sábado, 8 de janeiro de 2022

COMO É FORMADO UM LÍDER INSENSÍVEL E OPORTUNISTA? ESTE WESTERN EXPLICA.

O melhor filme a estrear no blog neste Festival do Western Italiano é, sem dúvida, Quando os brutos se defrontam (1967), o trabalho seguinte do diretor Sergio Sollima após a culminância de sua carreira, O dia da desforra (1966).

A distância qualitativa entre ambos e o restante da filmografia de Sollima sempre me fez suspeitar de que o milagre se deveu ao roteirista Sergio Donati, pois este várias vezes embutiu discussões políticas nos seus trabalhos, enquanto o xará diretor só o fez exatamente nessas duas vezes.

Vale ressalvar que mesmo a direção em si melhorou muito nessas ocasiões, mas nada de Sollima se compara, em termo de subtexto político, com a o diálogo entre o professor Brett Fletcher (Gian Maria Volonté) e o infiltrado da agência de detetives Pinkerton por ele desmascarado, quando este lhe atira isto na cara: "Civilizado entre os civilizados, selvagem entre os selvagens, você é um perfeito parasita: adapta-se a qualquer ambiente e a todos manipula para atingir seus fins".  

De novo é uma alusão ao Partido Comunista Italiano, que estava sendo muito questionado à medida que sua aura heroica dos tempos da resistência ao fascismo se tornava uma lembrança distante e a emergência de uma nova geração de esquerda, muito mais combativa, ia deslocando o PCI cada vez mais para a direita. 

Crítica ainda mais explicita à descaracterização dos velhos comunistas é feita em Quando Explode a Vingança, do Sergio Leone, que teve Donati como um dos roteiristas. Coincidência? 

Mas, estou colocando o carro na frente dos bois: vamos à história.

Brett Fletcher, um professor de Boston, na tentativa de curar-se de tuberculose vai para o clima quente do Texas, onde é tomado como refém pelo bandido Beauregard Bennet (Tomas Milian) quando este foge de sua escolta. 

A intenção inicial de Bennet é matar Fletcher ao pôr-se a salvo, mas, ferido, desmaia e o professor cuida dele. Restabelecido, o bandido convence o professor a pegar uma diligência e voltar à civilização, mas novamente é ajudado por ele num momento de perigo e, em débito, acaba aceitando-o na sua quadrilha,

A partir daí, os dois vão se transformando por força dessa convivência: Fletcher aprende a sobreviver entre os rústicos e, em seguida, a liderá-los, enquanto Bennet tem sua humanidade aos poucos despertada. 

O novo Fletcher, contudo, não tem compaixão nem espírito de solidariedade para com os perseguidos e faz recrutamentos numa cidade de foragidos cuja existência dependia de seus moradores não voltarem a delinquir. Ao quebrar tal regra, ele os condena a serem massacrados.

Já Bennet acaba sendo preso por (o que nunca faria antes) descuidar-se ao socorrer um menino mexicano atingido no fogo cruzado de um tiroteio do seu bando com a Pinkerton.

O final é  surpreendente, com o acerto de contas entre Bennet, Fletcher e o agente principal da Pinkerton, Charles Siringo (William Berger). 

Siringo, por sinal, existiu mesmo e, talvez por ter escrito vários livros baseados em sua atuação na Pinkerton, acabou ficando com a fama de haver sido o primeiro grande detetive dos EUA. Mas, no período em que transcorre a ação do filme, o da Guerra da Secessão, ele não passava de um menino. Sua participação nesta história foi só uma liberdade poética dos realizadores... (por Celso Lungaretti)  
Desconsidere o alerta que às vezes aparece, sobre uma versão mais
completa deste filme: ela já foi retirada do Youtube. Mostrava a última
aula do professor Fletcher e sua despedida do colégio de Boston 

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