Dissemos em artigo recente que o capitalismo provoca o irracionalismo social e citamos alguns exemplos disso.
Poderíamos ter citado um corolário de outros exemplos, como a incineração de alimentos por produtores objetivando a manutenção dos preços, e isto num contexto onde cresce o fantasma da fome; ou citarmos o uso indiscriminado de matérias plásticas descartáveis que após o uso que vão poluir os mares matando as algas dos oceanos, tão importantes para todo o ecossistema, bem como para a fauna marinha.
Mas aqui queremos nos concentrar na análise da essência e pulsão assassina desse modo de relação social, pois assim será considerada pelas gerações futuras, os quais terão pena dos nossos padecimentos, isso se a espécie humana não sucumbir antes, diante da sanha socialmente destrutiva e autodestrutiva da própria forma capitalista.
São muitos os adjetivos comportamentais capitalistas convergentes para a sua essência assassina e genocida como exemplos e, neste momento de debacle da sua própria forma, ele age tal qual um suicida criminoso revoltado incapaz de viver sua própria vida e que quer levar para a morte toda a humanidade.
A xenofobia capitalista, expressão da existência dos Estados Nacionais, se traduz num patriotismo nacionalista étnico excludente daqueles situados além das fronteiras nacionais, leva ao assassinato pela guerra dos estrangeiros, considerados contrários aos interesses do país.
A formação das nações, de configurações jurídicas geopolíticas recentes, obedeceu ao critério capitalista de produção nacional de mercadorias visando à exportação e proteção destas por barreiras alfandegárias, enviando e recebendo excedentes da produção social de cada região de acordo com as suas capacidades geológicas, climáticas, minerais, tecnológicas, culturais, etc. Estas barreiras representam o contrário do que é - ou deveria ser - a fraternidade humana entre os povos, pois coloca a concorrência acima da solidariedade.
Portanto, a xenofobia é assassina e, juntamente com outros fatores, compõe a base da motivação bárbara e genocida da guerra entre os povos.
As nações e os Estados capitalistas foram formatados dentro dos interesses de sustentação à lógica social a eles inerentes e imanentes, de modo que todas as nações se submetem a todas as decomposições do agir e pensar independentemente da sua forma política.
A forma política sob o capital não tem soberania de vontade e por isto são tão similares as posturas de governos mais fechados e centralizadores do comando, ditatoriais, e as posturas de governos sob cânones descentralizadores do poder governamental, como pretendem ser os governos republicanos de alternância eleitoral de poder.
As ditaduras burguesas têm diferenciações para com as democracias burguesas no varejo e por dependerem da disputa cíclica do poder por grupos políticos em seu interior, tendem a ter mais flexibilização ditatorial de mando, vez que os pesos e contrapesos das suas instâncias estatais freiam melhor o absolutismo governamental opressor do Estado - mesmo os que se autointitulam pretensamente proletários.
Entretanto, na hora do vamos ver, o que vigora é o interesse do capital representado pelos detentores de poder de mando do governo; dos representantes parlamentares e seus partidos - sempre em maioria pelos que são ligados ao capital e que contam com a participação dos que se dizem críticos da capital, pois o legitimam com sua presença; dos empresários dos vários ramos das atividades econômicas; e até mesmo dos sindicatos de trabalhadores, sempre buscando as melhorias dentro do capital sem questionar sobre a necessidade de sua própria superação enquanto categorias contributivas para a ordem capitalista.
Já ouvi de um trabalhador o questionamento sobre os coreanos trabalhadores na siderúrgica do Pecém, na grande Fortaleza, por considerar que lhe roubam o emprego pertencente aos trabalhadores brasileiros - pode?! Este é um exemplo de como o capitalismo torna os trabalhadores xenófobos e adversários entre si.
Guerra concorrencial de mercado como altar do sacrifício humano – Adam Smith, pai do liberalismo clássico de mercado, cunhou a expressão mão invisível para explicar, de modo elogioso, a capacidade do mercado em intervir espontaneamente, por mecanismos próprios e internos, na equalização de preços e premiação para quem produz mais em menos tempo e melhor.
Mas a mão invisível não é santa!
O mercado é o altar da guerra concorrencial de mercado onde ocorre o confronto épico da disputa do capital com ele mesmo de forma destrutiva e autodestrutiva no longo prazo.
O capitalista que produz mais e melhor em menos tempo, reduzindo custos de produção e ganhando qualidade, ganha a guerra concorrencial de mercado eliminando os seus concorrentes. Assim, concentra a riqueza em suas mãos na medida que acumula o lucro e se torna mais competitivo em aplicação de capital fixo - máquinas e instalações -, e até mesmo compram concorrentes menos expressivos economicamente, mas que incomodam, para eliminar a produção destes.
Mas ao ampliar a sua produção, o capitalista vencedor da guerra concorrencial de mercado concentra riqueza e horizontaliza pobreza salarial; ao usar máquinas cada vez mais sofisticadas que reduzem valor e preço das mercadorias - que são coisas diferentes - provocam o desemprego estrutural, o qual reduz completamente a capacidade de compra e colide com o objetivo empresarial de vender e ganhar capital cada vez mais.
A China, que cresceu muito nos últimos anos reduzindo custos de produção com uso da tecnologia, salários baixos e estímulos fiscais, agora vê-se na condição da redução drástica do crescimento, causando problemas para si e para todo o mercado financeiro ao qual deve cerca de 300% do seu PIB anual e para quem deve pagar os juros incidentes.
O mundo é credor da China e o seu colapso será causa de turbulências mundiais severas. Entretanto, foi na guerra concorrencial de mercado que a China pôde se elevar à condição de segundo maior PIB do mundo apostando num crescimento econômico constante e crescente, mas cujo limite agora esbarra na capacidade de expansão capitalista.
O mercado é a categoria capitalista para a qual converge toda concentração de trabalho abstrato produtor de valor, a mercadoria força de trabalho transformada em valor e todas as mercadorias sensíveis com seu valor de uso e de troca, sendo infenso a controles externos. Quando o Estado entende dever tributar a produção ele consegue afastar tal produção por incapacidade concorrencial de preço e leva os produtores à falência.
Destarte, o mercado funciona como a hora da verdade do capitalismo na qual se evidencia toda a sua falibilidade.
Hipocrisia governamental, deseducação, escravização, misoginia, homofobia, racismo, supremacismo e guerra - os governantes de todos os matizes ideológicos estão sempre a afirmar os seus propósitos de boa vizinhança e solidariedade para com as outras nações.
Mas todos os países do G7 – Estados Unidos, Inglaterra. Alemanha, Franças, Japão, Itália, Canadá - têm histórico de beligerância e de desrespeito à autonomia dos povos quando estes não rezam pelas suas cartilhas e contrariam os seus interesses.
Os Estados Unidos foram os grandes beneficiários das guerras mundiais das quais saiu com seu território ileso, além de credor de vendas feitas aos países -principalmente os participantes do conflito, não importa se ganhadores ou perdedores-, além de instituir a sua moeda como moeda universal - o maior de todos os ganhos. A partir daí se tornou palmatória do mundo e se sentiu autorizado a intervir em quaisquer conflitos de poder nos países para colocar ali dirigentes submissos e simpáticos aos seus interesses.
Não é para lá que fugiu o corrupto cubano Fulgêncio Batista que jamais foi alvo de qualquer embargo econômico quando era ditador de Cuba? Não fugiu para lá o igualmente iraniano corrupto, Xá da Pérsia, Mohammad Reza Pahlevi e sua família, queridinho dos Estados Unidos, quando removido do poder pela revolução islâmica teocrática do Aiatolá Ruhollah Khomeini? Seriam infindáveis os exemplos de intervenção militar estadunidense em países de todos os quadrantes do mundo para a manutenção dos seus interesses.
Nessa onda histórica estão incluídos até antigos aliados que se voltaram contra os Estados Unidos como o bilionário fundamentalista religioso saudita Osama Bin Laden e o ditador iraquiano Saddam Hussein, ambos assassinados pelos marines estadunidenses.
O que dizer da Alemanha nazista, ajudada pelo fascismo italiano e japonês, responsável pelo maior genocídio mundial em apenas cinco anos e poucos meses num conflito mundial no qual se calcula que morreram cerca de 50 milhões de pessoas, ou 3% da população mundial à época?
Não dá para deixar de falar nos colonialismos inglês e francês que explorou até onde pôde as Américas, África e Ásia, e hoje, após as guerras de independências, ainda tentam manter por outros mecanismos capitalistas o seu poder de mando.
A hipocrisia da boa convivência mundial entre as nações esbarra na lógica capitalista mundial, hoje mais globalizada do que nunca, substituindo a fraternidade e cooperação mundiais por uma concorrência mercantil-financeira que atingiu o seu estágio de contradição interna irresolúvel e nos coloca diante de impasses como a migração humana rejeitada pelo nacionalismo xenófobo e a ameaça de hecatombe nuclear que toma o noticiário internacional como a coisa mais natural do mundo em face dos desdobramentos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, além do conflito entre China e Estados Unidos à espreita.
Outro aspecto a ser destacado é a deseducação causada por um critério moral capenga no qual levar vantagem é a tônica a ser observada pelos mais jovens no seu desespero pela falta de perspectivas de vida contributiva e saudável futura.
Misoginia decorrente de um patriarcalismo obsoleto; homofobia calcada em preceitos religiosos e costumes ultrapassados; supremacismo racial derivado de uma falsa ideia de superioridade de raça são elementos que compõem este universo de criações capitalistas negativas os quais somos obrigados a suportar graças a uma forma de relação social que os preserva.
Mas ainda dá tempo de revermos tudo isso!!! (por Dalton Rosado)
4 comentários:
Assim falou Graciliano.
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"Julgo que ainda não me restabeleci completamente. Das visões que me perseguiam naquelas noites compridas umas sombras permanecem, sombras que se misturam à realidade e me produzem calafrios. Há criaturas que não suporto. Os vagabundos, por exemplo. Parece-me que eles cresceram muito, e, aproximando-se de mim, não vão gemer peditórios: vão gritar, exigir, tomar-me qualquer coisa. Certos lugares que me davam prazer tornaram-se odiosos. Passo diante de uma livraria, olho com desgosto as vitrinas, tenho a impressão de que se acham ali pessoas, exibindo títulos e preços nos rostos, vendendo-se. E uma espécie de prostituição. Um sujeito chega, atento, encolhendo os ombros ou estirando o beiço, naqueles desconhecidos que se amontoam por detrás do vidro. Outro larga uma opinião à-toa. Basbaques escutam, saem. E os autores, resignados, mostram as letras e os algarismos, oferecendo-se como as mulheres da Rua da Lama."
Ah! Essa Angústia não é de hoje.
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