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sábado, 28 de abril de 2012

DE HORA EM HORA OBAMA PIORA

Crer que algo vá mudar com a troca da guarda na presidência dos EUA sempre foi a maior roubada. Quem manda é o  stablishment, pouco importando as características do seu serviçal da vez na Casa Branca.

John Kennedy, p. ex., nem de longe pode ser considerado a  pomba  que dele fizeram, embora assassinado por  falcões

Deu sinal verde para a invasão da Baía dos Porcos em abril/1961, mas refugou quando o show já começara. Deixou de fornecer a prometida cobertura aérea para o desembarque dos  gusanos  e estes foram facilmente dominados.

Mas, não fez objeção nenhuma a que exilados cubanos utilizassem o território dos EUA para prepararem uma incursão armada contra seu país, nem descartou o apoio intervencionista a tal empreitada.

Foi só na enésima hora que reconsiderou, preferindo evitar um comprometimento tão ostensivo com a agressão a uma nação soberana sem ter-lhe declarado guerra.

Resultado: o mundo inteiro ficou sabendo, da mesmíssima maneira, que os EUA estavam acumpliciados com a invasão. E esta fracassou rotundamente.

Depois que John e Robert Kennedy foram assassinados por ultradireitistas hidrófobos, houve quem os tentasse erigir em grandes democratas.

"JOÃO DO AMOR"?!

Em 1968, no IV Festival de MPB da TV Record, foi até inscrita uma música homenageando o clã, composta por Ary Toledo e Chico Anysio. John Kennedy, quem diria, metamorfoseou-se em "João do amor" que "cantava a paz e o bem", mas cuja canção foi calada por "um tiro à traição". Dessa vez, o simpático Jair Rodrigues não recebeu muitos aplausos por sua interpretação...

Justiça seja feita, John Kennedy teve lá seu grande momento quando administrou a crise dos mísseis cubanos sem ceder às pressões militares para endurecer com a URSS. Com um Nixon na presidência, talvez a humanidade tivesse ido pro beleléu.

Durante a Guerra do Vietnã, eram bem heterodoxos os discursos do precandidato democrata à presidência em 1968, Eugene McCarthy, a ponto de sensibilizarem os jovens contestadores, que fizeram campanha por ele. Mas a indicação acabou ficando com o anódino Hubert Humphrey. Nunca saberemos se Gene, no poder, teria sido fiel à sua retórica.

George McGovern, menos à esquerda mas igualmente comprometido com o fim da guerra, conseguiu ser candidato em 1972, perdendo a eleição para o coadjuvante do macartismo Richard Nixon.

O menos pior dos presidentes estadunidenses nas últimas décadas foi, sem dúvida, Jimmy Carter, que estimulou a redemocratização da América Latina tanto quanto seus antecessores haviam semeado ditaduras. Foi mediador do primeiro acordo de paz entre um país árabe (o Egito) e Israel, amenizou o embargo econômico a Cuba e adotou uma política de paz em relação aos países comunistas. 

...E O VENTO LEVOU!

Está sendo uma completa decepção a  grande esperança negra  Barack Obama (aquele que, dentre outras promessas que o vento levou, comprometeu-se a desativar Guantánamo, só faltando assinar um  papelzinho  como os do Serra).

Tão insignificante vem sendo seu governo que nada melhor ele tem para erigir em trunfo eleitoral, nesta altura da campanha para reeleger-se, do que a hedionda operação pirata para extermínio de Osama Bin Laden e quem mais estivesse por perto, ao arrepio da soberania do governo paquistanês.

Tolamente, o rival republicano Mitt Romney afirmou que "não vale mover céus e terras gastando milhares de dólares só para pegar uma pessoa".

Levantou a bola para os democratas explorarem um tema que lhes favorece junto ao eleitorado de jecas e brucutus dos EUA.

Começando por Bill Clinton, que deu uma declaração mais feia ainda do que as mulheres que escolhe para  pular a cerca: disse que, ao tomar a decisão de autorizar uma  vendetta  caracteristicamente mafiosa contra Bin Laden, Obama teria escolhido "o mais difícil e mais honrado caminho".

Fez-me lembrar o título em inglês de um ótimo filme policial francês (d. Jean Herman, 1968, com Alain Delon e Charles Bronson): Honra entre ladrões.

Pois nada existe de mais desonroso do que ordenar matança tão covarde.

domingo, 13 de março de 2011

DE HIROSHIMA A FUKUSHIMA, UM PESADELO QUE JÁ DURA 65 ANOS

O mês é outubro e o ano, 1962. Em todos os países há pessoas com o ouvido colado nos rádios e lançando olhares angustiados para o céu, à beira do pânico.

Nunca estiveram tão presentes nas mentes e tão opressivas nos corações as imagens dantescas dos genocídios de Hiroshima e Nagasaki, quando mais de 200 mil seres humanos foram imolados, parte instantaneamente, parte após lenta e terrível agonia. 

Havia concreta possibilidade de repetição daqueles horrores em escala muito mais ampla.

É que os EUA, ao obterem provas fotográficas da existência de silos de mísseis soviéticos em Cuba, deram um ultimato à URSS, exigindo sua imediata remoção.

A União Soviética, inicialmente, não cedeu. Pelo contrário, ao saber que os norte-americanos haviam iniciado um bloqueio naval e aéreo de cuba, despachou uma frota que o tentaria romper.

Um único disparo e começaria a reação em cadeia! Estava-se a um passo da guerra nuclear entre duas nações que acumulavam poder destrutivo suficiente para exterminar a espécie humana.

Foram 13 dias que apavoraram o mundo, enquanto se desenvolviam tensas negociações entre os governos de John Kennedy e Nikita Kruschev. Nunca os estadunidenses compraram tanto cimento e tijolo como nesse período em que construíram sofregamente abrigos nucleares em suas casas.

A histeria coletiva inspirou um episódio magistral da série de TV Além da Imaginação, sobre vizinhos que, ao confraternizarem numa festa, recebem a notícia de que a guerra atômica pode estar começando.

O único que havia transformado seu porão em abrigo, nele entrincheira-se com a família, negando acesso aos demais, por não haver mantimentos, água e espaço físico para tanta gente.

Quando os outros estão pondo abaixo a porta, empunhando tacos de beisebol e outras armas improvisadas, chega o desmentido: rebate falso. Mas, suas reações primitivas e egoístas durante a emergência revelara a todos como eles realmente eram, sob o verniz da hipocrisia social.

KRUSCHEV OBTÉM CONCESSÕES.
KENNEDY, HOLOFOTES

A crise dos mísseis cubanos terminou com cada lado cedendo um pouco e o mundo suspirando aliviado.

Os EUA concordaram em, posteriormente e sem alarde, retirarem mísseis similares que haviam instalado na Turquia. Comprometeram-se, ainda, a nunca mais realizarem ou estimularem invasões de Cuba, como a que a CIA e exilados cubanos haviam tentado em abril daquele ano na Baía dos Porcos. Eram estes os acontecimentos que haviam motivado os soviéticos a exibirem também o muque.

Kruschev, por sua vez, ordenou o desmantelamento dos silos e a retirada dos mísseis, saindo do episódio com uma vitória real (obtivera as contrapartidas desejadas) e uma derrota propagandística, pois concordou em manter secretas as cláusulas que lhe eram favoráveis.

De quebra, as superpotências decidiram colaborar para que novos sobressaltos fossem evitados, tendo sido instalada uma ligação telefônica direta (o famoso  telefone vermelho) entre Kennedy e Kruschev, para que se entendessem antes dos pequenos problemas virarem grandes crises.

Nos EUA e em grandes capitais européias, houve júbilo incontido. Cidadãos festejavam nas praças e parques, lotavam os bares. Casais redescobriram a atração sexual, estranhos iam para a cama depois de trocarem duas palavras [O número de crianças nascidas nove meses depois foi muito superior ao habitual...].

A explosão de vida sucedeu aos augúrios de morte. Emblematicamente, a música até então ignorada de quatro jovens de Liverpool decolaria para a consagração mundial, tornando-se a trilha sonora da maior revolução de costumes que o mundo já vivenciou.

CHERNOBIL: FORAM 6,6 MILHÕES
OS CONTAMINADOS

Se diminuiu consideravalmente a ameaça de que a  guerra fria  entre EUA e URSS se tornasse quente e radioativa, nem por isso a energia atômica deixou de provocar pesadelos e paranóias.

Em abril de 1986, um acidente nuclear na usina soviética de Chernobil, na Ucrânia, liberou uma nuvem de radioatividade que atingiria a URSS, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido.

Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas, expondo 6,6 milhões de pessoas e tornando necessárias a evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil habitantes.

A ONU computou 56 mortes decorrentes do acidente na primeira década, estimando que outras 4 mil ainda viriam a ocorrer, em função do câncer causado nessas pessoas; o Greenpeace retrucou que esses números eram bem inferiores aos reais. A usina foi desativada.

THREE MILE ISLAND INSPIROU O FILME 
"SÍNDROME DA CHINA"

Anteriormente, o acidente no reator de Three Mile Island já levara 140 mil moradores do condado de Dauphin, na Pensilvânia, a abandonarem a região.

Essa central nuclear sofreu fusão parcial em março de 1979, devido a falha do equipamento decorrente ao mau estado do sistema técnico, além de erro operacional. Tinha havido redução de custos, prejudicando a manutenção e troca de equipamentos. Os encarregados não se demonstraram suficientemente capacitados para lidar com a emergência.

O susto e os transtornos motivaram o lançamento de uma campanha contra a energia nuclear nos EUA: No Nukes, com a participação de músicos famosos como Jackson Browne, Bonnie Raitt e Graham Nash.

E o episódio inspirou o filme Síndrome da China (1979 - d. James Bridges), sobre repórter (Jane Fonda) e cinegrafista (Michael Douglas) de TV que, ao fazerem reportagem numa usina nuclear, suspeitam que presenciaram uma ameaça de vazamento radioativo, acabando por obter a confirmação de um engenheiro honesto (Jack Lemmon).

FUKUSHIMA COMPROVA: USINAS JAMAIS 
SERÃO 100% SEGURAS

Agora, a usina japonesa Fukushima 1, que teoricamente deveria suportar terremotos e tsunamis, aguentou bem um terremoto muito intenso, mas não o tsunami que veio em seguida.

Especula-se que a água do tsunami tenha provocado uma falha no sistema de esfriamento do reator.

Ou seja, com o terremoto, o trabalho da usina foi interrompido automaticamente, mas o reator precisava ser esfriado.

Isto deveria ser feito por um sistema de energia alternativa que, no entanto, falhou ao ser atingido pelo tsunami, colocando a usina, em função do superaquecimento do reator, na rota da explosão.

Antes mesmo do acidente, quando se tentava reduzir a pressão excessiva no reator da central nuclear, vapores radioativos já estavam sendo liberados para o meio ambiente.

Só quando a situação estiver totalmente sob controle se poderão dimensionar os efeitos, saber quantas pessoas foram atingidas e com que gravidade. 

"O acidente que aconteceu no Japão vai fazer todo mundo repensar o uso de usinas nucleares", prevê um especialista, o engenheiro Aquilino Senra Martinez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Para quem não engole os contos da carochinha do sistema, salta aos olhos que as usinas nucleares jamais serão totalmente seguras.

Trata-se de mais uma opção que o capitalismo impõe à humanidade, a partir de um enfoque em que a relação custo/benefício é tudo e a vida das vítimas, nada.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

VIDA ARTIFICIAL OU MORTE ARTIFICIAL?

Tão genial como cientista quanto
trapalhão na política, Einstein
foi o pai da bomba atômica.


Dos grandes jornais brasileiros, só dois manchetearam a nova façanha científica: Folha de S.Paulo ("Ciência cria primeira célula sintética") e O Globo ("Criada vida artificial").

Provocadora como sempre, a
Folha fez constar em sua capa uma afirmação para melindrar os leitores mais devotos:
"Os estudos, feitos por 15 anos, provam que a vida não precisa de força especial para existir".
O próprio líder da equipe de pesquisadores, Craig Venter, insinuou ter desalojado Deus:
"Essa é a primeira criatura do planeta, uma espécie que pode se replicar, cujo pai é um computador".
Talvez a melhor explicação do que realmente houve seja a do jornalista Marcelo Leite, da Folha:
"Embora Craig Venter tenha anunciado a primeira 'célula sintética', na realidade seu grupo não criou um organismo a partir do zero. Ele provou que é capaz de recriar e fazer funcionar um organismo ultrassimples apagando seu software biológico e enxertando outro muito parecido".
O certo é que o tal organismo ultrassimples, engendrado pela combinação do que já existia com o toque do dedo do homem (no teclado do computador), passa a replicar-se por si próprio.

É como um robô que conseguíssemos programar para multiplicar-se em outros robôs idênticos, indefinidamente.

E, claro, doravante o processo será estendido a organismos cada vez menos simples.

Venter imagina que já em 2011 tenhamos vacinas de gripe feitas de células sintéticas.

Prevê-se também a criação, entre outras aplicações, de bactérias programadas para resolver problemas ambientais e energéticos; p. ex., que produzam combustíveis ou que sequestrem gás carbônico do ar.

Mas, os cientistas costumam ser tão brilhantes em suas especialidades quanto ingênuos em relação a todo o resto. Einstein que o diga: convenceu Roosevelt a iniciar o projeto atômico, pensando que serviria apenas para conter Hitler.

Basta lermos o noticiário com atenção para cair a ficha. Abriram-se as mais vastas e inquietantes perspectivas para o desenvolvimento de armas biológicas, que tendem agora a tornar-se ainda mais devastadoras do que as nucleares.

De imediato, preocupa a possibilidade de que alguma dessas criações experimentais, inacabadas, escape do laboratório e passe a atuar livremente, quando então se conheceriam os efeitos nocivos não previstos.

Como até os trash movies podem antecipar a vida, seria algo próximo daquela aranha turbinada para crescer que foge do laboratório no filme Tarântula (1955, dirigido por Jack Arnold) e vai atingindo proporções descomunais -- com a diferença de que gigantesca seria a profusão de aranhas microscópicas em contínua replicação. Algo muito mais letal do que uma única criatura monstruosa.

A ficção foi atualizada pelo novelista Stephen King em A Dança da Morte (1978), sobre uma arma biológica que sai do controle e extermina quase toda a humanidade.

Falta, talvez, um livro e/ou filme sobre uma arma biológica que seja utilizada premeditadamente contra determinada população e acabe atingindo universo bem mais amplo.

Foi a hipótese fantasiosa que andou circulando sobre a aids: a de que teria sido criação de algum Dr. Silvana imperialista, para exterminar africanos.

De qualquer forma, temos mais é de pôr as barbas de molho: a energia nuclear também foi anunciada como solução energética, mas veio primeiro a utilização bélica e ela virou, isto sim, um enorme problema.

Tanto que a espécie humana esteve a um passo da extinção em 1962, quando da crise dos mísseis cubanos.


quinta-feira, 20 de maio de 2010

O GENÉRICO DO DR. STRANGELOVE

O vice-presidente José Alencar só é notícia quando baixa no hospital, quando sai do hospital ou quando diz uma bobagem sem tamanho.

Nesta 4ª feira (19), estava chegando no hospital apenas para fazer exames e quimioterapia; isto não lhe valeria mais do que três linhas na seção de notas curtas.

Tratou, então, de dizer a bobagem sem tamanho: pregou o desenvolvimento de artefatos nucleares como "mecanismo de dissuasão".
Toda nossa História comprova que armas são produzidas para serem usadas. Mas dia, menos dia, acontece. Foi o fantasma que nos aterrorizou em 1962, quando a espécie humana esteve a um passo da extinção durante a crise dos mísseis cubanos.

Então, tremo ao pensar que uma nação inconfiável como Israel, p. ex., tem um arsenal nuclear totalmente sem controle.

Quem faz o que o estado judeu fez com os palestinos na virada de 2008 para 2009 é uma ameaça para a humanidade.

Alencar quer que outros embarquem nessa insanidade, inclusive nós.

E a Argentina, claro, que logo trataria de produzir também seus petardos. O equilíbrio do terror.

Quem viria em seguida, Venezuela e Colômbia?

Há pessoas que sabem viver e sabem morrer.

Há outras que parecem querer levar para o túmulo tantos acompanhantes quantos puderem. "Depois de mim, o dilúvio" é seu lema inconfesso.

Alencar, ao que tudo indica, faz parte dessa estirpe.


quarta-feira, 21 de abril de 2010

O HORROR NUCLEAR, A ARTE E A VIDA

"Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas...
Mas, não se esqueçam
Da rosa, da rosa,
Da rosa de Hiroshima"
(Ney Matogrosso)

A ARTE
O Dia Seguinte (1979 - d. Nicholas Meyer)
Numa pequena cidade do Kansas, uma família prepara um casamento. O Dr. Oakes (Jason Robards) se ocupa com sua função de chefe de cirurgia do hospital local. As pessoas cumprem suas rotinas diárias, sem saber que o mundo está próximo de uma guerra nuclear.

Os soviéticos atiram mísseis contra a Alemanha, atacam um navio estadunidense no Golfo Pérsico e, depois, o quartel general da OTAN. As notícias geram pânico, muitos constroem abrigos em seus porões, a maioria é pega de surpresa.

A destruição não poupa o Kansas: o Dr. Oakes e sua família tentam sobreviver num mundo estéril e devastado, sem energia elétrica, água ou comida, mas com muita radioatividade, fome e doenças.
A VIDA
Crise dos mísseis cubanos (outubro de 1962)
Em todos os países há pessoas com o ouvido colado nos rádios e lançando olhares angustiados para o céu, à beira do pânico.

Nunca estiveram tão presentes nas mentes e tão opressivas nos corações as imagens dantescas dos genocídios de Hiroshima e Nagasaki. Era concreta a possibilidade de repetição daqueles horrores em escala muito mais ampla.

É que os EUA, ao obterem provas fotográficas da existência de silos de mísseis soviéticos em Cuba, deram um ultimato à URSS, exigindo sua imediata remoção.

A União Soviética, inicialmente, não cedeu. Pelo contrário, ao saber que os norte-americanos haviam iniciado um bloqueio naval e aéreo de cuba, despachou uma frota que o tentaria romper.

Um único disparo e começaria a reação em cadeia! Estava-se a um passo da guerra nuclear entre duas nações que acumulavam poder destrutivo suficiente para exterminar a espécie humana.

Foram 13 dias que apavoraram o mundo, enquanto se desenvolviam tensas negociações entre os governos de John Kennedy e Nikita Kruschev. Nunca os estadunidenses compraram tanto cimento e tijolo como nesse período em que construíram, sofregamente, abrigos nucleares em suas casas.
[A histeria coletiva inspirou um episódio magistral da série de TV Além da Imaginação, sobre vizinhos que, ao confraternizarem numa festa, recebem a notícia de que a guerra atômica pode estar começando.

O único que havia transformado seu porão em abrigo, nele entrincheira-se com a família, negando acesso aos demais, por não haver mantimentos, água e espaço físico para tanta gente.

Quando os outros estão pondo abaixo a porta, empunhando tacos de beisebol e outras armas improvisadas, chega o desmentido: rebate falso. Mas, suas reações primitivas e egoístas durante a emergência revelara a todos como eles realmente eram, sob o verniz da hipocrisia social.]
A crise dos mísseis cubanos terminou com cada lado cedendo um pouco e o mundo suspirando aliviado.

Os EUA concordaram em, posteriormente e sem alarde, retirarem mísseis similares que haviam instalado na Turquia. Comprometeram-se, ainda, a nunca mais realizarem ou estimularem invasões de Cuba, como a que a CIA e exilados cubanos haviam tentado em abril daquele ano na Baía dos Porcos. Eram estes os acontecimentos que haviam motivado os soviéticos a exibirem também o muque.

Krushev, por sua vez, ordenou o desmantelamento dos silos e a retirada dos mísseis, saindo do episódio com uma vitória real (obtivera as contrapartidas desejadas) e uma derrota propagandística, pois concordou em manter secretas as cláusulas que lhe eram favoráveis.

De quebra, as superpotências decidiram colaborar para que novos sobressaltos fossem evitados, tendo sido instalada uma ligação telefônica direta (o famoso telefone vermelho) entre Kennedy e Kruschev, para que se entendessem antes dos pequenos problemas virarem grandes crises.

Nos EUA e em grandes capitais européias, houve júbilo incontido. Cidadãos festejavam nas praças e parques, lotavam os bares. Casais redescobriram a atração sexual, estranhos iam para a cama depois de trocarem duas palavras (o número de crianças nascidas nove meses depois foi muito superior ao habitual...).

A explosão de vida sucedeu aos augúrios de morte. Emblematicamente, a música até então ignorada de quatro jovens de Liverpool decolaria para a consagração mundial, tornando-se a trilha sonora da maior revolução de costumes que o mundo já vivenciou.

A ARTE
Síndrome da China (1979 - d. James Bridges)
Ao fazerem uma reportagem em usina nuclear da Califórnia, a repórter de TV Kimberly Wells (Jane Fonda) e o cinegrafista Richard Adams (Michael Douglas) suspeitam de que presenciaram uma ameaça de vazamento nuclear.

A emissora é pressionada para não colocar a matéria no ar, mas a dupla insiste na pauta e acaba descobrindo que houve mesmo um início de descontrole, encoberto pela usina por temer uma vistoria que a obrigue a fechar para reparos, com enorme prejuízo.

O honesto engenheiro Jack Godell (Jack Lemmon) decide priorizar a segurança da coletividade em detrimento dos patrões, esforçando-se para alertar a opinião pública do enorme risco existente, com a ajuda da equipe de TV.


Acaba se trancando numa sala de controle, armado, para impedir que recoloquem a usina em operação sem terem sanado o problema. É morto, mas seu alerta vai ao encontro de novo incidente, em que quase ocorre o pior, desta vez diante das câmaras de várias redes de TV.

A VIDA
Three Mile Island (1979) e Chernobil (1986)
Se o desfecho sensato da crise dos mísseis cubanos fez diminuir consideravalmente a ameaça de uma guerra apocalíptica entre as superpotências, nem por isso a energia atômica deixou de provocar pesadelos e paranóias.

Em abril de 1986, um acidente nuclear na usina soviética de Chernobil, na Ucrânia, liberou uma nuvem de radioatividade que atingiria a URSS, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido.

Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas, expondo 6,6 milhões de pessoas e tornando necessárias a evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil habitantes.

A ONU computou 56 mortes decorrentes do acidente na primeira década, estimando que outras 4 mil ainda viriam a ocorrer; o Greenpeace retrucou que esses números eram bem inferiores aos reais. A usina foi desativada.

Anteriormente, o acidente no reator de Three Mile Island já levara 140 mil moradores do condado de Dauphin, na Pensilvânia, a abandonarem a região.

Essa central nuclear sofreu fusão parcial em março de 1979, devido a falha do equipamento decorrente ao mau estado do sistema técnico, além de erro operacional. Tinha havido redução de custos, prejudicando a manutenção e troca de equipamentos. Os encarregados não se demonstraram suficientemente capacitados para lidar com a emergência.

O susto e os transtornos motivaram o lançamento de uma campanha contra a energia nuclear nos EUA: No Nukes, com a participação de músicos famosos como Jackson Browne, Bonnie Raitt e Graham Nash.

segunda-feira, 1 de março de 2010

DISSIDENTES CUBANOS: MUITO SOFRE QUEM PADECE


Face a certas tragédias sobre as quais jornalistas e leitores cansavam de repetir o mesmo blablablá que nada resolve, Paulo Francis costumava ironizar: "muito sofre quem padece".

Caso recente do Haiti, cujos males estão diagnosticados há tanto tempo, sem que se vislumbre a mais remota possibilidade de que ocorra a mobilização de vontades e recursos necessária para as correções estruturais que se impõem.


Condenado a ser pária no mundo enquanto o mundo permanecer sob o jugo desumano do capitalismo, sua única esperança é uma transformação em escala maior. Até lá, muito continuará sofrendo porque padece...

Os reacionários agora me cobram que comprove ser mesmo defensor dos direitos humanos, posicionando-me sobre Cuba. Com seu habitual primarismo, ignoram que, longe de omitir-me, já me pronunciei na semana passada.

No fundo, trata-se de outro beco (quase) sem saída. Vamos recapitular.

Nos anos 50, a União Soviética não via com bons olhos revoluções na esfera de influência dos EUA, que pudessem lhe trazer complicações desagradáveis, num momento em que priorizava a consolidação do seu modelo político/econômico nos países que o Exército Vermelho libertara no fim da 2ª Guerra Mundial.

E a via chinesa, de formação de um exército revolucionário no campo e cerco das cidades, mostrava-se inviável na América Latina, na qual quem dominava as cidades tendia a esmagar sem maiores dificuldades as rebeliões rurais.


Aí, um pequeno grupo de abnegados conseguiu iniciar a derrubada da corrupta e sanguinária ditadura de Fulgêncio Batista com uma variação do modelo chinês: criou colunas guerrilheiras que surpreendiam o inimigo e depois embrenhavam-se nas serras, acumulando forças e conquistando aos poucos o apoio da população.

Foi uma mágica que só deu certo da primeira vez, e nas condições peculiares de Cuba, ilha que tinha como principal atividade econômica a monocultura da cana-de-açúcar e cujo tirano era particularmente repulsivo para seu povo.

Nas duas décadas seguintes, reprises seriam tentadas noutros países do subcontinente com monoculturas e ditadores repudiados, mas, havendo possibilidade de êxito, os EUA tratavam de erradicá-las com seu grande porrete, corporificado em ajuda econômica e assessoria militar.

Numa nação de dimensões continentais como o Brasil, o foco guerrilheiro se mostrou mais inadequado ainda, sendo descoberto e atacado antes mesmo de iniciar operações.

Quem conseguiu alguns êxitos foi a guerrilha urbana, principalmente aqui (vários grupos, começando pela ALN e VPR), na Argentina (ERP e montoneros), Uruguai (tupamaros) e Chile (MIR). Trinfos temporários, contudo. Causaram impacto, mas a avassaladora superioridade de forças e os métodos bárbaros do inimigo acabaram prevalecendo.

O certo é que os revolucionários cubanos, face ao embargo implacável dos EUA, sonhavam com a construção do socialismo apoiada por outras revoluções latino-americanas, mas tinham de curvar-se à evidência dos fatos, aceitando a tutela da União Soviética, que lhes dava sustentação econômica mas impunha, como contrapartida, limites de atuação no exterior.

A CRISE DOS MÍSSEIS E O MARTÍRIO DE GUEVARA

A crise dos mísseis, em 1962, foi o sapo mais indigesto que tiveram de engolir.

Depois que os EUA insuflaram a fracassada invasão da Baía dos Porcos, a URSS instalou armamento atômico na ilha, aparentemente apenas para dissuadir os norte-americanos de outras aventuras intervencionistas.

A reação estadunidense colocou o mundo à beira do apocalipse. E o acordo que pôs fim à crise pareceu um recuo humilhante da URSS, que retirou os mísseis -- embora houvesse uma cláusula não divulgada segundo a qual os EUA se comprometeram a nunca mais tentarem derrubar ou favorecer a derrubada do regime cubano.

O certo é que a imagem passada para o mundo foi de que a cavalaria botara de novo os índios pra correr.

Daí a indignação dos líderes cubanos, que foram totalmente ignorados por Kruschev enquanto negociava com Kennedy, recebendo depois a decisão como um prato feito; e a heróica iniciativa de Che Guevara, de tentar pessoalmente levantar novas revoluções, que livrassem Cuba da dependência exclusiva da URSS.

Isto também falhou e só restou a Fidel a opção de construir sua versão tropical do socialismo com todas as limitações de uma nação pequena, pobre e asfixiada pelo embargo econômico -- as quais acentuaram-se ainda mais quando as nações do antigo bloco soviético voltaram ao capitalismo.

Conseguiu alguns êxitos notáveis em educação e saúde, principalmente. Mas, não teve como oferecer prosperidade ao povo. E a experiência soviética ensina que as massas submetem-se a terríveis sacrifícios em nome de um ideal durante algum tempo, mas não por todo o tempo.

Quando os sacrifícios se tornavam rotina, sem nenhuma luz à vista no fim do túnel, a URSS resvalou para o estado policial.

Cuba não reproduziu na mesma escala os horrores do stalinismo, principalmente porque não houve cisão significativa no partido: os revolucionários de primeira hora cubanos concordaram com a mudança de rumos como resposta às circunstâncias adversas, ao contrário de boa parte da velha guarda bolchevique, que resistiu bravamente ao desvirtuamento dos ideais de 1917, até ser imolada.

Então, quem enfrentou o indiscutivelmente popular Fidel Castro não foram figuras exponenciais como Trotsky e Bukharin, mas intelectuais sem muito prestígio junto ao povo, alguns trabalhadores como Orlando Zapata e também cubanos fascinados ou teleguiados pelo capitalismo (eles existem, claro, mas é uma falácia sustentar que todos os oposicionistas o sejam).

E os irmãos Castro, com flagrantes violações dos direitos humanos desses dissidentes, têm conseguido evitar que as brisas se tornem verdadeiros ventos de mudança.

Então, de um lado eu repudio veementemente tais perseguições políticas, pois nenhum outro posicionamento é admíssivel para um homem civilizado e para um verdadeiro revolucionário; do outro, não vislumbro nenhuma possibilidade de que apenas os discursos e abaixo-assinados, mesmo transbordantes de justa indignação, venham alterar o quadro que levou à morte de Orlando Zapata.

Com o colapso físico de Fidel, os dirigentes cubanos dificilmente ousarão desmontar a estrutura do estado policial no instante em que o regime está prestes a encarar o desafio de sobreviver à sua figura mais emblemática. Alguma turbulência sempre haverá, quando a morte for anunciada. Quanta, nem mesmo eles sabem.

É claro que, se tiverem uma perspectiva de prosperidade a oferecer ao povo cubano, poderão até decidir que vale a pena correr o risco.

Daí ser este o momento em que Barack obama poderá se colocar à altura das esperanças que despertou, dando contribuição decisiva para que seja virada uma página lamentável da História.

Como? Pondo um fim ao injusto, contraproducente e odioso embargo econômico de Cuba, um abuso inominável de poder, que fere profundamente o direito de autodeterminação dos povos.

Caso contrário, o mais provável é que os dissidentes cubanos continuem muito sofrendo porque padecem, independentemente do clamor dos justos e da grita demagógica dos injustos.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

VOLTANDO AOS MAUS TEMPOS

CHARGE DE CLEUBER (clique para ampliar)
http://www.tracodeguerrilha.blogspot.com/

O mês é outubro e o ano, 1962. Em todos os países há pessoas com o ouvido colado nos rádios e lançando olhares angustiados para o céu, à beira do pânico.

Nunca estiveram tão presentes nas mentes e tão opressivas nos corações as imagens dantescas dos genocídios de Hiroshima e Nagasaki. Era concreta a possibilidade de repetição daqueles horrores em escala muito mais ampla.

É que os EUA, ao obterem provas fotográficas da existência de silos de mísseis soviéticos em Cuba, deram um ultimato à URSS, exigindo sua imediata remoção.

A União Soviética, inicialmente, não cedeu. Pelo contrário, ao saber que os norte-americanos haviam iniciado um bloqueio naval e aéreo de cuba, despachou uma frota que o tentaria romper.

Um único disparo e começaria a reação em cadeia! Estava-se a um passo da guerra nuclear entre duas nações que acumulavam poder destrutivo suficiente para exterminar a espécie humana.

Foram 13 dias que apavoraram o mundo, enquanto se desenvolviam tensas negociações entre os governos de John Kennedy e Nikita Kruschev. Nunca os estadunidenses compraram tanto cimento e tijolo como nesse período em que construíram sofregamente abrigos nucleares em suas casas.

A histeria coletiva inspirou um episódio magistral da série de TV Além da Imaginação, sobre vizinhos que, ao confraternizarem numa festa, recebem a notícia de que a guerra atômica pode estar começando.

O único que havia transformado seu porão em abrigo, nele entrincheira-se com a família, negando acesso aos demais, por não haver mantimentos, água e espaço físico para tanta gente.

Quando os outros estão pondo abaixo a porta, empunhando tacos de beisebol e outras armas improvisadas, chega o desmentido: rebate falso. Mas, suas reações primitivas e egoístas durante a emergência revelara a todos como eles realmente eram, sob o verniz da hipocrisia social.

KRUSCHEV OBTÉM CONCESSÕES.
KENNEDY, HOLOFOTES


A crise dos mísseis cubanos terminou com cada lado cedendo um pouco e o mundo suspirando aliviado.

Os EUA concordaram em, posteriormente e sem alarde, retirarem mísseis similares que haviam instalado na Turquia. Comprometeram-se, ainda, a nunca mais realizarem ou estimularem invasões de Cuba, como a que a CIA e exilados cubanos haviam tentado em abril daquele ano na Baía dos Porcos. Eram estes os acontecimentos que haviam motivado os soviéticos a exibirem também o muque.

Kruschev, por sua vez, ordenou o desmantelamento dos silos e a retirada dos mísseis, saindo do episódio com uma vitória real (obtivera as contrapartidas desejadas) e uma derrota propagandística, pois concordou em manter secretas as cláusulas que lhe eram favoráveis.

De quebra, as superpotências decidiram colaborar para que novos sobressaltos fossem evitados, tendo sido instalada uma ligação telefônica direta (o famoso telefone vermelho) entre Kennedy e Kruschev, para que se entendessem antes dos pequenos problemas virarem grandes crises.

Nos EUA e em grandes capitais européias, houve júbilo incontido. Cidadãos festejavam nas praças e parques, lotavam os bares. Casais redescobriram a atração sexual, estranhos iam para a cama depois de trocarem duas palavras [O número de crianças nascidas nove meses depois foi muito superior ao habitual...].

A explosão de vida sucedeu aos augúrios de morte. Emblematicamente, a música até então ignorada de quatro jovens de Liverpool decolaria para a consagração mundial, tornando-se a trilha sonora da maior revolução de costumes que o mundo já vivenciou.

CHERNOBIL: 6,6 MILHÕES
FORAM CONTAMINADOS

Mas, se diminuiu consideravalmente a ameaça de que a guerra fria entre EUA e URSS se tornasse quente e radioativa, nem por isso a energia atômica deixou de provocar pesadelos e paranóias.

Em abril de 1986, um acidente nuclear na usina soviética de Chernobil, na Ucrânia, liberou uma nuvem de radioatividade que atingiria a URSS, Europa Oriental, Escandinávia e Reino Unido.

Grandes áreas da Ucrânia, Bielorrússia e Rússia foram muito contaminadas, expondo 6,6 milhões de pessoas e tornando necessárias a evacuação e reassentamento de aproximadamente 200 mil habitantes.

A ONU computou 56 mortes decorrentes do acidente na primeira década, estimando que outras 4 mil ainda viriam a ocorrer; o Greenpeace retrucou que esses números eram bem inferiores aos reais. A usina foi desativada.

Por que estou evocando dois episódios tão deprimentes? Pelo simples motivo de que isso pode acontecer de novo. Está no noticiário:
  • a Coréia do Norte realiza testes nucleares repudiados pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas e vistos com apreensão pela Coréia do Sul e Japão;
  • um vazamento de material radioativo na usina de Angra 2, ocorrido em 15 de maio último, só foi comunicado à população 11 dias depois, com a garantia de que os seis empregados afetados não correm maiores riscos [Houve tempo para se preparar bem a versão tranquilizadora, mas não me surpreenderei se a história estiver sendo malcontada].
O acidente no reator de Three Mile Island, bem menos grave que o de Chernobil, motivou nos EUA o lançamento da campanha No Nukes, com a participação de músicos famosos como Jackson Browne, Bonnie Raitt e Graham Nash.

Três décadas depois eles continuam protestando, agora contra um projeto de lei que amplia o estímulo a empreendimentos ligados à energia nuclear.

É mais do que tempo de fazermos algo semelhante por aqui. A população de Angra dos Reis e municípios próximos seria a primeira a agradecer.
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