Mostrando postagens com marcador Kamala Harris. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Kamala Harris. Mostrar todas as postagens

sábado, 27 de julho de 2024

É IRRELEVANTE KAMALA HARRIS SER NEGRA E MULHER?

 

É sempre bom dar uma volta pelas redes sociais para saber como elas reagem diante das últimas notícias, pois pode haver surpresas ou temas para discussões. É o caso da desistência da candidatura à reeleição pelo presidente Joe Biden em favor da atual vice-presidenta Kamala Harris.

Kamala não tem nada a ver com os Pilgrims Fathers, os primeiros colonizadores dos EUA. Bem ao contrário, ela é negra,  filha de pai jamaicano e de mãe indiana, ambos imigrantes. Os EUA já tiveram um presidente negro por dois mandatos, Barak Obama. Já houve uma candidata mulher à presidência dos EUA, Hillary Clinton, esposa do ex-presidente Bill Clinton e descendente de famílias brancas tradicionais de origem européia. Para quem não se lembra, Bill Clinton foi reeleito e deixou o governo com alta popularidade. Mesmo assim, Hillary foi derrotada em 2016 por Donald Trump.

O Brasil já se antecipou aos EUA nessa experiência com a eleição em 2010 de Dilma Rousseff, branca, filha de pai búlgaro e mãe brasileira, reeleita e destituída dois anos depois por impeachment. Marina Silva, negra e filha de pais pobres, foi três vezes candidata à presidência sem sucesso. Que fatores teriam ajudado Dilma Rousseff e prejudicado Marina Silva?

De uma maneira geral, a imprensa internacional se pergunta se o eleitorado dos EUA já está no ponto para eleger uma mulher e, além disso, uma mulher negra. Ou ainda, mulher negra filha de imigrantes, quando o principal programa do candidato opositor, misógino e machista, é a deportação em massa de imigrantes.

Essa é a primeira pergunta genérica que leva a outra mais precisa: existe um significado maior para essa escolha por um dos partidos do país mais rico e mais desenvolvido do planeta? E, no caso de Kamala Harris ser eleita, poderá haver um avanço mundial para a situação das mulheres em termos de paridade com os homens?

Ou o fato de surgir a candidatura de uma mulher negra vinda da imigração com a possibilidade de ser eleita presidente dos EUA "não tem a menor importância, é irrelevante, não é determinante e é apenas uma questão secundária"? É simples assim? Isso não vai mudar em nada a situação mundial - e como ouvi e li - "continuará a exploração e o domínio do mundo pelo imperialismo norte-americano?"

Vou deixar de lado as críticas do Diário da Causa Operária ao texto do site Esquerda Online sobre "o caso Kamala Harris", por ser um debate mais específico. Agora, o mais apropriado é o vídeo de Breno Altman, no Opera Mundi, voltado ao grande público, no qual ele considera irrelevante e secundária a candidatura de uma mulher negra filha de imigrantes à presidência dos EUA. "As questões de raça e gênero só têm relevância no que concerne a direitos, preconceitos e privilégios".

Me lembro, durante o caso do treinador Cuca do Grêmio, alvo de um processo na Suíça por estupro coletivo de uma menor, que acabou se demitindo do Corinthians por pressão da torcida feminina, ter ouvido de alguém de esquerda, que a questão de gênero e o feminismo deveriam vir depois e não antes da revolução. E a recente piada de mau gosto do presidente Lula sobre violência doméstica contra mulher de corintiano vai nessa mesma linha.

"Qual a diferença" - pergunta Breno no seu vídeo - "se o povo palestino se faz bombardear por bombas enviadas por um homem branco ou uma mulher negra?" Isso não é uma síntese ou uma conclusão um tanto precária e redundante?

Diante da decisão de escolher uma mulher, negra e filha de imigrantes, por um dos principais partidos políticos da maior nação do mundo, minha reflexão é bem diferente. É a de constatar o longo caminho percorrido pelas mulheres norte-americanas até chegarem a esse tipo de conquista e reconhecimento - a de serem consideradas iguais aos homens para dirigirem o país. 

Elas estavam no navio Mayflower que há 400 anos transportou da Inglaterra os puritanos peregrinos povoadores da primeira colônia permanente na costa leste norte-americana. Chegaram também nos navios vindos da África  para viverem a escravidão e muittas delas sofrem ainda o racismo generalizado, mesmo depois do fim de uma guerra civil pondo fim à escravatura. Sem esquecer das mulheres nativas do continente, grande parte massacrada pelos colonizadores, e das imigrantes de todo o mundo.

Enquanto isso, em muitos países, a situação social, econômica e individual das mulheres é de submissão e de privação de direitos, seja em consequência de ditaduras ou de teocracias retrógradas. (por Rui Martins)

terça-feira, 10 de novembro de 2020

A VITÓRIA DE BIDEN SELOU O REFLUXO DA ONDA NEOFASCISTA E O INÍCIO DA VOLTA À CIVILIZAÇÃO. ISTO LÁ É POUCA COISA?!

rui martins
QUANDO NOSSA ESQUERDA FALA COMO BOLSONARO
Estávamos perto da reta da chegada das eleições estadunidenses. A CNN ia juntando, ao vivo, o total dos votos dos grandes eleitores para Trump e Biden, à medida que avançavam as apurações. Faltando ainda contar os votos em seis Estados, percebia-se, pouco a pouco, que aumentava a vantagem de Biden, tornando impossível a Trump recuperar a diferença. Já se via a vitória de Biden, embora ainda faltassem as viradas ocorridas na apuração dos votos da Georgia e Pensilvânia.

Foi nesse momento que recebi pelo WhatsApp uma curta mensagem coletiva, de um conhecido grupo de esquerda, dizendo para ninguém se entusiasmar com a próxima vitória do Biden, porque (para não usar o linguajar chulo) tanto Biden quanto Trump eram farinha do mesmo saco. E a mensagem vinha seguido de um tweet #ForaBiden. No dia seguinte, num WhatsApp, alguém queria me explicar porque Biden e Trump eram a mesma m…, ou farinha do mesmo saco.

Minha primeira impressão foi de desolação por constatar que nossa esquerda falava quase como Bolsonaro, num discurso populista sem profundidade, sem inteligência, destinado a alimentar o fanatismo de seguidores desprovidos de qualquer visão de política internacional. Esse recurso à repetição de chavões me lembra mesmo a descrição do totalitarismo na distopia 1984, de George Orwell, com seus minutos de ódio. Tudo muito elementar. Um populismo delirante.

Bolsonaro não queria a vitória de Joe Biden e continua não querendo, tanto que até agora não reconheceu a vitória do democrata, assim como os dirigentes russos e chineses. Por quê? Porque sua desastrosa política até agora aplicada no Brasil copiava a do desastroso Donald Trump. 

Como um cachorrinho amestrado, vinha imitando seu dono e já via o Brasil participando de um grupo de países conservadores, reacionários e retrógrados europeus, liderados pelos Estados Unidos de Trump.

Não é à-toa que a catástrofe do coronavírus no Brasil se assemelha à dos Estados Unidos. Trump ria das máscaras e Bolsonaro mandava seu gado tomar cloroquina para se curar da gripezinha. Tanto um como o outro são responsáveis pelo grande número de mortos registrado nos EUA e no Brasil e pelo abandono da Organização Mundial da Saúde. 

Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles queriam prosseguir, com a benção de Trump, devastando a Amazônia e mostrando o dedo do meio para quem falasse em aquecimento global e necessidade de se salvar o planeta com a aplicação do Acordo de Paris sobre o Clima. Bolsonaro seguia Trump por sentir-se livre de qualquer inibição ao mandar às favas os direitos humanos.

E o que significa para nós a vitória de Biden? A necessidade de o Brasil levar a sério as recomendações da OMS de proteção à população e de combate ao coronavírus. Ou existe um nacionalismo verde-amarelo contra a OMS, em favor da cloroquina e de um recorde mundial em número de mortes? Será antipatriótico apagar-se o fogo na Amazônia sob pressão estadunidense?

Nossos coleguinhas dessa esquerda delirante queriam mesmo a derrota do Trump ou acreditam que, quanto pior é o inimigo, é melhor para quem quer fazer a revolução? 

Sentem-se agora decepcionados com a perspectiva de terem um inimigo diferente, com propostas aceitáveis, capazes de comprometer o impacto das campanhas anti-imperialistas, esquecendo-se de que vivemos todos numa comunidade global, onde cada avanço, em cada país, contribui para o avanço em todo o planeta? 

Enquanto escrevia, me chegavam por WhatsApp acusações, distribuídas por setores da esquerda, também contra a vice-presidente Kamala Harris, dando as razões pelas quais nos devemos opor a ela. Daqui a pouco, vai circular outro tweet #ForaKamalaHarris ou será o filho do Bolsonaro quem está atacando Biden e Kamala, na esperança de um vitória tardia de Trump?

Fora das repercussões no Brasil, no que o governo de Biden será diferente do dirigido até agora pelo Trump? 

Ele pretende engajar toda força dos EUA na defesa do clima e dotar o país de geradores eólicos de eletricidade, limpos e sem combustíveis, acionados pelo vento. Isso é ruim ou bom para o socialismo? 

E manterá os EUA no Acordo de Paris, uma medida criará centenas de milhares de empregos, diminuirá a poluição atmosférica e será mais saudável para quem vive nos centros urbanos. Serão ações contra-revolucionárias?
Biden pretende baixar os impostos para a classe média e aumentar para os mais ricos e para as grandes empresas. Com isto também poderá aumentar em 200 dólares o salário-mínimo federal.

Outro setor visado por Biden é o da saúde. Existem nos EUA 21 milhões de pessoas sem seguro de saúde e, por isso, sem médico e sem hospital. Os EUA, mesmo com o
Obamacare, não têm um seguro de saúde para todos como nosso SUS, que o Bolsonaro queria destruir.

Nos EUA, é necessária a participação em convênios de saúde, ao qual a camada mais pobre não tem acesso. Biden pretende aplicar milhões de dólares numa expansão do Obamacare, ao qual se terá acesso pagando-se 8,5% do salário. Se aplicada como está no programa de governo, esta medida revolucionará o setor da saúde nos EUA. Biden não é contra o aborto, como os evangélicos, conservadores e a extrema-direita de Trump.

Ele também preconiza um governo sem preferências raciais ou de gênero. A prova é ter feito parceria com Kamala Harris de origem indiana e jamaicana, ampliando o caminho da representação das mulheres brancas ou negras na política. Biden não pretende anular tudo quanto foi feito por Trump, assim será mantido o recente acordo multilateral assinado com Israel e países árabes.

Biden não é um presidente de esquerda, não fará a revolução socialista nos EUA, nem fará jogo mole com o Brasil no comércio internacional, nem usará de ameaças nas relações com a China. Mas, para o povo estadunidense, deverá ser bem melhor que Trump. E as eleições, apesar de todas ameaças e tentativas de pressões de Trump, confirmaram a democracia existente no país. 

É nesse quadro que nossa esquerda deve propor, com inteligência e sem o uso do populismo e do fanatismo, suas reformas. E preparar-se para os shows, comédias e ameaças que Bolsonaro fará dentro de dois anos, quando, por certo, não será reeleito.
(por Rui Martins)
TOQUE DO EDITOR – Está certíssimo o amigo Rui quanto a ser totalmente equivocada a posição desses sectários que igualam Biden a Trump. É coisa de scholars que elucubram no mundo etéreo de suas fantasias, sem a mais remota noção de como se travam as batalhas políticas no mundo real. 

Espanta-me o pouquíssimo apreço que mostram ter pela vida humana, pois simplesmente parecem ter esquecido o adicional de dezenas de milhares de mortes evitáveis que os desastrosos Trump e Bolsonaro acrescentaram à já terrível tragédia da pandemia; ou do enorme risco que a humanidade está correndo de ser varrida da face da Terra pelas catástrofes que o desprezo pelo clima por parte desses dois genocidas está incubando.

Há óbvias diferenças entre os interesses capitalistas selvagens representados pelo Partido Republicano e os interesses capitalistas mais civilizados representados pelo Partido Democrata. Daí os primeiros quererem voltar para o tempo em que a cegueira nacionalista causava guerras mundiais e os segundos serem globalistas.

E a mudança de guarda na Casa Branca facilitará imensamente a faxina no Palácio do Planalto. 
As chances agora de que o Bozo caia em 2021 devem estar na casa de uns 99%, pois país pobre não consegue atravessar uma depressão econômica devastadora como a que sofreremos no ano que vem sem o apoio de uma nação poderosa.

Só que o bloco europeu não quer ver o Bozo nem pintado de anjo, a China se move apenas por interesses negociais e a Rússia é indiferente ao Brasil. Então, o poder econômico dará um jeito de remover o Bozo simplesmente por ele estar ferrando nossa economia com seus disparates insanos.

E, a julgar pela quase nenhuma combatividade da nossa esquerda ao longo de 2020, a ponto de depender de secundaristas e dos Gaviões da Fiel para a reconquista das ruas, precisaremos mesmo que outros façam o serviço por nós. 

É vergonhoso ao extremo que não tenhamos expelido o genocida até agora! (CL)

segunda-feira, 9 de novembro de 2020

OS AUTOCRATAS PERDEM ESPAÇO, MAS SÓ O PREENCHEREMOS SE POR ELE LUTARMOS!

O fenômeno, tão recente quanto fugaz, que fez aumentar no mundo todo a influência dos autocratas é o mesmo que agora derrete o seu prestígio: a perda de substância da forma-valor. 

Os autocratas cresceram politicamente sob a égide de proposições nacionalistas (America first, do recém-demitido presidente destrumpelhado é a mais notória delas) que se consubstanciam em protecionismo de suas produções de mercadorias e outros mecanismos de política monetária, bem como de crédito, juntamente com posturas xenófobas face aos fluxos migratórios de pessoas desesperadas que fogem da miséria em seus países de origem. 

Nos países outrora detentores de hegemonia econômica e de produção de mercadorias, os autocratas receberam o apoio de uma população que vê escorrer pelos dedos seus empregos e salários, além da falência do chamado Estado do bem estar social, daí ter acredito, esperançosa, que seria possível uma volta ao passado. 

Mas, as suas cantilenas salvadoras não têm consistência; então, todos os autocratas deverão agora amargar o mesmo You are fired (você está demitido) com que um bilionário arrogante humilhava aprendizes num execrável reality show, sem que eles pudessem reagir rodando a baiana, como acaba de fazer o suposto modelo de empresário vitorioso.

O inconformismo de Donald Trump com o resultado das urnas demonstra bem seu espírito autocrático. Foi sumamente ridículo ele contestar como fraudado um processo eleitoral que teve lugar nos 50 Estados-membros da Federação, os quais detêm autonomia sobre o dito cujo, e que elegeu, numa mesma cédula eleitoral, parlamentares republicanos a maior (senadores e deputados). 

Note-se que a vitória de Joe Biden no colégio eleitoral (306 a 232. ou 56,8% a 43,2%), com vantagem de mais de 4 milhões de votos, foi relativamente expressiva, e nenhuma recontagem ou anulação de alguns votos mudará o resultado eleitoral.

As pessoas mundo afora votam muito de acordo com questões de saúdes econômicas circunstanciais, mas não conhecem a essência da mecânica funcional do objeto maior do seu desejo (o dinheiro), porque isto não lhes é ensinado, pois tal segredo é guardado no quarto escuro onde reside e está guardada a chave da exploração social mundial one world

O dinheiro é a representação numérica e monetária da forma-valor, a qual, por sua vez, é uma abstração matemática que permite a subtração da produção social produzida coletivamente a partir de tal critério (o próprio valor) para a a sua acumulação autotélica pretensamente ad aeternum e que privilegia os seus detentores e administradores em detrimento da comunidade.

Mas, trata-se de uma equação irresolúvel por força de suas contradições internas; assim, somente sobrevive como fator histórico que é (e não um dado ontológico da existência humana) até o momento em que se autodestrói e tenta destruir não só a natureza, como também a própria sociedade mediada por sua forma autotélica. 

E é a mesma insatisfação social que elege e demite os autocratas, num eterno pêndulo da ineficácia estre autocratas conservadores e bem intencionados sociais-democratas, justamente porque a questão de fundo não é atacada: a superação de um modo de produção social escravista, que se tornou obsoleto a partir do desenvolvimento tecnológico do saber da consciência cívica sobre direitos fundamentais do ser humano.  

Joe Biden é social-democrata pertencente à ala mais conservadora do seu partido, o que facilitou sua aceitação pela sociedade estadunidense cansada dos arroubos autoritários e prepotentes de Trump. Foi a junção dos votos dos republicanos menos à direita e dos democratas menos à esquerda que lhe permitiu a vitória.

Mas não terá vida fácil, pois:
— terá de enfrentar, até que se possa confirmar a eficácia de uma vacina, a epidemia do coronavírus sem o negacionismo do seu antecessor, o que representará, num primeiro momento, a redução das relações de produção numa sociedade de alto poder de consumo e menor arrecadação tributária, bem como os problemas daí decorrentes;
— ver-se-á às voltas com uma taxa de desemprego que já beira aquela atingida na crise do
subprime;
— conviverá com o aumento do déficit da dívida pública crescente, que já ultrapassa o tamanho do PIB anual (cujos números se contam em mais de USS 20 trilhões) e que, apesar dos juros baixíssimos ou negativos, não deixa de ser preocupante;
— pressionado por organismos internacionais aos quais promete aderir, deverá adotar a abertura comercial multilateral, o que deverá aumentar ainda mais o déficit dos Estados Unidos na balança comercial;
— combaterá a crescente rejeição ao dólar dos Estados Unidos como moeda internacional, em razão da compreensão cada vez mais clara da falta de substância deste padrão monetário meramente fiduciário, que somente se sustenta graças à desinformada aceitação mundial;
— incumbir-se-á da transição da industrialização baseada em combustíveis fósseis, grande emissor de gás carbônico, para fontes energéticas limpas (eólica, fotovoltaica, hidráulica, vegetal, etc.) como promete fazer por adesão já anunciada à Conferência do Clima Paris 2015;
— sofrerá a oposição dos ecologistas estadunidenses que defendem o fim do uso de gás de xisto, por ele contaminar o lençol freático;
— estará no olho do furacão de uma depressão econômica mundial, que certamente afetará as relações mercantis como um todo;
— precisará administrar uma anunciada crise do sistema de crédito dos grandes bancos nacionais e internacionais em razão do crescimento da dívida pública mundial paralelamente ao decréscimo da reprodução de valor válido (advindo da produção de mercadorias);
— terá de obter a aprovação e implementar suas propostas apesar da oposição de um congresso com maioria de senadores republicanos, num país no qual as questões de relevância nacional são ali decididas, e de uma Câmara dos Deputados em que os democratas prevalecem mas não detêm maioria folgada;
— vai combater a opressão racial sistêmica, conforme prometido por ele e por sua vice-presidente Kamala Harris, o que gerará conflitos raciais num país fortemente armado (estima-se que nos EUA 300 milhões de armas estejam nas mãos da população) e no qual os supremacistas brancos não hesitam em exercitar a sua xenofobia abominável; 
— governará com uma Suprema Corte que, de nove membros, possui seis conservadores, propensos a dificultarem a implementação do seu discurso de campanha relativamente aos direitos civis; e 
— conviverá com outras questões próprias às divergências de um país no qual os Estados-membros têm grande autonomia legislativa, que muitas vezes se choca com os interesses nacionais de um poder político economicamente e politicamente verticalizado. 

É difícil, após um quadriênio de mandato, sobreviver às contradições que se avolumam a cada ano, daí o alto risco de uma volta ao conservadorismo, facilitada pela tradicional falta de memória dos eleitores.

A nós, os emancipacionistas, cabe denunciarmos a farsa de democracia burguesa, na qual os eleitores decidem sobre o que já está previamente decidido, ou seja, você pode escolher entre candidatos à direita ou da esquerda, desde que não detenham poder real, dependentes que são do poder que realmente manda, o econômico.

Na democracia burguesa apenas são ratificadas as relações sociais que já estão previamente postas e sobre as quais não se permite opinar. 

É preciso que coloquemos o dedo na ferida, apontando qual é o remédio para esse eterno pendulo da ineficácia, principalmente para os países da periferia capitalista que sentem-se culpados do seu próprio infortúnio e sofrem querendo imitar os que os exploram, como se tudo fosse uma questão de (in)competência administrativa. 

Mas a verdade, mesmo que relativa, tal como óleo dentro d’água, insiste em vir à tona. (por Dalton Rosado) 
Related Posts with Thumbnails