quarta-feira, 10 de junho de 2020

MARCELO COELHO DIZ O ÓBVIO ULULANTE: "É INCRÍVEL QUE TANTOS BRASILEIROS SE SINTAM FRACOS DIANTE DE UM PATETA"

marcelo coelho
MEDO DO IMPEACHMENT ENTORPECE A OPOSIÇÃO
Fora algum incidente mínimo, as manifestações pela democracia e contra o racismo no domingo passado foram expressivas, bem organizadas e incapazes de dar pretexto a infiltrados e aproveitadores.

Talvez a movimentação contra Bolsonaro ganhe mais força a partir de agora.

Não é nenhum bicho de sete cabeças, afinal, sair às ruas com a devida máscara cirúrgica e todas as precauções de praxe.

Se o presidente e seus seguidores descreem do coronavírus, nem por isso precisam ter exclusividade nos atos de protesto.

E as ruas vinham fazendo falta na luta pela democracia.

Nunca vi tantos abaixo-assinados. Nunca cliquei tantos apoios a documentos na internet. O problema é que o mundo virtual, por mais que tenha lá suas estatísticas, não dá ideia da dimensão real das coisas.

Mil fanáticos de amarelo, com um presidente no meio, acabam projetando uma imagem superdimensionada de seu peso político.

Não minimizo a ameaça que representam. Muito ao contrário: estão se armando e naturalmente tendem a crescer, porque se julgam mais fortes do que são.

Como não havia manifestantes do outro lado, iam até acreditando que eram, de fato, a maioria da população.

Um pouco de gente real, protestando contra o fascismo, era indispensável. Se não houver vandalismo e violência (algo que lamentavelmente seduz parcelas dos manifestantes), é possível que a coisa cresça.

Agora começa a cair a ficha. A oposição anda intimidada, entorpecida e confusa, enquanto o bolsonarismo não para de avançar.

Não há sinal mais claro disso do que a quantidade de argumentos invocados contra o impeachment:
1não há maioria no Congresso  Sim, pode ser verdade. Mas Bolsonaro tem se isolado cada vez mais. Quem poderia imaginar, há poucos meses, que Lobão, Moro, Joice e Janaina estariam na oposição?

No Brasil, o improvável acontece todo dia. Talvez o Congresso precise de mais alguns empurrõezinhos. Na eventualidade de novas mobilizações de rua, ou de novas barbaridades presidenciais, pode ser que se mexa. Só não vai se mexer se, mesmo entre opositores convictos de Bolsonaro, o medo do impeachment predominar.
E será estranho se o Congresso continuar apoiando as forças que pretendem fechá-lo.
2. de que adianta tirar um capitão para dar posse a um general?  Poucos argumentos me parecem tão acovardados como este.

Na hipótese de uma vitória do impeachment, o clima político do país seria totalmente diverso. Estaríamos vendo um fortalecimento entusiasmante da democracia e uma recomposição radical do equilíbrio de forças. Mourão teria de se adaptar a esse esquema ou negociar uma transição.
3também pode acontecer de Bolsonaro vencer a batalha do impeachment, e sair ainda mais fortalecido — Mas não é bem assim. Trump não ficou melhor nem pior depois de confirmado no cargo.

Você pode dizer que o Brasil é diferente; mesmo antes de ser votado, o impeachment poderia dar pretexto para Bolsonaro dar o seu desejado golpe. Discordo. Quanto mais forte a bandeira do impeachment, menor a sua ousadia. 

Ele é evidentemente um burro e um descontrolado. Lembro de 1992. Posto contra a parede, Fernando Collor se perdia em caretas, acessos e pronunciamentos desesperados. Foi seu próprio coveiro.
4o momento agora é de unir forças contra a Covid-19, sem uma crise política por cima  Este argumento saiu um pouco de moda. Todos sabemos que Bolsonaro é o maior obstáculo ao enfrentamento do coronavírus. 

A tentativa de esconder os dados de letalidade é sua última proeza. Ele faz tudo o possível para espalhar a doença. Deseja o vírus com a mesma intensidade com que deseja as armas de fogo e as queimadas da Amazônia.
5ele ainda tem o apoio de um terço do eleitorado — o rebanho bolsonarista só se mantém em um terço porque não está confrontado com a existência fatual dos outros 70%. Vive numa bolha. A loucura se transmite, como um vírus. 

Mas a razão também tem seus poderes: estaríamos na idade da pedra se não fosse assim. Com imensos esforços, o nazismo e o stalinismo foram derrotados. 

É incrível que tantos brasileiros se sintam fracos diante de um pateta. (por Marcelo Coelho)
Toque do editor — este artigo do Marcelo é um daqueles que eu gostaria de haver escrito, pois expressa com máxima fidelidade as minhas avaliações e sentimentos ante a extrema mediocridade do Bozo e a extrema pusilanimidade da nossa esquerda, que fica atribuindo suas patetadas aos mais inverossímeis desígnios secretos e chegou ao absurdo de desaconselhar as manifestações de domingo, decisivas para empurrarmos definitivamente o (des)governo atual ladeira abaixo.

Digo e repito: o Bozo é apenas um trapalhão destrambelhado, com uma ignorância política abismal, que tinha imensas chances de dar um golpe no início do seu governo mas, por absoluta falta de noção, deixou a situação inverter-se por completo. 

Hoje não passa de um cadáver político à espera de que o rabecão institucional passe para o recolher. 
.
(por Celso Lungaretti)

2 comentários:

Alessandro Alcântara disse...

Acho que o cara leu minhas postagens do Facebook, mas eu refuto esses argumentos medrosos com mais veemência. Além deu ser frustrado no amor sou frustrado até como militante político, sou da pior geração esquerdista do país, que morre de medo de um louco com Transtorno Desafiador Opositivo e vive de joelhos ao PT. Vivo postando no feice que quem dá força ao Bolsonazi não são os 30% de bolsominions, e sim os 70% que são contra mas deixam ele fazer o que quer. Mas ninguém me ouve. A Esquerda de Manaus é uma decepção. Desperdício eu ser militante político dessa época, queria ter aproveitado melhor minha existência no mundo. 10 anos de militância política pra nada.

celsolungaretti disse...

Só 10 anos?! Que eu me lembre, a primeira das minhas previsões negativas mais impactantes que se confirmariam plenamente foi a de que o desfecho do caso Paulo de Tarso Venceslau x Roberto Teixeira, quando o PT expulsou o denunciante honesto para livrar a cara do denunciado desonesto, acabaria provocando um "liberou geral" que destruiria o partido. Já lá se vão 23 anos.

Muitas outras vieram a partir de 2006, quando passei a escrever artigos com assiduidade bem maior, por causa da internet. Como a daquele domingo no qual a Câmara Federal autorizou a abertura do processo de impeachment contra a Dilma e eu escrevi que todas as decisões posteriores seriam na mesma linha, recomendando que ela renunciasse de imediato para a esquerda poder lançar um movimento exigindo a realização de eleições diretas para indicar seu sucessor.

Não há como dizer se tal movimento teria sido vitorioso ou não, mas é evidente que a batalha no Congresso Nacional e no STF, além de não haver salvado o seu mandato, manteve a iniciativa com o inimigo, que foi acumulando forças durante toda a lengalenga, enquanto nós permanecíamos na defensiva, enfraquecendo-nos. Aí começou a nascer a vitória do Bozo em 2018.

Mas, eu não diria que por ter lançado alertas corretos e importantes, não sendo escutado, a minha militância desde a virada de 1967 para 1968 tenha sido um "desperdício". Até porque eu precisaria haver tido escolha, mas, no momento em que fiz a minha opção revolucionária, já era o único caminho digno para mim.

Se houvesse respondido de outra maneira ao convite que eu recebi, no sentido de ir além do ativismo estudantil e assumir um comprometimento mais amplo e perigoso com a causa, teria traído as convicções que já possuía naquele momento e sido pusilânime.

Eu sou uma pessoa antiga, não suportaria viver sem auto-respeito, isso me teria destruído. Então, por piores que hajam sido as consequências de ordem pessoal, jamais lamentei minha militância.



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