O episódio do resgate fantástico foi, como sempre, abordado nos espaços virtuais da esquerda chapa-branca com mentalidade de Fla-Flu. O diplomata Eduardo Sabóia tinha de ser satanizado a qualquer preço e as trapalhadas do Governo, justificadas a qualquer preço. Vai daí que a postura deste blogueiro provocou estranheza, por estar desconectada da linha justa, a única aceitável.
Então, em meio a tantas e tão densas trevas, é importante destacar um artigo que produziu alguma luz: Uma diplomacia estudantil (clique p/ acessar), do jornalista e historiador Elio Gaspari.
Principalmente este trecho, que ajuda a entender a linha adotada cá neste humilde espaço em que ainda se cultiva o pensamento crítico (o qual --pasmem!-- era uma bandeira de boa parte da esquerda em 1968, antes que fosse reentronizado o maniqueísmo stalinista):
"A maneira como a diplomacia de Lula e da doutora [Dilma] lidaram com o instituto do asilo revela desrespeito histórico com um mecanismo que protegeu centenas de brasileiros perseguidos por motivos políticos. Ele ampara gregos e troianos. Em 1964, brasileiros asilaram-se na embaixada boliviana. Anos depois, oficiais golpistas bolivianos asilaram-se na embaixada brasileira e o governo esquerdista do general Juan José Torres deu-lhes salvo-condutos em 37 dias.
Carlos Lacerda asilou-se por alguns dias na embaixada de Cuba e João Goulart pediu asilo territorial ao Uruguai. Em poucos meses, o governo do marechal Castello Branco concedeu salvo-condutos a todos os asilados que estavam em embaixadas estrangeiras.
Já o do general Médici, vergonhosamente, fechou as portas de sua representação em Santiago nos dias seguintes ao golpe do general Pinochet e dezenas de brasileiros foram obrigados a buscar a proteção de outras bandeiras.
...O direito de asilo é uma linda tradição. Não se deve avacalhá-lo".
Este velho guerreiro que vos escreve continua com seu olhar, sua mente e suas esperanças voltadas para o dia em que, afinal, a esquerda recolocará em pauta a tomada do poder e a transformação em profundidade da sociedade brasileira, ao invés de continuar se conformando com o papel de dócil gestora do capitalismo brasileiro.
E, como lutas de verdade (não essas briguinhas de compadres entre PT e PSDB) expõem seus participantes a muito perigo, é importantíssimo para nós que seja mantida a integridade de institutos como o do asilo político. Em circunstâncias dramáticas como as da resistência à ditadura militar, o direito de asilo geralmente faz a diferença entre a vida e a morte dos que travam o bom combate.
O que valem, como seres humanos, os pugilistas cubanos que queriam ficar ricos na Europa ou o tal senador boliviano acusado de corrupção? Muito pouco, talvez nada. Exatamente por isto, nem de longe justificam que, deixando de protegê-los quando nos cabia tal papel, forneçamos pretexto para que, futuramente, governos de outras tendências políticas neguem proteção a nossos companheiros de ideais --que, estes sim, valem muito!
O Caso Battisti foi, simplesmente, a maior vitória da esquerda brasileira de um bom tempo para cá, depois de uma infinidade de episódios semelhantes que terminaram muito mal para os militantes revolucionários, aqui e alhures. Os porta-vozes da direita cansaram de bater na tecla de que o Brasil deveria dar ao escritor italiano o mesmo tratamento que deu aos boxeadores caribenhos, despachando-o sumariamente para Berlusconi.
Com Lula no poder, tal ladainha não resultou. E se fosse José Serra o presidente? Decerto correria a vergar-se à imposição italiana, pois foi esta a posição que manifestou em várias entrevistas. E talvez usasse, como justificativa, exatamente o mau precedente que abrirmos para agradar aos irmãos Castro.
Então, eu sempre tenho em mente que a rua é de duas mãos, antes de me posicionar. O que hoje nos beneficia pode se voltar contra nós no futuro, como um bumerangue.
E, francamente, se salvar um Roger Pinto qualquer é o preço a pagarmos para garantir a salvação do próximo Battisti, eu o pagaria mil vezes!
Um comentário:
Não posso reclamar de sua coerência, achei que ia pender para o mais fácil. Apesar de discordar de tuas idéias, ganhou um admirador.
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