sábado, 19 de abril de 2014

O PATRÍCIO MINO ME VÊ COMO "RUDE" E "IGNARO". ADMITO: SOU MESMO PLEBEU. COM ORGULHO!

Não jogo xadrez há alguns anos, mas tenho espírito de enxadrista. Gosto de encarar desafios.

Vem daí meu interesse por polêmicas, principalmente sob o ângulo da estratégia e tática adotada pelos contendores.

Grandes polemistas foram: 
  • Karl Marx, que, em Miséria da filosofia, fez picadinho de Pierre-Joseph Proudhon e seu livro Filosofia da miséria. O velho barbudo era simplesmente brilhante, mas tinha o defeito de amiúde exceder-se na virulência. Não deveria ter antagonizado de forma tão exacerbada um contendor do campo da esquerda, tratando-o pior do que aos inimigos de classe;
  • Paulo Francis, que travava muitas e ganhava quase todas, tendo feito com a feminista Irede Cardoso exatamente o que Marx fez com Proudhon (passou como um trator por cima dela):
  • Roberto Campos, menos dado ao sarcasmo e às alfinetadas que os outros dois, mas capaz de esgotar totalmente os assuntos sobre os quais discorria, deixando os adversários num mato sem cachorro, impotentes para responderem à altura.
Humildemente admito que ainda estou muito longe desses três modelos. Mas, a voz corrente é de que me sai bem contra Marcelo Paiva (que não era propriamente um adversário, mas sim um companheiro que estava muito mal informado a meu respeito) e Olavo de Carvalho (este sim um antípoda ideológico, a quem, contudo, respeitei demais, apenas voltando contra ele os ataques que me lançava, quando deveria é ter-lhe virado um caminhão de melancias em cima, pois hoje percebo que jamais passou de um tigre de papel).

Uma polêmica totalmente desequilibrada é a que está em curso entre Mino Carta e Demétrio Magnoli, cujos textos são os seguintes (clique p/ abrir):
Embora considere indesculpável a arrogância com que o MC me excluiu à última hora de uma matéria de capa da Carta Capital depois de eu haver desperdiçado horas e horas falando à sua repórter e posando para seu fotógrafo, e também o deplorável papel de caçador de bruxas que desempenhou no Caso Battisti, confesso que neste sábado, ao tomar conhecimento do tiro de misericórdia com que Magnoli o despachou, cheguei a sentir dó dele.

Não bato em bêbados, crianças, mulheres, deficientes físicos, idosos e, enfim, em ninguém que seja incapaz de se defender (mesmo bichos...). A lista, a partir de agora, passa a incluir o MC. Não o desafiarei mais, como vinha fazendo, na esperança de puni-lo exemplarmente pelos episódios acima citados.

Por quê? Porque, depois de vê-lo reduzido a pó de traque pelo Magnoli, percebo que não haverá mérito nenhum em repetir o massacre. Seria, isto sim, uma covardia.

A menos que, como no filme Wild Bill (d. Walter Hill, 1995), houvesse um jeito de colocá-lo em igualdade de condições. Bill Hickock (Jeff Bridges), desafiado a travar tiroteio com um cadeirante (Bruce Dern), pede para ser atado a uma cadeira. Mas, como em polêmicas isto é impossível, esquece! 

O que não implica passar batido pela bílis que MC, em seu descontrole, venha a expelir sobre mim. Como estas pessimamente traçadas (ridiculamente empoladas) linhas:
"Raymundo Faoro, amigo fraterno e companheiro de algumas aventuras, recomendava: 'Não exagere em ironias, eles acham que você fala sério'. Eles, os privilegiados rudes e ignaros. Digamos, os Magnolis e quem acredita neles, e quem os divulga (grifo meu, já que se trata de uma óbvia alusão a este artigo)".
Não aceito, evidentemente, a pecha de divulgador do Magnoli. Na verdade, o que fiz foi dar o máximo de quilometragem ao editorial que o dito cujo desencavou nos arquivos da veja: aquele no qual, por ocasião do sexto aniversário do golpe de 1964, MC proclamou sua admiração incondicional pelos militares, chegando ao cúmulo de louvar os esforços dos fardados no combate à corrupção e à subversão!!! [A alegação de que se tratava de ironia é um insulto à nossa inteligência...] 
Isto também era ironia?

Privilegiado?! Esta é a última acusação que me pode fazer quem atravessou a ditadura a pão-de-ló, enquanto eu comia o pão que o diabo amassou. 

Rude e ignaro?! É exatamente como os patrícios costumavam se referir à plebe na Roma antiga. Freud qualificaria tal escolha de palavras de ato falho. Já o homem da rua diria que MC, narcisista a ponto de levar a sério o apelido louvaminhas de 'imperador', se entregou, deixando perceber quais são realmente suas devoções.

Quanto a mim, jamais aspirarei a ser algo além de plebeu, filho de um honrado operário da Mooca. Mesmo assim, certos aspirantes a uma condição aristocrática que não é de berço (pois ascenderam à sombra do poder, qualquer poder) têm uma paúra imensa de enfrentar meus argumentos rudes e ignaros. Por que será?

6 comentários:

ismar disse...

Prezado Celso,

Demetrio Magnoli é um crápula. Escrevi diversas respostas no blog dele na época do debate sobre estatuto da igualdade racial, que ele defenestrava, nenhuma das minhas observações foram publicadas em seu, blog, e nem me respondeu aos e-mails que enviei diretamente. É um mentiroso e vaidoso.

Porque ele não se posiciona sobre os abusos que escrevem na veja sobre a esquerda, sobre os movimentos sociais e etc. A Veja virou um esgoto, e ele chafurda naquela lama.

ele é igualzinho ao Azevedo.

Prefiro o Mino.

Abraço.

Ismar

celsolungaretti disse...

Ismar,

cada um com seu calo dolorido. Reconheço que você tem um bom motivo para detestar o Magnoli. Mas, os meus para detestar o Mino me parecem maiores.

Quando ele me excluiu daquela matéria de capa da "Carta Capital", por mera pirraça, eu lutava desesperadamente pela minha anistia, a única esperança de me reerguer da crise a que o desemprego me conduzira.

Se meus esforços não tivessem finalmente resultado, eu já decidira a linha de ação final: uma greve de fome em que, ou me dariam o que era justo, ou iria até o fim. De certa forma, eu poderia ter morrido por causa do Mino.

Idem, o Cesare. A posição do Mino afastou um montão de apoios na fase inicial da luta. Converse com o Rui Martins, que ele te relatará.

O Cesare também não pretendia sobreviver caso decidissem sua extradição. É outro que poderia ter morrido por causa do Mino.

Desculpe, mas estes episódios são mais graves do que a posição do Magnoli sobre igualdade racial; afinal, ele não é tão importante nem a posição dele no assunto era tão decisiva assim.

Por último, o Mino é inimigo figadal dos ideais de 1968. Sempre me traz à lembrança a posição do PCB enquanto arriscávamos a vida o tempo todo e víamos nossos mais estimados companheiros morrerem: o partidão publicava no seu jornal invencionices como a de que o Lamarca seria agente da CIA. Recorria às jogadas mais imundas para afastar seus militantes de nós, a fim de que não nos prestassem solidariedade revolucionária.

O Mino é exatamente dessa estirpe. Mais um que preferia a velha ordem do que os ventos de mudança. E que tudo fez para que não acontecesse uma revolução de novo tipo, a única viável àquela altura. Os modelos de 1917, 1948 e 1959 já estavam com o prazo de validade vencido.

Abs.

ismar disse...

Prezado Celso,

Eu nem sabia de tantos detalhes assim. Acho que você tem razão sobre o mino.

Mas eu li drezenas de edições do acervo da Veja on line, tem alguns editoriais que foram assinados pelo próprio dono da Veja: (Frias, né?), pois bem. O Demétrio deveria criticar também o Frias por este ter escrito editoriais apoiando a ditadura nos anos 1970.

Minha colocação foi com respeito a disputa Mino X Demétrio (difícil para mim me colocar ao lado de alguém da veja atual).

celsolungaretti disse...

Ismar,

o Demétrio Magnoli colaborou com o Estadão e a Globo, hoje é colunista da Folha. Parece-me que nunca foi efetivo da veja.

Que eu saiba, quem fazia os editoriais da veja naquele tempo eram o Mino (assinando MC) e um outro nome da equipe cujo nome me escapa. Não me lembro de ter visto algum editorial assinado pelo Victor Civita.

Quanto ao Mino e o Magnoli, é daquelas rixas nas quais tudo que um fala sobre o outro leva jeito de ser verdade.

Para mim, ambos são figuras negativas e perniciosas. A única diferença é que o Magnoli sabe escrever e o Mino é tão ruim escrevendo quanto em todo o resto.

marcosomag disse...

Poucas vezes ví alguém tão ressentido com outro como vc em relação ao Mino Carta!

Mas, em relação a polêmica, vamos aos fatos.

Você deve saber que havia um jogo de gato e rato entre imprensa, artistas e a censura na época da Ditadura. Não raro, estrategemas como louvores a aspectos do Regime eram usados por veículos de imprensa e artistas para "massagear" egos militares e possibilitarem que a censura viesse a "engolir" reportagens/músicas/montagens teatrais e outras manifestações do pensamento que atingiriam de forma mais dura a Ditadura.

Ás vezes, isso era calculado. Outras vezes, compulsório. Só para citar um exemplo: quando Elis Regina criticou a ditadura quando em turnê pela Europa, em 1973 ("o Brasil é governado por gorilas", ela disse), na volta teve que, sob ameaças, cantar o Hino Nacional em uma cerimônia militar no Rio Grande do Sul.

Portanto, elogios e afagos falsos para liberar textos duros contra a Ditadura (a VEJA de Mino Carta foi a primeira publicação da grande imprensa a denunciar as torturas do Regime em matéria de capa, ainda em 1969!) são plenamente justificados pelo contexto da época.

Demétrio, um medíocre professor de geografia que viu em "endireitar" a forma de conseguir uma aposentaria tranquila e reconhecimento imerecido, foi desonesto intelectualmente ao não contextualizar os elogios de Mino Carta ao General Médici.

celsolungaretti disse...

Companheiro,

a célebre capa da "veja" contra as torturas tem um motivo prosaico: os Civitas são judeus e os judeus sempre foram muito sensíveis em relação a torturas infligidas aos seus.

O assassinato do Herzog nem de longe foi o mais dantesco dos nossos anos de chumbo, mas a ascendência judaica do coitado do Vlado garantiu repercussão mundial e forte repúdio na imprensa de outros países, daí os milicos terem sido obrigados a engolir a missa na Catedral da Sé.

E o episódio do Chael Charles Schreier foi um mini-Caso Herzog.

Então, ouso dizer que o mérito por aquela capa não é do Mino, mas sim do próprio Victor Civita.

Quanto às concessões que o Mino fazia, repito: ninguém o obrigava a lamber pessoalmente as botas dos milicos, como fez no editorial de aniversário do golpe. Se delegasse a repulsiva tarefa a um subalterno, não viria nenhuma viatura do DOI-Codi para o prender. Ele escreveu e assinou porque quis.

Pior ainda foi a perseguição ao Battisti, quando ele se comportou como o mais vil inquisidor. Nunca vi um semanário desse porte publicar matérias tão tendenciosas e mentirosas por tantas semanas seguidas (umas seis, se bem me lembro). Até jornaleco de bairro se envergonharia de fazer um lobby tão evidente como aquele.

Desculpe-me, o Mino é simplesmente indefensável. Gaste suas velas com melhores defuntos.

Abs.

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