Fiscalização subornada, iate superlotado e 55 infelizes que festejaram cedo demais e não passaram de ano |
Uma viagem turística para comemorar a passagem de 1988 para 1989 terminou, em pleno réveillon, com a embarcação no fundo da Baía de Guanabara e 55 pessoas mortas, das 142 que estavam a bordo.
Devido à falta de algo melhor para preencher as páginas de Geral naquele período morno, o jornal no qual eu trabalhava passou uns dez dias esticando aquele assunto que fora esgotado nos três primeiros.
E o pior de tudo é que era eu o redator incumbido de, tarde após tarde, copidescar as notícias que os repórteres produziam sobre o naufrágio do Bateau Mouche, corrigindo erros, aumentando a clareza, fundindo vários textos num só, etc.
Não aguentava mais chegar no jornal sabendo que minha primeira tarefa do dia seria cuidar dessa lengalenga. Considerava indigno vender peixe podre como se o prazo de validade já não estivesse pra lá de vencido.
Então, depois que a grande imprensa fechou as portas para mim na década passada (por não me prostrar docilmente a seus interesses), decidi nunca mais jogar esse jogo.
É o que estou fazendo agora. Recuso-me a ficar elucubrando sobre uma eleição marcada para o longínquo mês de outubro e que corre imenso risco de não vir a ser realizada (isto porque a situação dos explorados se torna cada vez mais dramática, daí a forte possibilidade de ocorrer uma explosão social lá pela metade de 2022).
Além disto, qualquer foquinha sabe que eleição no Brasil se decide é no 2º semestre do ano respectivo, pois o homem comum só começa a pensar no assunto quando terminam as férias escolares de julho.
De mais a mais, a perspectiva de um indivíduo totalmente ignorante, grotesco, crapuloso e genocida, com a insanidade mental transparecendo em cada frase e cada gesto, completar o seu catastrófico mandato é tão vergonhosa para o Brasil e para os brasileiros que eu estarei fazendo tudo ao meu alcance, até o último dia, para a ignomínia não se tornar o novo normal deste país.
Se querem atirar a nós todos no inferno ou no esgoto porque almejam desmedidamente o poder pelo poder (mesmo ao preço da impunidade do responsável por centenas de milhares de mortes evitáveis), não contem com meu endosso, nem com a minha omissão!
Então, faz todo sentido eu buscar opções para manter este blog ativo (e o mini-ciclo ora em curso é uma delas) sem estimular tal frenesi eleitoral extemporâneo, que contribui para tirar o foco dos miseráveis catando comida no lixo e também para alimentar essa escalada de tensões que prenuncia muita turbulência no ano vindouro.
A solução para nós, que padecemos sob a crise agônica do regime de exploração do homem pelo homem, não está no pleito de 2022, nem virá de toques nos teclados. Nada acontecerá enquanto não tirarmos a bunda da cadeira e formos para a rua transformar a sociedade.
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(por Celso Lungaretti)
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