 a Byd fabricava seu milionésimo carro
elétrico; em novembro último, chegou à casa de 6 milhões.

As empresas chinesas adquiriram tecnologia e já fabricam veículos elétricos que representam o futuro, não apenas por conta do correto apelo ecológico da não emissão do poluidor gás carbônico na atmosfera, mas, principalmente, pelo baixo custo de produção. 

Este último decorre de fatores conjugados como os salários inferiores, subsídios ficais e baixo custo das baterias, que representavam anteriormente cerca de 50% do custo total de um veículo).   

A aquisição chinesa de minas de lítio, cobalto e manganês tem permitido o baixo custo da produção das baterias elétricas, em cuja fabricação a Byd tem muita expertise, pois seu início empresarial se deu justamente na fabricação desse produto fundamental para a fabricação dos carros elétricos.  

Para se ter uma ideia da dessubstancialização do valor dos veículos e seu consequente preço no mercado automobilístico, basta dizer que a Byd, maior indústria chinesa de veículos, está deixando a Tesla estadunidense e a BMW alemã no chinelo. 

Um veículo de modelo mais simples chega a ser vendido por até U$ 10 mil, sem que os seus concorrentes consigam acompanhar tal redução dos custos de produção. 

Dessa forma, a exportação de carros elétricos chineses ganhou o mundo, provocando um frisson não apenas na cadeia de produção dos países da União Europeia e Estados Unidos, mas em toda a indústria mundial voltada para a exploração, exportação e distribuição de gasolina e óleo diesel no atacado e no varejo.   
 Os carros elétricos da Byd despertaram muito interesse no recente Salão de Munique 
Até fabricas de marcas tradicionais europeias são vendidas aos chineses. que assim valorizam seus veículos, agregando-lhes (com a maioria dos consumidores ignorando esta nova realidade) os nomes tradicionais e sua reconhecida credibilidade. 

Mas, o descontentamento que grassa nas regiões que outrora foram exportadoras de veículos e agora se tornaram importadoras dos mesmos, com o consequente desemprego de sua mão-de-obra, tem provocado inconformismo com os subsídios que o Estado chinês concede às suas empresas. Já se articulam medidas protecionistas, porque o livre mercado somente vai até onde a vida comercial assim o permite.  

Nada mais keynesiano do que um liberal clássico no governo quando as regras do capital determinam a proteção estatal das suas economias em queda.  

A China, ao crescer solapando a massa global de valor e causando o desemprego estrutural, provoca uma disfunção social tão gigantesca que termina por atingir o seu próprio crescimento, acarretando-lhe paralisia estrutural.

E, o que é pior: não sem antes provocar um tsunami no sistema de crédito bancário, que roda em falso com créditos estatais insolváveis (e sua insolvência será o começo do fim!). 

Como disse Marx, o capital cava a sua própria sepultura. (por Dalton Rosado) 

sábado, 15 de abril de 2023

CONSEGUIRÁ O PARTIDO "COMUNISTA" CHINÊS DOMAR O CAPITAL?

 


Sempre fico a me perguntar se Mao Tse Tung, que tinha Josef Stalin como exemplo de pragmatismo pretensamente comunista a ser seguido, diria ao constatar que sua revolução armada contra os nacionalistas de Chiang Kai-Shek, ao invés de superar as categorias capitalistas, iria aprofundá-las no capitalismo mais selvagem do planeta Terra e com isto solapar o próprio capitalismo sob o qual o país dos Mandarins e de Deng Xiaoping se desenvolveu desde 1976. 

A nova rota da seda chinesa, ou belt and road iniciative, na tradução em inglês, é uma tentativa do capitalismo chinês de sobreviver tentando alcançar uma hegemonia capitalista mundial para fazer face ao esperado e presente emperramento do crescimento do seu Produto Interno Bruto, causado pelo inevitável limite interno da expansão da forma valor, e com isto poder tornar solvável a sua proibitiva dívida pública e privada que ascende a quase 300% deste indicador econômico sobre o qual incidem juros de 2,75% a 3,00% ao ano em dólar dos Estados Unidos. 

Para pagar os juros de sua dívida colossal, calculada em 51,8 trilhões de dólares, que corresponde a cerca de US$ 1,5 trilhões, ou R$ 7,5 trilhões, ou seja, valor correspondente a pouco mais do PIB anual do Brasil, há que haver lucros empresariais capazes de aguentar a remuneração ao capital internacional globalizado.  

Mao Tsé-Tung

A economia chinesa - como de resto a economia no resto do mundo - que parece portentosa em termos econômico, na verdade é um grande Titanic indo ao encontro do iceberg capaz de furar o seu casco e fazê-la naufragar irremediavelmente. 

A China procura expandir os seus negócios capitalistas nas regiões a partir da Rússia, na Ásia Maior e Menor e na América latina - como agora com o Uruguai, Argentina e Brasil - como forma de criar laços capitalistas tão volumosos que possam causar uma relação de recíproca dependência capitalista mundial ao sistema financeiro internacional capaz de inverter a cara exigência de remuneração cobrada por este mesmo capital bancário globalizado à própria China - enquanto o Japão rola sua dívida com juros negativos, à China são cobrados juros extorsivos. 

Paradoxalmente, porque o capitalismo não sobreviverá ao avanço tecnológico aplicado à produção de mercadorias, a China vem desenvolvendo avanços técnicos nas áreas da comunicação eletrônica e robótica que ao mesmo tempo em que lhe oferece grandes oportunidades de negócios, cria a substituição acelerada e substancial do trabalho abstrato, único produtor de valor e base de sustentação da economia capitalista. 

Como dizia Karl Marx, o capitalismo cava a sua própria sepultura, e os chineses, na sua tentativa desesperada de sobrevivência dentro da lógica capitalista, ao invés de tentar superá-la, estão cada vez mais dentro do Titanic, e continuam a tocar a música antes do naufrágio, tal como fizeram os músicos naquela tragédia marítima do início de século 20.  

A velha China agrícola deu lugar a um país industrializado e urbano, com os ganhos e prejuízos inerentes ao processo de desenvolvimento do capital e de sua lógica autotélica. De um modo geral, a milenar miséria chinesa da época dos Mandarins deu lugar a uma nova configuração de classes sociais próprias ao capitalismo no qual se formam ilhas de riqueza rodeadas de pobreza.  

A renda per capita chinesa é hoje equivalente à renda per capital brasileira, situada em torno de US$ 12,500,00, com alguns milhares de bilionários empresariais em contrate com a vida de operários que trabalham num regime de produção de valor próprio à rígida disciplina e obediência cultural chinesa à hierarquia administrativa, com baixos salários que propiciam a competitividade dos seus produtos na guerra concorrencial da economia de mercado internacional.  

Para entrar no mercado mundial, a China desenvolveu o aprendizado do saber tecnológico destrinchando as estruturas de hardwares e softwares para somente depois, pelo uso reiterado da imitação, chegar a uma produção tecnológica mais esmerada a partir de sua própria criatividade. Ou seja, praticou a chamada engenharia reversa, se apropriando da produção tecnológica de países mais adiantados, como os EUA e as nações da Europa. 

O envio de chineses para universidades do exterior - Deng Xiaoping é fruto do início desse processo de apreensão do saber fora da China, já que estudou em Moscou em 1926, antes da revolução chinesa a qual se integrou - foi e ainda é parte deste processo cognitivo industrial que tem proporcionado o desenvolvimento em diversos campos do saber, como nas seguintes áreas: 

- da tecnologia da informação cibernética e de satélites - adaptadas à terceira revolução industrial microeletrônica, inclusive com a criação do LIFI, um novo tipo de comunicação superior ao WIFI; 

- da biotecnologia, com a indústria farmacêutica - a vacina contra a civid19 é bom exemplo desta última faceta industrial chinesa; 

- da produção de energias limpas - eólica e fotovoltaica - e mecânica - os carros elétricos chineses. 

Deng Xiaoping
Este processo de engenharia reversa já ficou para trás, dando lugar ao avanço da criatividade industrial chinesa no campo da telecomunicação, que em muitos casos supera aquela conhecida no mundo capitalista ocidental.  

A China investiu em pesquisa tecnológica cerca de US$ 344 bilhões e, para se ter uma ideia do que isto representa, basta considerarmos que a União Europeia e seus 28 países investiu cifra inferior à chinesa, segundo dados de 2014 da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômicos).

Mas a China, em que pese os seus esforços ecológicos, ainda é um dos maiores emissores de CO2 na atmosfera, fato que se reflete na poluição atmosférica em várias das suas cidades industriais. Seu padrão salarial baixo em termos per capitas não permite à população média a aquisição da casa própria face aos juros altos, o que tem causado graves problemas no setor imobiliário, como ocorreu com a quebra da gigante Evergrande, segunda maior empresa imobiliária do país, e dos imensos conjuntos habitacionais desocupados e construídos com dívida imobiliária, e que estão à espera de compradores habilitados ao pagamento da aquisição que não aparecem.  

A China se expande economicamente com suas exportações não apenas nos setores antes referidos, mas também na construção de infraestrutura como estradas, usinas elétricas e grandes obras da construção civil, como se pode inferior dos seus investimentos em obras na África, seja a partir de empresas chinesas diretamente ou por empresas locais financiadas pelos chineses.  

Este é um espaço de exploração capitalista que vinha sendo modestamente perseguido pelos governos Lula e Dilma e que foram sobrestados pelos escândalos da Lava-jato envolvendo empresas e agentes públicos daqui e de lá.  

A guerra monetária capitalista está em curso, pois quem detém hegemonia de moeda fiduciária na economia capitalista dita as regras do jogo. Como sabermos, desde a cúpula internacional de Bretton Woods, em New Hampshire, realizada em 1944, com a segunda guerra mundial já definida em favor dos aliados e com os Estados Unidos com sua infraestrutura industrial incólume, o dólar estadunidense foi considerado como moeda internacional.  

 Até 1971 as moedas eram lastreadas em ouro, mas naquele ano passaram a se lastrear apenas no dólar estadunidense. Entretanto, como as moedas hoje são fiduciárias, a emissão desvinculada do valor que deveria representar é a causa de termos hoje uma grande e proibitiva soma de circulação de moeda sem valor mundo afora, que não causam inflação aos seus emissores, mas provocam uma anomalia de reservas cambiais sem substância de valor que mais cedo ou mais tarde provocará um colapso internacional financeiro na hora da verdade. 

Xi Jinping 

A dívida mundial crescente dos governos já atinge cerca de US$ 300 trilhões, conforme dados do IIF – Institute of International Finance -, e representa cerca de 225% do PIB mundial, tornando-se impagável se considerarmos os níveis de capacidade de geração de lucros dos países devedores.   

Tal fenômeno representa um impasse econômico sem precedentes e acarretará, num futuro próximo, um colapso monetário quando, tanto as reservas cambiais acumuladas pelos países, como as suas dívidas, representarem tão somente para os credores rentista um título de crédito de um devedor falido e insolvente.  

Esta bomba vai estourar no colo dos rentistas e do sistema financeiro internacional, que já demonstra fragilidade com a quebra de alguns bancos, vez ou outra,  os quais ainda estão sendo passíveis de socorro, mas que quando a avalanche ocorrer, isso não será mais possível.  

A China tem reservas monetárias em dólar estadunidense num montante de cerca de US$ 3 trilhões, para uma dívida de cerca de US$ 50 trilhões, o que significa que precisa gerar lucros para conservar a credibilidade de seu crescimento econômico e sua capacidade de solver o serviço da dívida que, como vimos, é equivalente a cerca de 50% de todas as suas reservas cambiais.  

Entretanto, tanto as reservas cambiais chinesas como sua dívida, nada significarão para a economia global no momento do colapso final claramente previsível, mas escamoteado pelo otimismo infundado dos analistas econômicos atrelados à ordem capitalista de onde tiram seu sustento.    

Assim, a investida chinesa de criar uma vida monetária paralela ao dólar estadunidense, a partir do yuan, ou  renminbi (RBM), nome oficial da moeda chinesa, é algo vital para sua sustentabilidade e independência financeira, bem como para o seu crescimento a partir de relações com países que adotem negociações sob tal critério financeiro.  

Registre-se que o crescimento do PIB chinês anda enfraquecido por conta de vários fatores conjunturais a pandemia foi um deles -, mas tem como principal fator a incapacidade de consumo que é delimitada pelo poder de compra da população mundial e pela própria necessidade de consumo desta: ninguém usa dois sapatos por vez.  

A necessidade de crescimento da produção de valor obedece a um critério ad infinitum, mas a capacidade de consumo é definida pelos fatores acima expostos, e isto se constitui como uma equação irresolúvel para o mundo capitalista e seu dilema existencial lógico.   

Não é por menos que a China tenta atrelar as suas relações financeiras ao China Interbank Payment System, alternativa chinesa ao ocidental Swift, que conecta milhares de instituições financeiras mundo afora, para assim livrar-se, pelo menos num primeiro momento, dos grilhões monetários do ocidente capitalista com o qual disputa hegemonia usando as mesmas armas.  

Comparado aos citados líderes, Lula é um anão
mas o Brasil possui sua importância.

O governo brasileiro acaba de assinar acordo para fazer parte deste sistema chinês e adotar a moeda chinesa como forma de pagamento de suas exportações e importações, o que deverá incomodar os Estados Unidos, apesar de que isto não representa muito financeiramente, se considerarmos que o dólar estadunidense corresponde a 88% das transações cambiais do mundo e o Brasil é peixe pequeno neste campo da riqueza abstrata, ainda que seja importante geopoliticamente.    

Lula, tal como a China, tenta desesperadamente encontrar alternativas para o crescimento econômico sem o qual sua popularidade desabará, possivelmente implicando no médio prazo um fortalecimento da elitista direita brasileira que demonstrou força no último pleito eleitoral.  

Mas o capitalismo é uma guerra concorrencial de mercado e nele não há parceiros generosos, mas sempre alguém que quer levar vantagens, se aproximando mais da famosa Lei do Gerson, da antiga propaganda, e num mundo em depressão a melhor alternativa seria uma nova relação social, sem a hipocrisia das relações internacionais capitalistas, mas com a solidez de relações sociais contributivas transnacionais e ecologicamente sustentáveis. 

Os líderes mundiais buscam no incremento da forma valor a solução dos seus problemas tal qual um viciado busca na droga o alívio do mal que o aflige.  Assim, querer uma virada de chave brasileira seria querer demais de um Lula, que tal qual Xi Jinping, acredita na possibilidade da prosperidade linear capitalista.  

O pior cego é o que não quer ver. (por Dalton Rosado

segunda-feira, 13 de julho de 2020

AS SEMENTES REVOLUCIONÁRIAS JAMAIS SÃO PLANTADAS EM VÃO – 2

(continuação deste post)
Após 1976, a China passou a minar o capitalismo por dentro...
Em sua crítica da economia política, particularmente nos Grundisse, Marx afirmou que a redução gradativa dos salários; a tendência de queda das taxas de lucro do capital investido em máquinas e instalações; e a substituição da força de trabalho humana pelas máquinas compunham um quadro de contradição insuperável do capital que o faria voar pelos ares. 

E eis que a China está agora produzindo um colapso no capitalismo mundial pelos próprios fundamentos capitalistas! 

Sob a influência de Deng Xiaoping a partir de 1978 (Mao Tsé-Tung morrera em setembro de 1976),  a China foi abandonando os conceitos marxistas na prática, embora não o admitisse em sua retórica. E percebeu que poderia crescer economicamente como o faz qualquer burguês capitalista, vencendo a guerra concorrencial de mercado mundial graças à possibilidade de oferta de trabalho abstrato barato e abundante. 

Com isto, a China se transformou nos últimos 40 anos, de nação essencialmente agrícola e rural, em país urbano e industrial, grande fornecedor de mercadorias para o mundo inteiro. 

É que os consumidores de mercadorias querem comprá-las mais barato, pensando mais no seu bolso do que em qualquer ideologia patriótica. Assim, para estes não interessa se o tênis é fabricado em Pequim ou Nova York, pois o que importa é se ele é bom e barato. 
O capitalismo causa destruição e encaminha a autodestruição

Tudo no capitalismo é contraditório e caminha para a destruição social, para a destruição ecológica e para a autodestruição enquanto forma de relação social. 

A China está a provocar o desemprego estrutural mundo afora, bem como a redução do volume de extração de mais-valia, lucro empresarial, e massa global de valor, causando uma anemia orgânica ao capitalismo mundial e prenunciando o seu colapso inevitável. 

Paradoxalmente, ao vencer a guerra concorrencial de mercado sob os critérios acima elencados, a China vem causando também a redução da capacidade de poder aquisitivo mundial e reduzindo a sua própria capacidade de expansão (vide queda acentuada do outrora crescimento vertiginoso do seu PIB). 

E está também causando a própria derrota enquanto modelo produtor de mercadorias e decretando sua falência enquanto modelo capitalista ultraliberal na economia (e fechado na política).

Quem diria que, após fazer a revolução armada e tentar exportá-la para o mundo, a China de Mao Tsé-Tung iria mas é solapar o capitalismo pelos próprios fundamentos capitalistas?! 
O dia já amanhece e os raios de sol fulminarão o vampiro

Hoje, o que está mais atual em Marx é a sua crítica ao trabalho abstrato como fonte primária do capital, não levada em consideração de modo consequente pelos marxistas tradicionais, que, assim, converteram-se numa espécie particular simbiótica de capitalismo selvagem na economia e stalinismo na política.

As próprias descobertas de Karl Marx sobre o mecanismo da extração de mais valia como formação do capital e de toda a sua estrutura de dominação e segregação social, assim como o detalhamento de suas contradições intrínsecas, expostos em O Capital, põem por terra a defesa que ele anteriormente fazia da força operária ativa, enquanto tal, como sujeito indispensável da revolução.

É o substancial e crescente contingente de desempregados, sem que o capital tenha forma de sustentá-los, que está atualmente a escancarar a necessidade de uma novo modo de produção social e apropriação das riquezas materiais em favor da população (coronavírus à parte, pois ele não passa de um gatilho na dialética do movimento).

O processo dialético histórico é irreversível na jornada da humanidade para a superação dos impasses que o modelo escravista milenar nos impôs, e está a nos encaminhar para a necessária emancipação humana, a menos que uma hecatombe nuclear ou agressão climática (quiçá meteórica) extermine os seres humanos da face da Terra. 
Neste sentido, tanto o golpe militar brasileiro de 1964 como a vitória de Boçalnaro, o ignaro em 2018, num intervalo de 54 anos,são apenas pequenos retrocessos pontuais que em nada alteram o processo dialético irreversível da roda da História. 

Estamos mais próximos hoje, e bem mais do que ontem, da emancipação humana. 

E Karl Marx, ainda que com seus compreensíveis equívocos políticos históricos, que devem ser devidamente contextualizados, terá dado uma grande contribuição para tal emancipação. (por Dalton Rosado) 

terça-feira, 7 de maio de 2019

É HORA DE ROMPERMOS O DIQUE DA SEGREGAÇÃO HUMANA MILENAR!

dalton rosado
SOBRE A NATUREZA DAS MUTAÇÕES SOCIAIS
"Se um processo comporta várias contradições, existe necessariamente uma delas que é a principal e desempenha o papel dirigente, determinante, enquanto outras ocupam apenas uma 
posição secundária, subordinada" 
(Mao Tsé-Tung)
processo de evolução humana, calculado em cerca de 4,5 bilhões de anos, vem desde o surgimento de micro-organismos formadores da vida animal até os dias de hoje, quando os hominídeos se apresentam como a forma animal racional predominante; constitui-se no agregado de condições nas quais cada etapa é o pressuposto básico para o surgimento de uma nova etapa.

Dele se conclui que nada é definitivo, mas tudo se insere num processo de constantes mutações, as quais, por sua vez, não são lineares, já que não há simultaneidade evolutiva nos vários cantos da Terra, daí a dispersão de comportamentos sociais e de apreensão do saber.  

As civilizações maia e asteca são diferentes em forma e conteúdo entre si, bem como das civilizações persa, chinesa, e das africanas. 

Os europeus que chegaram às Américas no final do século 15 tinham culturas e valores sociais absolutamente diferentes dos que a habitavam, sendo inquestionável que é o domínio do saber aquilo que prevalece como cultura dominante quando povos de culturas diferentes se encontram (o que, obviamente, não se confunde com graus de qualidade de civilidade). 
A marcha da humanidade na América Latina...

São as contradições sociais, conjugadas com o ganho do saber delas decorrentes, que impulsionam as mutações sociais, mas a inconsciência sobre o teor das contradições é fator de convivência com elas sem que se consiga superá-las. 

Se os proletários tivessem consciência do seu imenso poder, a primeira coisa a ser superada seria a contradição implícita à sua própria condição de trabalhadores assalariados (a qual é uma categoria capitalista e, como tal, não caberia numa sociedade emancipada). 

É a ignorância do oprimido sobre a natureza da opressão  que permite a existência da opressão e a permanência da contradição que se expressa em aceitá-la de modo submisso. O oprimido é submisso e inconsciente à contradição que o oprime  (e que, ao mesmo tempo, gesta a sua libertação).   

O exemplo mais recente das contradições que impulsionam as mutações são os acontecimentos das últimas quatro décadas na China, com a ascensão ao poder de Deng Xiaoping após a morte de Mao Tsé-Tung em 1976. 

Todos os esforços revolucionários de Mao baseados no maxismo-leninismo, bem como sua oposição ao revisionismo da Rússia sob Stalin e seu sucessor Nikita Kruschev, esbarraram na força ditatorial da lógica do fetichismo da mercadoria não superada, com suas contradições intrínsecas permanecendo em ebulição latente. 
...e no mundo, segundo o muralista David Siqueiros.
Mao era um grande estrategista militar-revolucionário, mas pouco afeito à crítica da economia política marxiana esotérica, tal qual o seu guru Vladimir Lenin, daí não ter convergido para uma produção social fora da lógica do valor, o que seria possível graças à extensão territorial da China.

O mesmo raciocínio se pode usar para a Rússia, principalmente após a 2ª Guerra Mundial, com o incorporação de vários países libertados do nazismo à União Soviética.    

Graças a essa contradição não superada, Deng-Xiaoping, que na França havia sido operário metalúrgico (da Renault) e estudante, pôde assumir o poder e promover a chamada segunda revolução, que nada mais foi do que aproveitar o potencial de mão-de-obra chinesa barata para a produção industrial de mercadorias a preços competitivos de mercado, fato que se constituiu numa contradição antes inimaginável no combate ao capitalismo. 

Isto porque o desenvolvimento industrial chinês foi capaz de reduzir a substância do capital (ou seja, promoveu a redução de valor do trabalho abstrato) e inundar o mundo com suas mercadorias, com isto roubando espaço na concorrência internacional de mercado, ao mesmo tempo que reduzia a massa global de valor e de extração de mais-valia. 

A contradição da sustentação do capitalismo chinês se assenta sob dois pontos:
1. a redução da massa global de valor; e 
2. a colossal dívida pública e privada que se torna insolvável diante do limite de expansão do crescimento de sua produção industrial.
Depois da longa marcha, isto?! 
.
O modelo chinês vem sendo copiado pela Índia, o seu vizinho de igualmente populoso, e está causando mais uma contradição histórica, a volta do protecionismo de mercado, antes tão combatido pelos liberais capitalistas. 

[No momento em que escrevo este artigo, noticia-se que o mundo financeiro foi abalado pelas taxações estadunidenses, com as bolsas de valores do mundo inteiro sofrendo quedas.]

A contradição imanente ao capitalismo se mostra muito mais forte do que a intenção política (que é falha) de sua superação.

A ignorância sobre o significado conceitual de um governo de direita é, p. ex., o que explica o momento atual brasileiro. A população está cega ao domínio conceitual do saber sobre a forma e conteúdo de sua própria mediação social e, ao mesmo tempo, desesperada pela falta de condições de provimento do seu sustento cômodo. 

Isto faz com que subsistam de modo imperceptível as contradições e sejam eleitos aventureiros desqualificados para o comando político-estatal dessa mesma população, que agora paga alto preço pela escolha insensata  a que foi tangida.

Contudo, a contradição entre os bons resultados sociais prometidos e as decepções colhidas promove a busca de um novo conceito de relação social, ainda que o processo se repita de modo pendular entre projetos aparentemente antagônicos (governos de direita e de esquerda), mas que são similares nas suas bases econômicas.

Direita e esquerda, dentro de uma mesma concepção de modo de produção, representam variações políticas dentro de uma mesma base econômica, o que termina por fazê-las convergir tanto em termos de procedimentos quanto de conteúdo. 
"saber para onde e como ir: o único modo de sairmos do labirinto"
Somente com um novo modo de produção poderemos superar os nossos problemas sociais, daí existirem contradições principais sobre as quais devemos nos debruçar prioritariamente (as contradições secundárias, no entanto, não devem ser descuradas). 

Se caminharmos no sentido de uma produção social marginal ao mercado, ainda que isso se dê de modo lento e experimentando/enfrentando as oposições que o próprio capitalismo oferece (estado e forças do capital), estaremos construindo uma sólida base social e num patamar superior — método que, apesar da maior lentidão, é muito mais eficaz e duradouro do que a revolução armada, que impõe pela força a derrubada de uma outra força armada, sem questionar os fundamentos conceituais mais profundos da força derrubada. 

Saber para onde ir e como ir é o único modo de sairmos do labirinto intrincado que mantém o povo enredado nessa miséria e barbárie que cada vez mais se acentua. 

Vivemos hoje a contradição das contradições no itinerário da humanidade sobre o planeta Terra.  

Por um lado adquirimos, um saber capaz da realização de feitos admiráveis: 
"engenharia genética e clonagem de seres vivos"
— a engenharia genética e clonagem de seres vivos; 
— a produção de Inteligência artificial; 
 a programação de robôs capazes de efetuar diversas tarefas; 
 os prodígios na área da comunicação instantânea e visual; 
 os verdadeiros milagres no campo da medicina; 
— o armazenamento e processamento de informações cibernéticas sem as quais ainda estaríamos patinando nas anotações burocráticas e perecíveis; e
 as descobertas fantásticas no campo da física e da química,  etc., etc., etc.
.
Por outro lado –e exatamente pelo desenvolvimento vertiginoso do saber, a forma de mediação social pelo critério da produção de valor a partir da força de trabalho mensurada por um quantitativo de valor tornou-se algo absolutamente anacrônico, matematicamente inviável e desumano. 

O processo de capital que se transforma em mercadoria e que se transforma novamente em valor aumentado (C-M-C+) no mercado perdeu a sua base de exequibilidade social e está transformando a vida humana num inferno social. Tal fenômeno se consubstancia no vazio fim em si mesmo da valorização do valor com os malefícios sociais daí decorrentes, agora acentuados pelo seu ocaso histórico. 
"necessidade de criação de um novo modo de produção social"
A contradição entre a tese a produção de mercadorias a partir da mercadoria força de trabalho, modo de segregação patrocinado pela forma-valor (questão de forma) e a sua antítese o modo de mediação social tornado obsoleto sob tal critério graças à evolução tecnológica (questão de conteúdo) está a engendrar a síntese, consubstanciada na necessidade de criação de um novo modo de produção social que possa absorver todo a saber da humanidade em benefício da dita cuja. 

Colocar uma cunha entre a fissura que ameaça romper o dique da segregação humana milenar é saber aproveitar as contradições que ora se apresentam como condição da mais importante mutação social em curso neste início de século 21. (por Dalton Rosado)
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