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sábado, 19 de outubro de 2013

SENADOR BOLIVIANO: NO MEIO DA NOVELA JÁ SABEMOS O DESFECHO

Assim falou Garciatustra. E fim de papo.
O Brasil não extraditará o senador Roger Pinto Molina para a Bolívia, garantiu o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, à Folha de S. Paulo. Foi enfático:
"Devolvê-lo para a Bolívia, não. Devolvê-lo para a Bolívia, nós não devolveremos".
O repórter Fernando Rodrigues insistiu, querendo confirmação. E Garcia repetiu o "não", informando que há apenas duas hipóteses para o desfecho do caso: "ou ele pode ter asilo aqui ou ele pode ir para outro país".

Como os leitores devem recordar, os parlamentares Molina e Evo Morales eram amigos antes que o último ascendesse à Presidência. Convidado a integrar o governo, Molina recusou, segundo ele por divergir de Morales quanto à cocaína: 
"Sempre acreditei que o tema da coca fosse a matéria-prima para o narcotráfico e era preciso atacar isso. Ele defendia a coca".
A relação azedou de vez quando Molina entregou a Morales um dossiê acusando o governador do estado de Pando, aliado do presidente, de envolvimento com traficantes.

Aí, começaram a pipocar os processos contra Molina na Justiça boliviana (a mesma que manteve 12 torcedores brasileiros presos por um crime que só um deles poderia ter cometido...); num passe de mágica, foram abertos 22!

Molina se refugiou na nossa embaixada, o Brasil lhe concedeu asilo e o governo boliviano, ignorando as leis e práticas internacionais, passou uma eternidade negando-lhe salvo conduto para deixar o país em segurança.

Depois de 15 meses de confinamento, ele foi resgatado numa operação rocambolesca que, segundo a versão oficial, teria sido iniciativa isolada do diplomata Eduardo Sabóia.
A História se repetiu como farsa?

Seria um novo, embora menos dramático,  resgate fantástico

Só que é difícil de engolir: Sabóia estava acompanhado por um senador brasileiro, teve a cobertura de militares brasileiros e atravessou tranquilamente uma fronteira que deveria estar sendo muito bem guardada. Finalmente, ele passou menos de três semanas suspenso de suas funções no Itamaraty e logo foi reintegrado. 

A hipótese mais plausível é a de que fizesse parte de um esquema bem mais amplo e tenha agido com a anuência dos seus superiores, cansados de esperar por uma solução civilizada e temerosos do desprestígio que adviria para o Brasil caso Molina se suicidasse, como ameaçava fazer.  

Quanto à demissão do chanceler Antônio Patriota, alguma satisfação teria de ser dada a Morales, para não deixá-lo mal com a opinião pública boliviana. Mas, não se tratou exatamente de uma punição: Patriota assumiu, em seguida, a chefia da delegação brasileira na ONU, designação das mais honrosas.

Agora, Garcia antecipa que, seja qual for a decisão do Conselho Nacional para os Refugiados sobre o pedido de extradição boliviano, o Brasil não o extraditará.

Faz sentido. O Conare existe para subsidiar o ministro da Justiça e seus pareceres não têm de ser obrigatoriamente seguidos (Tarso Genro tomou decisão diferente no Caso Battisti, p. ex.). Ademais, o Supremo Tribunal Federal confirmou que a última palavra, nesses episódios, é da Presidência da República.

Então, podemos supor que Garcia fala pelo ministro José Eduardo Cardozo, pela presidenta Dilma Rousseff ou por ambos, ao declarar de forma tão incisiva que Molina está definitivamente a salvo do governo boliviano.

Alguns comentaristas políticos da imprensa e muitos da internet ficaram como baratas tontas neste  imbroglio, principalmente os que correram a satanizar Sabóia, acreditando que fosse esta a vontade imperial. Quando a falta de independência e a falta de perspicácia andam juntas, o resultado tende a ser patético.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

RESGATE FANTÁSTICO: SERÁ QUE EU VIAJEI NA MAIONESE?

A informação de que o Ministério das Relações Exteriores já tirou o diplomata Eduardo Sabóia da geladeira, autorizando seu retorno ao trabalho, me deixou com a pulga atrás da orelha.

Eu o defendi na suposição de que realmente agira por iniciativa própria ao resgatar o senador Roger Pinto Molina; acreditei que ele tivesse querido solucionar, de forma voluntarista, uma situação de absoluto desrespeito do governo boliviano pela instituição do asilo político e de inapetência do governo brasileiro para fazer prevalecerem as leis e práticas civilizadas.

No entanto, depois de Sabóia haver sido duramente criticado pela presidenta Dilma Rousseff e de o Itamaraty haver anunciado uma rigorosa sindicância para investigar sua atuação, eis que ele retoma sua rotina, belo e lampeiro, como se nada houvesse acontecido.

Foi aí que eu me lembrei do complexo esquema armado para a evasão de Molina, incluindo a participação de um senador brasileiro e até de nossos militares, aparentemente incumbidos de garantir a segurança do fugitivo.

Sabóia: apenas um funcionário obediente?
E me ocorreu que Sabóia, não sendo nenhum James Bond, dificilmente teria conseguido armar todo esse circo sozinho. Ao contrário do que se vê nos filmecos de Hollywood, amadores nunca dão conta dessas situações.

Na web, os apressadinhos correram a levantar suspeitas sobre o dedo da CIA, do agronegócio, da tucanada, etc.

Noves fora, o mais plausível é que a paciência das autoridades brasileiras haja chegado ao limite e, temerosas do dano à nossa imagem se o (na prática) cativeiro de Molina terminasse mal, elas mesmas tenham tramado e executado o  resgate fantástico.

Uma vez alcançado o objetivo, é óbvio que teriam de jogar a culpa em cima do Sabóia,  da forma mais enfática possível, para não deixarem transparecer que haviam feito o Evo Morales de bobo.

O pior é que, se minhas deduções estiverem corretas --e tudo leva a crer que estão--, eu também fui feito de bobo.

Em boa companhia: o Prêmio Nobel da Paz de 1996, José Ramos-Horta, acaba de elogiar a "coragem" de Sabóia,  qualificando-o de "mártir".

Enfim, mesmo se houver cumprido ordens ao invés de as desobedecer, o seu papel no episódio terá sido louvável; algum risco sempre há e quem o assume por motivos justos é um bom ser humano.

Mas, claro, Sabóia não precisava da minha bem-intencionada defesa, já que sua carreira não estaria ameaçada, muito pelo contrário...

domingo, 1 de setembro de 2013

MAIS UMA MENTIRA DERRUBADA NO EPISÓDIO DO 'RESGATE FANTÁSTICO'

A citação do grande Proudhon é longa, mas vale a pena lê-la até o fim. Para um homem de esquerda, tem tanta relevância quanto os 10 mandamentos para os cristãos:
"Ser governado é: ser guardado à vista, inspecionado, espionado, dirigido, legisferado, regulamentado, depositado, doutrinado, instituído, controlado, avaliado, apreciado, censurado, comandado por outros que não têm nem o título, nem a ciência, nem a virtude. 
Ser governado é: ser em cada operação, em cada transação, em cada movimento, notado, registrado, arrolado, tarifado, timbrado, medido, taxado, patenteado, licenciado, autorizado, apostilado, admoestado, estorvado, emendado, endireitado, corrigido. 
É, sob pretexto de utilidade pública, e em nome do interesse geral: ser pedido emprestado, adestrado, espoliado, explorado, monopolizado, concussionado, pressionado, mistificado, roubado; 
Depois, à menor resistência, à primeira palavra de queixa: reprimido, corrigido, vilipendiado, vexado, perseguido, injuriado, espancado, desarmado, estrangulado, aprisionado, fuzilado, metralhado, julgado, condenado, deportado, sacrificado, vendido, traído e, para não faltar nada, ridicularizado, zombado, ultrajado, desonrado. Eis o governo, eis sua justiça, eis sua moral!"
O stalinismo e os regimes autoritários de esquerda vieram comprovar o acerto da postura de desconfiarmos sempre de governos e a necessidade de tudo fazermos para dar-lhes fim, instaurando uma sociedade de iguais em todos os sentidos, em que a administração dos homens seja substituída pela administração das coisas (tanto meta suprema do anarquismo quanto etapa final da edificação do comunismo --as divergências entre ambos se restringiam à via para chegarmos à sociedade perfeita, não havendo dúvida nenhuma quanto à obviedade de que nela não poderão existir governantes e governados).

No essencial, eu jamais abdiquei dos valores básicos da geração 68, como o de desconfiar sempre dos governos, inclusive dos tidos como amigos. A verdade é revolucionária! Se mentem, devem ser, sim, denunciados. E devemos cobrar-lhes autocríticas. E devemos exigir que passem a confiar mais no seu povo, ao invés de o manipular.

Governos nos traem: aliam-se até ao pior inimigo
E, como os dramas dos anos de chumbo, minhas lutas na defesa dos direitos humanos e a atividade jornalística tornaram familiar para mim a sistemática do asilo político, desde o primeiro momento avaliei que, no episódio do  resgate fantástico, era uma aberração o governo de Evo Morales ter passado mais de um ano e meio sem conceder o salvo conduto para o senador Roger Pinto Molina. 

ENTÃO, FACE À POSTURA GROTESCA DO GOVERNO BOLIVIANO E AO DESCASO DO GOVERNO BRASILEIRO DIANTE DE UMA SITUAÇÃO INACEITÁVEL, JUSTIFICAVA-SE, SIM, O VOLUNTARISMO DO DIPLOMATA EDUARDO SABÓIA, QUE FOI, REPITO, O ÚNICO PERSONAGEM LOUVÁVEL DESSA COMÉDIA DE ERROS. ELE SALVOU A HONRA DO BRASIL, JÁ QUE O ITAMARATY PARECE TER ESQUECIDO ATÉ O SIGNIFICADO DA PALAVRA!

O pior veio depois, com a satanização de Sabóia pela rede virtual de propagandistas do governo, sempre prontos a repassarem as  versões convenientes, sem nunca se preocuparem em verdadeiramente informar-se e refletir sobre os episódios. São os homens unidimensionais ditos de esquerda, contraponto à unidimensionalidade a que a indústria cultural reduz os cidadãos comuns, os  videotas.

E, pouco a pouco, percebi que o governo boliviano fez com Molina exatamente o que o governo italiano fez com Cesare Battisti, satanizando-o a partir do veredicto de uma farsa jurídica que nenhuma democracia de verdade admitiria. 

Só que a Bolívia agiu por atacado, com os processos contra Molina brotando como cogumelos a partir de 2008. Antes, amigo de Morales, recebia todas as honras. Depois, só faltou acusarem-no de haver assassinado Simon Bolivar...

Linchamentos morais são uma constante na web
O que nunca serei na vida é tolo. Ao ver a pilha de uns 20 processos instaurados contra ele e quão disparatados alguns eram, não tive dúvidas de que sofria perseguição política e que o MEDÍOCRE (vide o episódio dos 12 torcedores corinthianos) Judiciário boliviano acumpliciava-se com uma  mesquinha vendetta  governamental. 

Foi o motivo de eu haver reproduzido, neste sábado, uma entrevista do Molina. Antes, até admitia que pudesse ser mesmo um mero corrupto. Agora, tenho absoluta certeza de que isto é o que menos importava; fosse ele a Madre Teresa de Calcutá e inventariam pretextos para processá-lo da mesma maneira.

Por último, acabo de ter a confirmação do que já suspeitava: A BOLÍVIA NÃO ESTAVA DESOBRIGADA DE CONCEDER O SALVO CONDUTO, COMO OS PROPAGANDISTAS BRASILEIROS ALEGARAM. Eis o que o ex-ministro das Relações Exteriores Luiz Felipe Lampreia esclarece (os grifos são meus):
"É de grande relevância registrar que existe uma Convenção sobre Asilo Diplomático firmada em Caracas no dia 28 de março de 1954, que se acha em pleno vigor e da qual a Bolívia é signatária desde o primeiro dia, assim como nosso país. 
Essa convenção reza que 'concedido o asilo, o Estado asilante pode pedir a saída do asilado, sendo o Estado territorial obrigado a conceder imediatamente, salvo caso de força maior, as garantias necessárias a que se refere o artigo 5º  e o correspondente salvo-conduto'"
O diplomata septuagenário, aliás, chegou exatamente à mesma conclusão que eu: "O governo brasileiro deveria ter tratado do assunto com mais firmeza", pois impunha-se "uma posição firme e categórica", com a "exigência mais enérgica do cumprimento do direito internacional".

Antigamente se dizia que "em tempo de guerra, mentira como terra". Só que não estamos em guerra. E nem quando era nenê eu engolia terra.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

ATÉ O CARRASCO PINOCHET CONCEDIA LOGO OS SALVO CONDUTOS!!!

Rui critica o "mau exemplo"
O grande jornalista e digno companheiro Rui Martins deu uma verdadeira aula sobre asilo em sua coluna no Direto da Redação (vide íntegra aqui). Endosso, aplaudo e publico os trechos principais.

O asilo é coisa muito antiga, já existia nas civilizações antigas, para proteger perseguidos por crimes comuns. Refugiavam-se nos templos religiosos, enquanto não havia as embaixadas. Em nossa época, passaram a existir dois tipos de asilo - o diplomático e o territorial. O espírito do asilo é o de sempre ser concedido a toda pessoa que se considera perseguida e com ameaça de ser presa ou morta.

O perseguido vai a uma embaixada e pede asilo que, por uma questão humanitária, é geralmente concedido. Trata-se do asilo diplomático, que, depois de algum tempo, vai se tornar territorial, com a transferência do asilado, protegido, por salvo conduto, ao país que concedeu o asilo. O outro tipo de asilo, ocorre quando o perseguido já pede o asilo dentro do país.

Pinochet não fazia pirraças com os asilados
Em termos de Direito Internacional, todo país é obrigado a respeitar um asilo concedido, permitindo a saída do asilado com segurança para ir ao país que o acolheu. Foi graças ao asilo que centenas de brasileiros puderam escapar da prisão, logo depois do golpe de Pinochet no Chile, refugiando-se em embaixadas de países amigos. 

Ali ficaram um curto tempo, eram embaixadas lotadas de asilados. O Chile, apesar da repressiva ditadura de Pinochet, responsável por milhares de mortes, aceitou conceder salvo condutos.

Atualmente, o direito de asilo, por tantos séculos respeitado, e que chegou a ser utilizado por Voltaire e Vitor Hugo, vem sendo alvo de restrições, geralmente ditadas pelas grandes potências de direita, como EUA e Inglaterra,  mas esse procedimento pode instigar pequenos países a fazerem o mesmo. Embora não tenham ocorrido atos de invasões de embaixadas com asilados, já ocorreu um sério precedente envolvendo o americano Edward Snowden, por ter revelado o mecanismo mundial de espionagem dos EUA.

Assim, quando correu a informação de que Snowden tinha embarcado no avião presidencial do boliviano Evo Morales, os EUA conseguiram forçar a União Européia a não permitir o sobrevoo de seu território pelo avião presidencial. Correndo o risco de ficar sem combustível, o avião foi obrigado a descer na capital austríaca, Viena, onde policiais invadiram o aparelho, humilhando o presidente Evo Morales e a delegação boliviana, obrigados a deixar o aparelho para ser feita uma vistoria geral com o objetivo de prender Snowden se ali estivesse.
Bumerangue: Evo humilhara Celso Amorim

Ora, o asilo diplomático não significa sempre ser concedido dentro de uma embaixada. Pode também ser concedido dentro de um navio, avião ou prédio, que represente o país outorgante do asilo. Ou seja, os EUA desrespeitaram totalmente, em nome de sua segurança nacional, um direito mundial, reconhecido pela ONU e todos os países, ao invadir o avião do boliviano Evo Morales, onde afinal não estava Snowden.

Porém, antes dos EUA terem desrespeitado o direito de asilo e humilhado Evo Morales, presidente de um pequeno país, foi o próprio Evo Morales quem tinha desrespeitado o direito de asilo e humilhado o chanceler brasileiro Celso Amorim, pois seus soldados vistoriaram, em La Paz, o avião em que iria viajar o chanceler, pensando que nele estivesse o senador boliviano Roger Molina.

Da mesma forma, a Inglaterra desrespeita o direito de asilo concedido pelo Equador ao ativista de Wikileaks, Julian Assange, não concedendo salvo-conduto para que possa ir ao aeroporto e viajar para Quito. Atitude também imitada pela Bolívia, que não concedia salvo-conduto ao senador Molina, para deixar o asilo diplomático, concedido pela presidenta Dilma, e torná-lo territorial, indo viver no Brasil.

Zelaya recebia tratamento vip na embaixada
Faz parte da concessão do asilo não se levar em conta o passado do perseguido. Foi o caso de Ronald Biggs, assaltante do trem pagador de Londres, perseguido pela Inglaterra mas que recebeu oficialmente o asilo concedido pelo Brasil. O presidente hondurenho, derrubado por um golpe, se asilou na embaixada do Brasil, onde tinha condições melhores que o senador boliviano, talvez em decorrência do seu cargo de presidente deposto.

O Brasil tem uma tradição, se assim se pode dizer, de conceder asilo a personalidades de direita - assim recebeu Alfredo Strossner, ditador do Paraguai; deu asilo a Marcelo Caetano, derrubado pela Revolução dos Cravos que acabou com o salazarismo em Portugal; e deu asilo ao político francês Georges Bidault, contrário à independência da Argélia e ao general De Gaulle.  A concessão do asilo ao boliviano Roger Molina, embora pareça inexplicável pela presidenta Dilma, provavelmente por questões humanitárias, confirma essa regra.

Já com Cesare Battisti não se tratou de asilo, pois o italiano estava no Brasil clandestinamente e foi preso a pedido da França e depois da Itália. O processo, que se prolongou por mais de quatro anos, discutia se devia ou não ser extraditado e foi resolvido pelo ex-presidente Lula, no seu último dia de governo, negando-se a extradição e concedendo-lhe o direito de viver no Brasil.
Muitos homens dignos agiram como Sabóia 

Portanto, com os elementos acima, fica mais fácil agora para o leitor decidir se o ministro-conselheiro Eduardo Sabóia, diplomata brasileiro em La Paz, agiu corretamente ou não. Se a Bolívia agiu corretamente ao negar conceder salvo-conduto ao senador boliviano, que recebera asilo da presidenta Dilma, e ao humilhar o chanceler Celso Amorim, ao vistoriar seu avião.

Quanto a funcionários de departamentos de Polícia e de embaixadas que ajudaram pessoas a fugir, existem casos na própria Suíça, onde o chefe de Polícia, Paul Grunnigen, concedia vistos de entrada aos judeus, desobedecendo ordens do governo e, por isso, perdeu seu emprego e morreu na miséria; em Portugal, o consul-geral Aristides de Sousa Mendes desrespeitou ordens expressas do ditador Salazar, concedendo, na cidade francesa de Bordeaux, vistos para 30 mil judeus fugirem para os EUA. 

E a própria esposa do diplomata e escritor Guimarães Rosa, Aracy Guimarães Rosa, que trabalhava na chancelaria do Consulado do Brasil, em Hamburgo, concedia vistos para judeus escaparem dos nazistas.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

O 'RESGATE FANTÁSTICO' E O DIREITO DE ASILO: PINGOS NOS II

O episódio do  resgate fantástico  foi, como sempre, abordado nos espaços virtuais da esquerda chapa-branca com mentalidade de Fla-Flu. O diplomata Eduardo Sabóia tinha de ser satanizado a qualquer preço e as trapalhadas do Governo, justificadas a qualquer preço. Vai daí que a postura deste blogueiro provocou estranheza, por estar desconectada da  linha justa, a  única aceitável.

Então, em meio a tantas e tão densas trevas, é importante destacar um artigo que produziu alguma luz: Uma diplomacia estudantil (clique p/ acessar), do jornalista e historiador Elio Gaspari.

Principalmente este trecho, que ajuda a entender a linha adotada cá neste humilde espaço em que ainda se cultiva o pensamento crítico (o qual --pasmem!-- era uma bandeira de boa parte da esquerda em 1968, antes que fosse reentronizado o maniqueísmo stalinista):
"A maneira como a diplomacia de Lula e da doutora [Dilma] lidaram com o instituto do asilo revela desrespeito histórico com um mecanismo que protegeu centenas de brasileiros perseguidos por motivos políticos. Ele ampara gregos e troianos. Em 1964, brasileiros asilaram-se na embaixada boliviana. Anos depois, oficiais golpistas bolivianos asilaram-se na embaixada brasileira e o governo esquerdista do general Juan José Torres deu-lhes salvo-condutos em 37 dias. 
Carlos Lacerda asilou-se por alguns dias na embaixada de Cuba e João Goulart pediu asilo territorial ao Uruguai. Em poucos meses, o governo do marechal Castello Branco concedeu salvo-condutos a todos os asilados que estavam em embaixadas estrangeiras. 
Já o do general Médici, vergonhosamente, fechou as portas de sua representação em Santiago nos dias seguintes ao golpe do general Pinochet e dezenas de brasileiros foram obrigados a buscar a proteção de outras bandeiras. 
...O direito de asilo é uma linda tradição. Não se deve avacalhá-lo".
O rolo compressor dos portais, sites e blogues  alinhados incondicionalmente com o governo federal só leva em conta um objetivo imediato e menor: obter alguma vantagem nas escaramuças da interminável rinha travada com os partidos de direita, disputando nacos de governo sob o capitalismo (e sem nenhuma disposição real de dar fim ao pesadelo capitalista!).

Este velho guerreiro que vos escreve continua com seu olhar, sua mente e suas esperanças voltadas para o dia em que, afinal, a esquerda recolocará em pauta a tomada do poder e a transformação em profundidade da sociedade brasileira, ao invés de continuar se conformando com o papel de dócil gestora do capitalismo brasileiro.

E, como lutas de verdade (não essas briguinhas de compadres entre PT e PSDB) expõem seus participantes a muito perigo, é importantíssimo para nós que seja mantida a integridade de institutos como o do asilo político. Em circunstâncias dramáticas como as da resistência à ditadura militar, o direito de asilo geralmente faz a diferença entre a vida e a morte dos que travam o bom combate.

O que valem, como seres humanos, os pugilistas cubanos que queriam ficar ricos na Europa ou o tal senador boliviano acusado de corrupção? Muito pouco, talvez nada. Exatamente por isto, nem de longe justificam que, deixando de protegê-los quando nos cabia tal papel, forneçamos pretexto para que, futuramente, governos de outras tendências políticas neguem proteção a nossos companheiros de ideais --que, estes sim, valem muito!

O Caso Battisti foi, simplesmente, a maior vitória da esquerda brasileira de um bom tempo para cá, depois de uma infinidade de episódios semelhantes que terminaram muito mal para os militantes revolucionários, aqui e alhures. Os porta-vozes da direita cansaram de bater na tecla de que o Brasil deveria dar ao escritor italiano o mesmo tratamento que deu aos boxeadores caribenhos, despachando-o sumariamente para Berlusconi.

Com Lula no poder, tal ladainha não resultou. E se fosse José Serra o presidente? Decerto correria a vergar-se à imposição italiana, pois foi esta a posição que manifestou em várias entrevistas. E talvez usasse, como justificativa, exatamente o mau precedente que abrirmos para agradar aos irmãos Castro.

Então, eu sempre tenho em mente que  a rua é de duas mãos, antes de me posicionar. O que hoje nos beneficia pode se voltar contra nós no futuro, como um bumerangue.

E, francamente, se salvar um Roger Pinto qualquer é o preço a pagarmos para garantir a salvação do próximo Battisti, eu o pagaria mil vezes!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

PALMAS PARA O DIPLOMATA HUMANITÁRIO! VAIAS PARA OS OMISSOS E OS FARSANTES!

Todos saíram diminuídos dessa comédia de erros... 
O Brasil concedeu, porque quis, asilo a um senador boliviano considerado mero criminoso pelo governo de Evo Morales.

Mas, tal governo negava salvo-conduto para o político oposicionista deixar o país em segurança. Com isto, transgredia indiscutivel e grosseiramente as leis internacionais.

As autoridades brasileiras não recorreram à OEA, à ONU ou a quem quer que seja para desatar o nó. Preferiram continuar negociando indefinidamente com a Bolívia, mesmo sabendo que estavam sendo  enroladas

Um diplomata compassivo arriscou a carreira para salvar a vida do senador, cuja saúde declinava perigosamente em função do longo período mantido no que acabava sendo um cárcere privado.

Como recebeu apoio parlamentar e militar, não se sabe exatamente em que condição atuou: pode haver surpreendido seus superiores, mas também pode ter-lhes dado conhecimento ou, mesmo, seguido suas orientações. A única certeza é que ele não concordou em ser bode expiatório, pois agora se indigna com tal possibilidade.

Ele é o ÚNICO personagem digno e louvável da comédia de erros em questão.

Se a iniciativa foi realmente dele, Eduardo Sabóia deve ser aclamado como HERÓI.

Se seus superiores o estimularam a tirar a castanha do fogo para não queimarem as próprias mãos, temos de aplaudir seu espírito humanitário e vaiar os farsantes. 
...com exceção do digno Sabóia.

Não sei o que é pior, omitir-se de um problema ou resolvê-lo com falsidades e encenações, trocando até um ministro para salvar as aparências (mas, compensando-o com uma designação honrosa). País que quer ser protagonista da política internacional, ao invés de uma mera república das bananas, não pode sair pela tangente toda vez que enfrentar uma situação complicada. 

Dois trechos das declarações do diplomata Sabóia me sensibilizaram muito:
"Não me arrependo e aceito as consequências. Ouvi a voz de Deus. Estou amparado pela Constituição e pelos tratados internacionais assinados pelo Brasil. Fiz uma opção por um perseguido político, como a presidente Dilma fez em sua história"
"Você imagina ir todo dia para o seu trabalho e ter uma pessoa trancada num quartinho do lado, que não sai? E você é quem a impede de receber visitas. Aí vem o advogado e diz que, se ele se matar, você será o responsável. O senador estava havia 452 dias sem tomar sol, sem receber visitas. Eu me sentia como se fosse o carcereiro dele, como se eu estivesse no DOI-Codi. O asilado típico fica na residência [do embaixador], mas ele estava confinado numa sala de telex, vigiado 24 horas por fuzileiros navais"
Ele exagerou na comparação com o DOI-Codi, mas se trata de mero detalhe. O fundamental  é: quem deixou a situação se deteriorar a tal ponto, não tem moral para punir Sabóia. NENHUMA!
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