terça-feira, 10 de abril de 2018

POR QUE O IMPEACHMENT NÃO FOI GOLPE? COMO TAL RÓTULO PROPAGANDÍSTICO ATRAPALHA A NOSSA LUTA?

Golpe? Com certeza!
Escreveu o jornalista e bacharel em filosofia Hélio Schwartsman:
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"O discurso de resistência ao golpe que o PT vem fazendo é emocionante. Ao ouvir a fala de Lula na porta do sindicato dos metalúrgicos, eu mesmo me senti transportado para as manifestações contra o regime militar dos anos 80.

O problema com essa narrativa é que ela está no século errado. Está faltando a ditadura contra a qual possamos nos insurgir. A condenação e a prisão de Lula se deram num contexto de normalidade democrática, no qual as instituições, com erros e acertos, vão cumprindo seu papel.

Na segunda metade do século 20, proliferaram no mundo ditaduras de direita. Seu surgimento era favorecido pela geopolítica global, que opunha os EUA ao bloco soviético. Foi aí que os militares brasileiros, com apoio norte-americano, deram um golpe e, por duas décadas, governaram o país com mão de ferro.

Esse tipo de ditadura, contudo, morreu com o fim da Guerra Fria"

Está errado? Nem a pau, Juvenal! 

Sei que recusar os antolhos que quase todos usam não me faz exatamente popular. Mas, alguém inequivocamente de esquerda precisa ter a sinceridade como norma nestes tristes tempos presentes.

Resolvi desempenhar tal papel, não por orgulho, mas porque agir de forma diferente me faria vomitar até morrer de inanição.
Golpe? Fala sério...

Não houve mesmo golpe de Estado em 2016 para quem, como o Schwartsman e eu, tem como paradigma os golpes dos anos de chumbo

Em primeiro lugar, porque aqueles eram anticomunistas e se destinavam a depor governos de esquerda que, real ou hipoteticamente, estariam encaminhando uma revolução social.

O defenestramento da Dilma ocorreu depois de os grandes capitalistas conviverem bem com três mandatos presidenciais sucessivos do PT, lucrando como nunca; e não por motivos ideológicos, mas sim porque ela se mostrava impotente para evitar o aprofundamento da pior depressão econômica brasileira em décadas, talvez a pior da História.

O Brasil, sob a Dilma, não marchava para uma revolução, mas sim para os saques e outras turbulências que decorrem do agravamento da penúria, fazendo explodir o desespero dos mais pobres.

E não houve virada de mesa com tropas na Dutra e tanques nas ruas, mas sim o tedioso cumprimento à risca do passo a passo do impeachment conforme está definido na Constituição Federal.
Por que me incomoda tanto que um rótulo propagandístico e demagógico tenha virado uma espécie de senha dos que são contrários ao governo atual e ao que ele representa?

Porque a incompreensão do que foi o impedimento da Dilma traz consigo uma absolvição ou atenuação da responsabilidade das forças de esquerda causadoras da pior derrota do nosso lado desde 1964, ajudando-as a se manterem no palco quando se descredenciaram para continuar ditando os rumos da oposição ao status quo no Brasil.

Ou, em termos mais claros: porque seu populismo, seu reformismo e sua conciliação de classe ruiu fragorosamente ao ficar comprovado que o poder econômico (aquele que realmente manda no Brasil, enquanto o Executivo, o Legislativo e o Judiciário não passam de satélites que giram na sua órbita) nunca consentirá que governantes saídos das urnas ultrapassem os limites que ele traçar. 

Mas, se vai levar a bola para casa sempre que o desenrolar da partida lhe desagradar, por que jogarmos com ele, afinal?! Para perdermos sempre? É preferível jogarmos com bola de meia num campinho lamacento, como fazíamos outrora...

Então, não é ganhando eleições que conseguiremos dar um fim à desigualdade econômica extrema e à extrema miséria na qual ela mergulha mais de um terço dos brasileiros. Mas sim organizando nacionalmente o povo para lutar pela justiça social e para sustentar as conquistas arduamente obtidas contra os poderosos que inevitavelmente as tentarão anular.

Para que esta nova fase comece é necessário que a anterior acabe e não haja mais o direcionamento de esforços para o que não deu certo antes e dará menos certo ainda daqui para a frente.

Então, continuarei atuando no sentido de engendrarmos uma nova esquerda, para substituir a que já não tem mais esperança nenhuma a oferecer ao povo brasileiro.

Trata-se, na verdade, da única opção que resta para os idealistas que travam o bom combate. Ainda que a ficha não tenha caído para a maioria dos companheiros no presente, em médio e longo prazos a esquerda brasileira, sem tal reciclagem, se tornará irrelevante. 

Precisamos honrar a trajetória de mais de um século que temos atrás de nós e da qual somos depositários, não deixando a chama extinguir-se de forma tão melancólica. 

Até porque o povo necessitará cada vez mais de quem o ajude a lutar com discernimento contra o capitalismo, cuja nocividade e desumanidade só tendem a aumentar daqui para a frente.

Um comentário:

luiz disse...

A principal prova de que não foi golpe é que o PT se aliou ao PMDB em 16 estados. Chega de hipocrisia.

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