domingo, 10 de maio de 2020

O QUE FAZER? DÚVIDAS E CERTEZAS.

Estamos no olho do furacão. Enquanto o pico da pandemia não for atingido e ela começar a refluir, faltarão elementos mais precisos para esboçarmos como será nossa atuação no day after.  

Sabe-se lá, p. ex., se quando nos livrarmos da pandemia, já não teremos nos livrado também do Governo Bolsonaro, que encontra-se em avançado processo de esfarelamento...

Mas, além das muitas dúvidas, eu acredito que já existam algumas certezas, e são elas que alinhavo neste post.
1) O Bozo inevitavelmente cairá. Nenhum governo se sustenta sem oferecer alguma esperança de melhora para o povo, e ele não tem mais nenhuma na manga: 
— o antipetismo perdeu a razão de ser porque o PT está minguando aos poucos e não serve mais nem mesmo de espantalho para o proselitismo inimigo;
 a retomada do crescimento não vai acontecer, mas, pelo contrário, doravante entraremos naquela que provavelmente será a pior depressão econômica da nossa História; e
 o combate à corrupção agora é bandeira exclusiva do Moro e seus lavajatistas (ele precisa derrotar o Bozo na batalha pelo espólio  antissistema e certamente o conseguirá, pois o palhaço sinistro se desmoraliza cada vez mais ao entregar desembestadamente as jóias –e os cargos– da Coroa para o putrefato centrão).
2) Dependendo da turbulência que a contagem de cadáveres e a depressão econômica provocarem, poderá até haver uma ditadura militar, mas encabeçada por um general, nunca, jamais, em tempo algum, por um insano capitão miliciano (este, como canso de repetir, hoje não passa de um cadáver político esperneando para fingir que ainda está vivo enquanto o rabecão não chega para recolhê-lo).
3) Nossa prioridade máxima continua sendo a de reconstruirmos e depurarmos a esquerda. Para qualquer coisa que queiramos fazer daqui para a frente, precisaremos de uma esquerda de verdade, não dessa aí que louva os valores republicanos mas, mesmo sujeitando-se obedientemente à camisa-de-força da democracia burguesa, não foi capaz de articular nestes 16 meses nenhuma reação minimamente relevante ao pior presidente da História do Brasil, estuprador contumaz da Constituição de 1988 (a lista de crimes de responsabilidade por ele cometidos é interminável, embora o Rodrigo Maia continue a todos ignorando!).
4) A luta armada precisa de quadros que a travem e, no momento, o único lugar onde poderíamos encontrar tais quadros é na esquerda remanescente. E esta nem de longe se dispõe a encarar agora tal opção. Então, seja para a luta armada ou seja lá para o que for, teremos primeiramente de fazer a lição de casa:
— a autocrítica dos terríveis erros cometidos durante a hegemonia petista;
 a definição de novos caminhos (bem diferentes dos do reformismo, populismo e conciliação de classe, que nos direcionaram para lugar nenhum e fizeram com que ficássemos patinando sem sair do lugar desde 1985); e
 a apuração das responsabilidades coletivas e pessoais por termos sido  praticamente reduzidos à irrelevância ao longo da presente década. 

Só a partir daí poderemos pensar em voos maiores. Lançar uma luta armada com a atual correlação de forças, extremamente desfavorável a nós, seria nosso suicídio político e provavelmente físico.
5) Então, chega de pasmaceira e comecemos a fazer pelo menos aquilo que podemos fazer, além do processo de crítica e autocrítica que está quatro anos atrasado (deveria ter ocorrido em 2016!): participarmos ativamente das articulações das várias forças políticas para definição de como será retirado o bode da sala e que esquema de poder emergirá em seguida, mesmo sem esperança de exercermos papel de protagonistas (já que ora não temos peso político que o justifique).

Mas, é importante evitarmos que tal processo seja monopolizado pelos centristas e pelos direitistas moderados, como o foi a substituição da ditadura militar pela Nova República. Daquela vez acabamos alijados na reta final, mas marcamos forte presença nas diretas-já. Se desta vez ficarmos o tempo todo vendo o trem passar, as massas começarão a indagar se ainda existe esquerda no Brasil.
.
Observação — Começam a pipocar nas redes sociais alusões à luta armada como uma possível linha de ação para a esquerda sair da sua atual defensiva estática (noutras palavras, ela nada tem feito além de deixar tudo como está pra ver como fica!), então resolvi aprofundar tal questão ao responder a comentário que o companheiro Leandro Benfatti me dirigiu no Facebook ("Se tivermos ditadura militar outra vez aqui no Brasil, e com o Ai-5 pedido pelos bolsominions, teremos que fazer a luta armada sim, só que dessa vez fazendo trabalho de massas e tendo ligações com o povão!!!"). 

E acabei trazendo para cá tal resposta, pois tenho a esperança de que ela dê uma contribuição válida ao debate que está se iniciando.
(Celso Lungaretti)

5 comentários:

Anônimo disse...

Torcendo (com o coração apertado) para uma guerra contra nossos hermanos na Venezuela.

Quem sabe assim nosso exército toma uma surra histórica e aprenda de uma vez por todas a não mais ser capacho dos istêits...

Henrique Nascimento disse...

Não duvido muito o Bolsonaro armar mais um novo "atentado", ou seja, outra facada para se fazer de vitima e justificar um golpe ou algo parecido. Fazendo e falando tanta m.... não é muito difícil aparecer outro "louco" (dessa vez não tão louco como o primeiro) para tentar colocar uma bala perto dele.

Em 1933 houve o incêndio do Reichstag em Berlin. Isso fez o Partido Nazista ter a desculpa para sentar porrada na oposição. Eles alegavam que o incêndio havia sido causado por comunistas. Todos os que eram contra ao PN viraram comunistas.

Incrível como a história se repete.

celsolungaretti disse...

Henrique,

quem ainda manda na economia deste país são os que sabem somar 2 e 2 e achar 4, não esses vira-latas que foram servir de figurantes do Circo do Bozo no STF.

Eles não ignoram que, para sair do buraco no qual se meteu, o Brasil precisará de muita boa vontade das principais nações capitalistas.

Então, um governo que consegue colocar o mundo inteiro contra nós é tudo que não lhes serve em tempos de aguda depressão econômica.

E, como não queimam dinheiro, queimarão antes (em sentido figurado, claro...) qualquer palhaço que esteja atrapalhando seus negócios.

Leandro Benfatti disse...

Bom dia Celso! Tudo bem? Obg por me citar no seu texto e considero que deveremos fazer a luta armada sim se o Bolsonaro der um autogolpe e colocar os militares no poder e nas principais vias do país como em 1964! E que enquanto isso não acontece, devemos criar Uma Nova Esquerda e que essa Nova Esquerda não venha a cometer os mesmos erros da Velha Esquerda que se recusa a fazer o processo de crítica e autocrítica, tal como o PT! Devemos acabar com o reformismo, populismo e conciliação de classes dessa Velha Esquerda! E a Nova Esquerda tem que lutar pelo Socialismo e não pela democracia burguesa!!!

celsolungaretti disse...

Leandro,

o importante é não encararmos a luta armada como uma substituta da luta política que deveríamos estar travando. Ela é algo muito mais sério e perigoso. Deve ser encarada como a última opção, não a primeira.

Mantenho, contudo, a posição que venho sempre defendendo ao longo dos tempos: se voltarmos a estar submetidos a uma ditadura que utilize bestialmente a força para esmagar a resistência do povo brasileiro, teremos total direito de pegarmos em armas contra ela.

Só que, mesmo em tal circunstância, a opção pela luta armada não pode ser uma forma de suicídio. A correlação de forças tem de ser levada em conta.

Se existirem motivos suficientes para tanto, mas não tivermos a mais ínfima condição de nos equipararmos ao inimigo, mais vale prepararmo-nos melhor do que partirmos insensatamente para a batalha e sermos rapidamente dizimados.

Para quem nunca participou de algo assim, a coisa tem um certo aspecto de heroísmo, de epopeia. A realidade é muito diferente.

Trata-se de correr perigo, tomar sustos, suportar privações, ver tombarem ou sofrerem pessoas queridas, começando cada dia sem saber se será o último, até que finalmente os piores receios se corporificam e, ou perdemos a vida, ou somos torturados ao extremo (pouquíssimos que conheci conseguiram sobreviver sem graves sequelas físicas ou psicológicas).

O melhor mesmo é isto não ser necessário. Nenhum ser humano merece passar por algo assim. Mas, quando nossas convicções nos obrigam, precisamos ter clareza de que deveremos esperar o pior e prepararmo-nos para isso.

É ingenuidade acreditarmos que as coisas ruins acontecem para os outros e não para nós. Pela minha experiência, posso dizer que mesmo os mais traquejados e aptos para lidar com os rigores da luta clandestina acabavam um dia encarando sua prova de fogo (a diferença era que isso demorava bem mais para acontecer e não era consequência de um erro cometido, mas de acasos infelizes ou de confiar demais noutro companheiro).



















































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