sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

DEPOIS DE INVENTAR O WESTERN ITALIANO, SERGIO LEONE PRECISAVA DEMONSTRAR SEU TALENTO PARA VOOS MAIORES. CONSEGUIU!

P
or uns dólares a mais (1965) foi o primeiro grande filme do mestre Sergio Leone.  Ele inventara o faroeste italiano no ano anterior com Por um punhado de dólares,  transpondo para o velho Oeste uma história de samurais. Muitos cineastas vieram atrás. 

Então, seu novo filme era uma espécie de desafio, a hora de separar o homem dos meninos: tinha de provar que seu estrondoso sucesso inicial não fora apenas um golpe de sorte.

Em Por um punhado de dólares ele introduzira:
— a figura do anti-herói no centro da trama;
— a amoralidade básica dos tipos e das situações;
— a apresentação criativa dos letreiros iniciais, valorizada com vários recursos, inclusive o uso de animação;
— a nova concepção musical que Morricone trouxe para os westerns; e
— um dos personagens mais emblemáticos do bangue-bangue à italiana, o pistoleiro oportunista interpretado por Clint Eastwood.
Depois, em 
Por uns dólares a mais, todas essas características foram desenvolvidas e aprimoradas. É um filme muito melhor do que o anterior, mas, paradoxalmente, não apresentou novidades significativas.

A única que vale a pena citar é a colocação de dois personagens em destaque, no lugar de um. A partir daí, os filmes de Leone trariam sempre essa dupla de anti-heróis ocupando o espaço do antigo mocinho.

Para encarnar o segundo anti-herói (o primeiro continuou sendo Clint Eastwood, novamente na pele do Estranho Sem Nome), ele escolheu outro ator estadunidense que caiu como uma luva no papel: Lee Van Cleef.

Ao contrário de Eastwood, que não fora muito longe em Hollywood como astro (salvo num seriado de TV), Van Cleef já tinha longa e bem-sucedida carreira... como coadjuvante. Atuara em westerns memoráveis como Matar ou morrerHonra a um homem mauSem lei e sem almaO homem dos olhos friosEstigma da crueldade e O homem que matou o facínora.
Como no caso de Eastwood (e, mais tarde, de James Coburn e Eli Wallach), o olho clínico de Leone detetou em Van Cleef o potencial para voos maiores; e, com seu 
toque de Midas, elevou a carreira do dito cujo a um patamar bem mais alto, a partir de seus inesquecíveis desempenhos em Por uns dólares a mais e Três homens em conflito

[Van Cleef teve muita sorte ao trocar temporariamente Hollywood pela Cinecittà, pois também Sergio Sollima e Tonino Valerii levantaram a bola para ele marcar belos pontos, respectivamente em O dia da desforra e O dia da ira.]

E, se Por um punhado de dólares fora um filme-de-astro-único (Eastwood), Por uns dólares a mais teria, além dele e de Van Cleef, outra grande atração, o vilão genial, psicótico e drogado interpretado por Gian-Maria Volonté. É difícil dizer quem defendeu melhor seu personagem; mas, justiça seja feita a Volonté, coube a ele a composição mais difícil.

Klaus Kinski também está no elenco, só que sem todo o carisma que logo se vislumbraria em 
Gringo (d. Damiano Damiani, 1966), para irromper com força total em Aguirre, a cólera dos deuses (d. Werner Herzog, 1972).

A história é a de dois caça-prêmios (Eastwood e Van Cleef) que unem forças para uma empreitada complicada, mas muito rentável: capturar/eliminar a quadrilha do Índio (Volonté). 

Só que a motivação de um deles não é apenas mercenária: há uma vingança no final da linha. (por Celso Lungaretti)

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