Assim falou Garciatustra. E fim de papo. |
O Brasil não extraditará o senador Roger Pinto Molina para a Bolívia, garantiu o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, à Folha de S. Paulo. Foi enfático:
"Devolvê-lo para a Bolívia, não. Devolvê-lo para a Bolívia, nós não devolveremos".
O repórter Fernando Rodrigues insistiu, querendo confirmação. E Garcia repetiu o "não", informando que há apenas duas hipóteses para o desfecho do caso: "ou ele pode ter asilo aqui ou ele pode ir para outro país".
Como os leitores devem recordar, os parlamentares Molina e Evo Morales eram amigos antes que o último ascendesse à Presidência. Convidado a integrar o governo, Molina recusou, segundo ele por divergir de Morales quanto à cocaína:
"Sempre acreditei que o tema da coca fosse a matéria-prima para o narcotráfico e era preciso atacar isso. Ele defendia a coca".
A relação azedou de vez quando Molina entregou a Morales um dossiê acusando o governador do estado de Pando, aliado do presidente, de envolvimento com traficantes.
Aí, começaram a pipocar os processos contra Molina na Justiça boliviana (a mesma que manteve 12 torcedores brasileiros presos por um crime que só um deles poderia ter cometido...); num passe de mágica, foram abertos 22!
Molina se refugiou na nossa embaixada, o Brasil lhe concedeu asilo e o governo boliviano, ignorando as leis e práticas internacionais, passou uma eternidade negando-lhe salvo conduto para deixar o país em segurança.
Depois de 15 meses de confinamento, ele foi resgatado numa operação rocambolesca que, segundo a versão oficial, teria sido iniciativa isolada do diplomata Eduardo Sabóia.
A História se repetiu como farsa? |
Seria um novo, embora menos dramático, resgate fantástico.
Só que é difícil de engolir: Sabóia estava acompanhado por um senador brasileiro, teve a cobertura de militares brasileiros e atravessou tranquilamente uma fronteira que deveria estar sendo muito bem guardada. Finalmente, ele passou menos de três semanas suspenso de suas funções no Itamaraty e logo foi reintegrado.
A hipótese mais plausível é a de que fizesse parte de um esquema bem mais amplo e tenha agido com a anuência dos seus superiores, cansados de esperar por uma solução civilizada e temerosos do desprestígio que adviria para o Brasil caso Molina se suicidasse, como ameaçava fazer.
Quanto à demissão do chanceler Antônio Patriota, alguma satisfação teria de ser dada a Morales, para não deixá-lo mal com a opinião pública boliviana. Mas, não se tratou exatamente de uma punição: Patriota assumiu, em seguida, a chefia da delegação brasileira na ONU, designação das mais honrosas.
Agora, Garcia antecipa que, seja qual for a decisão do Conselho Nacional para os Refugiados sobre o pedido de extradição boliviano, o Brasil não o extraditará.
Faz sentido. O Conare existe para subsidiar o ministro da Justiça e seus pareceres não têm de ser obrigatoriamente seguidos (Tarso Genro tomou decisão diferente no Caso Battisti, p. ex.). Ademais, o Supremo Tribunal Federal confirmou que a última palavra, nesses episódios, é da Presidência da República.
Então, podemos supor que Garcia fala pelo ministro José Eduardo Cardozo, pela presidenta Dilma Rousseff ou por ambos, ao declarar de forma tão incisiva que Molina está definitivamente a salvo do governo boliviano.
Alguns comentaristas políticos da imprensa e muitos da internet ficaram como baratas tontas neste imbroglio, principalmente os que correram a satanizar Sabóia, acreditando que fosse esta a vontade imperial. Quando a falta de independência e a falta de perspicácia andam juntas, o resultado tende a ser patético.
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