segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

VENEZUELA: TURBULÊNCIAS À VISTA

De tanto insistir, Hugo Chávez acabou conquistando o direito à reeleição ilimitada, ao preço de dividir a Venezuela em duas: tornou-se praticamente impossível situação e oposição chegarem a qualquer forma de entendimento.

O confronto aberto lança uma sombra sobre o futuro do país. Mais dia, menos dia, acabará ocorrendo, pois os inimigos de Chávez não engolirão a perspectiva de tê-lo como presidente vitalício.

Um lado sairá vencedor, o outro vai ser derrotado. A definição poderá se dar numa tentativa de golpe rapidamente sufocada, mas não se deve descartar a possibilidade de um conflito que evolua para guerra civil. E são sempre possíveis as intervenções externas, que fariam aumentar as perdas e danos.

Francamente, não faz sentido para mim que se vá tão longe para resolver a questão da duração do mandato presidencial de Chávez. Talvez porque minha formação marxista sempre me tenha feito colocar a revolução acima dos indivíduos que momentaneamente a estejam conduzindo. Talvez porque o pesadelo stalinista tenha me imunizado definitivamente contra o culto à personalidade.

Se Chávez é um líder tão importante para os trabalhadores venezuelanos, certamente poderia ter encontrado um poste qualquer para fazer elegerem (lembram-se de Dutra, o poste de Vargas?), respeitando o ritual democrático e mantendo o poder de fato. Com isto, tiraria um trunfo dos opositores locais, além de não dar ensejo a campanhas internacionais contra seu governo.

Agindo como agiu, deixou o flanco aberto para que o acusem de ser apenas mais um caudilho sul-americano. E se tornou responsável por todo o mal que poderá advir do (péssimo) passo que acaba de dar.

3 comentários:

Anônimo disse...

Celso,

O importante é que a decisão passou por respaldo popular. Foi uma escolha soberana do povo venezuelano, que terá que arcar com as conseqüências dessa emenda constitucional.

E depois, não será apenas o presidente o beneficiado, mas sim todos os que se candidatarem a cargos públicos. Supondo que a oposição ganhe as próximas eleições, duvido que vão limitar novamente o número de reeileições possíveis...

O Mitterrand foi presidente por 14 anos na França, pois lá a reeleição é ilimitada mas, pelo que eu me lembre, nenhum presidente francês foi chamado de 'ditador' por causa disso.

E mesmo com algum tipo de limitação no número de reeleições, não é nenhuma garantia que um político não possa ficar no poder por toda a vida. Vide Sarney, Romeu Tuma, Delfim Netto, ACM, só para citar exemplos do coronelismo brasileiro.

Abraços,

Luís Henrique

Humberto Carvalho Jr. disse...

A Venezuela, assim como o resto do mundo, já estava dividida em duas há muito tempo, sabemos (com a permissão de Marx).

Sem dúvida, seria preferível que a medida tivesse sido implantada pelos que hoje fazem oposição ao governo Chávez. Então, a mídia porta-voz do capital entenderia como um ato democrático.

Um governo só é considerado democrático quando segue a cartilha da plutocracia norte-americana, privilegiando os donos do capital, a minoria branca.

No Brasil temos um exemplo clássico. O Lula segue a cartilha neoliberal e ainda é criticado pela elite, que não suporta a idéia de um governo que sequer apresente uma embalagem de viés popular.

Abraço!

celsolungaretti disse...

Luís Henrique, o erro não está na reeleição ilimitada, mas sim em mudanças constitucionais que venham beneficiar quem já ocupa o poder.

Ficará sempre a impressão de que a máquina governamental determinou o resultado do referendo. E isso será amplamente explorado pelos adversários venezuelanos e pela mídia do mundo inteiro.

Humberto, já vi muito sangue correr e perdi amigos queridos nas lutas políticas. Então, sou sempre contrário a que se provoquem confrontos no momento errado e por motivos menores.

Chávez agiu levando em conta unicamente o cenário atual, mas a crise global do capitalismo vai provocar grandes mudanças no quadro político.

Quem garante que, quando seus inimigos finalmente tentarem alguma coisa, a correlação de forças em nosso continente não terá se tornado desfavorável a Chávez?

Então, como havia alternativas (eu apontei uma: a eleição de um testa-de-ferro qualquer, com o apoio de Chávez), não foi sensato deixar a oposição nesse mato sem cachorro, que praticamente a obriga a tentar virar a mesa.

Não são os poderosos que morrem em golpes de estado e guerras civis. São os homens simples do povo. É com eles que sempre me preocupo, em primeiro lugar.

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