domingo, 26 de dezembro de 2021

VAMOS A MATAR, COMPAÑEROS? SI O NO? ES LA QUESTION!

Franco Nero na última cena do filme: memorável! 
O diretor e roteirista Sergio Corbucci foi responsável por nada menos que 13 westerns italianos, embora só três sejam atualmente lembrados: este Companheiros (1970), O vingador silencioso (1968) e Django (1966). 

Era um cineasta que invariavelmente entregava bons entretenimentos, competente no seu ofício, mas sem evidenciar uma afinidade autêntica com quaisquer temas abordados, fosse nos épicos, nas comédias, nos policiais ou nos bangue-bangues. 

Embora a maioria dos seus faroestes tenha algo a ver com a revolução mexicana ou com posicionamentos esquerdistas (críticas à ganância e à opressão dos poderosos; ao extermínio dos indigenas e de pequenos produtores rurais por parte de latifundiários; a hordas truculentas não por acaso parecidas com a Ku Klux Klan e a TFP, etc.), a minha impressão foi sempre de que ele apenas seguia a onda, pois lhe convinha alinhar-se com uma visão que estava na moda no final da década de 60 e início dos '70.
Tomas Milian, ator cubano que sempre fazia
papel de mexicano em faroestes italianos
.
Uma peculiaridade de
 Companheiros foi a de tratar-se de quase um remake de Os violentos vão para o inferno, filme menos ambicioso que Corbucci realizara dois anos antes, sobre as peripécias, em meio à revolução mexicana, de um mercenário polonês (Franco Nro), de um rebelde inexperiente e despolitizado (Tony Musante), de uma musa politizada (Giovanna Ralli) e de um vilão vingativo (Jack Palance).

A fórmula certamente funcionou bem nas bilheterias, daí ter sido repetida, com acréscimos e orçamento visivelmente maior. 

Franco Nero continua sendo um mercenário, só muda de nacionalidade: vira sueco. Ele está no México para vender armas a um bandido que se passa por revolucionário (José Bódalo), mas este depende de recuperar um tesouro trancado num cofre forte para poder pagar-lhe o preço estipulado.

Como uma explosão destruiria a grana, o jeito é o sueco e o rebelde inexperiente (desta vez Tomas Milian, muito mais carismático do que Musante) irem libertar nos EUA um professor revolucionário (Fernando Rey) conhecedor da combinação do cofre, que conscientizou seus alunou e depois foi buscar ajuda para sua causa, mas acabou sendo detido a pedido de ricaços com interesses no México.
Fernando Rey, um dos atores favoritos de Buñuel e Carlos 
Saura, adquiriu prestígio mundial com Operação França

O vilão é novamente Jack Palance, um ótimo canastrão. A musa politizada, Íris Berben, ficou no mesmo nível de Giovanna Ralli, ambas ofuscadas pelos astros em cena. 

Já a inclusão do professor Xantos permitiu estabelecer um interessante contraste entre o idealista íntegro mas que não domina tão bem a prática quanto a teoria, o aventureiro experiente e ambicioso, e o camponês aprendiz de revolucionário. 

As cenas de ação são ótimas; o canção-título (música de Ennio Morricone e letra dos irmãos Sergio e Bruno Corbucci), um arraso, com seu sugestivo refrão Vamos a matar, compañeros! –aliás, nome original do filme, alterado nos EUA e no Brasil por motivos óbvios– grudando nos nossos ouvidos e... é melhor parar por aqui; e a perfeita dosagem de bangue-bangue, aventura e alívios cômicos. 

Corbucci, como os mercenários de seus filmes gêmeos, mesmo se não compartilhava os ideais libertários, tinha tal domínio de sua arte que chegava até a parecer sincero, como no empolgante desfecho de Companheiros (por Celso Lungaretti)  

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