Foi como se o Trinity estivesse invadindo o set de Era uma vez no Oeste... |
Foi idealizado, produzido e dirigido pelo grande Sergio Leone, que preferiu, contudo, transferir a seu assistente Tonino Valerii o crédito de diretor.
Por quê? Tenho cá pra mim que ele não quis quebrar a sequência evolutiva de sua obra. Começara dirigindo épicos da Antiguidade (Os últimos dias de Pompéia –também não creditado–, 1959; e O colosso de Rodes, 1961), inventara o bangue-bangue à italiana ao transferir para o velho Oeste uma saga de samurais (Por um punhado de dólares, 1964) e foi realizando filmes cada vez mais ambiciosos:
— Por uns dólares a mais (1965), em que uma busca de vingança assume contornos grandiosos;
— Três homens em conflito (1966), perfeito como filme de ação e extraordinário como líbelo contra a guerra;
— Era uma vez o Oeste (1968), um bangue-bangue nostálgico e filosófico, que contrapõe lendas e realidade, desmistificando fábulas românticas consagradas, ao mesmo tempo em que presta tributo a essas belas fantasias; e
— Quando explode a vingança (1971), tudo que ele queria dizer sobre as revoluções, sem prejuízo da ação propriamente dita, magnífica!
O passo seguinte seria Era uma vez a América (1984), monumento cinematográfico que mereceria ser reconhecido como uma das maiores obras-primas da sétima arte em todos os tempos.
Enquanto acumulava forças e reunia recursos para seu projeto mais caro e ousado, que tal ganhar um dinheirinho surfando na onda do sucesso de Terence Hill em clave cômica? [Este ator começara seguindo as pegadas de Franco Nero como mocinho sinistro, mas não convencia e acabou descobrindo sua real vocação ao estrelar o acomediado Chamam-me Trinity (d. Enzo Barboni, 1970).]
Ou, talvez, Leone simplesmente não tenha querido colocar sua assinatura num filme que tem grandes momentos mas, também, evidentes concessões comerciais.
Isto porque Meu nome é ninguém combina o melhor do Leone (novamente a discussão sobre como se engendravam as lendas, a belíssima trilha musical –desta vez com inspiração wagneriana– de Ennio Morricone e a dignidade que Henry Fonda confere ao seu personagem) com o pior do Terence Hill (as sequências típicas de comédia de pastelão, cuja ausência seus fãs jamais perdoariam...
A história é a de um jovem desconhecido mas muito hábil no gatilho (Hill), que importuna uma lenda viva do Oeste (Fonda), tentando por todos os meios forçá-lo a, antes de aposentar-se, inscrever seu nome definitivamente na História: quer que ele enfrente sozinho um verdadeiro exército de malfeitores.
Em termos qualitativos, o desperdício de tempo com as canastrices de Hill coloca o filme mais ou menos no patamar de Por um punhado de dólares; sem elas, seria uma espécie de irmão menor de Era uma vez o Oeste.
Mesmo assim, por seu ótimo ponto de partida e por algumas sequências inesquecíveis, merece ser visto.
Leone repetiria a dose com Trinity e seus companheiros (1975), usando Damiano Damiani como testa-de-ferro.
Só que exagerou na dose, pois se trata de um filme vazio e indefensável, pior do que qualquer western dirigido por Leone ou pelo próprio Damiani (cujo Uma bala para o general, de 1966, fora outra das inspiradas incursões da Cinecittà pela revolução mexicana).
Felizmente, não houve uma terceira associação com Terence Hill, um ator simpático e carismático, mas que se projetou num contexto de decadência e descaracterização do gênero, acabando por as simbolizar. (por Celso Lungaretti)
lista final de filmes do Festival do Western Italiano
(clique nos títulos p/ abrir):
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