Perdi a conta de quantas vezes assisti a Quando Explode a Vingança desde o seu lançamento em 1971, mas seguramente não terão sido menos de 15. Na primeira, saí emocionado do saudoso cine Marrocos, no centro velho de São Paulo: acabara de conhecer a visão que um dos meus diretores favoritos tinha dos movimentos revolucionários... e era, em muitos aspectos, semelhante à minha!
Concluí que Leone também se desencantara com a postura repulsiva do Partido Comunista Italiano em 1968 (que se agravaria nos anos seguintes, até chegar ao pacto faustiano com a putrefata democracia-cristã): quando os ventos da mudança sacudiam a Europa, o PCI optara pela omissão, que logo mais viraria cumplicidade com as forças da ordem.
O desencanto de Leone se expressou num filme em que ele, fervorosamente, toma o partido do homem simples que se engaja em revoluções; mas, mostra os dirigentes desses movimentos como sempre propensos a traírem a causa.
James Coburn e Rod Steiger: atuações inesquecíveis! |
Mallory escapa atirando e foge para o México, onde aproveita a experiência que adquirira com a dinamite para garimpar prata.
Lá acaba conhecendo Juan Miranda (Rod Steiger), pequeno bandido mexicano cuja quadrilha é constituída principalmente por sua filharada e cujo sonho dourado é assaltar o banco mais tentador da região.
Meio sem querer, ambos vão se envolvendo cada vez mais com a revolução mexicana. E a história se repete: abnegação e heroísmo das pessoas simples, traição do líder Dr. Villega (Romolo Valli). Percebe-se claramente que Nolan e Villega sintetizam a imagem que Leone tinha dos dirigentes do PCI.
Mesmo desencantado ("Quando comecei a usar a dinamite, acreditava nos grandes ideais. Acreditava em tudo! Agora só acredito na dinamite"), Mallory permanecerá até o fim no campo ao qual pertence.
Este extermínio de prisioneiros numa vala alude a episódios ocorridos sob o fascismo na Itália |
Ou seja, não tendo sequer a esperança de que a história venha a retratar o que realmente aconteceu, ele antecipa a forma distorcida como serão vistos: os líderes oportunistas, manipuladores e vacilões, endeusados; e os idealistas sinceros, perseguidos em vida e denegridos depois de mortos.
Mas, claro, é um filme e não um panfleto. Tem uma ação tão envolvente que só os iniciados captam tal subtexto. Dá para se ver e gostar muito do filme sem perceber/entender nada disso.
Em alguns mercados foi lançado com um título equivalente a Por um punhado de dinamite, para relacioná-lo a Por um punhado de dólares e Por uns dólares a mais. Leone, contudo, o concebeu como o segundo filme de outra trilogia: Era uma vez no Oeste, Era uma vez a revolução e Era uma vez na América.
Coburn e Steiger têm atuações magistrais. O roteiro escrito a dez mãos (inclusive as do Leone e do ótimo Sergio Donati) é simplesmente perfeito. E a trilha musical de Ennio Morricone, um arraso!
Também gostei muito do enfoque que Leone dá à repressão, personificada no comandante Gutierez (Anthony Saint-John): despreza-o tanto que lhe nega até a dignidade da fala.
Gutierez aparece escovando repulsivamente os dentes, chupando um ovo, ordenando fuzilamentos com simples gestos de cabeça. Um desumanizado visto em toda sua desumanização, sem os habituais discursos redundantes. Só gênios como Leone criam soluções tão simples e eficazes. (por Celso Lungaretti)
lista final de filmes do Festival do Western Italiano
(clique nos títulos p/ abrir):
Nenhum comentário:
Postar um comentário