A épica vitória que, em 2011, um punhado de antifascistas alcançamos contra o rolo compressor italiano e a lavagem cerebral da grande imprensa brasileira no Caso Battisti me fez acreditar que conseguiríamos tornar as redes sociais e a blogosfera antídotos contra a manipulação das consciências por parte da indústria cultural. Quanta ingenuidade!
Hoje percebo que foi apenas uma moeda que caiu em pé. E que, de tão circunstancial, tal êxito foi revertido em 2018 sob Michel Temer, mediante o estupro de várias leis brasileiras.
Para quem ainda não percebeu ou tomou conhecimento, embora eu haja batido nesta tecla num artigo recente, advém daí a minha firme rejeição à perseguição ilegal movida pelos patrulheiros da internet:
— contra o técnico Cuca por conta de um caso ocorrido nada menos do que 35 anos atrás e que estava definitivamente prescrito aqui e na Europa, não tendo nenhum(a) feminista fanático(a) o direito de recolocá-lo em discussão na web, inclusive publicando peças que estavam sob segredo de justiça, no sentido de negar a um idoso o legítimo direito de exercer o seu ofício; e
— contra Robinho, com o UOL publicando uma longa série de peças processuais igualmente sob segredo de justiça alhures, numa clamorosa pressão para o STF aceitar o cumprimento aqui da sentença de lá.
[Fez-me lembrar as versos de um tema musical da peça Arena conta Tiradentes: "Eu sou brasileiro, mas não tenho o meu lugar,/ pois lá sou estrangeiro, estrangeiro no meu lar./ A quem não é de lá, essa terra tudo dá./ Essa terra não é minha, é de quem não vive lá".]
Sendo vedado ao Supremo questionar a sentença italiana em si, a disponibilização dos chamados grampos do Robinhopara a mídia brasileira e consequente estardalhaço contra o acusado criou uma absurda desigualdade para seus defensores.
Como contestarem a distorção causada na opinião pública brasileira (e que, embora não se admita, influencia também os ministros do STF) se o erro foi cometido pela corte estrangeira que vazou ilegalmente tais gravações?
Como questionar agora tal comportamento escandalosamente abusivo, verdadeira interferência italiana nas decisões brasileiras, se ao STF não cabe colocar em questão a sentença daquele país?
E afinal, por que a aberrante perseguição ao Cuca e a quebra do segredo de justiça no caso do Robinho me incomodaram tanto? PORQUE REPRODUZEM AS MANOBRAS ILÍCITAS EUROPEIAS CONTRA AS QUAIS NOS BATEMOS EM ABSOLUTA DESIGUALDADE DE FORÇAS NO CASO BATTISTI.
Então também o jogo sujo foi praticado às escâncaras, tanto que a sentença italiana também já estava prescrita quando a pátria de Berlusconi movia céus e terras para forçar sua repatriação.
Cezar Peluso, relator do pedido de extradição do Cesare no STF, fez contas mágicas para defender o indefensável. E foram igualmente fantasiosos os cálculos da justiça italiana para recusar uma revisão de sua sentença iníqua depois que o troféu tão ardentemente buscado pelos neofascistas de lá finalmente lhes caiu nas mãos.
São gritantes as evidências de que a condenação de Battisti na Itália se baseou exclusivamente em delações premiadas por meio das quais os aspirantes a recuperarem a liberdade com acordos podres descarregaram suas culpas sobre ele, confiantes em que Battisti nada sofreria por contar com a garantia de François Mitterrand de que poderia continuar vivendo e trabalhando em paz na França até o fim dos seus dias.
Após a morte de Mitterrand, sua solene promessa não foi honrada por Jacques Chirac e Battisti se tornou alvo de uma perseguição sem fim, por amor ou por dinheiro, da parte de Berlusconi e seus cúmplices.
É óbvio que muito me decepcionei quando o Cesare, em 2019, admitiu ter sido realmente responsável por dois dos assassinatos que lhe imputavam. Sabendo que o inimigo mentia o tempo todo, não deveria jamais ter-lhe fornecido tal trunfo propagandístico em troca de promessas (que acabaram sendo descumpridas) de receber tratamento civilizado nos cárceres italianos.
Também me magoava demais sua insinceridade conosco, os apoiadores brasileiros, que mesmo se soubéssemos de toda a verdade continuaríamos rechaçando as ilegalidades praticadas contra ele por Estados poderosos.
Afinal, os autores dos grandes atentados terroristas cometidos pelos neofascistas, nos quais haviam sido exterminado civis como moscas, tinham recebido tratamentos jurídico e carcerário brandos, enquanto os de autoria de grupúsculos de esquerda contra alvos isolados mas não desconectados daquela luta, foram objetos de rigor extremo.
Depois que tudo terminou, as escandalosas injustiças que marcaram os anos de chumbo italianos, o verdadeiro festival de dois pesos e duas medidas que assolou o país, tudo isso só poderia ter sido sanado por uma ampla anistia. Por que não ocorreu? O fantasma de Mussolini explica.
Do ponto de vista estritamente legal, tudo aquilo era arquivo morto e a falaciosa condenação por quatro homicídios (dois dos quais ocorridos simultaneamente em locais demasiado distantes entre si para um mesmo indivíduo poder estar presente em ambos) valia tanto quanto papel higiênico usado.
Era tendenciosa ao extremo a legalidade adotada aquele período infame, no qual, como bem ressaltou o ex-ministro Tarso Genro, as instituições democráticas italianas funcionavam a contento, mas a Justiça e a Polícia se constituíam em flagrante exceção, pouquíssimo diferindo de suas congêneres das ditaduras do 3º mundo.
A vitória que então fomos buscar na bacia das almas, acabou sendo revertida adiante por mais e piores manobras sujas e ilegais, inclusive uma tentativa de sequestro quando o Cesare era residente legal no Brasil.
Hoje já não existe mais ânimo na esquerda brasileira para travar batalhas tão desiguais como a que encaramos em 2008/2011; ademais, a possibilidade de equilibrar na internet o jogo (de cartas marcadas) praticado pela grande imprensa já foi devidamente neutralizada pelo sistema.
Então, só me resta endossar e aplaudir o vigoroso artigo de Eugênio Bucci, O entretenimeno engole a política, que será publicado amanhã neste blog como a segunda parte da presente duologia. Tem tudo a ver.
Mas, sendo absolutamente sincero, embora considere que ficou ainda mais difícil (praticamente impossível!) a moeda cair de novo em pé como em 2011, mesmo assim, caso me pedissem uma colaboração solidária num caso com as mesmas características, eu não hesitaria um segundo em (e encontraria forças para) assumi-lo também.
Pois a missão de um revolucionário só termina no túmulo. E a dos que lutamos contra a ditadura militar nem de longe terminou, tanto que houve a recaída bolsonarista na década passada. A luta continua. (por Celso Lungaretti)
A revista Forum publicou na semana passada a tradução (vide aqui) de uma longa carta de Cesare Battisti, na qual o escritor, entre outras arbitrariedades cometidas pelo Estado italiano, se queixa de estar em isolamento prisional há 20 meses, dos quais apenas seis foram em estado de semilegalidade [todos os trechos em azul são palavras de Battisti], daí seu inconformismo:
"Não se pode punir ou vingar aplicando a um veterano dos anos 70 o status de prisioneiro de guerra".
O documento foi publicado pelo jornal italiano Carmilla on line e traduzido para o português por Alessandro Peregalli e Rodrigo Ardissom Souza.
Faltou a IstoÉ citar o companheiro Carlos Lungarzo
Recomendando aos leitores que o acessem e leiam na íntegra, destaco algumas passagens (por Celso Lungaretti):
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O PRESENTE, NA PIOR PRISÃO CALABRESA
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Em resposta a pedidos formais por motivos de tratamento desumano, citando medidas de segurança sem precedentes, que, além disso, têm sido aplicadas retroativamente há 41 anos, o Estado responde literalmente: "a documentação solicitada foi retida do seu direito de acesso". Mas, então nos perguntamos, qual é a possível defesa? Esta é a razão pela qual entrei em greve de fome em Oristano[penitenciária de segurança máxima na ilha da Sardenha].
Em resposta, o Estado raivoso me transferiu para a pior prisão da Itália[na região da Calabria], me colocando à força na seção ISIS-AS2[destinada a terroristas]. Isso, apesar das ameaças recebidas no passado e no presente, proferidas pelas diferentes frentes jihadistas contra mim.
Mas se Cesare Battisti foi designado pela autoridade judicial para a segurança média e não aoorgastolo ostativo[1], o que ele está fazendo na AS2?
Minha presença na seção ISIS implica grandes dificuldades e pequenas margens de sobrevivência:
— sem nunca sair da cela para a banho de sol;
— limitando também na comida, já que são do ISIS os trabalhadores que a distribuem;
Quando Berlusconi relançou a caça a Battisti, ele já não tinha atuação política e se ocupava da carreira...
— objeto de ameaças através do portão da grade;
— privado de computador no qual eu pudesse exercer a minha profissão;
— vigiado na frente e objeto de CED[medida disciplinar]a cada pequena reclamação;
— sujeito à censura, sob a alegação de supostaatividade subversivae assim por diante, até ser impedido também no direito de defesa, estabelecido pelo artigo 24 da Constituição.
Eu poderia encontrar meus familiares italianos uma hora por semana, quatro vezes por mês, mas, dada a distância do meu local deresidênciae a idade avançada dos meus irmãos, que varia de 70 a 80 anos, isso raramente acontece.
Minha família, que vive na França e no Brasil, só posso contatá-la com chamadas de vídeo no meu celular uma vez por semana, mas então tenho que desistir das visitas presenciais. Desta forma, passo meses sem contato com meus filhos, para os quais tenho de pedir notícias por carta, quase sempre retidas pela censura porque estão escritas numa língua estrangeira.
Disseram-me até mesmo que meus filhos deveriam aprender a escrever em italiano para receber notícias de seu pai. Isto porque o censor tem dificuldade com o francês ou o português, que são as línguas maternas dos meus filhos. Esse é um tratamento desumano não só para qualquer prisioneiro, mas especialmente para alguém cujo últimocrimedata de 41 anos atrás.
...e da vida familiar da qual foi privado por longos períodos de sua sofrida vida.
E como se isso não fosse suficiente, o governo me mantém enquadrado num nível absurdo de periculosidade, alimentando um processo de criminalização constante a ponto de poder justificar a apreensão do meu computador, no qual eu estava completando um romance sobre um conflito em Rojava e o drama dos imigrantes.
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NO PASSADO, TRAÍDO POR EVO MORALES
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As autoridades italianas nunca aceitaram meu refúgio no Brasil. O Estado trabalhou com todas as suas forças, mas também com meios ilícitos como a corrupção e a oferta de privilégios políticos e econômicos, para obter a minha entrega fraudulenta a todo custo!
...A Itália, através da embaixada, sempre manteve relações privilegiadas com os lobbies militares próximos a Bolsonaro. A ponto de empurrar as empresas ítalo-brasileiras a entrar ativamente na campanha presidencial de Bolsonaro. Em troca de tal amizade, Bolsonaro prometeu minha extradição.
Embora a Constituição o impedisse de fazê-lo – você não pode revogar um decreto após 5 anos de sua emissão – Bolsonaro manteve sua promessa. Por meio de compra e venda de influência na Supremo Tribunal Federal, foi desavergonhadamente ignorada a Constituição e o estatuto de prescrição dos crimes atribuídos a mim e, em dezembro de 2018, decretada a ordem de extradição.
O governo de esquerda cessante me garantiu contato direto com o presidente da Bolívia, Evo Morales, que pessoalmente permitiu que o fundador do MST, João Pedro Stédile, me recebesse na Bolívia com a concessão de refúgio político.
Depois de Guevara, Battisti: a traição parece ter virado uma tradição dos presidentes bolivianos!
Numa operação combinada entre o Partido dos Trabalhadores brasileiro e o Movimento ao Socialismo boliviano, fui transferido para Santa Cruz de la Sierra e lá entregue a um emissário do governo, empregado direto do chanceler.
Enquanto esperava a papelada para refúgio, fui alojado num centro de monitoramento: instalações pertencentes ao Ministério do Interior, que serviram de base para espionagem da oposição à Evo Morales! Uma dúzia de operadores de informática trabalharam lá...
Tive imediatamente a impressão de que estava sendo observado a cada passo, não apenas por forças supostamente amigáveis....
Quando eu já tinha a certeza de que havia algo errado, fui pego a alguns passos do centro, enquanto ia às compras. De repente, todos aqueles a quem eu havia sido apresentado para a regularização do asilo tinham desaparecido.
Mesmo assim, eu não perdi as esperanças. Claramente pensei na traição de Evo Morales, mas ainda assim contava com as leis bolivianas que excluem a extradição por delitos políticos e, especialmente no meu caso, por estar prescrito de acordo com as leis bolivianas...
...eu deveria ter suspeitado que o que a Itália queria evitar era exatamente um julgamento regular. Os próprios policiais bolivianos da Interpol, alguns dos quais eu tinha encontrado no centro de monitoramento, pareciam bastante envergonhados com o que estava prestes a acontecer. Eles não tiveram dificuldade em me informar que ali tinha um monte de italianos, brasileiros e agentes de outro país que eles não quiseram especificar.
Não terá a Interpol nada mais importante com que ocupar-se além de vendettas extemporâneas?
Eles me disseram claramente que minha pele estava sendo negociada e chamavam seus governantes de malandros. Entendi o que estavam falando na manhã seguinte, quando uma equipe trajada de negro e com capuzes entrou e me levou para o aeroporto internacional de Santa Cruz de la Sierra.
Colocado e guardado em uma sala de cujas janelas se via a pista (...) por um momento tive a esperança de que Evo Morales houvesse dado uma contraordem. Uma esperança fugaz, até a chegada de um grande grupo de pessoas com cores italianas no pescoço, que me levou ao avião oficial que nos esperava muito longe na pista de pouso.
Eu até tentei resistir:É um sequestro, gritei. A resposta foi desarmante:E daí? Mas desta vez funcionou.
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MAIS PASSADO: A ADMISSÃO DE CULPA
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Pensei seriamente numa solução coletiva dos nossos anos 70. O clima político na Itália não era o ideal, mas eu sabia da existência de personalidades e tendências dentro do mundo judiciário que, tendo lutado na linha de frente na guerra contra oterrorismo– como dizem hoje em dia – conheciam bem o assunto e não tinham interesse em recorrer à propaganda obscurantista para entender a realidade dos fatos.
Certas pistas me disseram que estas pessoas, ou correntes de pensamento, ainda esperavam que um dia pudéssemos virar estas tristes páginas da história com dignidade e respeito pela memória nacional...
Battisti não é Cristo, mas foi traído por um Judas boliviano e negado por um Pedro brasileiro...
...Movido por este sentimento, alimentado pela esperança de que 40 anos eram muito tempo e que a democracia italiana tinha de haver amadurecido e que o Estado também era um administrador forte e responsável, decidi confiar na justiça e chamei o promotor de Milão.
Aquela meu depoimento em 23 de março de 2019 foi uma escolha dolorosa. Estava longe da Itália desde 1981, e meus contatos com obel paese[belo país, ou seja, a Itália]eram reduzidos a poucos membros da família e ao editor. Não podia imaginar que, além da histeria da mídia, eu ainda pudesse despertar a vingança do Estado.
Com a enorme dificuldade de ter de voltar a um julgamento que havia sido arquivado por décadas, sem nenhum fato novo para contribuir, exceto pelas ressalvas agora impossíveis sobre minhas próprias responsabilidades.
Não me restava nada a fazer a não ser tomar o pacote completo, porém, criminalmente, não teria peso. Diante da escolha de enfrentar um julgamento histórico, e eu não fui o único a acreditar nisso, que sentido teria em mergulhar no código penal 40 anos depois?
Fui condenado a duas penas perpétuas e seis meses de prisão solitária por ter sido considerado culpado de praticamente todos os crimes cometidos pelo PAC [ele admitiu a autoria de duas mortes, mas não a das outras que arrependidos atiraram nas suas costas], incluindo quatro atentados mortais. Onde a minha presença física no local do crime não podia ser provada, fui considerado o instigador...
Eu admiti tudo. Reiterei minha autocrítica pela escolha de ter participado da luta armada, porque foi política e humanamente desastrosa. Mas eu não o tinha dito mil vezes ao longo de todos estes anos?
Terá ainda Battisti tempo e chance para ser feliz?
Não tinha nada a arrepender-me porque, errado ou não, não se pode mudar com uma visão a posteriori o significado de eventos historicamente definidos por um contexto social específico.
Seria absurdo dizer que não poderia ter sido evitado, mas sei que o movimento revolucionário não se esquivou de assumir suas responsabilidades. Não podemos dizer o mesmo por parte do Estado.
Também não tinha nada a pedir em troca de minha confissão. Não teria sido legalmente exigido e bastava para mim que tivesse sido aplicada a lei, como para qualquer outro condenado sem o terrível ergastolo ostativo, para ter acesso a algum benefício futuro reservado a todos.
Em resumo, é como dizer,tudo bem, vocês ganharam e eu estou aqui para testemunhar os cantos de vitória imerecida. Mas, uma vez terminada a festa, caro Estado democrático, vamos todos nos comprometer a reabilitar a história violada, enquanto eu cumpro minha sentença, de acordo com os termos das leis nacionais e das regras internacionais da humanidade como qualquer outro condenado.
Pura ilusão. Depois de ter ostentado para o mundo inteiro o fruto de uma caçada suja, cantado uma vitória obtida por engano sobre o sangue das vítimas e a honra barrada da História, o Estado dos remendos não se contradiz e mostra sua verdadeira face. Ela se entrega aos bócios da forca, cavalga a onda populista, sacrifica até mesmo a palavra das autoridades que a serviram, mesmo quando não a mereciam.
Este é o sentimento que me acompanhou de Oristano a Guantanamo Calabro, à mercê do ISIS e submetido a um tratamento digno de uma ditadura militar. Mas não perdi a esperança e estou certo de que a justiça e a verdade prevalecerão.
Para encerrar com um vislumbre de esperança, o Tribunal de Milão reconheceu em maio/2021 a prescrição da sentença de Luigi Bergamin, cuja situação legal era idêntica à de Battisti
[1] uma tradução aproximada é prisão perpétua hostil, que não concede qualquer tipo de benefício ou recompensa para a pessoa condenada. Infligida a indivíduos altamente perigosos, recebeu o apelido de fim da sentença, nunca!.
A Agência de notícias italiana Ansa informa que, nesta 3ª feira (11), o Tribunal de Justiça de Milão reconheceu a prescrição da pena de 16 anos e 11 meses de prisão pendente contra Luigi Bergamin, fundador do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, ao qual pertenceu o escritor Cesare Battisti.
A condenação prescrevera no último dia 8. Bergamin, que estava foragido na França e havia se entregado à polícia de Paris no dia 29, acabou não passando nem duas semanas detido. E foi muito!
Encaro como um absurdo e uma desumanidade quererem enterrar atualmente um idoso numa masmorra por conta de atos a ele imputados (a Justiça italiana era totalmente tendenciosa e iníqua nos anos de chumbo, razão pela qual há muito se impõe minha anulação de todos esses julgamentos de cartas marcadas!), ocorridos no final da década de 1970.
Quatro décadas se passaram desde então. Digam o que quiserem os revanchistas, mantenho minha posição de que há um limite de tempo para que se faça justiça, caso contrário, quando os acusados estão reduzidos a decrépitos anciãos, a coisa vira mera vingança.
Nem mesmo em casos extremos como os de Hitler ou Bolsonaro, eu concordaria com que fossem encarcerados várias décadas depois de terem cometido seus crimes, talvez já gagás e sem se darem conta do que lhes ocorresse...
Massacre de Bolonha, 1969, com explosivos que o próprio serviço secreto italiano forneceu à ultradireita
Aliás, a sentença italiana espantosamente reconheceu tal obviedade:
"Não só se passaram mais de 40 anos desde os crimes gravíssimos pelos quais Bergamin foi responsabilizado, mas, sobretudo, mais de 30 anos desde a irrevogabilidade da sentença. E em 8 de abril já passou o prazo máximo fixado".
Quando foi julgado no STF o pedido de extradição apresentado pela Itália de Berlusconi contra o Cesare, o relatório do ministro Cezar Peluso, um fanático religioso cujo catolicismo exacerbado o fazia defender preceitos medievais que até a própria Igreja abandonara, me fez lembrar aquelas partidas de futebol pré-árbitro de vídeo, nas quais, em quatro ou cinco lances polêmicos, o árbitro, favorecia invariavelmente o mesmo time e era qualificado por torcedores e pela imprensa de ladrão!.
Pois bem, de umas dez alegações importantes da defesa de Battisti, o tal Peluso favoreceu a Itália... em todas! Inclusive quanto à prescrição da pena, que, segundo os cálculos do companheiro Carlos Lungazo (então pertencente à Anistia Internacional), do advogado Barroso e de um sem-número de juristas, já havia ocorrido.
Peluso, acuado, esquivou-se, afirmando que não tivera tempo de aprofundar o assunto em seu relatório (!). Risível, se não fosse trágico pretender desgraçar um homem sem ter certeza de que ainda era legal julgá-lo...
Lançamento em São Paulo do livro "Ser Bambu", do Cesare, em 2010, antes de ele ser libertado.
O que me trouxe esta ocorrência de uma década atrás à lembrança é o fato de que uma juíza também de Milão decidira interromper a contagem de tempo para a prescrição utilizando o pretexto de que Bergamin havia se tornado um delinquente habitual (quiçá uma expressão equivalente à nossa crime continuado, que o tradutor terá vertido ao pé da letra),
Felizmente, na decisão desta terça-feira o tribunal não caiu na esparrela e decidiu pela prescrição, pois a sentença que condenara Bergamin a mais de 16 anos era provisória (por tratar-se de um réu ausente, já que estava fora da Itália).
A corte ressaltou que, decorridos 30 anos de uma sentença que impôs pena provisória a um acusado fora do seu alcance, "cessa o interesse do Estado na sua execução".
Também nisto o precedente de hoje poderá beneficiar o Cesare, pois sua condenação à prisão perpétua se deu em 1987 e, segundo tal raciocínio, já estaria prescrita quando ele foi reconduzido à Itália em janeiro de 2019.
Há uma luz no fim do túnel para Battisti. (por Celso Lungaretti)
Segundo a agência Ansa, o papa Francisco fez revelações sensíveis ao ser entrevistado em fevereiro de 2019 pelo jornalista e médico argentino Nelson Castro, que colhia depoimentos para seu livro A saúde dos papas, ora em fase de lançamento.
Disse ter recebido apoio psiquiátrico de "uma grande mulher" (identifico-a eu: Esther Balestrino, que seria depois assassinada pelos militares) para superar os medos do tempo da ditadura militar argentina, quando era jesuíta e precisou "levar gente escondia para tirá-la do país e salvar vidas":
"Durante seis meses, ela me ajudou a me orientar sobre como enfrentar os medos da época. Imagine como foi transportar uma pessoa escondida no carro e passar por três postos de controle militar na área do Campo de Mayo. A tensão que isso gerou em mim foi enorme".
O Carlos Lungarzo, argentino radicado há décadas no Brasil e que foi meu valoroso companheiro na luta pela liberdade de Cesare Battisti em 2008/11, lembrou episódios não tão louváveis do então jesuíta Jorge Bergoglio, em seu artigo Os segredos do Santo Padre (acesse-o aqui) :
Bergoglio professor em 66
"Há pelo menos 40 livros em espanhol e pelo menos 15 em inglês, dedicados de maneira total ou parcial à cumplicidade da Igreja Católica com os crimes de Estado na Argentina nos anos 1976-1983, e milhares de páginas de Internet.
Como em muitos outros países, uma minoria de padres apoiou a causa dos direitos humanos e teve certa militância no que foi chamado Teologia da Libertação...
Dois deles foram os jesuítas Orlando Dorio e Francisco Jalic, que propagavam uma visão social do cristianismo em favelas e bairros populares. Estes padres foram capturados pelos esquadrões da morte dos militares e submetidos a tortura, mas conseguiram sobreviver...
Enquanto Jalic se fechou num mosteiro alemão e nunca mais falou de seu passado, Dorio acusou explicitamente a Bergoglio, que era a máxima autoridade de jesuítas, de ter negado proteção e haver permitido que ele fosse capturado.
Em 1977, a família De la Cuadra (...) teve sequestrados cinco de seus membros, dos quais apenas um reapareceu muito depois. O padre Bergoglio se recusou a indagar onde eles estavam e até a ajudar a procurar uma criança recém nascida, filha de uma das mulheres desaparecidas.
Em algumas ocasiões, o Santo Padre não pôde refutar que a ditadura argentina tinha cometido numerosas atrocidades, mas argumentou que isso foi uma resposta provocada pela esquerda, que, segundo ele, também teria usado o terror. Este infame argumento, como todos sabem, foi fortemente repudiado em todos os países que tiveram ditaduras recentemente".
Não tenho como apurar se Bergoglio teve ou não comportamento vacilante nos anos de chumbo, só posso acrescentar que tais acusações o incomodaram muito e que ele se empenhou em rebatê-las na sua autobiografia, além de haver permitido que jornalistas estrangeiros escrevessem biografias sobre ele.
Arcebispo de Buenos Aires, viajando de metrô (2008)
Mas, quando o Lungarzo lançou seu artigo de denúncia e poucos aqui no Brasil ousaram mexer em tal vespeiro, fiquei indignado com a pusilanimidade dos sites e blogs de esquerda que fugiram dessa discussão espinhosa.
Coerente com minha posição de que a verdade é revolucionária, reproduzi as acusações do Lungarzo no blog do Náufrago e fiz questão de resgatá-las agora.
Do que acaba de vir à baila, depreende-se que a ditadura lhe causava muito medo, mas, mesmo assim, Bergoglio arriscou-se para salvar gente.
Para os interessados em saber mais sobre o comportamento de Bergoglio nos anos de chumbo, recomendo esta reportagem em castelhano, na qual, inclusive, é mencionado o episódio do jovem que ele protegeu.
Não sou leviano, portanto vou abster-me de tirar alguma conclusão sobre se tal medo o teria (ou não) levado a ser omisso noutros episódios. O que não se pode é ignorar que tais acusações existem. (por Celso Lungaretti)
A questão de nossas táticas poderem ou não discrepar episodicamente dos princípios estratégicos foi colocada pela primeira vez diante de mim no rescaldo da primeira passeata do movimento estudantil no trepidante 1968, em protesto pelo assassinato do estudante Edson Luís de Lima Souto por policiais militares do Rio de Janeiro.
Eufórico por ter-me saído bem no meu batismo de fogo, detestei a beligerância com que facções antagônicas discutiram depois, na Cidade Universitária, se a palavra-de-ordem Mataram um estudante/ E podia ser seu filho era válida ou se tratava de uma concessão ao sentimentalismo pequeno-burguês. Foi um balde d'água fria no meu entusiasmo.
Ora, depois daquela viriam muitas outras passeatas até o funesto 13 de dezembro de 1968 em que foi assinado o Ato Institucional nº 5, um sinal verde para os órgãos de repressão torturarem e assassinarem resistentes a seu bel-prazer. Então, se bem não fez aquela palavra-de-ordem, mal também não deve ter feito...
Ao longo deste mais de meio século, muitas vezes me deparei de novo com tais pendências, geralmente em circunstâncias mais dramáticas.
Caso, p. ex., de um companheiro que, quando a luta pela libertação de Cesare Battisti parecia fadada à derrota no Supremo Tribunal Federal, saiu conclamando os simpatizantes de nossa causa a articularem uma forte pressão sobre o presidente Lula, no sentido de que ele passasse por cima do STF e decidisse imediatamente conceder asilo ao escritor-alvo da perseguição de Berlusconi.
Era uma posição até justificável. Se Lula fosse realmente quem se pensava que fosse, agiria exatamente assim, dando fim imediato àquela odiosa retaliação extemporânea dos neofascistas. Ocorre que, por muitas outras ocorrências e também porque um passarinho nos contava o que o Lula dizia a seus ministros sobre o assunto, sabíamos que ele jamais passaria por cima do Supremo.
E tal iniciativa seria amplamente capitalizada pelos adeptos da causa italiana (a grande imprensa em peso), na linha de que nós estaríamos tentando virar a mesa por sabermos que seríamos democraticamente derrotados.
Então, para abortarmos no nascedouro tal tiro no pé, tivemos (principalmente a Fred Vargas, eu e o Carlos Lungarzo) de utilizar até o limite a autoridade moral que possuíamos como membros do comitê de solidariedade.
Fizemos das tripas coração para que os trâmites da democracia burguesa fossem respeitados e cumpridos até o fim. E, apesar da enorme inferioridade de forças, fomos buscar a vitória na bacia das almas, do único jeito que a poderíamos obter. Há momentos em que visões estratégicas, seguidas ao pé da letra, podem ser muito nocivas em termos táticos; nas lutas revolucionárias não existem tábuas dos 10 mandamentos.
Enfim, para não entediar os leitores, apenas acrescento que esta não foi, de jeito nenhum, a única vez em que optei pelo bom senso em detrimento de uma rigidez de princípios que seria desastrosa. Os resultados da minha opção não me fizeram lamentar nenhuma delas.
Mas, sou o primeiro a considerar intransponíveis certas linhas vermelhas, como a de que comunista nenhum poderia mandar os proletários de seu país morrerem nos campos de batalha de um mero conflito capitalista de disputa por territórios e esferas de influência, como foi a 1ª Guerra Mundial.
Assim como comunista nenhum poderia deixar de mandar os proletários de seu país resistirem até a morte ao nazifascismo na 2ª Guerra Mundial.
Então, sou tão avesso à democracia burguesa quanto o bom Dalton Rosado, mas levo sempre em consideração que nosso objetivo último é o seu aprimoramento, substituindo um ordenamento institucional que, em última análise, atende aos interesses de uma classe, por um ordenamento institucional que dê tratamento justo e igualitário a toda a sociedade (o que só ocorrerá quando esta for libertada da tirania do lucro) e que consagre a liberdade plena do ser humano.
Nunca esquecerei os companheiros valorosos cujas próprias vidas dependeram em determinados momentos das franquias da democracia burguesa como o respeito aos habeas corpus e ao direito de asilo.
Em 2020 mesmo, antes de o genocida desistir de afrontar dominicalmente o STF e o Congresso Nacional, tivemos de defender os preceitos constitucionais vigentes dos ataques de uma turba de celerados. E a reconquista das ruas foi fundamental para determos a escalada ultradireitista, forçando o Bozo a um recuo.
Ocupação de posições no Executivo e Legislativo mediante vitórias eleitorais não são intrinsecamente negativas do ponto de vista de um revolucionário: tudo depende de elas estarem sendo consideradas como um objetivo em si (caso do PT) ou apenas como uma ferramenta a mais para acumularmos forças no sentido da ruptura que nos levará à emancipação da sociedade.
Esquerdistas que se embriagam com o poder, suas benesses e mordomias, verdadeiramente não se libertaram da ideologia burguesa, ponto final. Mas, vale lembrar também que carreiristas e oportunistas prosperaram em nossos partidos porque dirigentes irresponsáveis lhes franquearam as portas para o acesso indiscriminado, como o fez o Lula quando precisou deles para ganhar a luta interna no PT contra as tendências marxistas.
Então, temos mais é de apoiar e aplaudir Guilherme Boulos (São Paulo), Manuela D'Ávila (Porto Alegre), Edmilson Rodrigues (Belém), Lizianne Lins (Fortaleza), Marília Arraes (Recife) e outros que tais, pois, tendo bons desempenhos eleitorais, nos ajudarão, e não prejudicarão, na luta pelos nossos dois objetivos primordiais neste momento, imensamente mais importantes para nós do que a própria eleição:
— a remoção do genocida descontrolado o mais depressa possível, já que, se negarmos fogo, até janeiro de 2023 brasileiros morrerão às pencas de óbitos que podem ser evitadas; e
— a construção de uma nova esquerda, realmente combativa e anticapitalista, nossa esperança de futuro. (por Celso Lungaretti).
Fiquei muito satisfeito em ver publicado pelo Observatório da Imprensa o meu desagravo ao Cesare Battisti diante das deploráveis declarações do Lula a seu respeito (videaqui).
Pois nunca o jogo da formação de opinião foi tão desequilibrado como hoje em dia, inclusive desencorajando alguns que tinham o dever moral de ir contra a corrente avassaladoramente dominante, mas preferiram não queimar seus filmescom o sistema do qual, no fundo, fazem parte, ainda que cultivando a imagem de rebeldes.
Houve, do outro lado, uma enxurrada de textos aplaudindo o posicionamento do Lula (ou recriminando-o por só agora tê-lo tomado), como se fosse uma grande novidade e não mais do mesmo.
Tão pouco solidário ele sempre foi ao Cesare que, tendo o acórdão do Supremo que confirmava caber a ele a última palavra sobre o caso sido publicado em 16 de abril de 2010, o Lula só foi dar sua decisão em 31 de dezembro de 2010,oito meses e meio depois! Para um preso político, o que Battisti jamais deixou de ser, tal espera equivaleu a uma tortura a mais, e das piores!
Lula quase saiu da presidência sem dar sua decisão
Mas Lula não hesitou em deixar o Cesare mofando na prisão apenas para que a sua decisão não fosse questionada pelos adversários na campanha eleitoral daquele ano. Tal é o homem e tais são suas prioridades...
E tratou do assunto com tal desleixo que a última edição de 2010 doDiário Oficial da Uniãojá estava pronta e teve de ser remanejada à última hora, com a retirada de outro texto qualquer, para que ela ainda fosse publicada durante a presidência de Lula.
Quem terá se lembrado, na enésima hora, dessepequeno detalhe? O Gilberto Carvalho? O Tarso Genro? O Suplicy? Lula estava esquecendo de fazer a lição de casa porque não dava a mínima ou porque preferia mesmo esquecer? Os historiadores talvez um dia nos esclareçam...
Vale acrescentar, aliás, que o Lula estava sendo perfeitamente coerente com a postura por ele adotada a partir da década de 1980, tudo fazendo para expelir do PT tendências de esquerda como a Libelu e a Convergência Socialista. Então, como meus artigos não são reproduzidos nem nos espaços da direita (aí incluídos os veículos da grande imprensa, todos eles burgueses na sua essência, embora alguns tentem convencer-nos de que não têm o rabo preso com o poder econômico) nem nos que oscilam na órbita do PT ou evitam contrariá-lo, foi auspicioso ter sido rompido desta vez o monolitismo.
Davi derrotou Golias em 2011, mas a onda fascista virou o jogo
É assim que eu avalio não só a publicação no OI, como também as doDireto da Redação(vide aqui), do site do escritor Cláudio Tognoli (videaqui) e do jornal ROL(videaqui): são valiosos contrapontos, respiradouros que deixam passar a verdade.
Lembro-me do imenso amargor que senti nos anos de chumbo, quando afinal saí dos cárceres da ditadura militar e tomei conhecimento de todas as afirmações equivocadas ou simplesmente mentirosas que os muy amigoshaviam feito a meu respeito quando eu estava impossibilitado de apresentar minha versão dos acontecimentos.
Então, jamais deixaria de me posicionar face às declaraçõesOPORTUNISTASeCOVARDESdo Lula, nem que fosse apenas no meu blog e pouco me importando com quantas outras retaliações viesse a receber (já foram tantas ao longo dos tempos...). De resto, registro que o Carlos Lungarzo teceu suas considerações sobre o assuntoneste post, na linha de defender a imagem do Cesare sem criticar o Lula, por quem continua tendo grande admiração. E, por último, abro um espaço para o sindicalista Magno de Carvalho, que foi extremamente dedicado ao Cesare e, inclusive, o responsável por ele ter escolhido Cananeia (litoral sul paulista) para morar, pois lá, como vizinhos, poderia prestar-lhe assistência mais efetiva.
As saudades agora são do filho brasileiro
É que o Magno também escreveu um artigo, mas ele não aparece em nenhuma busca virtual, pois foi ao ar tão-somente no Facebook.
Então, embora haja nele trechos que eu não subscrevo, publico-o abaixo na íntegra, para que também possa ser acessado pelos eventuais interessados em conhecer o outro lado, o dos apoiadores do Cesare, que a grande imprensa omitiu escandalosamente. Fala de duas decepções, uma primeira que não passa de jogo de cena e a outra bem real e cada vez maior. Ou tal ficha cai finalmente para a esquerda brasileira, ou muitas outros desastres virão... (por Celso Lungaretti)
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magno de carvalho
A DECEPÇÃO DE LULA COM BATTISTI
E A NOSSA DECEPÇÃO COM LULA!
Lula afirmou, num programa de debates no último dia 20, que ficou decepcionado com o fato de Cesare Battisti ter admitido sua participação na morte de quatro pessoas nos anos de chumbo (anos 70) na Itália. Nesta época, Cesare Battisti juntamente com milhares de trabalhadores e jovens, participou da luta armada contra o governo e paramilitares que implantaram um regime de terror na Itália, que prendeu e matou milhares de pessoas.
Cesare tinha vinte e poucos anos e integrou uma das mais de cem organizações armadas o PAC – (Proletários Armados pelo Comunismo).
Cananeia: 7 anos de pausa na sua fuga sem fim
Os quatros mortos em questão eram: um militar, um carcereiro e dois paramilitares assassinos e torturadores. Cesare assumiu sua participação, negando-se a entregar qualquer companheiro.
Será que Lula esquece-se de que não só na Itália mas também no Brasil nos anos 70, milhares de trabalhadores e jovens se levantaram em armas contra uma ditadura militar que também prendeu, torturou e matou centenas ou milhares de lutadores?
Será que Lula também esqueceu que aqui os que lutaram com armas na mão contra a ditadura e foram presos e sobreviveram, acabaram sendo absolvidos por uma anistia ampla geral e irrestrita, mesmo aqueles julgados por mortes de militares e agentes da repressão do Estado terrorista?
Será que Lula esquece que, além de anistiados, muitos destes lutadores ainda receberam e recebem reparação econômica pelos danos causados pela perseguição naqueles anos terríveis?
Reparações pagas desde o governo de FHC, no seu próprio governo, assim como no da Dilma, que também participou da luta armada?
Será que Lula esquece ou não sabe que muitos destes lutadores que foram julgados pelos chamados crimes de sangue ajudaram a construir o Partido dos Trabalhadores?
Lula fala de sua de sua decepção com o companheiro perseguido por 40 anos por sua luta e que hoje cumpre uma absurda prisão perpétua numa solitária e ainda diz que a esquerda brasileira também está decepcionada com Cesare Battisti.
Mas Lula sabe que uma grande parte da verdadeira esquerda, assim como uma grande parte dos trabalhadores e do povo pobre do país, está há muito tempo decepcionada com ele.
Infelizmente, esta decepção ajudou em muito a eleição do fascistoide que governa este país. (por Magno de Carvalho (foto ao lado), diretor do Sintusp e membro da Executiva Nacional da CSP-Conlutas).